NAHIRNE, Kelen [2], ASSUNÇÃO, Kelli Regina Gonçalves Dos Santos [3]
NAHIRNE, Kelen, ASSUNÇÃO, Kelli Regina Gonçalves Dos Santos. Uma análise sobre o desenvolvimento da personalidade de crianças e adolescentes a partir da prática esportiva do futebol pautada na psicologia do esporte. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 12, pp. 05-15 , Agosto de 2018. ISSN:2448-0959
Resumo
O futebol é um esporte social, que possibilita inúmeros benefícios ao desenvolvimento de crianças e adolescentes que se envolvem nesse esporte, a infância e adolescência são períodos de desenvolvimento que requerem certa preocupação. Esta pesquisa se configura como bibliográfica descritiva qualitativa, tem por objetivos analisar como o futebol pode contribuir para o desenvolvimento da personalidade de crianças e adolescentes, especificamente, verificar as contribuições desse esporte para o desenvolvimento psicomotor. Associando a contribuição da psicologia do esporte para a educação física. A partir desse estudo, concluiu-se que o futebol enquanto prática esportiva é fundamental para o desenvolvimento corporal, cognitivo, de crianças e adolescentes, e assim, contribui para o desenvolvimento da personalidade, ressaltando a necessidade de profissionais qualificados para instruir tal prática.
Palavras-Chave: Psicologia do Esporte, Futebol, Personalidade, Desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
A prática esportiva normalmente é um atrativo para as crianças e adolescentes, e se tratando de jogo essa questão é muito mais proeminente. Sabe-se que o futebol é uma das modalidades preferidas entre meninos e meninas, principalmente na fase escolar, onde a competição, e a recreação, estão consideravelmente presentes.
A elaboração desse estudo objetivou avaliar alguns aspectos que vão além do jogo, analisar como a prática esportiva do futebol pode contribuir para o desenvolvimento da personalidade de crianças e adolescentes, tendo em vista que é um esporte que contribui para o desenvolvimento corporal, emocional, mental, psicossocial dos seus adeptos.
Conforme Samulski (2002) o desenvolvimento da personalidade entende-se como o desenvolvimento integral da pessoa: desenvolvimento cognitivo, motor, social, motivacional e emocional desse a infância até a idade adulta. A partir dessa afirmação, a elaboração dessa pesquisa pode ser eficaz para estimular e conscientizar sobre a contribuição do esporte no desenvolvimento humano desde a infância.
Como objetivos específicos pretende-se identificar as experiências significativas que os atletas vivenciam no jogo que são relevantes para a estruturação de sua personalidade e analisar as contribuições desse esporte para o desenvolvimento infantil e adolescente, bem como refletir sobre a contribuição da psicologia do esporte para a educação física.
Consoante Camara (2009), diante da evolução esportiva em treinos e estudos fisiológicos realizados, e apesar do futebol ser o esporte coletivo mais estudado no mundo, ainda existem pouquíssimos estudos no que se refere à psicologia do esporte.
Analisar essa modalidade de esporte ao meio psicológico pode contribuir para avaliar questões tão relevantes nos dias atuais, como o desenvolvimento, comportamento, personalidade e a educação emocional dos atletas.
Em termos de cunho social, a propagação desse trabalho contribui com os envolvidos na área da educação e saúde, pois leva compreender a importância de instruir adequadamente os alunos nas práticas esportivas, tendo em vista que estas contribuem para o desenvolvimento total dos seus adeptos. Além disso, pode demonstrar uma perspectiva favorável aos pais e sociedade sobre o esporte e o desenvolvimento.
A pesquisa foi desenvolvida com método bibliográfico descritivo qualitativo. A revisão de literatura foi essencial para o embasamento teórico comparado e associado a observações nos treinos e jogos de uma Escola de Futebol situada no sul do Paraná.
Markoni e Lakatos (2013) afirmam, que a pesquisa descritiva visa descrever, analisar e interpretar o funcionamento de fenômenos no momento presente.
Já a pesquisa qualitativa se preocupa com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa são a favor da existência de vários tipos de pesquisa para as ciências sociais. “Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa” (GOLDENBERG, 1997, p. 34).
A pesquisa é relevante em termos acadêmicos, tendo em vista que a área da Psicologia do Esporte, é uma área pouco explorada, inclusive não está disponível na grade acadêmica de muitos cursos de psicologia. Desse modo se destaca sua relevância, sendo ela uma contribuidora ativa á qualidade de vida e saúde da sociedade, o que é prescrito no próprio código de ética do Psicólogo, como o dever de contribuir.
Em suma, a compreensão dessa temática é determinante para diversas áreas de pesquisas, onde a elaboração de mais materiais de estudo é indispensável.
Desenvolvimento
Antes de qualquer ressalva, a principal: a Psicologia do Esporte é uma ciência (BECKER, 2000). Ela contribui para identificar e compreender os fatores que levam o pleno desenvolvimento a partir de práticas esportivas. “A Psicologia do Esporte ainda é pouco reconhecida por nossa sociedade, porém já é uma área construída e constituída em Psicologia, ela está em constante desenvolvimento” (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2016 p.11).
Sobre essa ótica, nas últimas décadas percebe-se a presença de questões negativas proporcionando complicações ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, o que reflete direta e indiretamente na constituição de sua personalidade.
Leontiv (2010) define a personalidade como uma formação complexa do psiquismo humano. A partir disso, todas as ações desde o útero materno vão influir para essa formação, os primeiros contatos de uma criança no mundo, afetividade, sociabilidade e tudo o que ela vivenciar a partir da sua interação no ambiente que está inserida, vai constituir traços da sua personalidade.
Hermeto e Martins (2012) definem a adolescência como um novo nascimento. Os acontecimentos da infância e estímulos recebidos contribuem para este novo ciclo, pois o que acontece na infância se concretiza como uma bagagem psíquica para o atual adolescente, jovem, adulto e idoso. A personalidade engloba tanto as capacidades cognitivas quanto as emoções, à vontade, os traços de caráter. Bissoli (2014) a atribui como um sistema constituído por diversas funções psicológicas que, associadas, distinguem de maneira peculiar a forma de cada indivíduo ser e agir no mundo. Associando ao jogo, os atletas vão interagindo, desenvolvendo-se e se reconhecendo nesse meio social.
Conforme Prestes e Moro (2010) é importante destacar que o processo da adolescência atualiza e reflete todos os conflitos, tramas, tensões conquistados no desenvolvimento do indivíduo para a reelaboração da identidade pessoal.
O teórico Erikson, em sua teoria sobre o desenvolvimento psicossocial propõe que é a partir das experiências que o adolescente ainda em meio ao seu mundo hora infantil, hora adulto, estrutura o seu ego, e tenta estabelecer um sentido de coerência com seu self, seu eu. Conforme Veríssimo (2002) o jovem tenta neste processo se encontrar e afirmar, especialmente no meio do grupo de iguais, assim se revendo. Vai instituindo aos poucos aquilo quer ser, o que gosta e o que não, as situações em que se sente bem e as que não.
Questões diversas estão a afligir o desenvolvimento e maturação de crianças e adolescentes, como separações familiares, taxas de obesidade, mau desenvolvimento motor, cognitivo, emocional; social, afetivo, perante isso, se ressalta a contribuição da prática de um esporte para o desenvolvimento, principalmente na sociedade atual onde o sedentarismo, depressão, vários tipos de crises estão presentes desde a tenra idade. Segundo o Conselho Regional de Educação (2016) a prática de atividade física na infância e adolescência pode influenciar diretamente a sua continuidade na fase adulta, ressaltando isso, se consolidará uma geração com um bom desenvolvimento.
Conforme cita Melo e Melo (2000), quando uma criança está jogando, ela encontra-se desenvolvendo harmoniosamente o seu corpo, a sua inteligência e a sua afetividade com a equipe.
Segundo Valle (2007) o futebol é um esporte interativo, sendo assim, é considerado um jogo que envolve e desenvolve as capacidades e habilidades, e esquemas mentais interligando, desta forma, mente e corpo estão em constantes atividades que vão além do campo. Nesse sentido, Samulski (2009) propõe que para o rendimento esportivo tornam-se necessárias também características de personalidade, como capacidade de liderança, autodomínio, extroversão e comunicação social. Todas essas questões são desenvolvidas em coletividade no jogo.
Os treinos exigem qualidade técnica e tática do atleta e da equipe, o treinador é responsável pelo desenvolvimento dessas habilidades, que segundo Pereira (2015) os treinos passam pela construção de um comportamento individual dentro do grupo, que se desenvolve a cada dia, originando um comportamento coletivo de uma equipe vencedora.
O controle e eficácia dos movimentos também podem ser desenvolvidos a partir da prática do futebol, pois esse esporte exige constante interação entre pensamento e ação. Quanto à aquisição de habilidades motoras, Pellegrini et al. (2005) ressalta que ocorre ao longo dos anos e é fruto não só das disposições do indivíduo para a ação, mas principalmente do contexto físico e sócio cultural onde ele está inserido. Segundo Platonov e Bulatova (2003), de acordo com as diversas partes do sistema nervoso os mecanismos fisiológicos, neurológicos e psicológicos e do controle motor despontam em diferentes níveis da atividade.
Sendo assim, além de conhecer seu corpo e desenvolver habilidades por meio dos movimentos nas partidas de futebol a criança é inserida para trabalhar em equipe, explorar o seu potencial, cria o anseio de superar suas dificuldades e vários esquemas mentais, físicos e sociais são formados rapidamente para desenvolver da melhor forma possível os fundamentos do jogo: passe, domínio, condução, controle de bola, desarme, drible, finta, chute, cruzamento, finalização, cabeceio, e tudo isso, visando vencer a partida, e sem perceber ele está contribuindo para o seu pleno desenvolvimento.
De acordo com Siegel (2015) em um relacionamento o cérebro é um órgão social, conectado fisicamente para receber sinais do ambiente social, influenciando no mundo interior da pessoa. Desse modo, a socialização dos atletas, antes durante e após as partidas é de grande relevância para o desenvolvimento da personalidade, e como é perceptível nas entrevistas o entrosamento da equipe foi destacado como essencial. Em relação a isso, Bacelar (2016) afirma que o exercício total da convivência é o auge do desenvolvimento humano. Assim, lutar com desconfortos, surpresas, prazeres, conflitos, fragilidades do jogo, proporciona subsídio para estar consigo e com os outros, permitindo enxergar o mundo além de si próprio, reconhecendo-se no outro e se diferenciando, afirmando sua identidade e personalidade.
Parafraseando o psicólogo americano Carl Rogers (1987) a interação com o outro capacita o indivíduo a descobrir, encobrir, experienciar ou encontrar seu self real de forma direta. Através do relacionamento com os outros nossa personalidade torna-se visível a nós. Desse modo, a partir da socialização, criam-se vínculos que em meio competitivo tem muito a contribuir para o processo em que os jovens se encontram.
Este esporte é rotulado como um fator de socialização. De forma específica essa atividade esportiva estimula a personalidade e seu desenvolvimento. Samulski (2009) acrescenta que o encorajamento para o rendimento, a liderança, o comportamento agressivo e a comunicação social, podem ser alteradas.
No caso desse estudo, percebeu-se que os conteúdos do jogo do futebol vão muito além do passe, chute, drible, domínio e ações e reações que o jogo carece. Essa modalidade esportiva é dotada de regras que permeiam as ações dos jogadores. Desse modo, ás crianças e adolescentes vão internalizando como viver e fazer contato com o seu eu e o outro, conhecem seu potencial, o desafiam buscando a superação, e, quando almejam vencer precisam trabalhar todas essas questões, para se sobressair perante o jogo e atingir suas metas de golear. Os conteúdos aparecerem de forma espontânea em que os próprios jogadores devem buscar um equilíbrio entre seus comportamentos, respectivas ações e reações.
Ressalta-se ainda, como cita Reverdito e Scaglia, nos documentos da UNESCO (2013), toda prática esportiva oferecida às crianças e adolescentes é permeada por ações adultas dos pais, dos dirigentes, técnicos, árbitros, e todos estes, são influentes a criança e o adolescente. No meio esportivo, o jovem deve lidar ainda com as expectativas dos pais, dos professores e com as suas próprias, o que auxilia no seu processo de amadurecimento.
Ou seja, o que acontece no jogo, não permanece restringido a ele. A criança e adolescente vence a cada treino, quando passam assumir responsabilidades e autoadministrar seus anseios, conquistas, objetivos, medos, aflições, alegrias e as mais diversas emoções envolvidas nessa prática esportiva. “Quem joga, percebe-se que está em um fenômeno complexo, ha um tempo, referenciar a posição da bola, aferir a situação de colegas e adversários, em relação aos alvos a atacar e a defender, e agir num ambiente instável” (BENTO; PETERSEN, 2006, p. 318).
Na prática do futebol é comum os adeptos se depararem com suas limitações pessoais, anseios por competir ou cooperar, a partir disso desenvolvem a capacidade de socializar com a equipe, de superar seus limites, e esses fatores podem ultrapassar muitas vezes as suas capacidades, assim os atletas desenvolvem novas habilidades pelo simples fato de explorarem seu potencial a fim de cumprir seus ideais dentro do jogo. Segundo Frisseli e Mantovani (1999) o futebol possibilita que desenvolvam habilidades de concentração e coordenação motora, fundamentais para o desenvolvimento físico, psicológico e para o processo educacional.
Em relação ao futebol Leal citado por Souza et al (2010) é um esporte de atitude dinâmica e que exige distintas habilidades e competências dos seus praticantes. As competências são condições para que uma definida atividade possa ser realizada com êxito.
Desse modo, é explícita a importância da interação que ocorre entre o jogo, experiências e emoções, que são compartilhadas e internalizadas contribuindo para o desenvolvimento da personalidade de seus adeptos. A partir disso, Medina (2013) propõe que a educação física considerada como ciência humanizadora necessita enxergar além, ultrapassar o rendimento motor. Apesar de que no esporte os objetivos estão centralizados no saltar mais alto ou ir além, no nadar ou correr mais rápido, ou em marcar mais pontos em determinado jogo, o sentido humano deve ser preservado nessas atividades. Os objetivos profissionais ou esportivos não precisam seguir diferentes caminhos dos indispensáveis para que o indivíduo como ser imperfeito, se aperfeiçoe e se torne um ser social.
Pinheiro (2004) cita que a Educação Física quando desenvolvida de maneira consciente, respeita as diferenças, quer dizer, as individualidades de cada pessoa, não afasta o corpo mental do físico, compreendendo que ambos trabalham de modo integral. Cabe aos profissionais conscientizar e validar a importância da Educação Física nos níveis de desenvolvimento das crianças e os prejuízos que a falta desta ocasiona, desempenhando seu papel de forma consciente e comprometida (MELLO, 2011).
CONCLUSÃO
Perante os campos muitas responsabilidades são assumidas, esquemas de ações e reações são colocados em práticas, às emoções podem ser controladas ou não, crianças e adolescentes se deparam com uma transformação em jogo, a qual não permanece só em campo, mas transpassa para a vida cotidiana e nos relacionamentos com seus pares.
A prática esportiva é essencial, pois preza pela qualidade de vida e para o desenvolvimento do ser humano e suas potencialidades. Quando praticada na infância e adolescência se torna uma aliada ao desenvolvimento das vidas em questão. Muitas coisas decorrem nesse período, como o desenvolvimento da estrutura física, cognitiva, mental, emocional, psicossocial, e todos esses fatores contribuem e estão interligados para a formação da personalidade.
Este estudo configura-se como fundamental, pois apresentou a importância do futebol como um esporte muito presente e influente na vida de crianças e adolescentes. Demonstrar a sociedade que ele pode contribuir para o desenvolvimento global dos seus adeptos, pode estimular ainda mais a prática esportiva, contribuindo assim, com o desenvolvimento de tantas outras crianças e adolescentes que venham adotar essa prática, tendo em vista que ainda há uma visão errônea de uma porcentagem dos próprios pais em relação ao estímulo dos filhos que gostam mais, por influências contrárias não treinam futebol.
Perceber os eventos que ocorrem nesse trabalho em grupo, e o que ele resignifica na vida de cada atleta, os ensinos subjetivados que vão além do campo é uma oportunidade única, que precisa ser enxergada, e não apenas vista.
Este estudo ainda indagou e fez reflexões sobre a atuação de profissionais dessas duas áreas tão relevantes para o desenvolvimento humano, a educação física e a psicologia do esporte. É importante fazer tais reflexões para que o esporte em geral seja mais reconhecido e principalmente valorizado, e somente serão admitidos quando os profissionais envolvidos fizerem jus ao seu trabalho, instruído do modo correto, levando em consideração todos os aspectos necessários, priorizando assim os esportes bem instruídos desde a infância.
E por fim, destaca-se uma preocupação com o desenvolvimento das crianças e adolescentes, vítimas de tamanhos descasos da sociedade, acreditando que o esporte com sua precisão contribui indiscutivelmente com o desenvolvimento, tanto da vida como da personalidade dos adeptos.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos á escola de Futebol Furacão de Rio Azul-PR, por ser a inspiradora desse trabalho.
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[1]Esta pesquisa é financiada pelo Programa de Bolsas Universitárias do Estado de Santa Catarina UNIEDU.
[2] Graduanda em Psicologia pela Universidade Do Contestado UnC de Porto União.
[3] Mestranda em Desenvolvimento Regional UnC – Universidade do Contestado – Canoinhas.
