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O que os adolescentes não sabem sobre o Projeto de Vida?

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CASTRO, Adilson Valezin [1], MARTINO, Sueli Lizarda da Paixão [2]

CASTRO, Adilson Valezin. MARTINO, Sueli Lizarda da Paixão. O que os adolescentes não sabem sobre o Projeto de Vida?. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 11, Vol. 08, pp. 42-69 Novembro de 2018. ISSN:2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/pedagogia/projeto-de-vida

RESUMO

O presente artigo apresenta o resultado de uma reflexão sobre o que os alunos não sabem sobre o conceito do Projeto de Vida. Estes pensamentos buscar fazer repensar sobre o Projeto de vida como o ponto de partida para empoderar as atitudes analisadas dos alunos nas escolas de Ensino Médio da Rede Pública de Ensino estadual. Inicialmente, o primeiro contato sobre o tema Projeto de Vida foi introduzido Programa Ensino Integral na rede pública. Esse programa está sendo implantado gradativamente pela Secretaria de Estado da Educação desde 2012. Porém, em 2107, este componente curricular – Projeto de Vida- foi introduzido na Matriz Curricular nas Escolas de Tempo Integral – ETI. O trabalho com o Projeto de Vida é desenvolvido com adolescentes e jovens, a partir do 6º ano. No Ensino Fundamental – Anos Finais, as atividades de Projeto de Vida estão centradas em noções de valores para a vida, por meio de diálogos, rodas de conversas e reflexões sobre a realidade dos alunos e seus sonhos. Contudo, no Ensino Médio, as aulas de Projeto de Vida visam despertar o sentido do Projeto de vida e suas metas na construção de uma vida pessoal equilibrada, identificação de uma futura profissão e sua relação proativa com o mundo em que vive. Na construção do portfólio, os alunos revisitam sua história de vida e do seu percurso escolar, com olhos para os pontos positivos e estratégias para superar as dificuldades e crenças limitantes que os impedem de avançar como pessoais melhores e melhores desempenhos no estudo, com vistas a conseguir a percepção de seus potenciais pessoais e fragilidades e, assim, definirem as habilidades que ainda precisam ser desenvolvidas a fim de realizarem seus sonhos e elaborar seus Projetos de Vida a partir da experiência vivida. Então, o que os alunos não sabem ainda sobre o Projeto de Vida nos anos finais do Ensino Fundamental?

Palavras-chave: Projeto de vida, educação integral, tutoria, adolescente.

INTRODUÇÃO

As juventudes são as diversas formas e culturas que representam os adolescentes e suas expressões, manifestações sociais diante de sua vivência; além disso, a demonstração do seu jeito de ser, pensar e agir diante dos desafios da vida. Pensada ou inconsequente, sobrevivente ou resiliente ou bem confortável ou descrente, cada juventude tem seu olhar do que viveu e suas histórias são intensas e cheias de desejos, hormônios e muita vontade de mudar o mundo. Neste momento, aparecem as regras da realidade que precisam lidar dominar. E neste momento que os sofrimentos, as dores e inquietações ganham dimensões assustadoras diante dos olhos inquietos.

Neste contexto de movimentos que ora chamamos de rebeldia, ora de inquietações, de descompasso com a realidade adulta, percebe que o termo adolescência é reconhecido desde o século passado, com a formação de mitos e distorções sobre o tema a partir das décadas 1950 e 1960, com a conotação de que era uma fase conturbada e a formação de tribos com roupas próprias, músicas, estilo de comportamento etc. Atualmente, este mito “torto” está sendo revisto e buscando trazer a preocupação de que a adolescência é uma fase complexa tanto emocional quanto biologicamente, contudo é necessário rever as regras e estabelecer os combinados de urbanidade e respeito humano nas relações tanto nos grupos adolescentes quanto no convívio social com os adultos. E, sabe-se, que esta faixa etária está influenciando as tendências na moda, nos costumes nas mídias sociais e, como consequência, na economia. Tem-se notado também que, na maioria, é uma geração que está em muito contato com as tecnologias.

DESENVOLVIMENTO

BASES TEÓRICAS DO ARTIGO

Os direitos dos adolescentes estão consagrados desde 1989 na Convenção dos Direitos da Criança e, enfatizado nas recomendações da ONU – Organização das Nações Unidas. No Brasil, tem-se dispostos esses direitos na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – Lei Federal Nº 8.069/1990. Contudo, sua voz e sua vez ainda estão sendo excluídas bem como condições para que cada juventude tenha o direito e condições estruturais para viver com interdependência, pois sua nova força e influência na sociedade e os seus direitos expressos mostram que os adolescentes continuam a enfrentar alguns problemas e, no que se refere ao projeto de vida, o resultado é a sua progressiva exclusão ou pouca continuidade dos sonhos pensados na infância. A desmotivação e o desencanto começam a rondar suas vidas no percurso escolar do Ensino Fundamental – Anos Finais (principalmente a partir dos 7º anos) no momento em que se inicia a constatação da realidade e inicia-se o processo de consciência dos recursos financeiros da família. Aqueles que conseguem persistir, e, na vida adulta, acostumam a sobreviver e, às vezes, encaminham-se para a marginalidade com a intenção de rever este quadro, lego engano. Outros buscam o caminho de superação e refúgio nos estudos sistemáticos. Uns prosperam neste percurso ou outros nem tanto. E alguns abandonam os sonhos, suportando de forma infeliz os dias futuro. E, atualmente, está significativo o índice de suicídio na adolescente ou processo severo de depressão.

Ao não dar atenção devida a estes números das juventudes, a prática excludente dos profissionais demonstra o desafio de assegurar os seus direitos. E as oportunidades são, cada vez mais, a ser intencionalmente desenhadas sem qualquer consideração pelos seus desejos ou necessidades. Os adolescentes não são iguais aos aqueles do início do século (Silva, 2005). Houve evolução, mas as políticas públicas não evoluíram ou minimamente tentaram algumas mudanças.

Neste contexto a participação ativa dos jovens adolescentes na construção do projeto de vida e suas estratégias na construção de uma sociedade igualitária e com impacto positivo em todos os assuntos que os afetam. Desde modo, tem-se uma nova importância o sentido de contribuir para a sua inclusão e o seu desenvolvimento pessoal. Investir em políticas públicas que possam viabilizar, auxiliar no planejamento e execução do projeto de vida do adolescente será o principal caminho para a transformação da sociedade, tornando mais justa, equitativa e economicamente viável para todos (nenhum a menos). O tema deste trabalho é o que os alunos não sabem sobre projeto de vida e se soubessem poderiam ressignificar seu projeto de vida e construir uma nova história a partir dessa autoconsciência. Para isso, o grupo etário que se pretende referir neste artigo está compreendido entre pessoas com idade entre os 12 e os 24 anos (depois da fase criança e antes da fase adulta). Logo, pode pensar no conceito de adolescência como o meio do caminho. Sabe-se que o conceito adolescente é relativamente recente no mundo. Embora a adolescência, enquanto estado do desenvolvimento humano sempre tenha existido, contudo o reconhecimento científico é recente. Suas primeiras definições foram na perspectiva do mundo do consumo, em seguida, o novo jeito de conviver e depois nas informações referentes ao crescimento demográfico das cidades e, nas mídias, como novo padrão de comportamento consumo: um novo público consumista.

Por outro, tem-se que os seus direitos estão consagrados desde 1989 na Convenção dos Direitos da Criança e, desde então, noutros textos da ONU e a legislação brasileira no que tange ao conceito adolescente. Não obstante a sua nova força e influência na sociedade e os seus direitos expressos, os adolescentes pertencentes à camada social desfavorecida (economicamente e familiar) continuam a enfrentar alguns problemas. No que se refere ao espaço público, o resultado é a sua progressiva exclusão. A prática desafia os seus direitos. Os espaços tendem, cada vez mais, a ser intencionalmente desenhados sem qualquer consideração pelos seus desejos ou necessidades. Neste contexto a participação protagonista dos adolescentes no cotidiano familiar e social em geral e em todos os assuntos que os atingem ganha novo sentido e possibilita o ato de contribuir para a sua inclusão e o seu desenvolvimento pessoal e preparo profissional com excelência ou, no mínimo, um bom preparo.

Nesta perspectiva, a educação intelectual necessária para as juventudes brasileiras e a escolarização delas (juventudes) no período certo ocupam cada vez mais espaço na vida das pessoas, porque o avanço tecnológico e a evolução rápida das informações exigem uma atualização contínua dos saberes e a própria educação está em plena transformação e desconstrução de paradigmas. Também, tem-se que lembrar que o processo de socialização continua sendo iniciado pela família, em interdependência com a escola, potencializada por outras fontes de socialização, principalmente pelo mundo virtual das redes sociais. E o homem atual precisar estar ciente de sua condição social e sua capacidade de interação ampliada, sem fronteiras. Contudo, é no percurso sistemático escolar que desenvolve sua visão de mundo e sua autoconsciência, suas competências e habilidades que farão com que cada um possa continuar aprendendo e não estar à margem dessa globalização de culturas. Como no convívio familiar, nos sistemas educativos, as atitudes são exercitadas perante a aprendizagem que durarão ao longo de toda vida. Isso será efetivo como o amadurecimento intelectual e moral constante de cada adolescente e o reflexo desta maturidade no projeto de vida do coletivo das pequenas agremiações, com a prática de atitudes éticas, sociais e cidadãs, as quais demonstram a formação integral adquirida pelas juventudes e seu impacto no mundo adulto no futuro.

Segundo Tiba (2006, p.121), a escola não consegue analisar, identificar e reconhecer as variadas capacidades do aluno e o Currículo da Rede Pública não atendem as demandas das juventudes. A possibilidade de ensino é uniforme e para uma juventude, sem o enfoque nas diversidades de talentos ou planejamento de estratégias que motivam os adolescentes a criar seu próprio currículo de estudo, com a tutoria da Escola. Então, ele fica decepcionado e diminui o ânimo para continuar estudando e, como conseqüência, desperta nele a vontade de abandonar os estudos.

É nessa falha estrutural da Escola em há necessidade da atuação constante da família para reforçar o ânimo do filho, reconhecer suas potencialidades e, se necessário, buscar ajudar para superar o conflito gerado (vontade de abandonar os estudos). Porque é a família que melhor conhece o filho e está mais próxima dele também. Logo, a atuação consciente da família é fundamental para corrigir essa falta de reconhecimento das habilidades e melhor preparo para o percurso escolar com sucesso. Sendo assim, o reconhecimento das falhas e a busca de soluções para elas fazem parte da saúde psíquica, da resiliência humana e é um dos caminhos para a superação das próprias limitações. Somente pais problemáticos e/ou retrógrados se recusam a aceitar auxílio externo e costumam responsabilizar a escola pelos erros na educação de seus filhos (Tiba, 2006, p.149). E, então, é preciso que o adolescente aprenda deste cedo a identificar estas interferências emocionais e buscar ajuda para auxiliar sua própria família.

Entende-se que a ação do meio familiar sobre o êxito escolar é quase exclusivamente cultural (Bourdieu, 2002). Pois, ao ingressar na escola, a criança traz consigo uma bagagem de saberes e vivências transmitidas pela família, que são aperfeiçoados pela Escola, possibilitando o domínio dos códigos que servem de acesso a bens culturais. Assim, aquelas crianças que já possuem um capital cultural satisfatório e sabem do sentido do projeto, aprimoram-no, as que possuem menor capital cultural continuam em situação de desvantagem, sem direção e não entendem ou não percebem para que serve a formação escolar e a educação integral. É importante que haja coerência, equidade e complementação das ações educativas entre o que os pais e a escola fazem na educação de crianças e adolescentes, principalmente nas questões que podem prejudicar a construção do cidadão ético, feliz e competente (TIBA, 2006, p. 148).

Sabemos que, no contexto nacional, o sistema do ensino brasileiro ao longo de sua história tem passado por um processo de transição, buscando novas alternativas pedagógicas, sem a relevante preocupação de analisar as interferências externas ao mundo escolar em nosso país, com programas que sirvam de incentivo a todos os jovens e adultos a buscarem o saber formal, visando os resultados satisfatórios pelos órgãos competentes. Pois a evasão escolar ao longo da história da educação brasileira tem apresentado resultados negativos na transformação das juventudes brasileiras, tornando-se desafiador para os gestores, manter a permanência do aluno na escola e provocar a motivação pela continuidade dos estudos no Ensino fundamental com aproveitando, no Ensino Médio e pós Ensino Médio.

Desse modo, podemos dizer que o habitus familiar pode influenciar o desempenho dos adolescentes na construção de seu percurso escolar e no planejamento do Projeto de Vida. Dessa maneira, definimos o conceito habitus como princípio gerador de práticas incorporadas e produzidas ao longo da trajetória do homem dentro da família, na escola e na sociedade.

Para Bourdieu (2002), o habitus é importante para a análise de atitudes subjetivas que são capazes de estruturar as representações e a geração de novas práticas na comunidade. Atualmente, precisa-se pensar em uma comunidade global, sem fronteiras geográficas e pluricultural. Nesse sentido, habitus é empregado, neste artigo, como o conceito capaz de expressar o diálogo, a troca constante e recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo das individualidades. Habitus é, então, concebido como um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientadas para funções e ações do agir cotidiano.

Na busca de compreender essa situação e sugerir alternativas saneadoras, observarmos que existem realidades semelhantes acontecendo em outras comunidades internacionais de maior porte, porém com causas sociais que podem ser semelhantes também.

Abaixo o desempenho em Matemático dos alunos brasileiros em relação aos alunos dos outros países analisados.

Enquanto nos países desenvolvidos a média do índice da educação básica é 6,00, conforme afirma a OCDE (Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico).

No que tange à educação brasileira, a legislação determina a responsabilidade da família e do Estado no dever de orientar a criança em seu percurso sócio educacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB (1996), é bastante clara a esse respeito:

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A despeito disto, o que se observa é que, a educação não tem sido plena no que se refere ao alcance de todos os cidadãos, assim como no que se refere à conclusão de todos os níveis de escolaridade, conforme dados, a seguir:

Fonte: G1

Com a intenção de fundamentar a proposta de reflexão neste artigo, teremos o interesse em identificar as causas raiz que interferem e/ou motivam a não-continuidade; não se trata, apenas, de aproximar a escola do mundo do trabalho, mas de oferecer aos adolescentes os meios de enfrentar as realidades sociais e profissionais e, deste modo, segundo DELORS (1998), tomar consciência das suas fraquezas e das suas potencialidades, será para eles um fator de amadurecimento emocional e social, com a criação de uma proposta de enfrentar sua realidade social com o projeto de vida estruturado, com parceiros adultos e em cooperação com outros adolescentes.

Desse modo, entendemos que o histórico de insucesso escolar e na construção efetiva do projeto de vida das famílias pode estar implicando nos resultados de estudo dos filhos , pois elas (famílias desfavorecidas) não conseguem atualizar seu conhecimento frente à globalização e, por outro lado, não têm conhecimento da sistematização da educação escolar e seus benefícios para a vida inteira, assim, aumenta sua dificuldade em compreender o presente e planejar o futuro de seus filhos, conforme as exigências modernas. Essa dificuldade será cada vez mais acirrada e irá comprometer a visão de futuro dos filhos e seu olhar atento para o próprio projeto de vida. Assim, se houver a preocupação com a educação planejada, no seio da família, haverá uma maior probabilidade de motivação de continuidade de estudos e formação dos adolescentes, pois “a educação é o único caminho capaz para transformação humana e social dos indivíduos, conduzindo-os para uma visão crítica, conscientizando e preparando-os para viverem em sociedade e assumindo a sua cidadania” (MARX apud SAVIANI,1991, p. 37) e buscando as garantias de seus direitos juntos aos órgãos públicos.

Se orientada e desejosa em reverter essa situação, a família poderá controlar e disciplinar a formação intelectual e moral de seu filho e auxiliar na estruturação de metas, foco, viabilidade econômica do projeto de vida de cada filho, conforme suas potencialidades, saberes e características pessoais. Evitando, assim, a chamada terceirização dos filhos paras para Escola, pois

Filhos são como navios. Os pais são os estaleiros e a escola os equipa para a vida. (…) Também os filhos foram feitos para singrar os mares da vida e não para ficar eternamente à roda dos pais. (Quem ama, educa!) [TIBA, 2006. 18ªed. p. 131].

Nos casos em que a miserabilidade econômica compromete a formação escolar e intelectual dos adolescentes, podemos observar a Lei Federal 8069/90 (ECA):

Art. 86 – A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 90, 21)

Segundo Arroyo (1997, p.23), na maioria das causas da evasão escolar, a escola tem a responsabilidade de atribuir à desestruturação familiar, e o professor aponta que o aluno não tem responsabilidade com a aprendizagem, tornando-se um jogo de empurra-empurra. E, é nesse, momento que o adolescente precisa saber perguntar e buscar quem o ajudará a vencer suas limitações, controlar seus medos e encontrar o caminho produtivo que finalizará com a construção feliz do projeto de vida, tornando-se responsável por seu projeto de vida e, simultaneamente, no agente cooperador das transformações de outros adolescentes e engajado na educação planetária. Nesta fase do meio (adolescência), os adolescentes poderão fazer novas possibilidades de aprendizagem para suportar esta fase complexa e superar suas limitações e medos e ingressar na fase adulta (fim, considerando as 3 etapas da vida: criança, adolescência e adulta) de forma tranquila, feliz e planejada.

Sabemos que a cultura vigente na Escola pública atual não está preparada para receber e formar estes adolescentes e jovens, com diversidades culturais e talentos distintos e que são produtos dessa sociedade injusta, cheia de contradições éticas e com viabilidade econômica, tampouco, as outras instituições públicas estão prontas e organizadas para acolher e orientá-los de forma complementar na construção do Projeto de Vida e o que precisa ser feito para a efetividade deste projeto.

Então, se houver a união das forças programadas de cada instituição, como o objetivo comum – projeto de vida das juventudes- no seu campo de atuação social, tornando uma cooperação de instituições que sejam capazes de inovar e transformar o percurso escolar desses adolescentes em um momento atrativo e estimulador do projeto pessoal e profissional para vida inteira, conforme propõe Menezes (2001, p. 93):

A escola que corretamente reconheça sua própria pluralidade, precisa estar também atenta às metas individuais de diferentes conjuntos de alunos, sendo capaz de apoia-los, sejam elas majoritárias ou não. Exemplos importantes são o preparo pré-universitário, significativo para uma boa parcela de seus alunos, ou a orientação profissional imediata, para parcela ainda maior. Não se pode submeter toda a escola à lógica de cada uma destas metas, mas ignorá-las seria inaceitável, pois corresponderia a deixar de cumprir algumas das missões da escola; portanto, é preciso combinar a atividade escolar comum a todos com atividades complementares, sempre que possível estabelecendo parcerias com outras instâncias públicas e comunitárias, como organizações não-governamentais, ou fazendo uso de outros equipamentos sociais e demandando sua criação, quando percebida sua ausência ou insuficiência.

Sendo assim, poderia amenizar a incerteza quanto ao destino profissional desses adolescentes. Todavia, à medida que as crianças vão cursando as séries escolares e vivenciando, no seu cotidiano, encontram-se desprovidos pela falta de perspectiva de oportunidade de estudo, visão de trabalho autônomo, empreendedor ou operacional de uma empresa e, ainda, não estão bem orientados quanto a um plano de estudo a longo prazo, pós Ensino Médio, não conseguem, dessa maneira, relacionar as matérias escolares com a necessidade do dia-a-dia e com o projeto de vida; assim, os resultados de aprendizagem começam diminuir conforme demonstra o IDEB do Brasil (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica):

Os resultados mais recentes apontam, a média de 4,2 para as séries iniciais do Ensino Fundamental, 3,8 para as últimas séries do Ensino Fundamental e 3,5 para o Ensino Médio. (BRASIL, 2006, p.8)

O mal-estar causado pela falta de visão clara do futuro, conjuga-se com a consciência cada vez maior de sua incapacidade de rever esse presente desmotivador e alienante, distanciando todos da comunidade local e global. Como consequência dessa desmotivação, aparece o abandono escolar e a não-continuidade dos estudos, seja em nível técnico, tecnólogo ou superior. Essa ideia pode ser confirmada pela recente pesquisa coordenada pelo economista Neri (2006), na qual, a falta de interesse pela escola é o principal motivo que leva o jovem brasileiro a evadir. A pesquisa Motivos da Evasão Escolar, lançada pela Fundação Getulio Vargas – FGV-RJ, revela que 40% dos jovens de 15 a 17 anos que evadem deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante. A necessidade de trabalhar é apontada como o segundo motivo pelo qual os jovens evadem, com 27% das respostas, e a dificuldade de acesso à escola aparece com 10,9%. Sabemos que essa exclusão escolar irá dificultar a entrada desses jovens no mundo do trabalho moderno.

Isso posto, percebe-se que o contexto social encontra-se em dissonância com a proposta prevista na Constituição Federal, desde 1988:

Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 88, 3)

Desse modo, as entidades públicas incumbidas das decisões das políticas públicas de ensino precisam enfrentam o desafio de organizar e superar esse cenário e promover condições sociais satisfatórias que venham favorecer a continuidade de estudos dos jovens e despertar desde o início da adolescência o foco pelo projeto de vida como um dos balizadores do sucesso escolar sistemática, do desenvolvimento pessoal e seu impacto positivo na sociedade, na construção dos valores éticos e melhoria econômica de todos (nenhum a menos). Porque, confrontada com a tensão das relações sociais, a educação integral de cada juventude deve sustentar e fortalecer a todos (jovens e adultos) no enfrentamento da diversidade, vendo-a como um fator positivo de compreensão e visão de oportunidades de aperfeiçoamento tanto individual quanto coletiva. E, sendo assim, sua principal missão é proporcionar a todos os instrumentos necessários a uma cidadania consciente e ativa, que só pode realizar-se, plenamente, num contexto de sociedade democrática e equitativa, com tomada de consciência da necessidade de planejar ações que visam prevenir contra a não-continuidade de estudos e suas consequências e o reconhecimento da essencialidade do projeto de vida como um dos caminhos para reverter essa desmotivação pela continuidade dos estudos sistemáticos e aperfeiçoamento contínuo além bancos escolares.

Porque, percebe-se que não houve, em tempo, o planejamento do futuro escolar do filho, novamente o habitus familiar repete a história de seus antecessores. E para redefinir esse percurso de insucesso é necessário que a família envolva-se com a educação do filho, com grande força do caráter, com determinação e disciplina. Essa atuação firme venha alterar a rotina familiar e promover a construção do autocontrole da mente do filho, pois o único favor duradouro que um pai pode prestar a um filho é ajudá-lo “a fazer por si” (HILL, 2010, p. 178), com a construção de sua autonomia e o estabelecimento do objetivo principal de vida bem definido, no qual, chamamos de projeto de vida e é isso que os adolescentes desconhecem e conseguem buscar este auxílio e, cooperativamente, formar uma parceria que irá colaborar com eles na construção de seus sonhos – projeto de vida.

Nessa perspectiva, entendemos que a educação integral, vinculada à concepção do homem e sociedade, poderá promover o processo educacional interdimensional e conectado com o planeta que emerge através da família, igreja, escola e comunidade, contemplando os valores, princípios e o conhecimento intelectual e a formação de valores éticos como preparo significativo para a vida inteira.

Quando uma dessas instituições fracassa, ou algumas delas tornam incapazes de compreender as demandas sociais (tanto no cotidiano físico quanto no mundo virtual líquido), temos um desalinho imperceptível na formação individual, na infância. Todavia, na chegada da adolescência, todos os aprendizados e não-aprendizados tornam evidentes. E não temos como rever alguns casos de não-aprendizagem. Tem-se vários estudos em que apontam os aspectos sociais como determinantes da evasão escolar, dentre eles, a desestruturação familiar, as políticas de governo, o desemprego dos pais, a desnutrição, a escola e a própria criança, sem eximir a responsabilidade da escola no processo de exclusão das crianças do sistema educacional.

Então, se as famílias tomarem consciência de que os conteúdos escolares são mais que “pacotes de conhecimentos universais a serem digeridos” e considerá-los como práticas culturais construídas ao longo da história, que são formas expressas das diferentes leituras produzidas do mundo por pessoas que as praticaram intensamente. Que esses conteúdos podem favorecer novas possibilidades de ver o mundo do aluno e do seu meio familiar, refletindo, de forma positiva, na importância de pensar esta parceria família/escola, na superação das desvantagens culturais (Forquin, 1993). E estes dois segmentos tornarem alinhados com as metas e as estratégias de construção do processo do projeto de vida pelo filho, tem –se, assim, o divisor de águas na vida das juventudes, como mito “torto” para uma juventude engajada e respeitosa de suas diversidades pessoais e culturais, com a visão da necessidade de praticar as regras comuns de sociedade ética, justa e equitativa, conforme idealizada na Agenda 2030.

Para que isso aconteça, ou pelo menos, comece a ser construído, Durkheim (1975) aponta para a necessidade do homem ser capacitado para sua vida na sociedade desde a tenra infância. Este processo é realizado conjuntamente pela família, pelas escolas e universidades. Pois, a influência moral, ética e psicossocial exercida pelos homens adultos sobre os que ainda não estão preparados moral e intelectualmente para a vida social, têm, por objetivo, despertar e desenvolver na criança determinados estados físicos, intelectuais e morais que todos esperam, por um lado, a sociedade política em seu conjunto, e por outro, o meio específico ao qual está destinado. (DURKHEIM, 1975, p. 44)

Nesse sentido, compreendemos que a promoção das mudanças ambientais educativas necessárias é fundamental para viabilizar o desejo de transformação desses jovens. Conscientes de sua autonomia e poder de decisão, esses sujeitos sociais poderão despertar o interesse em continuar seus estudos pós-ensino médio, caso contrário, não podemos forçar o estado de vontade, porque:

(…) não tem por objeto, ou por efeito, comprimir o indivíduo, amesquinhá-lo, desnaturá-lo, mas ao contrário engrandecê-lo e torná-lo criatura verdadeiramente humana. Sem dúvida, o indivíduo não pode engrandecer-se senão pelo próprio esforço. O poder do esforço constitui, precisamente, uma das características essenciais do homem. (DURKHEIM, 1975p. 47)

A autora Góes (1991, p.21) conclui que “o sujeito não é passivo nem apenas ativo: é interativo”. Com isso, podemos dizer que a gestão pública, a escola e a comunidade inteira, quando comprometidas, poderão auxiliar a evolução desses jovens, se for esse o desejo despertado e desenvolvido. Assim, ao tentar explicitar o processo de formação social da mente, explica que tal processo não implica em considerar que o ser humano é passivamente moldado pelo meio, embora se reconheça que há uma necessária interdependência dos planos inter e intrassubjetivos, ou seja, a formação de interdependência das juventudes em processo singular respeitoso e harmonioso das crenças positivas e do habitus familiar em empoderar o projeto de vida de cada filho (todos, nenhum a menos).

Desse modo, junto com a escola, a gestão pública poderá promover essas condições favoráveis para o interesse e o esforço individual do adolescente em tornar-se melhor e aprimorar seus conhecimentos. Haja vista que temos evidências que demonstram que as escolas efetivas podem contribuir para que os alunos com vantagens socioculturais e escolares as aumentem e os demais reduzam as suas desvantagens (MORTIMORE, 1997).

É claro que isto implica a urgência de mecanismos compensatórios, como melhor pré-escola, apoio ao estudo fora da escola, ajuda financeira etc. Não se justifica, pois, um fatalismo pedagógico. Também, temos a consciência que a escola sozinha não poderá compensar a sociedade, contudo, quando atinge a efetividade, pode contribuir, nos limites da sua faixa de atuação, para diminuir as diferenças sociais. Então, que atributos são influentes para se constituir uma escola democrática e de qualidade[3] que atentam a demanda desses adolescentes? O que esses adolescentes não sabem ainda e precisam saber? Em que todos possam apropriar dos bens imateriais e, a partir dessa apropriação intelectual e ética, diminuir as desvantagens culturais, com maior empregabilidade do conhecimento construído para a vida inteira.

Pensamos nessa possível situação cultural, porque constatamos que, ao longo de nossa história, as camadas menos favorecidas da população são encaminhadas ao trabalho braçal, mão-de-obra menos qualificada, à condição de subordinação, à medida que são eliminadas do sistema de ensino antes mesmo de ingressarem nele, ou quando ingressam, pela prática da avaliação da escola, tornam-se excluídas.

Segundo Nogueira (1998,p.75), a tese de “causalidade do provável”, formulada por Bourdieu, estabelece uma relação do provável com as incorporações culturais e a predisposição do sujeito em conhecer o mundo, já prejulgado a partir do que lhe foi apresentado, ou seja, o diálogo entre “um agente predisposto e prevenido, e um mundo presumido, isto é, pressentido e prejulgado, o único que lhe é dado conhecer”. Diante disso, a Escola não consegue despertar para pensar nisso e focar nas soluções, possibilidades e estratégias mais assertivas para diminuir ou superar este ciclo viciado dessa “causalidade do provável”

Então, favorecer a construção desse conhecimento sistematizado e programado para o futuro, com o planejamento de ações públicas que possam corrigir esse percurso e enriquecê-lo irá diminuir as desvantagens culturais e poderá criar o desejo ardente, seguido da cristalização desse desejo num propósito definido, e finalmente a ação adequada para conseguir esse propósito: o futuro planejado e positivo – o projeto de vida.

Uma pesquisa realizada pela revista Harvard Business Review apontou que apenas 3% das pessoas pesquisadas tinham de fato um planejamento escrito, ou seja, possuíam um plano de ação para suas vidas. Esses 3% detinham 90% da renda de todos os entrevistados. Sorte ou azar? Nada disso. O fato concreto é que há uma relação direta entre planejamento e realização (ALBUQUERQUE, 2009, p.61).

Além do planejamento e do propósito (projeto de vida), é importante a formação cultural do hábito de estudos e sua conexão positiva e relevante para a vida. O hábito irá construir o novo aluno, o novo filho que a família quer para superar as adversidades culturais e transformá-las em oportunidades de crescimento intelectual e prepará-lo para a vida inteira. É a formação dos tipos de hábitos que irão conduzir esses adolescentes do que são para o que serão ou desejam ser na vida. Pois, primeiro nós formamos nossos hábitos, depois os nossos hábitos nos formam (ALBUQUERQUE, 2009, p.243).

Para Bourdieu e Passeron (1992, p. 26), a escola como uma instituição que consegue melhor do que qualquer outra dissimular as suas verdadeiras funções sociais, o que motiva as classes dominantes a delegar-lhe cada vez mais o poder de seleção como se ela fosse uma instância neutra. Referem-se eles que a escola possui, simultaneamente, uma função técnica de produção e comprovação de capacidade e uma função social de conservação e consagração de poder e privilégios.

Pensando na primeira função da escola, temos o estímulo em acreditar que nossos jovens poderão melhorar seu potencial e desenvolver suas habilidades técnicas e, assim, diminuir suas desvantagens culturais e alcançar um melhor desempenho diante das exigências competitivas, em que irão poder participar com melhores condições, as mais próximas possíveis da almejada equidade social. Porque a escola deve tratar a liberdade humana de forma responsável. Ser livre é auto-educar-se, ou seja, é “[…] assumir direta e integralmente a responsabilidade dos próprios atos e experiências” (TEIXEIRA, 2000, p.17).

Sendo assim as políticas públicas precisam estar direcionadas para a importância da escolaridade integral do jovem, como afirmou Anisio Teixeira, 1994, p.33):

A consciência da necessidade da escola, tão difícil de criar em outras épocas, chegou-nos, assim, de imprevisto, total e sôfrega, a exigir, a impor a ampliação das facilidades escolares. Não podemos ludibriar essa consciência. O dever do governo – dever democrático, dever constitucional, dever imprescritível – é o de oferecer ao brasileiro uma escola primária capaz de lhe dar a formação fundamental indispensável ao seu trabalho comum, uma escola média capaz de atender à variedade de suas aptidões e das ocupações diversificadas de nível médio, e uma escola superior capaz de lhe dar a mais alta cultura e, ao mesmo tempo, a mais delicada especialização.

Dessa forma, a escola prepara os adolescentes, não pode decidir por eles e elas, mas pode auxiliá-los a se tornar protagonistas de sua própria história de prosperidade e realização do projeto de vida. O que os adolescentes não sabem sobre isso? Sendo assim, é necessário que a família encoraja-os a tomar a decisão de melhorar suas potencialidades ou, em alguns casos, descobri-las ou despertar para a disciplina de autoconhecer para melhorar, descobrir ou despertar. Envolver-se, com determinação, na conscientização de que o percurso escolar será formatado por suas decisões, escolhas, hábitos e autonomia do próprio. O que os adolescentes precisam ter consciência que a família interfere, orienta e pode auxiliar com maior rigor na sua formação integral e no fortalecimento do Projeto de vida. Contudo é o indivíduo que tem o poder de construir seu percurso escolar, bem como sua vida inteira. Assim, os adolescentes precisam compreender: há duas maneiras de relacionar-se com a vida. (…) ou a vida cavalga e conduz ou é cavalgada e conduzida. Ela nunca permanece estática (ALBUQUERQUE, 2009, p.250).

Com esse conceito, a família poderá esforçar-se, buscar auxílio externo de profissionais preparados para orientá-la no fortalecimento da motivação do interesse pelos estudos dos filhos e como aprender a cuidar dos sonhos do filho, com a intenção inspirá-lo em boas ações, construir valores e relações emocionais saudáveis apesar do emaranhado de informações e das tendências massivas e alienantes que, às vezes, corrompem o pouco de esperança e resiliência que as juventudes sustentam em suas atitudes. Por isso, que a família deve despertar, no filho, o interesse em empreender o seu próprio futuro. Que o filho seja capaz de pensar nas estratégias, nas condições e nas possibilidades de formar seu conhecimento organizado, pois não nasceu pronto, está se fazendo a cada dia e em cada ação (CORTELLA, 2007).

Segundo Bourdieu (in Nogueria, 2002), a ação das estruturas sociais sobre o comportamento individual se dá principalmente de dentro para fora e não o inverso, ao incorporar ações sociais em sua manifestação individual de acordo com um habitus familiar ou de classe e que passaria a conduzi- los ao longo do tempo e nos mais variados ambientes de ação. Em poucas palavras, a estrutura social conduziria as ações individuais e tenderia a se reproduzir através delas, mas esse processo não seria rígido, direto ou mecânico, tem sempre a escolha e decisão do indivíduo.

Com a prioridade de garantir o êxito da atenção/empenho da família na construção do percurso escolar com sucesso, autonomia para criar o projeto de vida, incluindo o pós Ensino Médio, do filho, devemos perceber que a participação efetiva dos diversos extratos da comunidade na gestão dos serviços educacionais, pela implantação de mecanismos de gestão democrática e participativa, nos quais, têm lugar de destaque as associações estudantis, a implantação dos Colegiados ou Conselhos Escolares, Conselho de Parcerias, dentre outras iniciativas das políticas públicas que visam promover a valorização da educação de todos (Teixeira, 1990).

O PROJETO DE VIDA COMO COMPONENTE CURRICULAR

O Projeto de Vida é o componente curricular incentivador e motivador de todos os outros componentes escolares. Como âncora, também é aquele componente que precisa de metodologias ativas para ser desenvolvido. Durante o ano letivo, os estudantes do Ensino Fundamental – Anos Finais e Ensino Médio têm duas aulas semanais, com os seguintes objetivos, conforme descrito no Caderno de Projeto de Vida (2014, p. 3):

  • Desenvolver as habilidades e competências do século XXI, previstas nos Quatro Pilares da Educação;
  • Construir e incorporar conhecimentos e valores que permitam a tomada de decisão;
  • Desenvolver a responsabilidade por suas escolhas, compreendendo que as escolhas que fazem na atualidade influenciam o seu futuro;
  • Perceber a importância da escolaridade para que seus planos futuros possam ser realizados;
  • Vislumbrar diferentes cenários e possibilidades para sua formação acadêmica e profissional;
  • Aprender a projetar e traçar caminhos entre o hoje e o amanhã;
  • Colocar em prática todas as possibilidades de vivência do Protagonismo;
  • Construir o seu Projeto de Vida.
  • Sob esta luz metodológica, as juventudes podem encontrar as orientações sistemáticas que precisam para sustentar seu projeto de vida. Contudo é importante o laço afetivo e o empoderamento dos adultos que o cercam e que são, na maioria das vezes, pessoas que os adolescentes respeitam, amam e/ou admiram ou buscam inspirações para projetar-se socialmente como adulto no futuro.

Segundo Nilson Machado, os projetos são pertinentes e imprescindíveis à vida de todos os seres humanos.

Como seres humanos, não vivemos sem projetos; mas as metas que elegemos são sempre sustentadas por uma arquitetura de valores, sentido e um bem estar para todos. Os projetos que alimentamos – e que nos sustêm – antecipam transformações em busca de uma realidade que prefiguramos e que queremos construir; os valores representam aquilo que queremos preservar conosco, o que queremos levar na viagem rumo ao novo. (MACHADO, 2006, p. 7). Dessa maneira, o trabalho com valores perpassa todo o projeto pedagógico das escolas, em especial, as aulas de Projeto de Vida no Ensino Fundamental, em que os alunos têm a oportunidade de desvendar e refletir sobre o mundo que os cerca, permitindo uma revisão dos valores incorporados até então ou a oportunidade de desenvolver e ampliar aqueles que ainda não estão tão claros e vivos na sua atitude.

Logo, o Projeto de Vida precisa ser compreendido pelos adolescentes como um dos pontos de ponto de partida para a motivação, interesse e sentido na melhoria da atual performance escolar, engajamento na sociedade em que mora e convive, além de buscar a relevância e o plano de continuidade dos estudos após o Ensino Médio.

COMO ENSINAR PARA OS ADOLESCENTES O SENTIDO DO PROJETO DE VIDA?

O que trata a Pedagogia? E a hebiagogia? E a Andragogia? Então, é preciso conectar estas três metodologias e reinventar esta fusão e construir uma metodologia que visa compreender as demandas sócio emocionais da adolescência e suas atitudes. Ter a metodologia de ensinar, além de pesquisar, estudar, analisar e avaliar as demandas de aprendizagem dos adolescentes e planejar estratégias diferentes, além dos métodos de ensino previstos atualmente, porque a formação dos professores está centrada na pedagogia ou no ensino superior com formação específica em Componentes Curriculares. E qual é a formação ideal/necessária do professor sob a visão da hebiagogia para cuidar da formação integral dos adolescentes, suas inquietações e mudanças comportamentais aceleradas no contexto atual do Brasil, nas redes social e no mundo virtual? Se não tem um método assertivo para a educação integral dos adolescentes, como os adolescentes irão construir seus respectivos projetos de vida?

Por que esta reflexão se faz necessária? Observa-se atualmente que os adolescentes não possuem a dinâmica do processo de aprendizagem de uma criança nem a de uma adulto, tão pouco o desenvolvimento emocional pode ser comparado a ambos. Enquanto isso, o processo de ensino está continua fundamentado em estratégias da pedagogia ou estratégias e atividades semelhantes e oriundas da pedagogia.

Desta maneira, percebe-se que os estudos não tiveram a preocupação de olhar para os adolescentes e identificar, com celeridade, quais são demandas sócio emocionais, cognitivas e habilidades das juventudes. E percebe-se que são muito distintas da fase criança bem como da fase adulto, como apontando acima, a faixa do meio (depois da fase criança e antes da fase adulto).

E agora, o que pode ser pensado? Acredita-se que é necessário rever o Projeto Político Pedagógico da Escola que sustenta a proposta pedagógica da Escola através da escolha de estratégias e atividades escolares que visam atender as demandas das juventudes que estão nas escolas e estão insatisfeitas com o atual processo de ensino em que estão participando e a revisitação na formação dos profissionais envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem.

Além disso, é importante analisar o habitus cultural familiar da valorização da educação como um dos caminhos para a promoção de melhoria da qualidade de vida e compreensão da justiça social e preocupação com a construção do projeto de vida; com a identificação, junto às famílias, do atual plano de investimento quanto ao percurso escolar dos filhos até a conclusão do ensino superior, com êxito, ou outras técnicas de formação profissional e o sentido da interdependência desde a juventude como o processo cultural necessário para a transformação da realidade em que atua e de sua própria vida com mais condições de vida saudável, prosperidade e a contribuição social com os outros adolescentes, isto é, a verdadeira pratica da premissa do protagonismo jovem competente, solidário e autônomo e comprometido com a concretização da educação planetária como assegura a agenda 2030/ONU.

O QUE PRECISA SER PENSADO PELOS ADOLESCENTES?

Através das análises do cotidiano das juventudes, diálogo com professores da Rede Pública do Ensino Médio, com os estudos propostos no curso de Mestrado com especialização da educação dos profissionais na área saúde e a experiência do trabalho na execução dos serviços, pensamos que os adolescentes precisam enxergar nas instituições sociais o espaço de incentivo e apoio para que possam encontrar profissionais que os auxiliam na estruturação do projeto de vida e a sua inclusão segura, produtiva e enriquecedora, tornando-as como esferas estruturadas dentro de um processo social integrado em todos os aspectos quantitativos e qualificativos, contínuos e espontâneos que possam preparar cada família e seus filhos para que possam planejar o percurso escolar e o projeto de vida promissor dentro de todos os aspectos morais e intelectuais, não se preocupando apenas com aquisição do domínio de ler, escrever e contar, mas, sobretudo, com o desempenho pessoal autônomo e a cultura do saber fazer coletivo na construção do projeto de vida. E este último – projeto de vida- ser um dos caminhos para a transformação de cada juventude em uma geração de adultos integrados com o bem maior: educação humanizadora e planetária simultaneamente.

Pois, uma das hipóteses que se tem observado é o que pode estar provocando essa situação de desmotivação e de descontinuidade dos estudos é falta de planejamento familiar no tocante ao percurso escolar de seus filhos, aliada ao desconhecimento dos programas de assistências sociais, e ainda, ausência de políticas públicas direcionadas a esse público, o adolescente, com ações que poderiam orientá-los e auxiliá-los na construção de uma trajetória escolar com êxito e, em consequência dessa formação educacional, com a construção do Projeto de Vida por todos adolescentes (nenhum a menos) até o final do curso do Ensino Médio, com isso, vislumbrar um futuro com melhores e maiores oportunidades de realização pessoal, preparo para o mundo do trabalho e sua corresponsabilidade planetária.

Porém, a desmotivação e a descontinuidade dos estudos dos adolescentes e jovens dificultam a formação intelectual e profissional. A partir desse estudo, será possível elencar um conjunto de ações articuladas que venha subsidiar a atuação do poder público no sentido de propiciar auxílio às famílias e aos adolescentes, em situação de desinteresse, provendo-os de orientação e apoio no planejamento do percurso escolar com êxito e a autonomia quanto às escolhas e decisões das metas do Projeto de Via com impacto positivo ao longo de sua existência (pessoal, profissional e de cidadão).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então, o que os adolescentes não sabem ainda sobre o projeto de vida? A intencionalidade deste trabalho reflexivo é mostrar que eles (adolescentes) não sabem que é preciso envolver sua família como auxiliadora da construção das metas ou encontrar pessoas adultas que possam fortalecer sua autoestima, ensinar a ter resiliência para lidar com os “nãos” da vida e estabelecer parcerias com outros jovens que tem os objetivos comuns. Por último, a aprender a calcular o quanto custa seu sonho e a fazer uma poupança planejada desde o doze anos de idade, ou seja, assim que adentrar ao sexto ano do Ensino Fundamental. Ter esta cultura de construção do sonho e seu aporte financeiro para realizado precisa fundamentalmente do apoio familiar ou de uma tutoria (padrinho/madrinha) das instituições sociais e de pessoas adultas que os incentivem e cuidem dessa cultura empreendedora e acompanha suas metas até sua independência pessoal, financeira e profissional com dignidade, saúde e ética. Por consequente, compreender que o projeto de vida poderá ser um dos caminhos que melhora possa direcionar a todos (nenhum a menos) para a transformação de cada juventude em uma geração de adultos com suas diversidades e integrada com o bem maior: a educação humanizadora e planetária de todos (nenhum a menos) e em prol da sociedade humanitária, justa e financeiramente viável para todos como propõe a Agenda 2030/ONU.

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[1] Graduação em Medicina, com Especialização em Saúde e Medicina Geriátrica; com Mestrado em Educação nas profissões de saúde. Professor. UNIFEV – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOTUPORANGA/SP. Médico Geriatra, AME – AMBULATÓRIO MÉDICO ESPECIAL DE SANTA FÉ DO SUL – SP.

[2] Graduação em Licenciatura Plena em Letras e Pedagogia; com especialização em gestão da Rede Pública para Supervisores de Ensino e especialização em gestão educacional. Supervisor de Ensino. Diretoria de Ensino.

Enviado: Novembro, 2018

Aprovado: Novembro, 2018

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Adilson Valezin Castro

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