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A Influência Da Diabetes Mellitus E A Hipertensão Arterial No Tratamento Endodôntico

RC: 89476
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ARAÚJO, Stephanne Louíse de [1], ALMEIDA, Mariana Rodrigues de Lima [2]

ARAÚJO, Stephanne Louíse de. ALMEIDA, Mariana Rodrigues de Lima. A Influência Da Diabetes Mellitus E A Hipertensão Arterial No Tratamento Endodôntico. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 06, Vol. 14, pp. 69-82. Junho de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/odontologia/influencia-da-diabetes

RESUMO

A Diabetes e a hipertensão são doenças sistêmicas crônicas que trazem consequências a saúde geral, bem como a cavidade bucal. A relação entre elas tem sido amplamente relatada na literatura, baseado nesses dados o presente estudo realizou uma revisão de literatura no qual buscou-se descobrir a relação da Diabetes e Hipertensão Arterial no Tratamento Endodôntico. O estudo foi realizado através da pesquisa na base de dados eletrônica PubMed. De acordo com a proposta deste estudo e a revisão dos trabalhos realizada, podemos concluir que essas alterações sistêmicas podem causar alterações na polpa, além da modificação de seus componentes estruturais, deficiência no processo de reparo após o tratamento endodôntico, aumento do risco de exodontia e estudos demostraram maior prevalência de lesões periapicais em pacientes acometidos por essas doenças. Entretanto, mais estudos são necessários para elucidar todos os mecanismos envolvidos nesta relação.

Palavras-Chave: diabetes mellitus, hipertensão arterial, tratamento endodôntico.

1. INTRODUÇÃO

A Odontologia moderna tem como finalidade conservar e recuperar dentes para que tenham um desempenho funcional e estético eficiente. No passado dentes que eram sujeitos unicamente a exodontia, agora podem ser salvos. Os pacientes estão adquirindo mais confiança no tratamento endodôntico, a partir do momento que passaram a entender a importância e reconhecer que esse tratamento é uma alternativa para que o elemento possa ser salvo, conservando-o, dentro de suas limitações. Cada vez mais é possível observar que a população tem se conscientizado sobre a importância de manter os dentes e que a perda dentária de um único dente que seja pode gerar um dano a toda saúde bucal.

O tratamento endodôntico consiste na remoção do tecido pulpar inflamado ou infectado, na qual deve ser realizado a limpeza e modelagem para assim, obter um bom selamento dos condutos e prevenir reinfecções. O principal objetivo desse tratamento é tornar o sistema de canais radiculares livre do maior número possível de micro-organismos. Em casos de tratamento endodôntico, busca-se proporcionar ao paciente um alto índice de sucesso, obtido com a terapêutica adequada, permitindo a recuperação de dentes com envolvimento pulpar e/ou com ampla destruição coronária, devolvendo-lhes suas funções no sistema estomatognático (FONTANA, 2003). Assim, com o aumento da expectativa de vida da população, devido o desenvolvimento da medicina na prevenção e tratamento de doenças, há um crescente número de pessoas da terceira idade buscando cada vez mais esse tipo de tratamento. Como consequência, no dia a dia clínico, o cirurgião dentista está mais susceptível a ficar diante de pacientes sistemicamente comprometidos. Os grupos mais presentes no consultório e que merecem atenção especial por parte do cirurgião dentista são os hipertensos e diabéticos, esse olhar diferenciado evita possíveis complicações durante o atendimento odontológico. (XIMENES, 2005).

Diabetes é uma doença crônica que ocorre devido o hormônio insulina se apresentar de forma deficiente no organismo, este que regula o nível de glicose no sangue. A doença descompensada gera a hiperglicemia (excesso de glicose no sangue), que a longo prazo, afeta de forma grave vários órgãos e sistemas, principalmente vasos sanguíneos e os nervos. Sendo capaz de lesar as diversas funções do sistema imunológico, levando a um processo de inflamação crônica, destruição gradual dos tecidos e diminuição de seu reparo. Na cavidade oral as alterações mais frequentes nos diabéticos são: doenças periodontais, deficiência de cicatrização, hálito cetônico, aumento da vulnerabilidade à infeção e as alterações tanto na polpa dentária quanto nos tecidos periapicais.

Segundo estimativas da Internacional Diabetes Federation (IDF) no ano de 2017, 425 milhões de adultos no mundo tiveram diabetes e que em 2045 cerca de 629 milhões de pessoas terão diabetes. Nesse cenário, no Brasil há mais de 12 milhões de pessoas vivendo com esse distúrbio metabólico.

Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição clínica que se caracteriza pelo aumento consistente dos níveis de pressão arterial-PA (PA ≥ 140 e/ou 90 mmHg). Com a mudança na alimentação e tipo de vida da população, de modo geral, além do crescimento da população idosa e do aumento da longevidade, nos últimos anos essa doença vem se destacando mais com o seu aumento. A HAS é considerada uma crítica enfermidade de saúde pública no Brasil atingindo aproximadamente 36 milhões de adultos do país, sendo deles mais de 60% idosos. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2016)

O estudo realizou uma revisão de literatura com o objetivo de descobrir a influência da Diabetes Mellitus e a Hipertensão Arterial no tratamento endodôntico.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O biofilme dental é um fator imprescindível para a formação das lesões cariosas, sendo necessário que haja um ambiente favorável para seu desenvolvimento longevo. Devido a constante agressão das bactérias que estão presentes na cavidade oral, o biofilme necessita ser removido, para que as bactérias não encontrem um ambiente favorável ao meio de produção de ácido, que por sua vez causa a desmineralização dentária, resultando assim na formação de cárie. Caso esse processo não seja interrompido a polpa dentária irá responder inicialmente por meio de uma reação inflamatória (LEONARDO, 2008). Os elementos dentários acometidos por cárie precisam ser tratados rapidamente para que este processo não evolua para uma lesão irreversível da polpa dentária levando a indicação do tratamento endodôntico, portanto sendo esta a única forma de se evitar a perda do elemento perante este quadro.

O objetivo do tratamento do sistema de canais radiculares envolve a recuperação do dente comprometido nos seus aspectos funcionais e estéticos. Para que isto ocorra são realizadas manobras de limpeza, desinfecção e modelagem do sistema endodôntico onde a sanificação e a manutenção desta, entre sessões, são de extrema importância, pois com isso ocorre a eliminação de microrganismos levando à reparação dos tecidos lesados (PAIVA; ANTONIAZZI, 1993, apud SALAZAR-SILVA; PEREIRA; RAMALHO, 2004, p. 144).

Seltzer et al., (1963), consideram sucesso endodôntico quando o dente está assintomático, sem fistula, com os tecidos íntegros e com presença de reparo da área de rarefação óssea na radiografia de controle. Portanto, esses autores consideram como sucesso, casos em que a lesão periradicular diminui de tamanho, decorrido um determinado período após tratamento endodôntico.

Atualmente, os pacientes têm buscado o tratamento endodôntico com maior confiança, sendo capaz de reconhecer a importância de se manter todos os elementos dentários e que a perda de um único dente pode representar um prejuízo real à toda saúde bucal e à saúde em geral. Diante disso, passou-se a observar que muitos pacientes que buscam esse tipo de tratamento são do grupo dos diabéticos e hipertensos.

2.1 DIABETES MELLITUS E ENDODONTIA

A diabete pode se apresentar em várias formas, sendo elas as mais frequentes a Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) e a Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2).

De acordo com Prado e Vaccarezza (2013), o DM1 é fundamentado pela interatividade de fatores genéticos e ambientais, o que leva ao arrasamento autoimune das células produtoras de insulina do pâncreas. O DM1 possui dois ápices de incidência, são eles: no período de cinco a sete anos e durante a época da puberdade. Esta acomete entre 5 e 10% dos pacientes com Diabetes Mellitus. Já DM2 é caracterizada pelo aumento das taxas de glicose no sangue, devido à eficiência do fluxo pancreático de insulina e exuberância insulínica, ou seja, o déficit na comunicação da insulina no seu receptor. Sendo esse o modelo mais comum da enfermidade (90 a 95% dos casos).

Sabe-se que a Diabetes mellitus é uma enfermidade que possui resultados importantes para a saúde geral, da mesma maneira que para a cavidade bucal. Segundo Bender (2003), os sintomas bucais das infecções acontecem mais aceleradamente e com maior dano no tipo 1 que no 2. O que pode alterar essa situação é a idade e duração da doença, assim como a classe de controle metabólico. Foram verificadas também Mudanças no paladar e a presença de Xerostomia (boca seca) em pacientes diabéticos.

Os pacientes diabéticos são predispostos a quadros infecciosos bacterianos. Essa fragilidade pode ocorrer devido a um distúrbio na circulação, pelo qual os vasos sanguíneos são danificados pelo acúmulo de depósitos ateromatosos nos tecidos da luz dos vasos sanguíneos. Além disso, os vasos sanguíneos, particularmente os capilares, desenvolvem uma membrana basal espessada, o que dificulta uma resposta leucocitária, e há uma diminuição na capacidade microbicida dos leucócitos polimorfonucleares e falha na entrega dos componentes humoral e celular do sistema imune. Como a polpa dentária tem pequena ou inexiste circulação colateral, ela é mais favorável a sofrer infecção. (BENDER, 2003).

Com a finalidade de estudar o efeito da diabetes mellitus no resultado do tratamento endodôntico, Fouad et al., (2003) utilizaram um sistema de registro eletrônico customizado para investigar dados diagnósticos e de resultados endodônticos em pacientes com e sem diabetes. Como resultado, pacientes com diabetes aumentaram a doença periodontal de dentes com envolvimento endodôntico em comparação com pacientes que não tinham diabetes. Houve uma tendência de aumento da doença perirradicular sintomática em pacientes com diabetes que receberam insulina, bem como agudização em todos os pacientes com diabetes. Dois anos no pós-operatório, 68% dos casos seguidos foram bem-sucedidos. Uma análise multivariada mostrou que nos casos com lesões perirradiculares pré-operatórias, uma história de diabetes foi associada a um desfecho de sucesso significativamente reduzido.

Iwama et al., (2003) estudaram o desenvolvimento de lesões perirradiculares após a exposição da polpa no primeiro molar inferior em ratos. Ratos com diabetes mellitus espontaneamente não dependente de insulina e ratos (controles) receberam uma dieta laboratorial normal e uma solução de sacarose a 30%. 4 semanas após a exposição pulpar, análise histológica demonstrou que os ratos diabéticos hiperglicêmicos tiveram maior reabsorção óssea e maiores lesões perirradiculares do que os ratos controle. Esses resultados sugerem que as condições metabólicas produzidas pelo diabetes ampliam o crescimento de contusões perirradiculares em ratos.

Brito et al., (2003) com a finalidade de investigar a prevalência de radiolucidez perirradicular em radiografias de dentes tratados endodonticamente e não tratados em pacientes com e sem diabetes, realizaram um estudo através dos registros de 30 pacientes com diabetes e 23 pacientes sem diabetes. O número de dentes com tratamentos endodônticos com e sem radiolucência perirradicular e o número de dentes sem tratamento endodôntico, mas com lesões perirradiculares, foram registrados. O resultado do estudo mostrou que homens com diabetes tipo 2 que o realizaram endodontia eram mais susceptíveis a ter lesões residuais após o tratamento.

Armada et al., (2006) realizou um estudo em ratos diabéticos na qual foi induzida a infecção pulpar. As polpas foram expostas em meio oral por 21 e 40 dias. As amostras foram coletadas e através de uma análise radiográfica foi possível observar que as lesões periradiculares significativamente maiores era em ratos diabéticos quando comparadas a ratos normais. O resultado dos estudos sugeriu que ratos diabéticos tendem a possuir maior predisposição a desenvolver lesões periradiculares maiores, isso possivelmente se deve à redução da eficácia da defesa contra microrganismos patógenos.

Lopez et al., (2011) realizou um estudo transversal com o objetivo de estudar radiograficamente o predomínio de periodontite apical (PA) e tratamento endodôntico em um molde de pacientes adultos diabéticos. As amostras foram divididas em pacientes diabéticos tipo II bem controlada (grupo de estudo) e pacientes que não relataram história de diabetes (grupo controle). Os resultados revelaram que a frequência de radiográficos de PA em pelo menos um dente foi significativamente maior em pacientes diabéticos (74%) comparados aos controles (42%).

Segundo Ferreira; Carrilho e Carrilho (2014) foram realizados estudos nas quais foram analisados casos clínicos na área de medicina dentária, à qual foram realizados tratamentos endodônticos não cirúrgicos, no período de 2003 a 2012.

Foram avaliados 37 dentes no grupo teste e 25 no grupo controlo. Para os parâmetros analisados relativos ao diagnóstico pulpar, mobilidade, presença de fístula, dor à percussão horizontal e vertical, avaliação da restauração definitiva e intervalo de tempo entre a consulta de obturação e a restauração definitiva e/ou a consulta de controlo, não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05). Em relação à avaliação do sucesso dos tratamentos endodônticos realizados, este foi de 62% no grupo de teste e de 80% no grupo controlo (p > 0,05).

Os resultados deste estudo não são conclusivos em relação ao aumento da prevalência da periodontite apical nos doentes diabéticos. Em relação à avaliação do sucesso dos tratamentos endodônticos analisados verificou-se que a percentagem de sucesso nos doentes diabéticos é mais baixa, embora não seja estatisticamente significativa. (FERREIRA; CARRILHO E CARRILHO, 2014, p.15).

Segundo Garber et al., (2009) o efeito da hiperglicemia na cicatrização pulpar. Um grupo de 11 ratos receberam injeções de solução salina (grupo controle) e o grupo experimental de 11 ratos foi induzido a hiperglicemia com uma solução de estreptozotocina. As polpas dos primeiros molares superiores dos ratos foram expostas e cobertas com agregado de trióxido mineral (MTA). Amostras histológicas foram preparadas e avaliadas quanto à formação de ponte dentinária e inflamação da polpa. Os dados foram analisados sendo concluídos que houve inibição do desenvolvimento da ponte dentinária em ratos diabéticos, ademais foi percebido um grau mais elevado de inflamação na polpa em comparação com ratos não diabéticos. Com base nesses resultados, conclui-se que a hiperglicemia afeta negativamente a cicatrização pulpar em ratos.

Para confirmar a ligação entre a Diabetes Mellitus tipo II com lesões endodônticas, Ferreira; Gomes e Uchoa (2014) realizou um estudo que consistiu em analisar radiografias de 80 pacientes cujos resultados confirmaram que as lesões endodônticas são afetadas pela Diabetes.

Objetivo: Investigar a prevalência de lesões endodônticas em pacientes diabéticos e não diabéticos. Métodos: Em estudo transversal, exames radiográficos (panorâmica e seriografia) de 80 pacientes, sendo 40 diabéticos tipo II e 40 não diabéticos, receberam avaliação, por meio de um índice de escores periapicais, das regiões perioendodônticas de todos os elementos dentais presentes. Os dados foram analisados pelo programa BioEstat 5.3. Resultados: Encontrou-se pelo menos 1 dente apresentando lesão apical em 90% (n=32) dos pacientes diabéticos e 52% (n=21) dos pacientes não diabéticos (p=0,0001). Quanto aos dentes tratados endodonticamente, nos pacientes diabéticos, foram encontrados 44% (n=51) com lesões endodônticas, e apenas 17% (n=17) (p=0,0004) no grupo controle. Os pacientes diabéticos apresentaram maior quantidade de lesões endodônticas em relação aos pacientes não diabéticos (p=0,0189). Conclusão: De acordo com esses resultados, pode-se concluir que a Diabetes Mellitus tipo II está associada ao aumento da prevalência de lesões endodônticas. (FERREIRA; GOMES E UCHOA, 2014, p. 163).

2.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL E ENDODONTIA

Para Gomes-Filho et al., em (2014) a hipertensão promove alterações sistêmicas que estão diretamente relacionadas à condição bucal, cicatrização e formação óssea, processos de mineralização e processo de aceleração da infecção. Além disso, essas alterações podem ser responsáveis ​​pela falha do tratamento endodôntico nesses pacientes

Foi sugerido que a hipertensão pode contribuir para a diminuição da retenção de dentes tratados endodonticamente. Mindiola et al., (2006) descobriram que 7,8% dos dentes tratados endodonticamente em pacientes com hipertensão o processo de reparo foi considerado insatisfatório. Quando se agrega à essa situação sistêmica a diabetes, a insatisfatoriedade era ainda maior, o que pode justificar a hipótese que doenças sistêmicas como Diabetes Melitus, doenças arteriais e hipertensão aumentam a possibilidade de exodontia após o tratamento endodôntico ou retratamento.

Com o objetivo de esclarecer as possíveis causas de exodontia dentária após o tratamento de canal radicular em pacientes com doenças sistêmicas, incluindo diabetes mellitus, hipertensão e doença arterial coronariana, Wang et al., (2011) realizaram um estudo prospectivo em larga escala, através de banco de dados, durante um período de acompanhamento de 2 anos, na qual conclui-se que essas condições sistêmicas foram fatores de risco significativos para extração dentária após tratamento de canal radicular.

Com o objetivo de identificar a predominância de periodontite apical e endodontia em pacientes com e sem hipertensão, de acordo com Segura-Egea et al., (2010), foram avaliados 40 pacientes hipertensos e 51 controles, onde o resultado mostrou que a prevalência de periodontite apical e tratamento endodôntico não foi significativamente diferente em pacientes hipertensos comparados com indivíduos controle sem hipertensão.

Martins et al., (2016) com o objetivo de comparar os fatores potenciais do desenvolvimento da lesão periapical em condições hipertensivas e normotensos, realizaram um estudo utilizando ratos, nos quais a polpa do primeiro molar inferior foi exposta por 21 dias, sendo avaliada a situação sérica referente a interleucinas e fatores de crescimento. A partir da extração das proteínas da lesão perapical foi possível observar uma resposta inflamatória. Apesar do fato de que não foram observadas diferenças no tamanho da lesão periapical e expressões de citocinas nas condições sistêmicas testadas, a hipertensão mostrou um número elevado de diferenciação de osteoclastos.

De acordo Martins et al., (2016) avaliou o efeito da hipertensão na reação tecidual e no potencial de mineralização do agregado trióxido mineral (MTA). Foram implantados no tecido conjuntivo de ratos tubos de polietileno contendo MTA, material restaurador intermediário (controle positivo) e um tubo vazio (controle negativo), após o período de 30 dias os ratos foram sacrificados e os tubos submetido a análise histológica. O resultado mostrou que a resposta inflamatória a todos os materiais foi maior em hipertensos comparados com normotensos, e embora a hipertensão causar uma mineralização menos consistente, o MTA ainda tem capacidade satisfatória de mineralização.

Segura-egea et al., (2011) com o objetivo de investigar a relação entre tabagismo e o predomínio de periodontite apical e tratamento endodôntico em pessoas com hipertensão, foi realizado um estudo transversal, em que foram examinados os registros de 100 pacientes hipertensos, 50 deles com histórico de tabagismo e 50 não tabagistas. A periodontite apical em um ou mais dentes foi constatada em 92% dos pacientes fumantes e em 44% dos não fumantes. O predomínio de periodontite apical e tratamento do canal radicular foi significativamente maior em pacientes hipertensos fumantes em comparação com indivíduos não tabagistas.

3. DISCUSSÃO

É na anamnese que o cirurgião-dentista faz uma análise do paciente, na qual são observados todos os aspectos, incluindo desde a condição física até o comprometimento sistêmico, e decididos quais as intervenções necessárias no tratamento do paciente, entre eles: soluções anestésicas e medicamentos. O cirurgião-dentista deve estar ciente do tipo de anestésico local e a dosagem a ser utilizado, quais medicamentos podem ser prescritos caso haja necessidade, e quais fatores podem levar ao insucesso do tratamento. (KREUGER et al., 2011). Apesar do número de pacientes com alterações sistêmicas ser alto, e a quantidade de pacientes que procuram tratamentos mais conservadores como a endodontia crescer mais a cada dia, os estudos sobre a relação dessas alterações com a endodontia ainda parecem ser pouco estudados e pouco conhecidos. Por essa razão, o propósito dessa revisão, foi buscar mais a fundo na literatura a influência das doenças sistêmicas: Diabetes e Hipertensão no tratamento endodôntico.

Fouad (2003) defende que os pacientes com diabetes e tratados endodonticamente devem ser avaliados cuidadosamente e tratados com antimicrobianos efetivos, particularmente nos casos com lesões pré-operatórias. Além disso, os achados em seu estudo associam a diabetes à redução do êxito do tratamento endodôntico, isso quando a infecção endodôntica já está instalada.

Segundo Iwama et al. (2003), Armada et al., (2006) Ferreira; Gomes e Uchoa (2014), através dos seus estudos clínicos e radiográficos mostraram que há maior prevalência de lesões periapicais em diabéticos que em não diabéticos. Possivelmente, o fato dessas lesões surgirem em muitos casos é em consequência à deficiência da capacidade de reparo tecidual devido as alterações metabólicas em pacientes diabéticos. Para Ferreira; Carrilho e Carrilho (2014), a Diabetes mellitus é um fator modulador da doença de origem endodôntica, podendo levar a uma maior prevalência dessas lesões ou até mesmo o aumento da chance de realizar tratamento endodôntico em diabéticos quando comparados a não diabéticos. Brito et al., (2003) em seu estudo mostrou que a Diabetes tipo 2 está associada a uma elevação do risco de má resposta dos tecidos perirradiculares aos patógenos odontogênicos.

Há evidências que o Diabetes causa alteração nos mediadores inflamatórios e modifica os componentes da estrutura da polpa dentária.  Para Garber et al., (2009), A hiperglicemia inibe claramente a função macrofágica, resultando um estado inflamatório e produzindo um ambiente desfavorável para angiogênese, proliferação celular e cicatrização de feridas, funções fundamentais para a cicatrização da polpa dentária.

O risco de exodontia após realizar tratamento endodôntico pode ser aumentado em pacientes com diabetes segundo confirmado pelo estudo de Wang et al., (2011). Mindiola e colaboradores em 2006 associaram a hipertensão e diabetes em seu estudo a uma maior chance de perda dentária pós-tratamento endodôntico.

Na literatura estão descritos diversos estudos acerca da inter-relação hipertensão e problemas bucais, como por exemplo uma prevalência de periodontite apical crônica, assim como foram descritos nos estudos de Segura-Egea et al., (2011) e Martins et al., (2016). Porém um estudo anterior de Segura-Egea et al., (2010), não revelaram uma associação significativa entre dentes com estado periapical e hipertensão.

Com base no estudo de Gomes-Filho et al., (2014) foi possível concluir que a hipertensão influencia a saúde bucal geral dos pacientes e parece estar relacionada ao sucesso no tratamento endodôntico. Mas que a resposta dos pacientes hipertensos ao tratamento do canal radicular, medicações intracanais e selantes deve ser mais estudada, a fim de fornecer conhecimento sobre as mudanças, falhas e sucesso do tratamento endodôntico. Para Martins e colaboradores (2016) a hipertensão prejudica o reparo tecidual e a mineralização, o que pode afetar negativamente o resultado do tratamento.

4. CONCLUSÃO

A Diabetes e hipertensão são condições sistêmicas com importantes alterações na cicatrização de feridas e estão associadas a respostas imunes inatas debilitadas. Entre outros mecanismos biológicos, este poderia ser o principal fator implicado na possível conexão entre essas doenças sistêmicas e as variáveis ​​endodônticas. Novos estudos devem ser executados sobre a possível associação da doença periapical e tratamento endodôntico com o estado de saúde sistêmico, para que se possa constatar se há influências e inter-relação no índice de sucesso desses tratamentos em pacientes.

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[1] Pós Graduação em Endodontia.

[2] Orientadora.

Enviado: Junho, 2021.

Aprovado: Junho, 2021.

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