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A importância da odontologia preventiva sobre a saúde bucal dos indivíduos e na economia nos Estados Unidos

RC: 143627
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/odontologia/importancia-da-odontologia

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

OLIVEIRA, Bruna Cecilia Caixeta de [1]

OLIVEIRA, Bruna Cecilia Caixeta de. A importância da odontologia preventiva sobre a saúde bucal dos indivíduos e na economia nos Estados Unidos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 04, Vol. 05, pp. 131-141. Abril de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/odontologia/importancia-da-odontologia, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/odontologia/importancia-da-odontologia

RESUMO

Os problemas bucais estão relacionados à saúde geral dos indivíduos. Quando não cuidados preventivamente ou não tratados de forma adequada, surgem as lesões de cárie, dores, desconfortos, riscos de disseminação de infecções pelo corpo, que podem levar, até a hospitalização. A ausência dos cuidados preventivos em saúde bucal aumenta as possibilidades de perdas dentárias, diminuindo a capacidade de mastigação da pessoa e comprometendo sua nutrição. Além disso, está a questão estética, porque a pessoa com problemas nos dentes evita sorrir e até se esquiva de interagir socialmente. Os problemas dentários de uma população incapaz de custeá-los, afetam economicamente o sistema de saúde geral, já que as doenças bucais remetem ao comprometimento da saúde das pessoas, que irão recorrer ao atendimento médico formal em algum momento de sua existência. O presente artigo de revisão de literatura contou com materiais especializados em Saúde Bucal sobre a realidade dos norte-americanos de baixa renda e seus problemas bucais, utilizando artigos obtidos no Google Acadêmico. Como objetivo, pretende-se demonstrar a importância dos cuidados preventivos para a saúde dental, por meio de ações educativas junto às comunidades carentes, abrangendo pessoas de todas as idades, em especial, as crianças. Verifica-se a necessidade de atendimento especializado para pacientes das diferentes idades já afetados por problemas bucais e, ainda, sobre a importância dos esforços e investimentos do governo norte-americano em campanhas maciças relacionadas aos cuidados dentais preventivos para pessoas de todas as idades que compõem sua população mais carente.        

Palavras-chave: População carente, Saúde primária, Educação em Saúde Bucal, Saúde Coletiva, Saúde Pública. 

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “as doenças bucais afetam aproximadamente 3,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo”. Além disso, elas são doenças que podem ser evitadas, mas que, uma vez instaladas, ocasionam “dor, desconforto, desfiguração e até a morte” (WHO, 2022).

Para o diretor interino do National Institute of Health (NIH), Dr. Lawrence Tabak, o último relatório elaborado sobre saúde bucal e geral das Américas, datado de 2022, demonstrou que, apesar dos avanços tecnológicos alcançados nas últimas décadas pela área de saúde, existem, ainda, milhões de norte-americanos que sofrem pela falta de cuidados dentários preventivos, assim como o fato de que muitos indivíduos consomem substâncias ilícitas, como: maconha, cocaína, crack, ecstasy, LSD, inalantes, heroína, barbitúricos, morfina, Skank, chá de cogumelo, anfetaminas, clorofórmio, ópio, etc.  (DENTAL TRIBUNE, 2022).

O fato é que “o cuidado com a saúde dental não faz parte da cobertura sanitária geral nos Estados Unidos e foi excluído do Medicare quando este programa foi criado, em 1965”, como informa a Agence France Presse (2021).

Uma vez que os custos para tratamentos dentários são muito elevados nos Estados Unidos, estes serviços tornam-se inacessíveis à população de baixa renda. Em 2021, verificou-se que “68% dos afro-americanos e 61% dos hispânicos” não têm acesso a qualquer tratamento dentário, o que pode ocasionar questões, como: dores físicas, complicações na saúde motivadas por doenças, impedimento de que crianças sorriam ou que adultos consigam empregar-se, em especial no setor de serviços, além de problemas psicológicos, devido à vergonha com a sua aparência (AGENCE FRANCE PRESSE, 2021).

De acordo com a Administração de Recursos e Serviços de Saúde, a demanda não atendida agrava substancialmente os problemas bucais e sociais das populações carentes. Esses são aspectos abordados pela Dental Tribune (2022), cujo levantamento demonstra a necessidade de mais profissionais especializados em odontologia no país, requerendo um salto de 190800 dentistas em 2012, para 202600 em 2025. Em 2022, o governo norte-americano estimava a necessidade de contratar 11 mil novos dentistas (AG IMIGRATION LAW, s.d.).

Face ao exposto, a presente revisão de literatura, tem por objetivo demonstrar a importância dos cuidados preventivos para a saúde bucal, por meio de ações educativas junto às comunidades carentes, abrangendo pessoas de todas as idades, mas, em especial, às crianças.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta revisão foi elaborada a partir de buscas eletrônicas em periódicos especializados nacionais e internacionais, utilizando artigos publicados em português e inglês, sendo selecionados para compor esta pesquisa os artigos obtidos nas bases de dados científicas do Google Acadêmico, especializados em saúde bucal. Optou-se pelo uso de artigos entre 2008 e 2022, que versam, especificamente, sobre: prevenção; ausência de prevenção; cuidados básicos de higiene e saúde; o atual sistema de saúde norte-americano; as consequências relacionadas às doenças originadas pela ausência de cuidados básicos em prevenção e higiene bucal desde a infância; déficit de profissionais em saúde bucal nos Estados Unidos; prejuízos financeiros para a cobertura das urgências e emergências com saúde bucal; e saúde geral da classe de pessoas de baixa renda. Contou-se, ainda, com notícias especializadas sobre o assunto.

O SISTEMA DE SAÚDE NOS ESTADOS UNIDOS

Em uma breve linha do tempo, pode-se observar que os Estados Unidos, mesmo dispondo de profissionais altamente qualificados e contando com as tecnologias mais modernas, continua possuindo um sistema de saúde prioritariamente particular, apesar das tentativas de implantação de planos de saúde globais:

1854: Dorothea Diz propõe um projeto para instituir um sistema de saúde para atendimento de toda a população local, que foi vetado pelo presidente Franklin Pierce, por acreditar não ser uma atribuição estatal (VALINOR, 2022);

1930: nova tentativa de proposta de sistema de saúde, apresentada pelo presidente Theodore Roosevelt, derrubada pelos congressistas republicanos e democratas (VALINOR, 2022).

1945: nova proposta de um plano nacional de seguro saúde apresentada pelo presidente Harry Truman, que igualmente foi rejeitada, face ao fim da 2ª Guerra Mundial, ficando definido pela lei que os atendimentos em saúde passariam a ser exclusivamente particulares, exceto idosos e indivíduos da classe abaixo da pobreza, que teriam acesso ao Medicare e Medicaid, programas que garantem atendimentos emergenciais (BOWES, 2020).

Dessa forma, convencionou-se que as opções dos norte-americanos eram custear, a preços particulares, as próprias necessidades de serviços médicos e odontológicos ou empregar-se em empresas que ofereçam plano de saúde (LINN, 2021).

O problema é que inúmeras pessoas não têm capacidade financeira para tal custeio. Além da situação existente, o advento da pandemia da Covid-19, em março de 2020, expôs tal realidade de forma inegável, já que os Estados Unidos ficaram no topo da lista dos países mais atingidos, possuindo o maior número de casos e mortes do planeta, devido ao fato de “cada estado ter seu próprio sistema, com regras específicas, sendo a maioria deles com pouca regulação e operado principalmente pela iniciativa privada” (LINN, 2021).

Diante daquela realidade, os especialistas mundiais concordam entre si quanto à ausência de um sistema de saúde universal e centralização das decisões relativas aos atendimentos necessários para os indivíduos terem sido os fatores que levaram à disparada no total de casos, tendo havido, inclusive, concorrência entre prefeitos e governadores para obtenção dos insumos necessários em suas cidades/estados (LINN, 2021).

Na prática, a pandemia elevou para 19,7% os gastos do governo norte-americano em 2021, com os dois programas sociais locais existentes com saúde – Medicare e Medicaid -, contra 9,7% em 2019, ultrapassando, assim, os 4,1 trilhões de dólares destinados para tais programas em 2020 (LINN, 2021).

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

AS DOENÇAS BUCAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE GLOBAL DOS INDIVÍDUOS

A lista de problemas bucais que podem ser evitados com medidas preventivas e que devem ser tratados tão logo surjam, é composta de casos, como: “cárie dentária, doenças periodontais, perda de dentes e câncer oral”, conforme definido pela a OMS. Além destas, podem ser mencionadas as “fissuras orofaciais, noma (doença gangrenosa grave que começa na boca afetando principalmente crianças) e traumatismo orodental” (WHO, 2022).

Dourado et al. (2021), definem que prevenção significa adotar medidas que evitem o surgimento de doenças, visando diminuir a sua incidência e prevalência. Já a promoção da saúde, refere-se à adoção de medidas que promovam a qualidade de vida dos indivíduos, o que pode ser feito capacitando líderes em comunidades.

Por sua vez, Martins et al. (2019), reportam ser a higienização bucal um dos fatores inerentes à boa saúde dos dentes e da boca. Além dela, o consumo de alimentos açucarados e a sua ingestão fora dos horários normais de alimentação contribuem para o surgimento de cáries, as quais, se não tratadas rapidamente, podem evoluir para a perda do dente afetado ou, até mesmo, para alguma outra doença. Esses são aspectos que levam a uma terceira necessidade muito relevante para a saúde bucal, que é a escovação a cada refeição e/ou nos casos de ingestão de outros alimentos quaisquer, para que se evite o surgimento de placas bacterianas.

Entre as diferentes doenças bucais descritas pela OMS, podem ser mencionadas: cárie dentária, doença periodontal (gengiva), edeutulismo (perda total dos dentes), câncer bucal, traumatismo dentário, noma, fenda labial e palatina, fatores de risco (WHO, 2022).

Por sua vez, os dados levantados pelo Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde (NCCDHPP, 2022), relatam que a doença bocal que mais tem afetado a população norte-americana é: a cárie, que acometem uma entre seis crianças com idade entre 6 e 11 anos; metade dos adolescentes de 12 a 19 anos; um de cada quatro adultos; e fumantes, que estão propensos a perder todos os dentes.

IMPORTÂNCIA DA SAÚDE BUCAL

Figueiredo; Faustino-Silva e Bez (2008), explicam que a população carente, via de regra, não tem acesso aos cuidados médicos e odontológicos adequados. Defendem que os profissionais da odontologia estão distantes dos problemas sociais, mas precisam conscientizar-se deles, para atuarem em ações de prevenção, otimizando recursos governamentais incalculáveis em saúde geral.

Trigo (2022), defende que a prevenção bucal quanto à frequência no consumo de alimentos açucarados, como: chicletes, balas, refrigerantes e sorvetes entre refeições, pode ser determinante para o surgimento das cáries. Nesse cenário, o autor reporta que ações educativas contribuem com a família inteira. Dentre elas, há três abordagens gerais importantes para que as cáries na primeira infância sejam evitadas: “educação das mães, a fim de influenciar sua dieta e hábitos, bem como os de seus filhos; realização de exames e medidas preventivas em clínicas odontológicas; hábitos em casa”.  A autora defende, ainda, a inclusão das pessoas de baixa renda em programas sobre prevenção bucal e que haja oferta de aplicações de verniz fluoretado, dentifrícios fluoretados, suplementos de fluoreto, selantes e aconselhamento dietético.

Já, Saliba et al. (2020), explicam que a formação acadêmica de dentistas deve inserir disciplinas sobre o papel político dos profissionais de saúde, face às desigualdades econômicas.

Para a OMS, a falta de educação e higiene básicas remetem aos problemas bucais, dor, desconforto e desfiguração bucal, interferindo na autoestima dos indivíduos. Refere, ainda, que: 1. metade da população mundial não tem acesso à cobertura dos serviços básicos em saúde; 2. há uma média de 100 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema; 3. acima de 800 milhões de pessoas (12% ao redor do mundo) investem 10% de seu orçamento com saúde; 4. pessoas de baixa renda não conseguem custear suas necessidades em saúde bucal e saúde geral (WHO, 2019).

Uma vez que os países de média/baixa renda não disponibilizam serviços preventivos e tratamentos em saúde bucal, o relatório Global de Saúde Oral emitido pela OMS, em 2022, estima que 3,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo sejam afetadas pelas doenças bucais; já os indivíduos que habitam em países de renda média, 3 entre 4 desses indivíduos serão afetados por esses problemas; aponta, ainda, que “514 milhões de crianças sofrem de cárie em dentes decíduos” (WHO, 2022). Somado às questões de falta de higiene bucal, estão o consumo de tabaco e o álcool, piorando a saúde geral das pessoas.

COBERTURA COMPLETA EM SAÚDE (CUS)

O ideal para as populações carentes dos diferentes países seria a Cobertura Completa em Saúde (CUS), uma vez que este programa oferece a todos os indivíduos e comunidades o direito de receber todos os serviços de saúde de que possam precisar a qualquer tempo ao longo de suas vidas, sem custos individuais, nem exclusões aos atendimentos de que venham a precisar por motivos econômicos e financeiros (WHO, 2022).

Segundo a OMS (WHO, 2022), instituir a CUS está entre uma das metas estabelecidas por todas as nações do mundo, a partir dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ou seja: “incluir toda a fama de serviços de saúde essenciais e de qualidade, desde a promoção da saúde até a prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos; dar passos no sentido da equidade, prioridades de desenvolvimento e inclusão e coesão social”.

O impeditivo para que isso aconteça, nacional ou mundialmente, são os investimentos vultosos, o que contraria os interesses de diferentes camadas da sociedade norte-americana (WHO, 2019). A ausência na oferta de um atendimento global de saúde aos cidadãos é apresentada na matéria da Agência France Presse (2021), especificamente, nos relatos da Dra. Roslyn Kellun, diretora da Mission of Mercy, sobre “gengivas inflamadas, dentes cariados, pacientes com dor e crianças que não se atrevem a sorrir […]”. Segundo a Dra. Kellun, são pessoas que “têm que escolher entre tratar seus dentes e pagar suas contas, sua gasolina, comida ou aluguel”.

DÉFICIT ATUAL DE PROFISSIONAIS EM ODONTOLOGIA

O número atual de dentistas atuando nos Estados Unidos é consideravelmente deficitário, assim como o total de profissionais técnicos especializados em higiene bucal, que representam uma frente de trabalho que pode impactar positivamente o trabalho dos dentistas, além de significar relativa economia financeira ao sistema de saúde global norte-americano.

Em 2016, existia um déficit de 190800 profissionais dentistas, como relatou a Administração de Recursos e Serviços de Saúde, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, impactando as necessidades da população de baixa renda norte-americana (DENTAL TRIBUNE, 2022).

Já em 2022, a Associação Odontológica Americana (ADA) e o Conselho Federal e Odontologia (CFO), tabularam a existência de “61 dentistas para cada 100 mil habitantes, enquanto no Brasil, esse número chega a 171 profissionais, ou seja, são 201 mil dentistas em um país, em comparação com 372 mil no outro” (AG IMIGRATION LAW, s.d.). Estima-se uma necessidade norte-americana por 11 mil novos dentistas, para atuarem nos estados da Califórnia, Missouri, Texas, Alaska e Flórida, que são as localidades que mais têm vagas a serem preenchidas.

SOLUÇÕES EXISTENTES

As situações e problemas bucais e de saúde geral da população mais carente nos Estados Unidos têm sido enfrentadas por diferentes meios. Durante a 74ª Assembleia Mundial da Saúde, em 2022, a OMS, apresentou um plano de cobertura universal de saúde bucal para todos os indivíduos e comunidades até 2030 (WHO, 2022).

Segundo Rota (2007), nas últimas décadas, a atenção da Saúde Pública, na perspectiva da saúde bucal voltada à infância e demais pessoas, apresentou melhorias no cuidado dos dentes e redução das cáries dentárias de crianças e jovens, além do declínio na perda dos dentes de adultos e idosos com mais de 60 anos. Os fatores preponderantes para tal avanço foram: inserção do flúor na água potável e na composição dos cremes dentais, redução no consumo de açúcar e, não menos importante, os programas de educação e promoção de saúde bucal para a população mais carente.

Entre as ações voltadas à população de baixa renda norte-americana, a Mission of Mercy é um programa de atendimento dental oferecido pela organização cristã beneficente, fornecendo atendimento médico e dental gratuito às pessoas em situação odontológica de urgência/emergência, residentes nos Estados Unidos. Essa organização atua em seis pontos diferentes na região de Maryland e Pensilvânia (EUA), realizando atendimentos por meio de uma “Unidade Odontológica móvel, equipada com 2 operadores odontológicos e uma cadeira de preparação” (MISSION OF MERCY, s.d.).

Além das obturações e extrações, são fornecidos exames dentários, raios-x e instruções sobre higiene dental adequada, além de escovas de dente e fio dental.  Relatos dos especialistas que compõem a Missão de Misericórdia descrevem que muitos pacientes chegam a eles com “decadência significativa, infecção e dor” (MISSION OF MERCY, s.d.).

Já o Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde (NCCDHPP, 2022), atua na prevenção e cuidados com a saúde bucal de crianças, ensejando reduzir as incidências de cáries, doenças crônicas e cuidados médicos delas decorrentes, por meio da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, com o objetivo de promover economia financeira governamental.

Suas ações em programas escolares compreendem: 1. aplicações gratuitas de selantes dentais nos dentes posteriores permanentes das crianças, evitando a ocorrência de 9 entre 10 cáries – este simples ato é capaz de evitar, aproximadamente, um milhão de cáries em crianças pertencentes a famílias de baixa renda; 2. fluoretação da água da comunidade, atingindo pessoas de todas as idades e diferentes faixas de escolaridade e renda – sendo esta uma ação que atinge mais de 200 milhões de pessoas (NCCDHPP, 2022).

Por sua vez, a Missão Internacional Hispânica, dirigida pela Doutora Nayagara Viera, realiza consultas odontológicas gratuitas por meio de profissionais voluntários, beneficiando às crianças com oficinas sobre educação em saúde e fornecimento de material para higiene bucal gratuito, ações relevantes não apenas nos Estados Unidos, como ao redor do mundo (NCCDHPP, 2022).

Com a intenção de cuidar melhor de idosos e pessoas com deficiência, o Governo Biden elaborou um programa de investimentos sociais maciços, denominado “Reconstruir Melhor”, visando “reembolsar as despesas com cuidados dentários aos beneficiários do programa de saúde pública Medicare” (AGENCE FRANCE PRESSE, 2021).

Houve forte resistência do Partido Republicano, e ainda de boa parte dos integrantes do partido Democrata (ao qual pertence o atual presidente), pela redução de US$ 1,75 trilhão a serem investidos, levando a proposta a ser removida deste projeto; por sua vez, a Associação Dental dos Estados Unidos (ADA), também, foi contra tal medida, para evitar que o tal programa abrangesse uma fatia maior da sociedade norte-americana, sob o argumento de que a referida medida “deveria beneficiar apenas os mais pobres” (AGENCE FRANCE PRESSE, 2021).

MEDIDAS PREVENTIVAS POSSÍVEIS

As doenças relatadas podem ser reduzidas a partir de medidas preventivas, como: ingestão de água potável, com exposição adequada ao flúor; escovação dental duas vezes ao dia, incluindo o uso de cremes dentais que contenham flúor (1.000 a 1.500 ppm), já que esta composição, aliada a outros componentes, colabora para reduzir sensibilidade dental, diminuir o acúmulo de placa e tártaro, além de combater o mau hálito.

É necessário, ainda, o consumo de uma alimentação equilibrada e sem açúcares livres, que deve ser rica em frutas e vegetais. Deve-se evitar o consumo de tabaco, de álcool e outras substâncias químicas, como as nozes de areca (WHO, 2022).

Face ao agravamento e necessidades da população de baixa renda norte-americana, existem ações que podem ser implementadas, como: a integração/conexão dos profissionais de saúde, no sentido de serem incluídas em sua formação/atuação disciplinas que contemplem uma “força de trabalho de saúde bucal mais diversificada” (DENTAL TRIBUNE, 2022), isto é, uma conscientização da realidade existente entre as diferentes camadas sociais. 

CONCLUSÃO

A falta de acesso à prevenção desde a infância e/ou aos tratamentos necessários para seus problemas orais levam as pessoas pertencentes à população de baixa renda ao sofrimento físico e social e, por vezes, às doenças sistêmicas. A precariedade em que grande parte da população norte-americana vive impede que esses indivíduos tenham acesso aos tratamentos bucais de qualidade, uma vez que o sistema de saúde local não oferece cobertura médica e odontológica nem para a assistência básica.

Some-se a essa questão, o déficit de profissionais especializados em odontologia e técnicos que os suportem na educação e prevenção bucal, ações fundamentais para evitar o surgimento de doenças bucais. Essas são questões que requerem ações e investimentos públicos do governo norte-americano a respeito de ações básicas de ensino e prevenção de higiene bucal.

REFERÊNCIAS

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AG IMIGRATION LAW. Programa levará mil dentistas para trabalhar nos EUA em 2022. Ag Imigration Law, s.d. Disponível em: https://agimmigration.law/projeto-da-ag-immigration-ira-levar-mil-dentistas-para-os-eua-em-2022/. Acesso em: 30/01/2023.

BOWES, Claire. Porque os EUA foram a única potência ocidental a rejeitar o sistema de saúde universal após a 2ª Guerra Mundial. BBC News, 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-54311898. Acesso em: 30/01/2023.

DENTAL TRIBUNE. Relatório sobre a saúde bucal da América destaca problemas de longa data e fornece algumas soluções. Dental Tribune, 2022. Disponível em: https://br.dental-tribune.com/news/relatorio-sobre-a-saude-bucal-da-america-destaca-problemas-de-longa-data-e-fornece-algumas-solucoes/. Acesso em: 16/01/2023.

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LINN, Juliana Soares. Como funciona a Saúde Pública nos EUA? Medical Boards Study Academy, 2021. Disponível em: https://medboardsacademy.com/2021/07/25/como-funciona-a-saude-publica-nos-eua/. Acesso em: 16/01/2023.

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[1] Doutorado, Especialização, Graduação. ORCID: 0000-0003-4752-3311. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2816384290688924.

Enviado: 09 de fevereiro, 2023.

Aprovado: 03 de abril, 2023.

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Bruna Cecilia Caixeta de Oliveira

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