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ESG e veganismo: integração das práticas sustentáveis à cadeia produtiva

RC: 152872
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/meio-ambiente/esg-e-veganismo

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

FRANCO, Annibal Gouvêa [1], BATISTA, Melissa Marcílio [2]

FRANCO, Annibal Gouvêa. BATISTA, Melissa Marcílio. ESG e veganismo: integração das práticas sustentáveis à cadeia produtiva. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 09, Ed. 05, Vol. 01, pp. 96-109. Maio de 2024. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/meio-ambiente/esg-e-veganismo, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/meio-ambiente/esg-e-veganismo

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo discutir a integração entre ESG (Environmental, Social and Governance) e o veganismo como forma eficaz de integrar práticas sustentáveis à cadeia produtiva. Para tanto, a metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, por meio da análise de artigos científicos, livros e relatórios de organizações que abordam a temática da sustentabilidade e do veganismo. Os resultados indicam que a integração entre ESG e veganismo pode ser uma forma efetiva de promover a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva, considerando os impactos ambientais, sociais e de governança. É importante destacar que a conscientização e a mudança de hábitos são fundamentais para a construção de um mundo mais sustentável e justo, e a integração entre o ESG e o veganismo pode ser um passo importante nessa direção. Portanto, é necessário que empresas, governos e sociedade civil trabalhem juntos para promover a transição para sistemas produtivos mais sustentáveis, que levem em consideração a proteção ambiental, a inclusão social e a governança corporativa, com a possível integração entre ESG e veganismo.

Palavras-chave: ESG, Práticas sustentáveis, Responsabilidade corporativa, Sustentabilidade, Veganismo.

1. INTRODUÇÃO

Segundo a United Nations (2015) a definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é aquele que é capaz de suprir as demandas da atual geração, sem o comprometimento do potencial de responder as demandas das futuras gerações. Mediante aos empenhos conjuntos, almeja-se a criação de um horizonte mais inclusivo, estoico e sustentável para o planeta e para os seres humanos. Para que esse desenvolvimento possa ser atingido, é necessário a harmonização de três elementos centrais, interligados, que são cruciais para o bem-estar dos indivíduos e das sociedades: o crescimento da economia, a inclusão social e a proteção do meio ambiente.

Para tal, faz-se necessário a promoção do crescimento econômico sustentável, inclusivo e equitativo, criando maiores oportunidades para todos, reduzindo as desigualdades, garantindo padrões básicos de vida, elevando o desenvolvimento social. Cabe citar que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões é um requisito indispensável para a inclusão equitativa e o desenvolvimento sustentável, promovendo a gestão sustentável e integrada dos recursos naturais e ecossistemas. A supracitada definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas.

No contexto da sustentabilidade, surge o ESG. Segundo Irigaray (2022), embora o surgimento da sigla ESG tenha ocorrido somente em 2005 no relatório “Who Cares Wins“, por United Nations Global Compact (2005), que surgiu de uma iniciativa liderada pela ONU. De acordo com Irigaray (2022):

[…] As questões ambientais, sociais e de governança (Environmental, Social and Governance [ESG]) estão permeando cada vez mais as decisões das empresas sobre quais práticas adotar e quais desempenho e retorno a serem esperados pela sociedade e pelos seus stakeholders. O conceito de ESG (em português, Ambiental, Social e Governança) é um conjunto bastante amplo de questões, desde a pegada de carbono até as práticas trabalhistas e de corrupção, que justificam a criação de critérios e práticas que direcionam o papel e a responsabilidade dos negócios em direção aos fatores ambientais, sociais e de governança corporativa (Irigaray, 2022, p.1).

Em relação ao veganismo, pode-se dizer que este consiste em um movimento perfeitamente alinhado à sustentabilidade. Ser vegano é ter um estilo de vida que evita todos os alimentos de origem animal, como carne, laticínios, ovos e mel; produtos derivados de animais como couro; e, na medida do possível, produtos testados em animais. A definição formal de veganismo foi inicialmente proposta pela Vegan Society que consiste em:

[…] O veganismo é uma filosofia e modo de vida que procura excluir – na medida do possível e praticável – todas as formas de exploração e crueldade com animais para alimentação, vestuário ou qualquer outro propósito; e por extensão, promove o desenvolvimento e uso de alternativas livres de animais para benefício dos animais humanos e do meio ambiente. Em termos dietéticos denota a prática de dispensar todos os produtos derivados total ou parcialmente de animais (Vegan Society, 1944).

Este artigo tem como objetivo compreender a relação entre as práticas de ESG e o veganismo na indústria, destacando os impactos positivos dos produtos veganos na sustentabilidade global. O trabalho explora como as práticas veganas podem contribuir para critérios ambientais, sociais e de governança, promovendo uma abordagem mais sustentável em diversos setores. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, durante o período de investigação de 2022 a 2023, com a análise de artigos científicos, livros e relatórios de organizações.

2. DESENVOLVIMENTO

Segundo a política de sustentabilidade da supracitada Vegan Society (2022), ela se preocupa profundamente com o futuro do nosso planeta e com todos aqueles com quem o compartilhamos e, segue a definição de desenvolvimento sustentável do relatório Brundtland. Isso significa que estão conscientes dos impactos social, econômico e ambiental de toda a atividade humana. Para tal, é necessário reduzir ao máximo o efeito negativo do que fazemos, mas, acima de tudo, procurar encontrar formas de fazer uma diferença positiva através das nossas próprias ações e influenciando positivamente as ações dos outros.

De acordo com o Relatório Brundtland (1987), publicado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável simboliza uma conduta que procura balancear as demandas atuais sem afetar a capacidade das futuras gerações de atenderem as suas primordialidades. Esse conceito corrobora com a significância de adotar uma perspectiva abrangente, considerando os aspectos econômicos, sociais e ambientais do desenvolvimento.

Sendo assim, o conceito de desenvolvimento sustentável vai além do mero crescimento econômico. Ele envolve a promoção da justiça social, a preservação dos recursos naturais e a garantia de um ambiente saudável para as futuras gerações. Para alcançar esse objetivo, é necessário abandonar práticas insustentáveis que levam à degradação ambiental e à desigualdade social, buscando alternativas que promovam a conservação dos ecossistemas e o bem-estar humano.

Nesse contexto, o Relatório Brundtland (1987) enfatiza a necessidade de uma mudança de paradigma. É fundamental adotar abordagens integradas, implementar políticas públicas efetivas e promover a participação de todos os setores da sociedade para alcançar um desenvolvimento sustentável. Dessa forma, podemos criar um futuro no qual as necessidades das gerações presentes e futuras sejam atendidas, preservando os recursos naturais e promovendo a qualidade de vida para todos.

Quando o assunto é sustentabilidade, cabe lembrar de quais áreas esse termo se refere. Elkington (1997) popularizou o conceito do “Tripé da Sustentabilidade” em seu livro “Cannibals with Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business”. O referido autor propôs o supracitado tripé, também conhecido como “3 P’s da Sustentabilidade”, que consiste em um modelo conceitual amplamente utilizado para avaliar a sustentabilidade em uma perspectiva de negócios e gestão. Esses “3 P’s” representam: lucro (profit), pessoas (people) e planeta (planet).

A proposta de Elkington (1997) envolve uma abordagem para avaliar o desempenho empresarial em termos de sustentabilidade de forma integral, considerando não apenas os aspectos econômicos, mas também os sociais e ambientais. O autor sugere que as empresas precisam abandonar suas práticas predatórias e adotar uma abordagem mais responsável, considerando não apenas o lucro financeiro (o “Bottom Line” tradicional), mas também os impactos sociais e ambientais (os “3 P’s” da sustentabilidade) em suas operações.

Nas organizações globalizadas, os “3P’s” deram lugar a um novo tripé: o ESG. Este novo tripé substituiu o fator econômico pelo termo governança corporativa, segundo Costa e Ferezin (2021). Os autores afirmam que essa mudança amplia a visão das empresas para além do resultado comercial, incluindo a conduta corporativa e o combate à corrupção, os comitês de auditoria e a transparência na divulgação.

Franco e Batista (2024) afirmam que o ESG não pode ser utilizado somente como uma mera ferramenta para a mitigação dos impactos negativos às esferas social e ambiental, pois este deve representar, de forma autêntica, o compromisso das empresas com o bem estar da sociedade e a preservação do planeta. Assim, os autores afirmam que é necessário analisar criticamente as estratégias empresariais de ESG, de forma compreender a natureza do comprometimento das empresas com as pessoas e com o planeta.

Lousão (2022) faz uma relação entre o veganismo e os fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) ao criar um índice de investimento vegano e sustentável. O índice considera fatores veganos e ESG ao selecionar as melhores empresas para investir, com o objetivo de promover práticas éticas e sustentáveis no mundo dos negócios.

A referida autora argumenta que o veganismo é uma forma de promover a sustentabilidade, pois a produção de alimentos de origem animal tem um impacto significativo no meio ambiente e na sociedade. Portanto, ao investir em empresas que promovem práticas veganas e sustentáveis, os investidores podem contribuir para um mundo mais ético e sustentável.

Em relação ao estilo de vida vegano, Vestergren e Uysal (2022) realizaram uma revisão sistemática que mapeou a literatura acadêmica sobre veganismo e identidade vegana, identificando quatro categorias principais de foco e conteúdo: (1) veganos como um grupo desfavorecido/estigmatizado, (2) o papel da ideologia nas atitudes negativas em relação aos veganos, (3) o papel das crenças morais e éticas na mudança ou manutenção das preferências alimentares, e (4) o veganismo como movimento social e de ativismo. A revisão destaca a importância de se considerar as variáveis sociais e psicológicas que influenciam a adesão ao veganismo, bem como as complexidades da identidade vegana em diferentes contextos sociais e culturais.

Para futuras pesquisas, Vestergren e Uysal (2022) apontam que é necessário explorar mais a fundo as motivações por trás da identidade vegana, levando em consideração a interseccionalidade e a politização do movimento. Além disso, é importante considerar as variáveis sociais e psicológicas que influenciam a adesão ao veganismo, como a ideologia, o especismo e o antropocentrismo. Por fim, é fundamental que as pesquisas futuras sejam mais sensíveis às diferenças culturais e contextuais, a fim de compreender melhor as complexidades da identidade vegana em diferentes contextos sociais e culturais.

Miguel, Coelho e Bairrada (2020) realizaram um estudo que teve como objetivo investigar a relação entre antecedentes pessoais e morais e, a atitude em relação ao veganismo. Os autores examinaram como a consciência sobre a saúde, a influência social, a preocupação ambiental e o bem-estar animal afetam a atitude em relação ao veganismo e o engajamento com produtos veganos. Eles também investigaram como essas atitudes afetam a intenção de compra e a propaganda “boca a boca”, com o idealismo como moderador.

Os resultados do supracitado estudo mostram que a atitude em relação ao veganismo é mais influenciada por preocupações morais do que por causas pessoais. Segundo os referidos autores, os motivos para reduzir o consumo de animais, proteger a natureza e respeitar a vida animal parecem ser guiados por princípios éticos. Além disso, o estudo revelou que a consciência da saúde e a influência social não têm um impacto significativo na atitude em relação ao veganismo, e sim a preocupação com o meio ambiente e o bem-estar animal, que são os principais fatores.

Miguel, Coelho e Bairrada (2020) destacam a importância de considerar as preocupações morais ao promover o veganismo e os produtos veganos. As empresas que desejam ter sucesso nesse mercado devem se concentrar em produtos orgânicos, ecologicamente corretos e ambientalmente amigáveis. O estudo também destaca a importância de entender as motivações dos consumidores para adotar o veganismo e como essas motivações afetam a intenção de compra e a propaganda “boca a boca”.

Ulusoy (2015) apresenta uma análise sobre o veganismo como um sistema de significados que catalisa as conexões entre várias posturas éticas, sustentabilidade ambiental e bem-estar pessoal. O autor destaca que o veganismo é uma filosofia que busca estender a justiça social aos animais não-humanos, além de ser uma alternativa sustentável e saudável para a preservação do meio ambiente e promoção da saúde pessoal.

De acordo com o autor mencionado, o veganismo configura-se como uma atitude de resistência do consumidor, que se manifesta em níveis pessoais e coletivos. Os consumidores veganos são caracterizados por suas crenças ideológicas e políticas, que se manifestam através de suas escolhas de consumo. Os veganos boicotam a indústria de alimentos baseada em carne e evitam o consumo de qualquer produto de origem animal, como uma forma de contribuir para o bem-estar social, econômico e ambiental. Em suma, Ulusoy (2015) apresenta o veganismo como um movimento que busca estender a justiça social aos animais não-humanos, além de ser uma alternativa sustentável e saudável para a preservação do meio ambiente e promoção da saúde pessoal.

Beck, Harvey e Trauth (2017) examinam a psicologia por trás do consumo de produtos veganos e as razões pelas quais as pessoas adotam ou evitam o veganismo. Os autores observam que as motivações para o veganismo incluem preocupações com a saúde, o meio ambiente e os direitos dos animais, enquanto as dificuldades incluem a falta de opções veganas em restaurantes e supermercados, a falta de apoio social e a pressão social para comer carne. O estudo também destaca a importância da educação e da conscientização para promover o veganismo e superar as barreiras sociais e culturais que impedem a adoção deste estilo de vida.

Por outro lado, Docherty e Jasper (2023) apresentam “O paradoxo do queijo: como os vegetarianos justificam o consumo de produtos de origem animal não relacionados à carne?”, onde exploram a contradição entre o fato de que muitos vegetarianos consomem produtos lácteos, como queijo, mas ainda assim se opõem ao consumo de carne. O objetivo do estudo foi entender a psicologia por trás do consumo de produtos de origem animal não relacionados à carne, como laticínios e ovos, e como os vegetarianos justificam o seu consumo.

Os referidos autores iniciam discutindo o “paradoxo da carne”, que é a tensão entre o amor pelos animais e o desejo de consumir sua carne. Eles argumentam que o paradoxo do queijo é semelhante, pois muitos vegetarianos se opõem ao consumo de carne, mas, ainda assim, consomem produtos lácteos que envolvem a exploração de animais.

Docherty e Jasper (2023) entrevistaram 12 vegetarianos e observaram que eles consomem produtos lácteos e ovos por várias razões. Alguns acreditam que esses produtos são menos prejudiciais aos animais do que a carne, enquanto outros afirmam que são necessários para uma dieta saudável. Alguns vegetarianos também consomem produtos lácteos e ovos de fontes que consideram mais éticas, como fazendas orgânicas ou locais. No entanto, é importante ressaltar que os consumidores vegetarianos que assumem a contradição de consumir produtos de origem animal fora a carne, reconhecem a incoerência entre os seus valores e as suas ações, mas tentam justificar ou minimizar o seu impacto negativo.

Mattson (2020) apresenta a Meatless Monday (Segunda Sem Carne), uma campanha internacional que incentiva as pessoas a não consumirem carne nas segundas-feiras. Ao evitar ou diminuir o consumo de carne, as pessoas podem colaborar com a proteção do meio ambiente, pois a pecuária é uma das causas da sua destruição. Além disso, as pessoas podem adotar uma alimentação mais saudável. A tese de Mattson (2020) apresenta evidências de que a campanha Segunda Sem Carne pode ser eficaz na redução do consumo de carne e na promoção de comportamentos pró-ambientais.

O referido autor conclui que a abstenção do consumo de carne nas segundas-feiras, por meio do incentivo à campanha Segunda Sem Carne, pode ser uma estratégia útil para promover sistemas alimentares sustentáveis e mitigar os impactos ambientais do consumo de carne, mas que são necessárias mais pesquisas para entender melhor os seus efeitos e como melhorar sua eficácia.

Rayala et al. (2022) realizou uma pesquisa na universidade estadunidense, The Ohio State University, onde os alunos foram recrutados para participar do estudo e foram aleatoriamente designados para um grupo experimental ou de controle. Foi observado que os alunos que participaram da campanha Meatless Monday reduziram significativamente o consumo de carne em comparação com o grupo de controle e também mostraram um aumento significativo em comportamentos pró-ambientais, como o uso de sacolas reutilizáveis e a redução do desperdício de alimentos.

De Carvalho (2020) apresenta uma breve exposição histórica do vegetarianismo, e ressalta que ele tem uma tradição muito antiga, não podendo ser confundido com um simples modismo dos tempos atuais. O autor apresenta uma análise detalhada das principais razões para a rápida expansão do vegetarianismo e veganismo no Brasil nas últimas duas décadas e como resultado, discute os fatores contribuidores para esse fenômeno, como a difusão da internet e da educação superior, o desenvolvimento de pesquisas científicas favoráveis ao vegetarianismo e a criação de grupos ativistas, dentre eles a Sociedade Vegetariana Brasileira (2003).

De Carvalho (2020) também destaca que Brasil possui vantagens específicas em termos de geografia e biodiversidade e, que está conectado à mudanças sociais em curso, fatores que também podem contribuir para a expansão do vegetarianismo no país. Considerando tudo o que foi exposto, o autor aponta para uma provável expansão do vegetarianismo nas próximas décadas.

No Brasil, a Segunda Sem Carne, foi lançada em 2009 pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), com a proposta de convidar a população a trocar a proteína animal pela proteína vegetal um dia por semana. Segundo a SVB (2017), atualmente, a campanha Segunda sem Carne brasileira é a que apresenta maiores impactos do mundo e em 2017, ela resultou na economia de 2 mil toneladas de carne bovina, e capacitou profissionais diversos ligados ao setor alimentício no processo de substituição da proteína animal por vegetal.

A SVB (2017) apresenta dados relacionando os diversos benefícios conseguidos com a referida campanha, e sua relação com diversos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos na agenda das Nações Unidas. Segundo a SVB:

[…] O desenvolvimento de políticas de redução do consumo de alimentos de origem animal é essencial no contexto dos objetivos da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, contribuindo simultaneamente para a promoção da segurança alimentar (ODS 2), saúde (ODS 3), gestão sustentável da água (ODS 6), padrões sustentáveis de consumo e produção (ODS 12), mitigação de fatores associados a mudanças climáticas (ODS 13), e conservação da vida aquática e terrestre (ODS 14 e 15). (SVB, 2017, p.6)

Com relação à sustentabilidade, os supracitados autores Beck e Harvey (2017) destacam uma atividade que promove um crescente impacto negativo ao meio ambiente e que certamente não é sustentável a longo prazo: a agricultura animal. Os autores argumentam que o veganismo pode ser uma solução sustentável para esses problemas, pois a produção de alimentos à base de plantas requer menos recursos naturais e produz menos resíduos do que a produção de alimentos de origem animal.

Beck e Harvey (2017) também destacam que o veganismo pode ajudar a reduzir a pegada de carbono de uma pessoa, já que a produção de alimentos de origem animal é responsável por uma grande quantidade de emissões de gases de efeito estufa. Em resumo, o artigo sugere que o veganismo pode ser uma opção mais sustentável para a alimentação e que pode ajudar a mitigar os impactos ambientais negativos da agricultura animal.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento sustentável é um conceito que busca equilibrar o crescimento econômico, a inclusão social e a proteção ambiental, garantindo que as necessidades da geração atual sejam supridas sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Nesse sentido, o veganismo pode ser uma opção mais sustentável para a indústria, contribuindo para a redução da pegada de carbono e para a mitigação dos impactos ambientais negativos da agricultura animal.

A produção de produtos de origem animal tem um impacto significativo no meio ambiente e na sociedade, sendo responsável por uma grande quantidade de emissões de gases de efeito estufa, desmatamento, degradação de ecossistemas naturais e poluição da água e do solo. Adicionalmente, a pecuária é uma das principais causas da perda de biodiversidade e da degradação do solo, além de ser uma das principais fontes de consumo de água e energia. A produção de carne, leite e ovos requer grandes quantidades de recursos naturais, como água, terra e alimentos para os animais, o que pode levar à escassez desses recursos em algumas regiões do mundo.

Evidencia-se que a produção de alimentos à base de plantas requer menos recursos naturais e produz menos resíduos do que a produção de alimentos de origem animal. Além disso, a adoção de um estilo de vida vegano pode ajudar a reduzir também a pegada de carbono de uma pessoa, lembrando que a produção de produtos de origem animal é responsável por diversos impactos negativos ao planeta. Sendo assim, a adoção de um estilo de vida vegano pode ser uma opção mais sustentável e, até mesmo mais saudável, para as pessoas e para o planeta.

É prudente que as empresas adotem o ESG em suas estratégias de negócio, promovendo a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. O ESG é um conjunto de critérios que considera os aspectos ambientais, sociais e de governança das atividades empresariais, buscando promover a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa. Ao adotar o ESG, as empresas podem reduzir seus impactos ambientais e sociais, além de promover a transparência e a ética em suas operações.

A integração entre ESG e veganismo pode contribuir para a construção de um futuro mais sustentável e equitativo para todos. Ao adotar práticas sustentáveis em toda a cadeia produtiva, é possível promover a sustentabilidade ambiental, social e econômica, garantindo um futuro mais justo e resiliente para as próximas gerações. Nesse sentido, é importante que as empresas e os consumidores adotem práticas mais sustentáveis em suas atividades, considerando os impactos de suas escolhas e buscando alternativas mais responsáveis e conscientes.

Por fim, é importante destacar que a sustentabilidade é um desafio global que exige a colaboração de todos os setores da sociedade. A integração entre ESG e veganismo certamente é uma forma eficaz de promover a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva, mas para tal, é preciso que as empresas, os governos e a sociedade civil trabalhem juntos para garantir um futuro mais sustentável e equitativo para todos. A conscientização e a mudança de hábitos são fundamentais para a construção de um mundo mais sustentável e justo, e a integração entre o ESG e o veganismo pode ser um passo importante nessa direção.

REFERÊNCIAS

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BRUNDTLAND, Gro Hariem. World commission on environment and development. Environmental policy and law, v. 14, n. 1, p. 26-30, 1985.

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FRANCO, Annibal Gouvêa; BATISTA, Melissa Marcílio. Entre “slogans verdes” e “comportamentos cinzentos”: explorando a dicotomia entre as práticas de ESG e as realidades operacionais. Revista Eletrônica Multidisciplinar de Investigação Científica, v. 3, n. 14, 2024. DOI: https://doi.org/10.56166/remici.243v3n141166.

IRIGARAY, Hélio Arthur Reis; STOCKER, Fabricio. ESG: novo conceito para velhos problemas. Cadernos EBAPE. BR, v. 20, p. 1-4, 2022.

LOUSÃO, Francisca Inês Augusto. A Fresh Green Index in the World: Building and optimizing a Vegan and Sustainable Index Fund using a Genetic Algorithm and a Heuristic Local Search. 2022. Tese de Doutorado.

MATTSON, Stephen. Analyzing the effectiveness of a meatless monday intervention on meat consumption and associated pro-environmental spillover behavior throughout the week. 2020. Tese de Doutorado. The Ohio State University.

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SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira. Impactos da campanha Segunda Sem Carne no Brasil: Reduzir o consumo de carnes como estratégia essencial para o desenvolvimento sustentável. SVB, 2017. Disponível em: https://svb.org.br/biblioteca/. Acesso em: 07 nov. 2023.

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ULUSOY, Emre. I think, therefore I am vegan: Veganism, ethics, and social justice. In: Proceedings of the 40th annual macromarketing conference. 2015. p. 419-423.

[1] Mestrado em Design (Design, Inovação e Sustentabilidade) pela UEMG. – MBA em ESG e Inovação, Pós-graduação Lato Sensu em Educação Ambiental, Pós-graduação Lato Sensu em Gestão do Design nas Micro e Pequenas Empresas, Bacharelado em Design de Produto. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-9134-300X. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/1388138609353813.

[2] MBA Executivo e Graduação em Tecnologia em Processos Gerenciais e, MBA em ESG e Inovação. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-3556-8479. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/9733995262422995.

Material recebido: 4 de dezembro de 2023.

Material aprovado pelos pares: 13 de dezembro de 2023.

Material editado aprovado pelos autores: 09 de maio de 2024.

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Annibal Gouvêa Franco

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