Paulo Cesar Gonçalves de Azevedo Filho [1]
Jomel Francisco dos Santos [2]
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/1599
CONCEITO
A brucelose é uma infecção causada por bactérias do gênero Brucella e tem distribuição cosmopolita. Acomete mamíferos, podendo causar abortos e infertilidade em algumas espécies além de sérios prejuízos a produção animal, assim como para conservação de algumas espécies. É uma importante zoonose que pode acometer os seres humanos por meio do consumo de leite e derivados sem tratamento térmico adequado, ou ser transmitida também pelo contato de materiais contaminados como restos placentários ou abortos. Vale salientar a importância como zoonose ocupacional que pode acometer principalmente Médicos Veterinários, trabalhadores rurais, ordenhadores e magarefes, principalmente pelo contato com materiais contaminados e o manuseio incorreto da vacina viva liofilizada (B19).
ETIOLOGIA
As bactérias do gênero Brucella são pequenos cocobacilos gram-negativos não capsulados que são imóveis e não formadores de esporos, sendo parasitas intracelulares facultativos. O gênero Brucella pode ser dividido em dois subtipos: lisa onde se encontram as espécies (B. abortus, B. melitensis, B. suis, B. neotomae, B. pinnipediae, B. cetaceae e B. maris) e rugosa (B. ovis e B. canis). Os humanos são mais frequentemente acometidos por quatro espécies: Brucella melitensis, ocorrendo mais frequentemente na população geral, sendo mais invasiva e patogênica e cujos reservatórios são as cabras, as ovelhas e os camelos, considerada exótica no Brasil; Brucella abortus, presente no gado bovino e bubalino. Talvez a que apresente maior prevalência nos seres humanos devido o hábito de consumo de leite e derivados crus sem tratamento térmico adequado, devido à grande dificuldade de diagnóstico e por ser uma doença silenciosa tem-se uma grande subnotificação, não existindo programa governamental específico para esta zoonose tão importante; Brucella suis e Brucella canis, transmitidas pelos suínos e pelos cães, respectivamente.
EPIDEMIOLOGIA
Por se tratar de uma infecção crônica, silenciosa e acometer todos os mamíferos e podendo persistir por toda a vida do animal sem ser notado, causa grandes prejuízos reprodutivos e produtivos. O parasita possui um tropismo pelos órgãos reprodutivos sendo responsável por manifestações de problemas reprodutivos principalmente esterilidade, aborto e repetição de cio. Encontram-se em grande quantidade principalmente no leite, urina e produtos abortivos de animais infectados. Consequentemente, a brucelose tornou-se uma doença ocupacional para pecuaristas, veterinários, trabalhadores dos centros de abate e técnicos de laboratório. As vias de transmissão humana incluem o contato direto com animais infectados ou o contato com as suas secreções, através de soluções de continuidade cutâneas, aerossóis contaminados, inoculação no saco conjuntival ou ingestão de produtos não pasteurizados. No entanto, é uma zoonose ainda pouco estudada.
PATOGENIA
Por apresentar tropismo pelos órgãos reprodutivos principalmente por causa da produção do eritritol (hormônio este que estimula o crescimento e reprodução do agente) durante a gestação, a enfermidade acomete preferencialmente fêmeas que estejam em idade reprodutiva e eventualmente acomete os machos. A brucelose é uma bactéria intracelular facultativa que pode se multiplicar no interior dos fagócitos e com isso consegue se disseminar no organismo animal ou humano principalmente pela via hematógena, tendo predileção por úteros gravídicos, tecidos mamários, ósteo-articulares e órgãos do sistema reprodutor masculino. Nas fêmeas podem ocorrer abortos, retenção de placenta, corrimentos vaginais, endometrites e mastites, além de nascimento de animais fracos ou natimortos; já nos machos podem ser observados orquite, epididimite, esterilidade e problemas articulares. Com o parto e/ou aborto, ocorre a eliminação das bactérias por meio das soluções de continuidade presentes, porém o animal permanece portador por toda a vida e terá memória imunológica do agente. Quando ocorre a primo-infecção a fêmea ainda não possui imunidade contra o agente com isso causando uma grande multiplicação exagerada com danos na placenta do animal podendo ocasionar aborto. Nas gestações subsequentes o animal mesmo infectado, porém devido a memória imunológica pode conseguir chegar a termo a gestação, ou continuar abortando, porém normalmente nesses casos o animal passa a produzir animais mais fracos e/ou natimortos e com isso dificulta ainda mais a identificação do agente. Normalmente o ser humano se infecta pela ingestão de leite e derivados crus contaminados, restos placentários ou de aborto, além de poder se infectar na manipulação de alimentos contaminados, contato direto com animal doente ou feto abortado, manipulação incorreta da vacina (B19).
SINAIS CLÍNICOS
Os sinais clínicos predominantes em animais gestantes é o aborto ou o nascimento de animais mortos ou fracos. Geralmente o aborto ocorre no terço final da gestação, podendo causar retenção de placenta, metrite e ocasionalmente, esterilidade permanente. Nos machos ocorre principalmente orquite que pode ser uni ou bilateral, acarretando baixa da libido e esterilidade nesses animais, epididimite e vesiculite também podem ser observados. Os testículos podem se apresentar degenerados, com fibrose e com aderências.
DIAGNÓSTICO
Para o diagnóstico pode-se utilizar exames bacteriológicos ou sorológicos. O exame bacteriológico é executado a partir de espécimes suspeitos semeados em meios de cultura específicos. Para o exame sorológico dependerá das espécies suspeitas, para espécies lisas pode-se utilizar o teste de triagem do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT); os animais reagentes podem ser testados com exames mais específicos como o 2-mercaptanoetanol, Ensaio Imunoenzimático, polarização fluorescente e imunohistoquímica para confirmação. Já para as espécies rugosas utiliza-se a Imunodifusão em Ágar Gel (IDGA). Atualmente com o advento das técnicas moleculares como Reação de Cadeia Palimerase (PCR) facilitam a identificação dos agentes em material biológico dando uma confiabilidade maior ao teste.
DOENÇAS DIFERENCIAIS
As principais enfermidades que causem distúrbios reprodutivos como Leptospirose, Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR), Diarreia Viral Bovinal (BVD), Toxoplasmose, Salmonelose, Doenças das Fronteiras, Tricomoníase e Neosporose.
CONTROLE
A principal forma de se controlar a brucelose em uma propriedade é por meio da vacinação de todas as fêmeas de bovinos e/ou bubalinos de 3 a 8 meses de idade com a vacina B19. Atualmente está liberada no território nacional a vacinação de fêmeas bovinas acima de oito meses de idade com a vacina RB-51.
TRATAMENTO
Não existe tratamento para a brucelose bovina e/ou bubalina.
PROFILAXIA
Implantação de uma rotina de testes sorológicos nos animais e realização de eliminação por meio do abate sanitário em frigoríficos que tenham inspeção sanitária ou destruição e enterro dos animais reagentes na própria propriedade. Desinfecção das instalações e destruição de restos placentários, fetos abortados e secreções dos animais. Construção de piquetes maternidade no intuito de acompanhar o parto e eliminar os restos da parição, quarentena de animais introduzidos no rebanho e principalmente a Educação Sanitária com o objetivo de diminuir a ocorrência desta importante zoonose nos seres humanos. Existe no Brasil o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) que visa baixar a prevalência e a incidência dessa enfermidade no rebanho brasileiro.
IMAGENS
Figura 1. Animal com abcesso cervical, na espera para matança

Figura 2. Líquido amarelado do abcesso cervical em bovino

Figura 3. Observação de higroma Brucelico cervical, confirmando suspeita de brucelose

Figura 4. Artrite Brucélica em Búfalo. Articulação Fêmus, Tibia, patelar

Figura 5. Orquite Unilateral Brucelica em bovino

INFORMAÇÕES SOBRE OS AUTORES
[1] Paulo Cesar Gonçalves de Azevedo Filho
Doutorado. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6536-8370. Currículo
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8372094792929823.
[2] Jomel Francisco dos Santos
Doutorado. ORCID: http://orcid.org/ 0000-0002-0203-5974. Currículo
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6150387477411390.
Uma resposta
Parabéns professores Paulo César e Jomel Santos. Excelente material, será muito útil para os profissionais da medicina veterinária em formação ou já formados. Continuem divulgando material deste calibre.