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O Barroco Como Expressão Artística Do Período Colonial Brasileiro

RC: 23042
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

Barbieri, Fernanda [1]

Barbieri, Fernanda. O Barroco Como Expressão Artística Do Período Colonial Brasileiro. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 11, Vol. 06, pp. 213-231 Novembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

O Barroco como expressão artística, deixou profundas marcas em várias áreas das artes no Brasil. Sendo muito mais que um movimento cultural, ele representou um estilo que influenciou a música, a literatura, as artes plásticas e arquitetura do período colonial brasileiro. Ainda hoje é fonte de inspiração para muitos trabalhos nestas áreas, sua origem se deu na Europa e chegou ao Brasil trazido pelos padres jesuítas que pretendiam inocular a cultura e religião da metrópole nos povos nativos do brasil e também auxiliar a colonização. Por todo Brasil é possível identificar o estilo barroco nas construções e sobre tudo nas igrejas católicas com seu traço arquitetônico inconfundível. Na literatura, destaca-se Bento Teixeira, que é considerado o precursor deste estilo literário, e como ápice deste movimento o poeta Gregório de Matos Guerra e Padre Antônio Vieira. Nas artes plásticas seu maior representante, Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, que deixou inúmeras obras feitas em pedra sabão com temas religiosos. Também, se destaca os pintores Manuel da Costa Ataíde. Busca-se neste trabalho expor as principias obras e ícones deste estilo que no Brasil adquiriu uma identidade própria que ainda hoje atrai os olhares dos amantes das artes.

Palavras-chaves: Barroco, estilo, obra, cultura, fé.

INTRODUÇÃO

A arte barroca foi trazida para o Brasil em 1601 e durou até 1768. (HENRIQUE 2014)

No século XVIII, as cidades que tinham uma vida cultural em desenvolvimento estavam em Minas Gerais devido a riqueza trazida pela extração do ouro. Toda esta pujança sócio econômica por um período lhes conferiram um lugar de destaque na história do Brasil colônia. O barroco mineiro é representado pelo seu artista e arquiteto o Antônio Francisco de Lisboa o famoso Aleijadinho. Suas obras eram feitas de pedra-sabão e madeira, eram encomendadas principalmente pelas igrejas católicas. Tinham um aspecto realista, com luzes, sombras e decorações, as expressões muito perturbadoras. Suas esculturas encontram-se nos museus e igrejas principalmente em Ouro Preto e na cidade de Congonhas do Campo – MG. (HENRIQUE 2014)

Esse movimento também se espalhou por artistas anônimos pelas diversas regiões do país. (HENRIQUE, 2014)

O Gregório de Matos Guerra é considerado o mais importante poeta barroco brasileiro, o famoso Boca de Inferno. Outro importante representante na literatura como Gregório, era o padre Antônio Vieira, que se destacou pelos seus sermões. (HENRIQUE, 2014)

2. PANORAMA HISTÓRICO

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

O Brasil chegando aos seus 200 anos de descobrimento ainda matinha a rústica estrutura inicial de colônia. Tudo que se produzia ou extraia era enviado para a metrópole portuguesa. (CAMARGO, 2002)

A corte mantinha seu farto e luxuoso estilo de vida, abastecida pelos finos produtos importados em grande parte da Inglaterra. O que exigia que grande parte da riqueza exportada do Brasil para a Europa fosse usado como pagamento aos credores ingleses e de outros fornecedores. Neste contexto Portugal tem um papel quase que de entreposto inglês ou em outras palavras era quase que colônia da Inglaterra, devido as dividas advindas da coroa portuguesa com este país. (CAMARGO, 2002)

Os historiadores apontam Dom João V, como um rei carola gastador, como um dos responsáveis pelo completo desperdício do ouro vindo do Brasil. Desbaratou-o em igrejas, capelinhas, doações aos padres, em missas de encomenda e no faustoso Palácio-convento de Mafra, com 4.000 m2 de área construída, inaugurado em 1730. Como Voltaire deixou dito dele “D. João V quando queria uma festa, ordenava um desfile religioso. Quando queria uma construção nova, erigia um convento…”, mantendo ainda como uma casta privilegiada um corpo sacerdotal de 200 mil integrantes num país que não tinha uma população superior a três milhões de habitantes. Igualmente responsabilizam o Tratado de Methuen, de 1703, que tornou Portugal dependente dos “panos ingleses”, um virtual “vassalo econômico” da Inglaterra, inibindo-lhe a possível industrialização. (VOLTAIRE, 2017)

Voltaire Schilling pondera em seus comentários que toda extravagância dos Monarcas Portugueses com suas belas e ricas construções religiosas eram financiados com o ouro e joias levados do Brasil. Neste aspecto pode-se observar o contraste entre os modelos coloniais adotados pela colonização portuguesa e inglesa. No caso brasileiro a extração era o único e principal interesse da coroa, diferente do que ocorrera na América do Norte que colonizada pelos saxões mostrou-se uma alternativa sobretudo para os protestantes que viam na América um lugar onde poderiam se estabelecer sem sofrer perseguição religiosa como ocorria na Europa. Neste ambiente germinou o ideal de liberdade potencializado pela experiência francesa, e devido as taxas da coroa inglesa culminou na independência dos Estados Unidos. Já nas colônias luso espanholas o único interesse foi extrair tudo que se podia. Este modelo de colonialismo português deixou profundas marcas em nossas reservas minerais e culturais. (SCHILLING, 1992)

Para poder entender o Barroco e suas variadas formas de expressão deve-se necessariamente observar todo o contexto em que o Brasil estava inserido durante o período colonial, sobre isso, Camargo (2002, p. 73) pondera que:

O conceito de cultura identificava-se com o de civilização. Ou seja, os valores culturais repousavam numa estrutura de avanço tecnológico, em economias e sociedades dinâmicas, e a cultura era o resultado desses níveis, ainda que pudesse ser pensada dialeticamente como instrumento de transformação da sociedade. Enfim literatura, teatro, música, pintura, escultura, arquitetura eram os níveis de expressão da sociedade enquanto índices da sua civilização. (CAMARGO,2002)

Conforme Camargo comenta, pode-se dizer que a cultura de um povo é expressa de diversas forma. Ela é a soma de diversas influências individuais (interna) e somando-se ao coletivo (externo) resulta no comportamento, gostos, língua, música, enfim toda forma de exposição da vida de uma sociedade. (CAMARGO,2002).

2.2 A ECONOMIA DA COLÔNIA

No início do colonialismo no Brasil até meados do século VII o Brasil tinha seu eixo político, econômico e administrativo situado no eixo litorâneo nordestino brasileiro, onde a atividade econômica era basicamente na produção de açúcar, tabaco, algodão e produtos diversos que eram enviados para o exterior. (CAMARGO, 2002)

Em 1763 o Rio de Janeiro tornou-se a capital do Vice-reino devido, formando ambos uma nova entidade político-administrativa. Com esta mudança a população que antes se concentrava na área litorânea nordestina, Minas Gerais tornou-se, por sua vez, um ponto de partida para a ocupação de outras regiões até então desertas de civilização, como o Goiás e o Mato Grosso. Foi nesta região que se formou uma nova sociedade com características bem peculiares. Devido a descoberta de ouro, diamante e outras pedras preciosas surgiu o grupo de cidades que daria um salto populacional na colônia, passando de 300 mil habitantes para mais de 3 milhões até 1798. (CAMARGO, 2002)

O surgimento das cidades que ficavam no caminho do ouro representou a formação do primeiro mercado interno do Brasil colonial. Minas precisava importar boa parte dos produtos de consumo alimentício, isso se dá pelo fato das áreas circunvizinhas serem pouco férteis para plantação, isso elevou muito o preço destes produtos. (CAMARGO, 2002)

Para abastecer estas cidades foi necessário a expansão da criação do gado para corte e para carga, fazendo com que muitas regiões fossem utilizadas para criação de gado, desde Campinas em São Paulo, até Vacaria e Soledade no Rio Grande do Sul. Nesta mesma época surgiu a indústria de charque em Pelotas, Rio Grande do Sul, com o mesmo intuito de abastecer a corte colonial agora já situada em Minas Gerais. (CAMARGO, 2002)

Foi também para abastecer as minas que surgiu a indústria do charque, ao por volta de 1780 na área de Pelotas, espalhando-se para o vale do Jacuí, no RS. O Rio de Janeiro tornou-se o principal porto do país, simultaneamente o maior mercado escravista da colônia e exportador de mineral precioso. Nunca se importaram tantos escravos de uma vez só como no auge da exploração aurífera, entre 1730-1750, fazendo com que juntamente com os pardos escravizados, atingissem ao total de 1.581.000, ou 48,8% da população existente! (CAMARGO, 2002)

Toda esta efervescência social e cultural fez com que surgisse pela primeira vez no Brasil colônia uma classe média de artesãos, de profissionais das minas, de comerciantes e funcionários, de militares, de artistas e músicos, além de uma poderosa plutocracia[1] que enriquecera com o ouro. Foram eles que esboçaram, ainda que fracassada, a primeira tentativa de independência do Brasil. Os seus intelectuais e poetas tiveram atuação marcante na vida cultural das Minas Gerais, mesmo que temática e esteticamente dependentes do movimento arcadiano europeu. O barroco mineiro, estilo predominante na construção de casas, de igrejas e de palácios, tem sido apontado como a mais bela herança dos tempos do ouro. (CAMARGO, 2002)

Minas Gerais se tornou um grande polo atrativo, muito ouro e pedras preciosas foram extraídos e encaminhados para Portugal. Estima-se que neste período foram extraídas 535 toneladas de ouro, sendo que um quinto, ou seja, 20% era enviado diretamente para os cofres da coroa portuguesa a título de impostos. (BANDEIRA,1940).

Se de um lado pode-se afirmar o século XVII foi o século do ouro, por outro lado pode-se lamentar, porque deste ouro quase nada efetivamente ficou aqui. Isso fica evidenciado no poema de Manoel Bandeira (1940):

[…] Ouro branco! Ouro preto! Ouro podre! De cada Ribeirão trepidante e de cada recosto de montanha o metal rolou na cascalhada para o fausto Del-Rei, para a gloria do imposto. Que resta do esplendor de outrora? Quase nada: Pedras… Templos que são fantasmas ao sol-posto. (BANDEIRA,1940).

Salvo o ouro usado na decoração das igrejas, à verdade é que pouco do ouro sobrou para o Brasil. Ou, como disse o poeta, restou-nos Pedras, templos que são como fantasmas ao sol. Gastou-se em escravos e oferendas religiosas, capelinhas e igrejas. Diferente do ocorrido na Califórnia – USA em 1848-9, na África do Sul em 1886; Alasca em1896, e na Austrália em 1851, não produziu uma economia autossuficiente, o que se produziu se esvaiu sem produzir riqueza local. (BANDEIRA,1940).

2.3 A INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO BARROCO BRASILEIRO

O barroco brasileiro foi influenciado pelo barroco português, ao longo do tempo os artistas desenvolveram suas características próprias, as maiores produções literárias ocorram à princípio na Bahia onde era o centro político da colônia durante o ciclo da cana-de-açúcar. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, muitas riquezas do interior foram reveladas em pouco as vilas mineiras se tornaram polos atrativos e impulsionaram o desenvolvimento da região. (COUTINHO, 2004).

O Mundo estava de certa forma passando por transformações importantes, o homem estava aos poucos deixando de se sentir um ser insignificante contrariando os desejos da igreja dominante. O ponto forte desta ruptura e quebra de paradigma foi a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, ainda que também equivocado em alguns pontos ele batia de frente a doutrina católica e deu início a reforma protestante, seguido por Calvino e outros expoentes do movimento. Um dos estopins deste movimento foi sem dúvida a venda de indulgências[2] e o celibato imposto pela igreja católica, exigências que estavam em desacordo com os princípios bíblicos. (COUTINHO, 2004).

No Brasil a religião predominante era o catolicismo. Na época, com o declínio de sua influência no estado ou governo, usou o barroco como uma forma de evidenciar sua presença e catequizar os imigrantes e nativos. Esta influência se tornou necessária ainda mais pela ameaça imposta pela nova cultura que começou a surgir na américa por conta do protestantismo. Logo, esta ação iconográfica de usar a arte sacra como imagens, esculturas e arquitetura também serviu como ferramenta de contrarreforma. (COUTINHO, 2004)

A Contrarreforma Movimento eclesiástico iniciado em 1545, no qual a igreja católica tenta impor sua “autoridade”, pensamento e doutrina, frente a reforma protestante que questionava fortemente os métodos de dominação religiosa imposto pela igreja católica. (COUTINHO, 2004)

Ao contrário dos protestantes que não usavam imagens em suas adorações de culto, buscou essa forma de impressionar seus fiéis decorando suas igrejas com pinturas e estátuas com temas da religião cristã, o interior das igrejas tornou-se mais rico e colorido chamando muita atenção, dos que não sabiam ler, as missas eram em latim, a liturgia e ritualística rica em detalhes distanciava muito da simplicidade praticada pelos primeiros cristãos. As imagens dos santos davam sensação de dor, agonia e ternura. (COUTINHO, 2004)

Toda essa opulência servia como uma espécie de overdose visual que visava muito mais impressionar e expor a riqueza e poderio da igreja do que tornar a vida do fiel mais próxima de Deus. (COUTINHO, 2004)

3. A ESCULTURA BARROCA

Pode-se dizer que o barroco foi todo um movimento cultural, a arquitetura, a música, a pintura e a escultura são expressões que caracterizam este momento de nossa história. (VENTURELLI, 1982)

3.1 A VIDA DE ALEIJADINHO, ESCULTOR E ARQUITETO.

Antônio Francisco Lisboa o Aleijadinho, filho de Manuel Francisco Lisboa, português, respeitado mestre e arquiteto e Isabel sua escrava. Nasceu em 1738 nas proximidades de Vila Rica, Ouro Preto – MG. (VENTURELLI, 1982)

Sua condição de mestiço lhe expunha ao preconceito por pare de algumas pessoas, fato este que lhe fazia sofrer. Estudou em um colégio franciscano, através dos padres de Vila Rica estudou letras e músicas, teve como mestre nas artes os portugueses João Gomes Batista e Francisco Xavier de Brito, certamente formação acadêmica lhe deu a base de que precisava para desenvolver seu estilo de escultura. (VENTURELLI, 1982)

Através do pai Aleijadinho iniciou-se ainda em sua infância a desenvolver o seu talento de escultor, e também aprendeu com o seu tio o ofício de entalhador o Senhor Antônio Francisco Pombal. Com a riqueza do ouro, veio também a riqueza artística naquela época, muitos trabalhos desse artista não foram assinados então muito deles não foram identificados, seu trabalho foi imitado por inúmeros artistas. (VENTURELLI, 1982)

Outro capítulo controverso de sua história é o fato de sua suporta iniciação maçônica. A maçonaria é uma palavra derivada da palavra francesa maçom que significa pedreiro. Segundo dicionário Michaelis (2017):

Sociedade semissecreta com o objetivo de praticar a fraternidade e a filantropia entre seus membros. Divide-se em grupos, denominados lojas, que usam sinais e emblemas para se reconhecerem; seus membros se classificam como aprendizes, companheiros e mestres, que obedecem ao venerável (chefe da loja); franco-maçonaria.

A maçonaria deve participação decisiva no processo de independência de países como França, Estados Unidos, Brasil entre muitos outros. Sendo uma sociedade eclética que procura reunir entre seus membros pessoas de alto nível intelectual. Entre seus mais celebres membros fulguram pessoas como Barão do Rio Branco, Quintino Bocaiuva, Dom Pedro II, José Bonifácio, Rui Barbosa, sendo muitos destes nacionalistas, abolicionistas, escritores, políticos de grande envergadura moral e ética, cientistas e pensadores de forte influência na sociedade brasileira. (VENTURELLI, 1982)

Alguns escritores afirmam que aleijadinho não foi maçom regular, outros já afirmam que sim. Conforme aponta Vasconcellos (1988, pg.11):

Informamos também que Aleijadinho iniciou-se na Loja Maçônica Vida e eterna em Tejuco, Diamantina atualmente, quando ainda os sinais de sua modéstia ainda não se tinham manifestado e que no Museu de Diamantina, encontramos sinais de sua passagem, num. S. José de Botas da antiga Matriz e no forro da antiga Igreja, feita por Atayde que, também era maçom, utilizava as cores e da Maçonaria em suas pinturas: o azul, o vermelho e o branco, símbolos respectivos da Bondade, Inteligência e Poder, ou seja, Fraternidade, Igualdade e Fraternidade. (VENTURELLI, 1982)

Vasconcellos corrobora que embora realmente no período de vida de Aleijadinho, de fato não havia oficialmente não havia a maçonaria regular, entretanto, é muito possível que mesmo que de forma irregular ou não reconhecida ele tenha pertencido a Maçonaria, pode-se notar nas cores, sinais e expressões de sua obra, forte influência do simbolismo maçônico. (VENTURELLI, 1982).

Pode-se notar em sua obra um padrão de formas, texturas e expressões. Suas estatuas tem um forte apelo emocional, quase que teatral, onde cada obra transmite movimento e muita moção aos olhos de quem as contemplam. Expressividade acentuada queixo dividido, nariz proeminente, boca entreaberta, braços curtos, olhos amendoados e pupilas planas. Aleijadinho foi o poeta da Pedra, fez preciosidades na Pedra-Sabão. (VENTURELLI, 1982).

De acordo com o governo só poderia permanecer nas capitanias os padres que realmente prestavam serviços aos paroquianos, evitando dessa forma o contrabando de ouro, os demais padres que não permaneciam nas capitanias se juntavam e criavam as confrarias e contribuía para o grande número de construções religiosas. (VENTURELLI, 1982).

Na metade do século XVIII Aleijadinho começou a criar o seu trabalho de escultura projetista, com seu estilo barroco e rococó, na medida que a economia crescia com o ouro as construções ricas aumentava, seu trabalho está presente em várias cidades mineiras. (VENTURELLI, 1982).

Ele se destaca em figuras fortes, aos 40 anos idade ainda não tinha produzido muito, após essa idade ele desenvolve uma doença que o fragiliza, mas para ele foi um fator positivo quando, começou a se concentrar e a produzir mais, trabalhando com a ajuda de um discípulo. (VENTURELLI, 1982).

O seu ajudante amarrava ferramentas em seus punhos o cinzel o martelo e a régua para conseguir trabalhar, isso mostrava a paixão pelo seu trabalho, não se sabe ao certo que doença ele teve se foi lepra ou sífilis. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, morreu no dia 18 de novembro de 1814, e seu corpo foi sepultado na Matriz de Antônio Dias, junto ao altar da Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte. (VENTURELLI, 1982).

A cada dia se consagrava como artista barroco. Aleijadinho projetava e supervisionava as construções, terminada a obra ele fazia os acabamentos finais. (VENTURELLI, 1982).

4. A LITERATURA BARROCA

A literatura do Barroco, nada mais é do que uma narrativa e continuidade das outras formas de expressão, ou seja, retrata ainda mais a forma rebuscada e erudita, retrata a insignificância do homem religioso quando comparado a majestade divina, o sarcasmo do homem incrédulo e pecador enquanto ser propenso ao pecado. (MATOS,1998).

4.1 O POETA GREGÓRIO DE MATOS

Um grande poeta da época Barroca foi Gregório de Matos, nasceu em Salvador – BA no dia 23 de dezembro de 1636. Filho de pai português e mãe baiana, frequentou o Colégio da Companhia de Jesus, estudou Direito na Universidade de Coimbra. Odiado e amado por muitos, foi conhecido como “Boca do Inferno” por ter uma língua afiada. (MATOS,1998).

Se destacou por sua poesia satírica, lírica, sacra e erótica, em seus trabalhos o escritor narra episódios da vida popular, política e cotidiana. Com seus poemas dá para conhecer melhor a sociedade do período colonial, suas poesias são as maiores expressões do Barroco. (MATOS,1998).

Devido as suas críticas em 1694 as autoridades da Bahia, é degredado para Angola, um ano depois tem permissão para voltar ao Brasil e vai morar em Recife-PE, morreu no Recife, no dia 26 de novembro de 1695. (MATOS,1998).

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, da vossa alta clemência me despido; porque, quanto mais tenho delinquido, vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida, e já cobrada glória tal e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na sacra história, eu sou Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha, a vossa glória (MATOS, 1998, p. 253).

Observa-se neste soneto que Matos busca expressar a angústia, o arrependimento do pecado cometido e busca do perdão. Característica comum entre as obras do barroco que coloca o homem com ser muito inferior e exalta cada vez mais a deidade. Sabe-se porem que está deidade passa pelo seu intermediador na figura do sacerdote. Matos se compara a uma ovelha perdida fazendo referência a passagem de Mateus 18:12 do Novo Testamento onde o pastor preocupado e amoroso deixa as ovelhas em local seguro e sai para buscar a ovelha perdida. Suplica o perdão e remissão de seu pecado. (MATOS,1998).

4.2 POETA BENTO TEIXEIRA FOI UM POETA LUSO-BRASILEIRO

Bento Teixeira (1561-1600) nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no ano de 1561. Filho de Manoel Álvares de Barros e Leonor Rodrigues, veio para o Brasil em 1567, instalando-se no Espírito Santo. Estudou em colégios jesuítas, tentou seguir a carreira eclesiástica, mas desistiu. Autor do poema épico “Prosopopeia”, considerado um marco inicial do Barroco na literatura brasileira. (MATOS,1998).

Formou-se no colégio da Bahia casou-se com a cristã Filipa Raposa, mais tarde ela o acusou de ser um mau cristão passou a ser perseguido pela Santa Inquisição. Foi preso absolvido, para honrar seu nome matou sua esposa, foi preso novamente e enviado para Lisboa quando confessou sua crença judaica. Na prisão escreveu seu único poema épico Prosopopéia, escrito em 1601, dispostos em oitava rima, com 94 estrofes, fala sobre a vida e obra do então governador de Pernambuco Jorge de Albuquerque Coelho e seu irmão Duarte. (MATOS,1998).

4.3 PADRE ANTÔNIO VIEIRA

O religioso nasceu em 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa, e faleceu em Salvador, no dia 18 de julho de 1697. (VIEIRA,1993)

Antônio Vieira chegou ao Brasil em 1619, iniciou os estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador, onde se tornou um brilhante aluno, guardava tudo que lia na memória. Não foi um poeta e sim um grande orador, deixou uma obra complexa onde demonstra suas opiniões políticas. (VIEIRA,1993)

Entre seus sermões ele redigiu o livro que nunca concluiu Clavis Prophetarum, entre os mais famosos estão: o “Sermão do Bom Ladrão”, o “Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”, o “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda”, o “Sermão da Sexagésima”, o “Sermão de Santo António aos Peixes” entre outros. Deixou mais de 700 cartas e 200 sermões. Estudou Teologia, Lógica, Metafísica e Matemática, obteve o título de mestre em Artes. (VIEIRA,1993)

Ele destacou como missionário, aprendeu a língua dos índios nas aldeias da Bahia para que pudesse catequisar os mesmos, defendeu os direitos dos judeus a abolição da distinção de cristãos-novos e negros, combatendo a escravidão e as práticas desumanas, criticava a inquisição e as atitudes dos sacerdotes defendeu os povos indígenas e os evangelizava, era chamado por eles de “Paiaçu”. Sua literatura possui grande ênfase no barroco brasileiro e português. (VIEIRA,1993)

Dentro da nossa fantasia, ou potência imaginativa, que reside no cérebro, estão guardadas, como em tesouro secreto, as imagens de todas as coisas que nos entraram pelos sentidos, a que os filósofos chamam espécies. E assim como nós das letras ABC, que são somente vinte e duas, trocando-as e ajuntando-as variamente, escrevemos e damos a entender o que queremos, assim o demônio, daquelas espécies, que são infinitas, ordenando-as como mais lhe serve, pinta e representa interiormente à nossa imaginação o que mais pode inclinar, afeiçoar e atrair o apetite. E deste modo mudamente nos tenta, mudamente nos persuade, e mudamente nos engana. (VIEIRA, 1993, p. 1163)

Observa-se que Vieira concentra seu sermão na tentativa de ensinar por analogia que os tudo que se experimenta pelos sentidos do homem vai ao cérebro e fica oculto na memória que pode ser acessado quando se deseja, resultado em imagens mentais que refletem os desejos e paixões humanas que muitas vezes servem para a condenação do homem. (VIEIRA,1993)

Em outro momento Vieira (1993, p. 73-74), ensina que

[…] Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo mundo, disse-lhes desta maneira: (…). Ide, e pregai a toda criatura. Como assim, Senhor? Os animais não são criaturas? As árvores não são criatura? As pedras não são criaturas? Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras? Hão de pregar aos troncos? Hão de pregar aos animais? Sim: diz S. Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do mundo, muitas delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achar homens, haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos, haviam de achar homens pedras […] (VIEIRA,1993)

Segundo Vieira, o homem pode se encontrar em vários níveis de desenvolvimento moral e intelectual, sendo assim, o pregador deve entender que as criaturas mencionadas por Jesus são exatamente estas variações de níveis da formação do homem. (VIEIRA,1993)

A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: Saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia: Ecce exiit qui seminat, seminare. Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma cousa é o soldado, e outra cousa o que peleja; uma cousa é o governador outra o que governa. Da mesma maneira, uma cousa é o semeado, e outra o que semeia; uma cousa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é acção; e as acções são o que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome não importa nada; as acções, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo. (VIEIRA,1993)

Os sermões de Antônio Vieira são muito variados, nota-se, entretanto, a coerência e lucidez como ele se comunica com seus pares os pregadores e também os instrui sobre como devem agir, diferenciando o discurso e a prática da pregação. (VIEIRA,1993).

5. A PINTURA BARROCA

5.1 MANOEL DA COSTA ATAIDE – PINTOR

Manuel da Costa Ataíde, mais conhecido como Mestre Ataíde, nasceu em Mariana, foi batizado em 18 de outubro de 1762 faleceu em Mariana à 2 de fevereiro de 1830. Foi um militar e celebrado pintor e decorador brasileiro. Em 1808 com a mulata alforriada Maria do Carmo Raimunda da Silva, nascida em 1788, viveram em regime de concubinato, jamais casando nem coabitando. Com ela teve seis filhos. (FROTA,1982).

Por volta do século XVIII ele trabalhava com douração em talhas de madeira e na encarnação de estátua em várias regiões, foi músico, arquiteto e professor da arte brasileira. Em 1797 foi nomeado Sargento da Companhia de Ordenança da cidade de Mariana e região. Teve vários ajudantes escravos e aprendizes, como habito da época, foi um importante professor teve vários alunos, pois se tornará um artista do Barroco-Rococó mineiro especialista em pintura especialmente nos tetos das igrejas. Nem todos os seus trabalhos foram documentados, mesmo assim a sua obra é extensa espalhada por algumas cidades de Minas Gerais. (FROTA,1982).

As características de seu trabalho era o emprego de cores vivas associados a natureza de nosso país, seus trabalhos incluem anjos, santos e madonas com traços mestiços uma arte brasileira. Ele se consagrou um dos maiores representantes da pintura do Brasil Colonial, foi parceiro do Grande Aleijadinho. (Frota, 1982).

Tornou-se também desenhista e ilustrador, a igreja católica tinha um grande poder e influência na vida das pessoas, mais por imposição do que escolha natural das pessoas, era cultura da época expressar a religião em formas de pinturas nas paredes e tetos, ensinando na arte os que não sabiam ler. A igreja católica contra a reforma protestante para ganhar mais seguidores utiliza a arte como instrumento de chamar atenção de seus fiéis. As igrejas ostentavam muita beleza e grande riqueza material em toda a sua decoração. (FROTA,1982).

Eram celebradas festividades religiosas, as procissões onde todas as sociedades de várias classes sociais faziam parte, as irmandades organizavam todos os atos e proviam recursos aos participantes. (FROTA,1982).

Com a riqueza do ouro na época foram construídos belos templos para se reunir em adoração, tudo feito pelos artistas barroco uma decoração cara e com muita sofisticação, toda pintura criada pelo Mestre Ataíde é Sacra. Sua última criação documentada foi a tela intitulada A Última Ceia, de 1828.  (FROTA,1982).

O estilo de Ataíde está em harmonia com as tendências da Europa, de onde vinham todas as vertentes visuais e conceituais da arte no período colonial brasileiro. (FROTA,1982).

Pode-se dizer que essas tendências se aglutinavam no que se convencionou chamar de estilo Barroco, na verdade um leque de tendências muito diversificadas, Ataíde destaca se limitar ao estilo barroco em ser o primeiro a usar o as riquezas dos melhores materiais, a sofisticação a qualidade das cores, escolhendo os fortes contrates, para dar vida ao seu trabalho. (FROTA,1982).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na pesquisa efetuada pode-se concluir que o acervo histórico cultural é muito rico. Se por um lado retrata um período sombrio da história, disfarçado pela riqueza do ouro das cidades mineiras, a opulência da igreja usando os ricos ornamentos como objeto de adoração, que mais impunha seus interesses do que o desejo de aproximar o homem da divindade. Ainda com toda ganância de Portugal em tirar as riquezas do Brasil colônia, mesmo com tudo isso, a beleza de uma cultura forte, de traços ricos em detalhes seja em suas construções, pinturas, escultura ou literatura. O legado que estes nobres personagens da história deixaram compõem um acervo histórico de notória envergadura. Belíssimos textos de Antônio Vieira, com sua grande lucidez e coerência, das fortes expressões dos trabalhos de aleijadinho a belíssimos murais das pinturas de Manuel da Costa Ataíde, sem contar tantos outros que não foram citados neste trabalho. Pode-se concluir que mesmo com toda a falta de empenho em preservar-se o patrimônio histórico cultural, estas obras ainda persistem ao tempo e a avalanche de modernidade dos dias atuais. Constitui-se, portanto, uma fonte de inspiração e contem plação para o observador atento.

REFERÊNCIAS

BANDEIRA, Manuel. Ouro Preto. Lira dos 50 anos. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1940.

CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Aleph, 2002.

COUTINHO, Afrânio. COUTINHO, Eduardo de Faria. Introdução Geral. – 7. ed. São Paulo: Global, 2004.

FROTA, Lélia Coelho. Ataíde. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

HENRIQUE, Nicolas. Barroco-Brasil: Introdução, Publicado em 21/08/2014. Disponível em: <http://barrocobrasil2014.blogspot.com/2014/08/introducao_21.html> Acesso em : 08/08/2017.

MATOS, G. de. Seleção de Obras Poéticas. São Paulo: Projeto Vercial, 1998.

PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Erica, 2007.

SCHILLING, Voltaire. O século do ouro – Consequências e efeitos da descoberta do ouro. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/br_ouro9.htm>. Acesso em 02 junho 2017.

Sem Autor, Portal Brasil – Conheça o legado deixado por Aleijadinho, o artista multifacetado. Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Publicado em 18/11/2014. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/cultura/2014/11/conheca-o-legado-de-aleijadinho-o-artista-multifacetado > Acesso em: 03/06/2017.

VENTURELLI, Isolde Helena Brans. Profetas ou conjurados. Sousa: Autora, 1982.

VIEIRA, A. Sermões. Obras completas do Padre Antônio Vieira, Vol. 1. Porto: Artes Gráficas. 1993.

  1. Plutocracia – exercício do poder ou do governo pelas classes mais abastadas da sociedade.
  2. Indulgências – Perdão, absolvição da pena. Na idade média a venda de indulgência era usada como moeda de troca ou comércio onde o pecador podia comprar o perdão por uma certa quantia monetária.

[1] Educadora, Pós-graduada em Psicopedagogia pela Faculdade Brasil–; Licenciada em Artes visuais pela Faculdade Mozarteum de São Paulo – FAMOSP; Professora da Rede Municipal de Taboão da Serra e São Paulo/SP.

Enviado: Março, 2018

Aprovado: Novembro, 2018

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Fernanda Barbieri

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