ARTIGO ORIGINAL
VERTINO, Derek Destito [1]
VERTINO, Derek Destito. A Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 12, Vol. 02, pp. 100-107. Dezembro de 2018. ISSN:2448-0959
A ERA VARGAS (1930-1945)
O fim da República Velha foi um divisor de águas pela a expulsão da elite cafeeira brasileira do poder com a Revolução de 1930, depondo o presidente Washington Luís com a ascensão de Getúlio Vargas no Governo Provisório.
O prolongamento da primeira fase do Governo Vargas provoca a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, quando a elite cafeeira paulista e seus colaboradores promovem a maior Guerra Civil dentro do território brasileiro. Apesar do fracasso no campo de batalha e tentativa de deposição do Presidente, a Assembleia Constituinte promulga a Constituição de 1934, dando início ao Governo Constitucional, até 1937.
Porém, nutrido pela simpatia ao nazifascismo, Vargas promove uma campanha nacionalista e anticomunista, marcado pela censura à imprensa e extinção dos partidos políticos ao instaurar de forma autoritária o Estado Novo (1937 a 1945).
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Apesar da tensão internacional, o Brasil resolve manter sua neutralidade após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando a Polônia é invadida pela Alemanha Nazista e a União Soviética, em Setembro de 1939. A neutralidade de Getúlio Vargas faz com que ele ganhe tempo em explorar as melhores propostas de parceiros internacionais para atingir importantes metas de seu governo como o processo de industrialização e modernização das Forças Armadas Brasileiras.
Em dezembro de 1941, a Marinha Imperial Japonesa promove um ataque surpresa contra a base americana de Pearl Harbor, no Havaí, em uma tentativa fracassada de destruir a frota dos Estados Unidos no Pacífico. Tal agressão fez com que os estadunidenses mergulhassem na Segunda Guerra, ganhando a solidariedade das nações americanas, inclusive o Brasil.
Os dois países selaram importantes parcerias mediados por missões diplomáticas, conhecida como Os Acordos de Washington. Os Estados Unidos aprovaram milionários empréstimos para a modernização e implantação do projeto siderúrgico brasileiro (como criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio Doce).
Em contrapartida, o Brasil assumiu o compromisso de fornecer minérios estratégicos à indústria bélica americana e aquisição de materiais bélicos, além de autorizar a instalação de bases militares americanas no Norte e Nordeste (conhecida como o “Trampolim da Vitória” para os Aliados, primordial para a patrulha do Oceano Atlântico e o abastecimento de suprimentos para as tropas americanas e britânicas que combatiam no Norte da África).
Em 28 de Janeiro de 1942, o Brasil rompe as relações com a Alemanha, Itália e Japão. A tensão aumenta contra as comunidades imigrantes, principalmente quando a Marinha Mercante Brasileira sofreu massivos ataques de submarinos alemães e italianos, torpedeando cerca de 30 navios, ceifando a vida de 1.000 tripulantes e passageiros, em sua maioria, de 1942 a 1944. A influência da imprensa e a pressão popular nas principais cidades contribuíram para que o Brasil tomasse uma postura decisiva no conflito. Em 31 de Agosto de 1942, Vargas assina o Decreto-Lei oficializando o Estado de Beligerância em todo o território brasileiro.
Getúlio (de chapéu branco e óculos) inspeciona as tropas em Natal (RN), com Roosevelt.
A histórica Conferência de Potengi, em Natal (RN), no dia 28 de Janeiro de 1943, foi marcada pela visita de Vargas e Roosevelt na vistoria das instalações militares na região. Os dois líderes decidiram no evento a criação da Força Expedicionária Brasileira, uma Divisão de Infantaria Expedicionária incorporada ao Exército Americano, na luta contra o nazifascismo, no maior conflito armado da Historia. A contradição do alinhamento brasileiro era claro pela maneira que o país era conduzido por Vargas, o mesmo personagem que deportou a alemã judia Olga Benário, uma militante comunista, para a morte nas câmaras de gás no Campo de Concentração de Bernburg, em 1942.
O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA
As Forças Armadas Brasileiras instruíam os seus recrutas com base nas experiências adquiridas na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pela ultrapassada consultoria da Missão Militar Francesa que atuou em nosso país entre 1919 a 1940.
O torpedeamento dos navios brasileiros e o empenho da Propaganda não foram suficientes para atrair um satisfatório número de voluntários para a Força Expedicionária. Apesar da convocação proporcional de reservistas para todas as classes sociais, a tropa brasileira foi composta basicamente por jovens agricultores e pequenos comerciantes.
O curto tempo de preparo para a guerra moderna exigiu dos brasileiros uma rápida adaptação para a guerra moderna, enfrentando a barreira linguística ao absorver o conhecimento dos instrutores americanos e muitas vezes treinar com equipamentos improvisados. Um dos casos mais emblemáticos foi o uso de latas de goiabada para simular minas terrestres, durante o período de treinamento em exercícios simulados de combate.
A Força Expedicionária Brasileira desembarcou na Itália em cinco escalões, de Junho de 1944 a Fevereiro de 1945, com o apoio do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1°GAvCa) e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO), totalizando uma força de 25.000 homens na linha de frente e retaguarda.
Soldados brasileiros embarcando para a Itália. A tropa brasileira era a única oficialmente não segregada racialmente entre os Aliados (Acervo Pedro Scuro / Portal da Força Expedicionária Brasileira)
A 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária foi composta pelo 1º Regimento de Infantaria (Rio de Janeiro-RJ), 6º Regimento de Infantaria (Caçapava-SP), 11º Regimento de Infantaria (São João Del Rey-MG, 9º Batalhão de Engenharia (Aquidauana-MS), 1º Batalhão de Saúde (Valença-RJ) e outras unidades menores, subordinados ao Comandante João Batista Mascarenhas de Morais, incorporada ao IV Corpo do V Exército Americano.
O Corpo de Enfermeiras da FEB designado para servir em um dos vários hospitais americanos. 16º Hospital de Evacuação, Pistóia-Itália. 10/03/45 (Acervo da Associação dos Ex-Combatentes de Brasília).
Os expedicionários brasileiros em uma roda de samba no front (Créditos Associação Nacional dos Veteranos da FEB – Seção Brasília-DF)
A fácil adaptação do brasileiro ao campo de batalha demonstrou uma campanha de superação que, apesar de alguns erros, surpreendeu todo o Comando Aliado na Campanha da Itália. De Julho de 1944 a Maio de 1945, a Força Expedicionária Brasileira logrou vitória nas Batalhas de Montese, Castelnuovo, Monte Castello, Colleccio e Fornovo di Taro. Este último, rendendo os efetivos remanescentes de duas divisões alemãs e duas italianas, totalizando cerca de 15.000 prisioneiros de guerra da 148ª Infanterie-Division, a 90ª Panzergrenadier-Division, a 1ª Divisão Bersaglieri e 4ª Divisão de Montanha “Monte Rosa”.
A rendição dos generais Otto Fretter-Pico e Mario Carloni aos soldados da FEB, após a Batalha de Fornovo di Taro (Reprodução: Domínio Público)
Em 08 de Maio de 1945, os Aliados comemoram a derrota das tropas nazifascistas na Europa. Apesar do clima de festa, o Brasil registra um considerável número de baixas, em destaque aos tombados em combate ou no torpedeamento dos navios mercantes: Marinha (1.000), Força Expedicionária Brasileira (450) e 1° Grupo de Aviação de Caça (9).
A REINTEGRAÇÃO SOCIAL DOS VETERANOS
O desfile dos expedicionários brasileiros na então Capital Federal, Rio de Janeiro
O RETORNO E A REINTEGRAÇÃO SOCIAL DOS VETERANOS DE GUERRA
Os grandes desfiles e a calorosa recepção dos veteranos de guerra vitoriosos em prol da Democracia na Europa contra o nazifascismo ameaçavam a estabilidade do Estado Novo de Getúlio Vargas. O conhecimento adquirido no maior conflito armado da história não foi devidamente aproveitado, dispensando sumariamente soldados e transferindo os oficiais para quartéis distantes.
Porém, as manobras não foram suficientes e a primeira vitória da Força Expedicionária Brasileira foi contribuir para o retorno da democracia no Brasil, com queda de Getúlio Vargas e a promoção de novas eleições. Infelizmente, o conturbado processo custou aos veteranos de guerra a falta de apoio na reintegração social, gerando uma onda de alcoólatras e suicidas sem acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
A tardia aprovação da pensão aos ex-combatentes na nova Constituição Federal de 1988, ampliou a cobertura da zona de guerra para recrutas que serviram em quartéis no litoral e cidades com rios navegáveis, gerando revolta aos veteranos que foram equiparados a recrutas que não correram os mesmos ricos de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Moraes, João Baptista Mascarenhas de. A FEB pelo seu Comandante. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército. 2005. 352 p.
Monteiro, Marcelo. U-507: o submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército, 2013. 256 p.
Silveira, Joaquim Xavier da. A FEB por um soldado. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército. Editora Expressão e Cultura. 2001. 353 p.
[1] Licenciado em História e pós-graduado em História Militar. Escritor, membro correspondente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e Organizador do Portal da Força Expedicionária Brasileira.
Enviado: Dezembro, 2018
Aprovado: Dezembro, 2018
2 respostas
Muito bom mesmo!!!
claro, elucidativo e bem objetivo.