ARTIGO ORIGINAL
ROCHA, Rafael Lins da [1], SOUSA, Jonathas Rothiery Dias de [2], GUADAGUINI, Viviane Cristina [3], RIBEIRO, Rafael Fernando [4]
ROCHA, Rafael Lins da. Et al. Implantação do Sistema Double Stack no setor ferroviário na Malha Norte e Malha Paulista: Comparando o Sistema Double Stack com o transporte rodoviário de carne bovina. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 13, pp. 74-93. Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-de-producao/double-stack
RESUMO
O artigo teve como objetivo: implantar o sistema Double Stack ferroviário comparando-o com o transporte rodoviário, de modo a verificar o aumento da capacidade do transporte de carne bovina brasileira e a diminuição do custo do frete e do tempo de percurso desse transporte. Esta pesquisa foi de suma importância para demonstrar as diferenças dos custos de transportes ferroviário no sistema Double Stack comparado ao sistema convencional rodoviário, sendo que os resultados obtidos supriram as necessidades e foram satisfatórios, onde serão detalhados no decorrer desse artigo. Nesse estudo verificamos o transporte ferroviário de carne bovina na Malha Norte e Malha Paulista, entre o Estado de Mato Grosso até o interior de São Paulo, no qual foi possível identificar também que a implantação do sistema Double Stack pode ser utilizada para todos os tipos de cargas em contêineres empilhados, visando à redução de engarrafamentos e o grande tráfego de caminhões em rodovias, bem como outras vantagens que veremos ao longo deste estudo. Foram utilizadas informações atuais da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), as fiscalizações da Anvisa nos terminais ferroviário, para assegurar a qualidade da carne bovina nos contêineres refrigerados, e as informações da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), a fim de obter sucesso no uso da ferramenta na ferrovia. Esse artigo comprovou a viabilidade econômica da implantação do sistema Double Stack, demonstrando valores expressivos quando comparados ao transporte rodoviário de caminhões, assim como outros fatores foram influenciados positivamente, sendo um deles o consumidor final do produto, visto que o volume de carne transportado supriu a necessidade no estudo proposto. Além dos pontos positivos ressaltados a acima, a implantação dos contêineres empilhados ajuda muito na segurança e na diminuição dos investimentos de monitoramentos. Portanto, veremos também como a não implementação desse sistema Double Stack pode causar o aumento da poluição no meio ambiente, devido ao maior consumo de combustível proveniente do aumento do número de caminhões nas estradas e os custos das despesas da carne brasileira.
Palavras-chave: Ferramenta Double Stack, Carne Bovina.
1. INTRODUÇÃO
Desde a necessidade do transporte ferroviário, a primeira ferrovia brasileira foi construída a partir de 1854 no Rio de Janeiro, no final do século XIX e início do século XX foram na época, efetuados investimentos de britânicos para a construção de uma malha ferroviária no país. O setor ferroviário foi desenvolvido para o transporte de cargas e para interligar os centros de produção agrícola e de mineração aos portos.
Com a grande demanda que o transporte ferroviário proporcionou na década de 80, uma empresa americana chamada Greenbrier liderou o projeto de vagões Double Stack que foi introduzido na América do Norte para transportar contêineres.
Esse sistema ferroviário chamado de Double Stack, revolucionou o transporte de cargas de longa distância, sendo que na implantação do mesmo, um trem de carga de um determinado comprimento pode transportar cerca de duas vezes mais contêineres, reduzindo drasticamente os custos de transporte. Este sistema foi usado em quase 70% de todas as remessas intermodais dos EUA.
No momento atual, onde a situação do Brasil também requer alta demanda de transportes de carga, a implantação do sistema Double Stack é frequente nas ferrovias da Malha Norte e da Malha Paulista, entre as cidades de Sumaré (SP) a Rondonópolis (MT) pela empresa Brado Logística (concedida pela Rumo Logística).
A importância do projeto Double Stack vem demonstrando valores expressivos comparados ao transporte rodoviário de caminhões, pois o volume de carga transportada é bem elevado, bem como a diferença entre os custos de transportes.
Além de que, outro ponto positivo com a implantação do sistema Double Stack, o mesmo poderá favorecer todo o processo econômico e social do país, com as novas construções de ferrovias no Brasil, gerando novos empregos, onde haverá uma nova demanda de commodities de longo percurso; alavancando a economia e o desenvolvimento.
No Brasil, o consumo de carne bovina tem valores expressivos; relacionando o sistema Double Stack com o setor alimentício brasileiro, verificou-se que a aplicação desse sistema para o transporte de carne bovina auxiliaria no maior volume de carga transportada, se comparado ao sistema rodoviário convencional realizado por caminhões, fazendo com que o valor da carne bovina barateasse.
Diante disso, nesse estudo verificaremos a viabilidade econômica da implantação do sistema Double Stack, para que possa ser comparada com o sistema rodoviário no transporte de carne bovina, principalmente, no desenvolvimento da exportação e importação, a fim de aperfeiçoar o gerenciamento da logística de carnes para os consumidores finais.
O transporte de carne bovina pode ter a logística de ser deslocada das unidades de caminhões e ser levada ao terminal ferroviário, para que possam percorrer de trem até em outro terminal ferroviário, sendo direcionada a distribuição ou aos portos para ser exportada.
A empresa Brado Logística, que opera o sistema Double Stack atualmente no Brasil, fez um investimento R$ 30 milhões na aquisição de 74 vagões no trecho já implantado, permitindo que o sistema Double Stack transporte outras mercadorias além da carne bovina, por existirem três tipos de contêineres: reefer (produtos refrigerados e carnes), dry (produtos secos) e iso tank (líquidos), onde cada produto a ser transportado consegue ser atendido de forma individual.
A Friboi, unidade de negócios de carne bovina da JBS, é um dos exemplos de empresas que cederam às vantagens da utilização das ferrovias. A companhia transportou em 2015 cerca de 125 mil toneladas de carne por trens, um crescimento significativo em comparação às 18 mil toneladas movimentadas em 2013.
Umas das partes mais importantes que será analisada neste estudo é o custo-benefício, que essa logística de transporte, no sistema Double Stack comparado ao sistema rodoviário, trará na economia no setor pecuário, assunto pelo qual vamos dar sequência nos próximos capítulos com mais detalhes.
O sistema ferroviário se tornou uma opção economicamente viável, assim outro ponto favorável que é importante nos dias atuais é o aspecto da sustentabilidade, onde o modal ferroviário leva vantagem se comparado a outros tipos de transporte, já que o mesmo emite em menor quantidade poluentes na atmosfera.
As falhas mais frequentes que podem ocorrer com a implantação do sistema Double Stack são: a falta de flexibilidade de percurso; a maior necessidade de maquinários auxiliando no carregamento; a dependência de outros transportes; a inviabilidade em pequenas distâncias; elevados custos de manuseio, entre outros.
Porém, para solucionar as possíveis falhas acima citadas, o seguinte aspecto deve ser aplicado para que o sistema Double Stack atinja o pleno sucesso, sendo este o maior incentivo do governo federal para expandir as extensões de linhas férreas para outros estados e para pequenas distâncias de transporte, a fim de obter maior movimentação de trens e gerar mais investimentos de iniciativa privada, abrindo espaço para mais concorrência no mercado interno, proporcionando assim, maior competitividade no setor ferroviário.
Também, iremos analisar a quantidade de carne a ser transportada, comparar os custos e verificar se há possibilidade de beneficiar a economia do setor bovino ao consumidor final, demonstrando, contudo, os resultados obtidos, a verificação e comparação da questão da diminuição da emissão de poluentes utilizando o sistema Double Stack em comparação aos outros modais, como o sistema de transporte rodoviário.
Este trabalho poderá contribuir para os setores de logística, administração, planejamento e, principalmente, para o setor econômico, verificando a relação de valores nos sistemas de transportes e toda modernização de tecnologias.
Todavia, para total confiabilidade no presente artigo, foram utilizadas bibliografias confiáveis para o desenvolvimento desta pesquisa, sendo uma delas, a ANTT (Agência Nacional do Transportes Terrestres).
Para o presente artigo, foi elaborado um banco de dados que irá confrontar e apresentar valores, bem como a viabilidade da implantação do sistema Double Stack comparado ao sistema rodoviário de transportes.
2. OBJETIVO GERAL
Este trabalho teve como objetivo a implantação da ferramenta Double Stack no setor ferroviário, no transporte da carne bovina, sendo aplicada no trecho ferroviário que liga a Malha Norte e a Malha Paulista, visando diminuir os custos de transporte e, consequentemente, o custo do produto ao cliente final.
O trabalho visa analisar, aplicar e comparar os resultados, através da implantação da ferramenta Double Stack, levando em consideração os problemas típicos enfrentados no momento atual do Brasil.
2.1 OBJETIVO ESPECÍFICOS
O artigo tem como objetivos específicos:
Analisar as situações e comparar todos os benefícios dos modais ferroviários com os transportes rodoviários no país.
Verificar a implantação do sistema Double Stack ferroviário para transportar duas vezes mais a capacidade dos contêineres, aumentando a sua capacidade e diminuindo os custos no transporte de carne bovina.
Aplicar as metodologias para viabilizar a operação e desenvolver projetos, a fim de proporcionar o crescimento da implantação da ferramenta ferroviária no setor bovino.
3. METODOLOGIA
3.1 TRANSPORTE FERROVIÁRIO
O modal ferroviário é adequado para transportar grandes quantidades de carga de baixo valor agregado, a grandes distâncias e a um baixo custo (DIAS, 2012)
Em países com grandes extensões territoriais, como o Brasil, as ferrovias devem ter uma significativa participação na matriz de transportes onde os produtos básicos, tais como o minério de ferro, os produtos agrícolas e o carvão, apresentam uma forte participação no total das cargas movimentadas. Além do custo fixo de implantação e manutenção elevado, o modal ferroviário tem uma grande eficiência energética, no qual também viabiliza a circulação de grandes volumes de cargas com um baixo valor agregado, a altas velocidades, e grandes distâncias (ARAÚJO, 2008).
Do ponto de vista de Ballou (2006), as Ferrovias apresentam diversos serviços especiais aos embarcadores, que vão desde o transporte de granéis á vagões refrigerados voltados aos produtos que precisam deste cuidado, bem como vagões para automóveis novos, que exigem cuidados e equipamentos específicos.
Sobre o transporte ferroviário, a capacidade de transporte corresponde cerca de 25 a 100 toneladas de carga, dependendo da mercadoria. Assim, sobre essa capacidade individual dos vagões, torna-se possível montar composições com dezenas ou centenas de vagões, de modo a criar trens com grandes capacidades, superiores a muitos navios (KEEDI, 2004).
Pelo uso de vias exclusivas para trens, algumas vantagens devem ser consideradas, tais como o fato deste modal não ser muito afetado pelo tráfego, assim como o mesmo apresentar pouco impacto ambiental, visto que a emissão de poluentes das locomotivas são menores. (DIAS, 2000.)
A CNT (Conselho Nacional dos Transportes) mostrou em seu site os principais problemas atuais encontrados na malha ferroviária brasileira. Foi citada uma grande variação nos tempos de viagem e as baixas velocidades na transposição de regiões metropolitanas, estas causadas pelo excesso de passagens de trens e pelas invasões na faixa de domínio. Também revelou que o crescimento do sistema ferroviário depende de ajustes tributários, regulatórios, físicos e operacionais, além de investimentos na construção de variantes para resolver os problemas de traçado.
Paoleschi (2011) cita suas vantagens e desvantagens ferroviárias no Quadro 1:
Quadro 1: Vantagens e desvantagens do modal ferroviário
Vantagens | Desvantagens |
· Apropriado para longa distância
· Grandes quantidades de cargas · Menos custo de seguro · Melhor custos de frete |
· Menor flexibilidade no trajeto
· Tempo de espera · Diferença na largura de bitolas |
Fonte: Paoleschi (2011)
3.2 TRANSPORTE RODOVIÁRIO
O transporte rodoviário é o único modal capaz de alcançar qualquer distância nacional que abrange cerca de 5.500 municípios e é também o único modal capaz de realizar a entrega porta-a-porta. Classificam-se em três tipos: federal, estadual e municipal. Outro tipo possível de classificação são as rodovias concessionadas, onde se localiza os maiores tráfegos (VENCOVSKY, 2006)
Para Alvarenga e Novaes (1994, p.105), “O modo rodoviário é o mais expressivo no transporte de cargas no Brasil, e atinge praticamente todos os pontos do território nacional.” A expansão deste modal foi imensa, ao ponto de dominar o transporte de mercadorias no País.
Segundo Bertaglia (2003), é o meio de transporte mais independente por sua facilidade em chegar a qualquer destino, com sua flexibilidade, atendendo pequenas entregas de curto ou longo trecho.
Representa a maior parte dos modais que são transitados no país, nos quais correspondem mais de 61% das frotas utilizadas e transportadas. (PAOLESCHI, 2011)
Ainda, Paoleschi (2011) menciona que é importante lembrar a menor capacidade de carga e o maior custo operacional, comparado ao ferroviário ou aquaviário, e a diminuição da eficiência das estradas em épocas de chuvas, com grandes congestionamentos.
Assim, a pesquisa CNT de Rodovias de 2009 revelou que, dos 89.552 km de rodovias pavimentadas avaliados, 69,0% apresentavam alguma deficiência no pavimento, na sinalização e na geometria da via. Neste sentido, verifica-se o comprometimento da qualidade e da segurança dos fluxos de cargas e de pessoas, de modo a restringir a integração com os demais modais, gerando, assim, elevados custos operacionais. A Tabela 1, informa os dados em KM e porcentagens gerais das rodovias no Brasil.
Tabela 1: Rodovias pavimentadas e não pavimentadas
Rodovias | Pavimentadas | Não Pavimentadas | Total | |||
Km | % | Km | % | Km | % | |
Federais | 56.139 | 79,5 | 14.484 | 20,5 | 70.623 | 4,1 |
Estaduais | 91.907 | 44,2 | 116.123 | 55,8 | 208.030 | 12,1 |
Municipais | 16.993 | 1,2 | 1.429.296 | 98,8 | 1.446.289 | 83,9 |
Total(km) | 165.039 | 9,6 | 1.559.903 | 90,4 | 1.724.942 | 100 |
Fonte: Paoleschi (2011)
Segundo Bowersox (2001), o transporte rodoviário conquistou o transporte de cargas para atacadistas e depósitos para lojas varejistas pela sua flexibilidade. Dentre as dificuldades encontradas no setor, a principal está relacionada com o custo crescente da substituição de equipamentos, manutenção, salários dos motoristas e gastos de plataforma e com pátios.
3.3 IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DOUBLE STACK FERROVIÁRIO NO TRANSPORTE DE CARNES BOVINAS COMPARADO COM TRANSPORTE RODOVIÁRIO
Segundo o site Guia Marítimo (2019), o sistema Double Stack no Brasil é um modelo de referência nos Estados Unidos, esse tipo de operação está sendo utilizada em trajetos de longa distância no País. Os trens são formados com vagões que podem carregar até dois contêineres empilhados (um de 40 pés e dois de 20 pés).
Figura 1: Vagão Double Stack
Os contêineres possuem limites de peso projetados para caber em caminhões rodoviários, têm limites de peso claramente menores do que os trens. Um container de 20 pés (6,1 m) possui um limite de 24 toneladas (tara + carga), podendo duas unidades caber em um vagão como se fosse um contêiner de 40 pés (12,2 m). No Quadro 2 mostra-se as dimensões dos containers aplicadas na ferramenta Double Stack.
Quadro 2: Vagão plataforma Double Stack
Formação de projeto: | Containers empilhados até 6,2m de altura |
Comprimento de: | 19m entre engates |
Condições de carregamento: | 2 x 40’ ou 4 x 20’ |
Tara total de: | 28.000 kg |
Peso bruto máximo sobre a via: | 128.000 kg |
Carga média por eixo: | 32.000 kg |
Truques: | modelo Swing Motion para até 32.500kg /eixo |
Engates: | tipo E padrão AAR |
Freio: | Automático tipo Singelo última revisão AAR |
FONTE: ANFT.ORG (2017)
O vagão Double Stack dispõe de tecnologia para a produção de vagões-plataformas para contêineres, requerendo, também, adequações de terminais e gabarito da ferrovia, de forma a permitir sua circulação, sendo essas adequações apresentadas no Quadro 2:
Conforme ilustra a Figura 2 abaixo:
Figura 2: Intervenção de pontes e viadutos
A figura 3 mostra o mapa do percurso onde a primeira viagem de trem com contêineres empilhados foi anunciada pela Brado Logística, percorrendo uma longa distância, de 1.400 km, entre Sumaré (SP) e Rondonópolis (MT), de modo a atravessar as malhas Paulista e Norte.
Figura 3: Trajeto Malha Paulista e Norte
Até o fim do ano de 2020, a operadora pretende levar essa operação para o trecho entre Anápolis (GO) e Porto Nacional (TO), da Ferrovia Norte-Sul, com o projeto de tornar possível a operação de Double Stack em grandes trajetos, conforme na figura 4:
Figura 4: Trajeto Ferrovia Norte-Sul
O produto com maior demanda de transporte nesse trecho é a carne bovina congelada, visto que os Estados com maior efetivo de rebanho, em sua maioria, são os principais em termos de abate ou exportação, por razões comerciais, sendo o Mato Grosso (4.067.769), São Paulo (3.552.206) e o Mato Grosso do Sul (3.284.205), em 2009, os principais Estados abatedouros por número de cabeças (CAIXETA FILHO, 2010)
Entretanto, para que a malha ferroviária sirva ao transporte de carnes é necessário o estabelecimento de novas parcerias entre os frigoríficos exportadores e as empresas detentoras do controle das ferrovias, visando à implantação de um maior número de vagões frigoríficos, especialmente, nas novas linhas férreas (NETO, 2018)
Segundo Caixeta Filho et al (2010), com a operação dos vagões Double Stack, o objetivo da companhia é aumentar em mais de 40% o volume de carne bovina transportada nesse modal em 2019 em relação ao verificado no ano anterior na capacidade dos trens. Segundo comunicado da Friboi, o modal ferroviário já corresponde a cerca de 30% do total enviado para outros países. O plano afirmava que o transporte de contêineres ferroviário só se tornaria economicamente competitivo em relação ao rodoviário quando os vagões Double Stack fossem implementados, possibilitando assim, o empilhamento de duas caixas. Contudo, verifica-se que isso exigiria obras para aprofundar a estrutura dos túneis de pelo menos uma das duas vias utilizadas na Serra do Mar, em São Paulo, de modo a permitir a passagem de vagões mais altos.
As carnes bovinas desossadas, congeladas e frescas/refrigeradas, foram responsáveis por cerca de 18% das exportações totais de carne. As vantagens atribuídas ao produto, pela produção e a qualidade do rebanho podem ser diluídas, visto que os mesmos percorrem uma grande distância para serem exportados e muitas das vezes são sujeitos as ineficiências dos terminais portuários brasileiros. (CAIXETA FILHO, 2010)
De acordo com Caixeta Filho et al (2010), atualmente, o transporte rodoviário de carne bovina é realizado de duas maneiras: (1) o produto é armazenado em caixas e transportado em carretas frigorificas, sendo destinado, posteriormente, ao mercado interno e (2) em reefers, que são contêineres refrigerados de geralmente 40 pés. As carretas frigorificadas também podem auxiliar o transporte de carne resfriada e em transferências de produtos entre unidades frigoríficas.
Em síntese, o transporte de ambos os tipos de carne ocorre a partir do transporte rodoviário aos portos nacionais e ao transporte marítimo aos portos de destino. Assim, neste contexto, tentativas têm sido realizadas quanto aos uso do modal ferroviário na circulação de carne bovina congelada dentro do País. (CAIXETA FILHO, 2010)
A partir do modal ferroviário, os estados brasileiros do Centro-Oeste poderiam destinar seus produtos para diferentes portos litorâneos, o que mitigariam o problema da concentração das exportações em apenas alguns portos. O título de exemplo, a Ferrovia Norte-Sul seria um novo corredor de exportação a favorecer o transporte de cargas em duas novas rotas de escoamento: uma passando por Goiás até o Pátio de Açailândia (MA), seguindo pela Estrada de Ferro Carajás até o porto do Itaqui, em São Luís (MA); e a outra rota de escoamento seria pelo porto de Belém (PA), dependendo ainda da concretização da ferrovia. (NETO, 2018)
4. RESULTADOS
Neste tópico foi desenvolvida uma comparação entre o modal ferroviário e o rodoviário, do qual foi analisada uma simulação de custos da viagem de carnes bovina dos dois modais entre os terminais de cargas de Rondonópolis-MT á Sumaré-SP, já mostrando toda ação e a eficiência do sistema Double Stack juntamente com o modal ferroviário para ser aplicado no transporte de carnes em contêineres.
Com o objetivo de aumentar a capacidade e reduzir os custos do transporte da carne bovina, foram consultados todos os processos logísticos que são realizados conforme os impostos, tempo de viagem, quantidade de serviços prestados e monetários, impactos com meio ambiente, segurança, que foram obtidos a partir do Quadro 3 e do Quadro 4, com os resultados obtidos a partir de planilhas do programa Excel onde foram utilizadas para efetuar a comparação dos modais rodoviários e ferroviário entre o trajeto percurso estudado com informações dadas das agências competentes do transporte no Brasil, como a ANTT.
Seguidamente são apresentados e discutidos a comparação e os resultados que foram simulados já com a aplicação do sistema Double Stack estudada neste trabalho.
O primeiro passo foi analisar o modo convencional que o transporte de carne já é realizado no modelo rodoviário de acordo com a rota do estado de Mato Grosso (no qual é o maior produtor de carnes do Brasil) ao estado de São Paulo (que além de concentrar os maiores consumidores, dar o acesso ao porto de Santos-SP para a grande demanda de exportação), no qual possa ser transportado por um caminhão contêiner refrigerado, com um percurso na média de 1400 km de estradas em várias ligações entre os dois estados consultados no GPS e verificar quantos caminhões seriam necessários para comportar a quantidade necessária para o transporte.
O segundo modo foi comparar a ligação existente da linha férrea entre os dois estados citados acima, que atualmente é a Malha Norte e Malha Paulista na qual interliga 1400 km aos terminais de carga das cidades de Rondonópolis-MT a Sumaré-SP, com as condições aplicadas para utilização do Double Stack, pois possibilita o dobra da capacidade de cada vagão com um contêiner de 40 pés, podendo multiplicar as capacidades existentes ao rodoviário.
No Quadro 4 mostra detalhadamente o processo e os dados básicos utilizados para comparar e analisar entre o transporte rodoviário e a aplicação do Double Stack.
Quadro 4 – Comparação dos resultados de uma viagem rodoviária e ferroviária
COMPARAÇÃO ENTRE: UMA VIAGEM DE DOUBLE STACK E UMA VIAGEM COM O TRANSPORTE RODOVIÁRIO | ||
NO TRAJETO DE 1.400 KM ENTRE OS TERMINAIS DE RONDONÓPOLIS (MT) A SUMARÉ (SP) | ||
Rodoviário | Ferroviário (Sistema Double Stack) | |
Volume de carne transportada em Kg | Somente 1 Contêiner de 40 pés (61.7 m³) por caminhão de 3 eixos com 27.660 Kg por viagem
Fonte: Guia Marítimo, 2020 |
Apenas com 1 composição de 68 vagões com 136 Contêineres de 40 pés (61.7 m³), carregando 55.320 Kg em cada vagão com 2 contêineres empilhados juntos, em apenas 1 viagem, totalizando aproximadamente 3.761.760 Kg
Fonte: Guia Marítimo, 2020 |
Tempo de viagem | Aproximadamente 16h percorridas com o trajeto direto.
Fonte: Rota Mapas 2020 |
Em média de 3 a 4 dias (96 h) com o tempo em espera do trem em sentido oposto.
Fonte: Abifer, 2018 |
Custo do Frete | Carga e descarga (CC) = R$ 229,29 Total = CCD+CC Deslocamento (CCD) = R$ 3.196,06 Carga e descarga (CC) = R$ 229,29 Total = CCD+CC Deslocamento (CCD) = R$ 3.196,06 Total = R$ 3.425,35 O valor acima levou em consideração os seguintes parâmetros:Tipo de carga: Conteinerizada Número de eixos: 3 (R$/km2,2829) Distância: 1400 kmFonte: ANTT 2020 |
Calculado em R$/TKU (Tonelada por Quilômetro Útil) TKU é a unidade usual de movimentação de carga, ela é formada pela multiplicação entre o peso das cargas embarcadas (t) e a distância transportada (km) Distância = 1400 km – Quantidade transportada = 1 trem x 68 vagões x 55,3 t de carne = 1 x 68 x 55,3 = 3787 R$/TKU x 1400 = 5.302.640 R$Fonte: ANTT, 2020 |
Horas trabalhadas e valor monetário pago aos condutores para realizar a viagem | Motorista em média por Hora: R$ 46,11. A viagem tem duração de 16h. Multiplicando a média hora com o tempo de viagem R$ 46,11 x 16h = R$ 737,76 Portanto, é pago ao motorista de uma viagem em torno de R$ 737,76
Fonte: CLT, 2020 |
Maquinista em média por hora: R$ 42,12. Uma viagem tem duração de 96h. Multiplicando a média hora com o tempo de viagem R$ 42,12 x 96h = R$ 4043,52 Portanto, o horário pago pela condução de uma viagem em torno de R$ 4043,52
Fonte: CLT, 2020 |
Impostos | O transporte rodoviário de cargas é intermunicipal e interestadual, entra em cena a cobrança de ICMS, com alíquota de 12% a 18%. Com uma média de 15% do valor da carga R$ 513,80.
Fonte: Receita Federal, 2015 |
No transporte ferroviário o imposto e a contribuição social sobre o lucro são calculados como um percentual do lucro líquido antes dos impostos e atualmente são cobrados às alíquotas de 25,0% e 9,0%, respectivamente. Com a média de variação de 17% do valor da carga R$ 901.448,80
Fonte: Receita Federal, 2015 |
Custo com manutenção | Manutenção de 1 caminhão trator 1/14 R/C Tamiya
Custos mês fixos: R$ 15.000,00 Fonte: Disponível em https://blogwlmscania.itaipumg.com.br/como-calcular-o-custo-do-km-rodado-de-um-caminhao-passo-a-passo/ |
Para o cálculo das despesas de locomotiva, trilhos, vias e com colaboradores foi adotada uma produtividade de R$ 0,93 homem/vagão ano e um salário médio anual (valor bruto) de: R$ 100.000,00/técnico e de R$ 300.000,00/gerente, no Brasil Fonte: BNDES, 2008 |
Impactos com o Meio Ambiente | Equivalente 357 caminhões emitem 762 kg de poluentes por quilômetro
Fonte: ABIFER, 2018 |
Uma locomotiva a diesel emite 14 kg de dióxido de carbono por cada quilômetro percorrido
Fonte: ABIFER, 2018 |
No Quadro 5 mostra uma simulação de uma viagem Double Stack em uma única viagem comparada de viagens de caminhão por dia.
Quadro 5 – O aumento da capacidade da aplicação Double Stack em 1 Mês
Justifica que com esse aumento da capacidade de carnes transportadas com a implantação do Double Stack na ferrovia, fica economicamente viável em relação ao sistema rodoviário convencional, porque reduz drasticamente o tráfego de caminhões nas estradas e incentiva a expansão de mais linhas férreas, para que chegue aos demais estados com esse modelo Double Stack. Pois em relação ao produto, quanto maior capacidade poderá haver diminuição aos tributos e um melhor custo-benefício em relação ao preço final ao consumidor realizado numa viagem só conforme os valores como mostra o quadro acima.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo o estudo quantitativo e conforme os demais capítulos do artigo científico, podemos destacar as seguintes conclusões:
1) A aplicação da tecnologia Double Stack tende a beneficiar as empresas para todo Brasil tomando o meio de transporte de carga mais eficiente e eficaz.
2) Com os dados e as análises consistidos na implantação do Double Stack dos benefícios adquiridos pela implantação, foi identificado ganhos em larga escala e junto, eficiência e agilidade. Proporcionando em maiores quantidades aumentando em 3 vezes comparado ao transporte ferroviário comum e ainda mais comparado a rodoviário. Trazendo benefícios às empresas e diminuindo seus custos.
3) O grande investimento da empresa Brado, reflete ao governo na diminuição de transporte ferroviário para focalizar no transporte ferroviário, minimizando os gastos em grande parte do Brasil. Pois são medidas capazes de assegurar a segurança necessária, a fim de que que se diferencie no mercado, e se porventura estes investimentos forem ignorados, a competitividade da empresa poderá ser comprometida perante o mercado, correndo riscos de perda capital.
No entanto, os estudos realizados no decorrer desta pesquisa apresentam as seguintes recomendações para trabalhos futuros:
1) Aplicar as ferramentas da Gestão da Qualidade no âmbito da produção, de modo a verificar os custos submetidos no processo produtivo e na implantação das melhorias sob um prazo de um ano.
2) Realizar a aplicação em todas as ferrovias que interligam aos portos de todo o Brasil para melhor circulação de contêineres na exportação, aumentando em mais de 40% o volume transportado nesse modal.
3) Executar a aplicação reestruturando os seus serviços e concentrando os estudos na logística de movimentação de contêineres em rotas de longa distância com objetivo de otimizar o aproveitamento da infraestrutura ferroviária nos principais centros de consumo do País, tornando os fluxos mais sustentáveis e viáveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial; tradução Raul Rubenich – 5. Ed. – Porto Alegre: Bookman, 2006.
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CIESP. Brado inteligência em logística de contêineres. Disponível em:< https://www.ciespcampinas.org.br/_libs/dwns/15298.pdf > Acessado em: 05 out 2020
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[1] Tecnólogo em Produção Industrial e Bacharel em Engenharia de Produção.
[2] Bacharel em Engenharia de Produção.
[3] Bacharel em Administração e Bacharel em Engenharia de Produção.
[4] Orientador.
Enviado: Novembro, 2020.
Aprovado: Dezembro, 2020.
Uma resposta
Boa tarde, Rafael. Somando todos os custos do quadro 4, quem levou a melhor? Imagino que foi a composição ferroviária, mas faltou um valor final para se comparar as duas alternativas. Abs