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Reciclagem e reutilização de resíduos da construção civil e demolição

RC: 64835
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

GLÓRIA, Marcus Vinicius Araújo [1], RIBEIRO JUNIOR, Lourival de Carvalho [2], SOUSA, Fernando Henrique Fernandes [3]

GLÓRIA, Marcus Vinicius Araújo. RIBEIRO JUNIOR, Lourival de Carvalho. SOUSA, Fernando Henrique Fernandes. Reciclagem e reutilização de resíduos da construção civil e demolição. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11, Vol. 09, pp. 61-80. Novembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/reciclagem-e-reutilizacao

RESUMO

O grande crescimento da indústria de construção civil é um dos segmentos industriais mais críticos no que se refere aos impactos ambientais, sendo o principal gerador de resíduos sólidos da sociedade. Só no ano de 2017 foram gerados cerca de 45 milhões de toneladas de Resíduos de Construção Civil (RCC) e de Resíduos de Construção e Demolição (RCD), além disso, esses resíduos compõem de 10 a 30% da quantidade total de resíduos recebidos em aterros, diminuindo o tempo de vida útil desses lugares. Há três formas básicas para a deposição final desses resíduos, sendo elas o lixão, o aterro controlado e o aterro sanitário, no qual apenas a última opção é, ambientalmente, aceitável. O descarte irregular de resíduos é um dos maiores causadores de impactos ambientais, dessa maneira a indústria da construção civil tem desenvolvido alternativas perante as necessidades e exigências do cenário e mercado atual. A reciclagem e reutilização desses resíduos contribui efetivamente para a sustentabilidade, uma vez que essa prática diminui a disposição inadequada desses resíduos no meio ambiente. O objetivo deste trabalho foi realizar uma análise qualitativa sobre como os RCC e RCD podem ser reciclados e reutilizados no setor da construção civil. A metodologia utilizada consistiu em um estudo exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica embasados em trabalhos científicos já publicados. Os resultados mostraram que novas alterativas tem sido usada para a reciclagem e reutilização dos RCD e RCC na construção civil, usada como agregado miúdo para a fabricação de argamassas e concretos, entre outras. Dessa maneira, é imprescindível avaliar o objetivo final da aplicação dessas misturas, a fim de obter produtos com qualidade e segurança, obedecendo as normativas vigentes.

Palavras-chave: Resíduos sólidos, impactos ambientais, reciclagem, reutilização.

1. INTRODUÇÃO

A construção civil é uma das atividades mais antigas do mundo e sempre gerou certa quantidade de subprodutos e resíduos de diversas naturezas, além de ser responsável pelo consumo exacerbado de fontes de matérias primas não renováveis. Estima-se que a construção civil consuma entre 14 a 50% dos recursos naturais disponíveis no planeta (LAMÔNICA et al., 2019).

Nas últimas décadas o setor da construção civil tem se mostrado significativo no desenvolvimento socioeconômico do Brasil, sendo responsável por representar cerca de 6,2 % do PIB, faturando anualmente cerca de 1,1 trilhões de reais (SEBRAE, 2019). Dessa forma, a indústria da construção civil movimenta a economia, favorece a geração de empregos diretos e indiretos em todos os níveis sociais, além de produzir bens de consumo para a sociedade.

Todavia, um dos maiores impasses enfrentados pelo segmento é alta taxa de geração de resíduos. Segundo o panorama da situação dos resíduos sólidos no Brasil, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE, em 2017, foram gerados cerca de 45 milhões de toneladas de Resíduos de Construção Civil (RCC) e de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) de um total de 71,6 milhões de toneladas de resíduos urbanos, que corresponde a, aproximadamente, 62% de todo o resíduo sólido gerado no Brasil.

Os RCD estão impactando severamente o meio ambiente em escala mundial, uma vez que esses resíduos compõem de 10 a 30% dos resíduos recebidos em aterros sanitários, causando preocupação de ordem pública, pois seu descarte inadequado pode ocasionar inúmeros problemas ambientais, entre eles, prejudicar a saúde da população humana, pois possuem odor fétido, o que atrai animais vetores  de doenças (MATUTI e SANTANA, 2019).

Uma mudança ocorrida na maneira de gerenciamento desses resíduos ocorreu em 2002 quando a Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente- Conama, alterada pela Resolução nº 348 de 2004, determinou que o gerador era quem seria o responsável pela disposição adequada desses resíduos, estabelecendo responsabilidades como a separação desses resíduos em diferentes classes e seu encaminhamento para a reciclagem. Essa mudança acarretou um aumento na coleta do RCC e RDC pelos municípios na ordem de 4,1%, entre os nãos 2013 e 2014 (ABRELPE, 2014).

Diante da perspectiva sustentável, a construção civil tem desenvolvido alternativas perante as necessidades e exigências do cenário e mercado atual. A reciclagem e reutilização desses resíduos contribui efetivamente para a sustentabilidade, uma vez essa prática diminui a disposição inadequada desses resíduos no meio ambiente.

Importante considerar a perspectiva econômica, pois a disposição desses resíduos em aterros gera altos custos, tornando a reciclagem uma opção mais atrativa. Outro fator de relevância econômica é a minimização da compra de novos materiais, uma vez que há a substituição desses materiais pelos resíduos, gerando a redução dos custos de aquisição de matéria prima (MATUTI e SANTANA, 2019).

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma análise qualitativa sobre como os RCC e RCD podem ser reciclados e reutilizados no setor da construção civil.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL

Nesse país os resíduos sólidos são coletados e destinados a um local específico, que pode ser um aterro por exemplo. Também podem ser processados para serem reutilizados. Sobre esse tema, sugestões foram pensadas a fim de evitar danos ao meio ambiente, a partir da Revolução da Redução de Resíduos, uma proposta que pressionou algumas alterações nas leis, nacionais e internacionais, que enfatizam a prática da não geração e da redução de resíduos (BRASIL, 2010; WORRELL e VESILIND, 2011).

A procura por soluções ambientais quando se trata de geração de resíduos faz com que a sociedade exija mudanças nas condições de consumo e destinação, entendendo que as atuais formas de geração de resíduos acarretam elevados custos socioeconômicos e ambientais.

Segundo Matuti e Santana (2019) quando os resíduos sólidos são manejados adequadamente, eles adquirem valor comercial e podem ser utilizados na forma de novas matérias-primas ou novos insumos para sua melhor destinação. Leis que oriente as questões sobre os resíduos sólidos e seus impactos ambientais se torna importante para um país.

O Brasil possui leis que regem os resíduos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) nº 12.305 é a lei que trata o tema de forma abrangente, e foi publicada em 2010, concomitantemente foram publicadas Políticas Estaduais, como por exemplo, a de Minas Gerais, Lei nº 18.031 de 2009, e a de São Paulo Lei nº 12.300 de 2006 que contribuíram no sentido de melhorar o gerenciamento dos resíduos sólidos no país (PIMENTA et. al., 2015).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é regida pela Lei 12.305/2010 no Brasil.  Essa legislação dispõe sobre princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada, ao gerenciamento de resíduos sólidos e às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.  Segundo ela, os resíduos sólidos podem ser definidos da seguinte maneira:

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, p. 1).

No Brasil existem normas que auxiliam as empresas a cumprirem a legislação que trata dos resíduos sólidos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT NBR 10.004 (2014) também classifica os resíduos sólidos quanto aos seus potenciais riscos ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser gerenciados pelas instituições de forma adequada. Ela facilita o entendimento da classificação dos resíduos, sem prejudicar as especificações da Lei 12.305/2010.

Sobre a classificação dos resíduos sólidos, a ABNT NBR 10.004 (2004) estipulou uma separação em classes, como demonstrados na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Classificação dos resíduos sólidos segundo a ABNT NBR 10.004/2001

CLASSIFICAÇÃO RESÍDUOS DEFINIÇÃO
Classe I Perigosos São os inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos e patogênicos.
Classe II Não perigosos Não se apresentam como inflamáveis, corrosivos, tóxicos, patogênicos, e nem possuem tendência a sofrer uma reação química brusca.
Classe II A Não-inertes Apresentam biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
Classe IIB Inertes São um tipo de material que quando em contato com água, não sofrem transformações físicas, químicas ou biológicas, mantendo-se inalterados por um longo período de tempo.

Fonte: elaborado pelos autores. Adaptado da ABNT NBR 10.004 (2004)

Através da PNRS, cujo objetivo é a prevenção, a redução na geração de resíduos e a sua destinação adequada, o Brasil se equipara ao patamar dos países desenvolvidos referente a inovações no gerenciamento de materiais recicláveis, tanto na logística reversa quanto na coleta seletiva. Essas transformações políticas são essenciais, pois melhora os processos de gestão dos resíduos sólidos que exige planejamento, manutenção, recursos e operação orientada (ALM, 2015).

Quanto a origem dos resíduos sólidos de construção e demolição, a PNRS, em seu Art. 13, demonstra que os resíduos da construção civil são os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluindo os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis (BRASIL, 2010).

2.2 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) E RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)

Segundo a Resolução 307 do CONAMA, de 05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, o RCD é assim definido:

São os [resíduos] provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (BRASIL, 2002).

Para Ângulo (2005) os RCD são todo e qualquer resíduo proveniente das atividades de construção, sejam eles de construções, reformas, demolições ou quando envolva limpezas de terrenos baldios ou habitados com presença de solos ou vegetação.

A Resolução CONAMA 307/2002 classifica os RCD em quatro classes como demonstrado na Tabela 2 a seguir:

Tabela 2 Classificação dos RCD em classe e definição

CLASSE DEFINIÇÃO
A são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: tijolos, blocos, telhas, argamassa, concreto etc;
B são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
C são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso;
D[4] são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

Fonte: Adaptado do CONAMA 307/2002

Segundo Inojosa (2010) durante uma obra de construção há geração de diferentes classes de RCC. Os dados são apresentados a partir da Quadro 1 abaixo.

Quadro 1- Diferentes tipos de resíduos gerados durante fases diversas de uma obra


Fonte: Adaptado de Hendriks (2000)

Levar em consideração a ocorrência dos resíduos gerados durante uma construção ou demolição, a tendência ao alto consumo de produtos com embalagens e a real necessidade de utilizá-los, leva a repensar hábitos, voltar o olhar para os impactos ambientais que os RCD podem gerar e pensar alternativas como reciclagem e reutilização dos RCD (MOREIRA, 2018).

2.3 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELOS RCD E RCC

Segundo Sousa e Fernandes (2016), o descarte irregular de resíduos é um dos maiores causadores de impactos ambientais e, como consequência, influencia o cenário de degradação ambiental. Há três formas básicas para a deposição final desses resíduos, sendo elas o lixão, o aterro controlado e o aterro sanitário, no qual apenas a última opção é, ambientalmente, aceitável.

De acordo com Moreira (2018) a construção civil é o setor que mais explora os recursos naturais, causando severos impactos no meio ambiente. Além da exploração, a geração de resíduos também é um fator preocupante, uma vez que o descarte inadequado desses resíduos são cada vez mais frequentes, como visto na Figura 1. A geração de RCC e RCD interfere no meio físico, biótico e antrópico do local da construção, como consequência da falta de organização e gestão de qualidade e gerenciamento da obra.

Figura 1- Descarte inadequado de Resíduos de Construção Civil

Fonte: MOREIRA, 2018.

Os RCC e RCD formam um problema mundial, e comprova a falta de organização e políticas relacionadas ao gerenciamento adequado para lidar com esse tipo de resíduo. Frequentemente as condutas dos governantes locais são emergentes, próprias de uma gestão ambiental reacionária, ineficiente e inadequada. Essas práticas qualificam o que de denomina de “gestão corretiva”. No Brasil, grande parte dos municípios não possuem um sistema de captação e local para destinação adequada desses resíduos, elevando o índice de descarte ilegal dos RCC para a faixa dos 10 a 47%. Os locais mais afetados são terrenos baldios, beira de estradas e margens de cursos d’agua (MOREIRA, 2018).

Segundo Gehlen (2008), um número grande de profissionais do setor construtivo (82%) reconhece e tem consciência sobre o desenvolvimento sustentável, entretanto, apenas 9% efetivamente colocam em prática seus conceitos.

O setor da construção é responsável pelo gasto de 40% de toda a energia produzida no mundo e pela geração de 40% de todos os resíduos produzidos e que estão poluindo o meio ambiente (John, et al., 2001).

Inojosa (2010) relata que para a cadeia produtiva se tornar sustentável é necessário entender seus impactos, perceber as conexões entre seus diversos componentes e almejar a sustentabilidade desde a decisão de construir até a disposição correta de seus resíduos. A autora enfatiza ainda que envolver todos os atores que de alguma forma participam do processo construtivo, desde financiadores, arquitetos e engenheiros, biólogos e até   os consumidores, é uma maneira adequada de lidar com o desenvolvimento sustentável, com os RCD e RCC, além de ter comprometimento com as questões socioambientais.

3. METODOLOGIA

Foi utilizado o método de pesquisa denominado revisão bibliográfica, que consiste em analisar, categorizar e revelar os múltiplos enfoques e perspectivas da área de estudo, por meio de revisão em materiais já publicados (GIL, 2008).

Em um estágio exploratório, revisão bibliográfica significa uma contribuição importante na constituição do campo teórico de uma área de conhecimento, pois procura identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras que apontem alternativas de solução para os problemas práticos e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focada (ROMANOWSKI e ENS, 2006).

Foram analisados cerca de 30 trabalhos bibliográficos publicados em sites especializados sobre o assunto “reciclagem e reutilização de resíduos da construção civil e demolição”, para confecção deste artigo. Os sites utilizados formam Scielo, Google acadêmico e Science Direct, refinado em um período compreendido entre os anos 2015 e 2020, em língua portuguesa e inglesa.  Utilizamos as seguintes palavras-chaves: Resíduos da construção civil; Sustentabilidade; Demolição; Reciclagem; Reutilização. Além de seus respectivos termos em inglês “Construction waste”; “Sustainability”; “Demolition”; “Recycling”; “Reuse”.

3.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Os critérios de inclusão basearam-se em trabalhos que abordavam o tema da sustentabilidade, reutilização dos resíduos da construção civil e reciclagem.

3.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos os trabalhos que não tratavam especificamente do tema da sustentabilidade, reutilização dos resíduos da construção civil e reciclagem, e que não estavam entre o período de 2015 e 2020.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As propriedades dos agregados reciclados são de extrema importância e devem ser consideradas durante a aplicação do material. A massa específica está diretamente relacionada a porosidade do agregado. Malaquias et al. (2018), citaram estudos que apontam que quanto maior a taxa de absorção de água, menor a massa específica. Todavia, como a massa específica dos agregados reciclados são menores que a dos naturais, pode-se utilizá-los de forma satisfatória na confecção de artefatos de concreto, já que terão peso consideravelmente inferior quando comparado a agregados naturais.

O trabalho de Cabral (2007), analisou uma redução na trabalhabilidade de agregados reciclados quando comparados com agregados normais, visto que agregados reciclados são considerados mais secos em relação aos normais. Isso ocorre devido a retirada de água do processo pelos agregados a qual seria utilizada no cimento, provocando uma menor trabalhabilidade do composto. Outra característica relevante dos agregados reciclados é que o processo de britagem pode ocasionar extremidades angulares, o qual não é característico de materiais naturais, que geralmente são lisos e arredondados, características que facilitam a trabalhabilidade.

De acordo com Malaquias et al. (2018), alguns autores estudaram a resistência à abrasão de agregados reciclados e concluíram que tais materiais possuem menor resistência ao contato e impacto, fazendo com que ocorra um maior desgaste por abrasão em relação aos agregados comuns.

Como já apontado, o mercado da construção civil tem desenvolvido alternativas para reaproveitar os resíduos oriundos de construção e demolição, uma vez que o aumento do número de construções necessita de elevada quantidade e diversidade de materiais. A incorporação do RCD e RCC na produção de materiais e elementos construtivos reduz, significativamente, o consumo de energia e de matérias primas naturais, logo há a redução do custo final das construções (MALTA et al., 2013). Todavia, é necessário avaliar a viabilidade técnica do RDC e RCC como material de construção, como mostra os trabalhos apresentados nesta seção.

O estudo realizado por Malta et al. (2013), avaliou a influência da incorporação de agregado miúdo reciclado em argamassas nos estados fresco e endurecido. Para avaliação da influência da adição do resíduo nas argamassas frescas, em misturas de referência com teores de 25% e 50% de substituição de agregado miúdo natural por agregado miúdo reciclado, foi utilizado o ensaio de mesa de consistência. Já para a avaliação no estado endurecido, foram realizados ensaios de resistência a compressão axial nas idades de 3, 7 e 28 dias, além do ensaio de absorção por imersão, na idade de 28 dias. Os resultados obtidos para o estado fresco mostram, de forma geral, que o aumento da proporção de material reciclado, aumenta a consistência da mistura, já que há o aumento da tensão cisalhante entre os grãos do agregado que diminuem a taxa de escoamento. Além disso, a relação água/cimento é diretamente proporcional a fricção, ocasionado pelo aumento da quantidade de água entre os grãos, gerando um afastamento dessas partículas.

Como resultados da argamassa no estado endurecido, Malta et al. (2013) analisaram a resistência à compressão axial das argamassas em função da relação água/cimento e da idade. A Figuras 2 e 3 mostram os perfis de resistência à compressão axial em função da relação água/cimento para os teores de 25% e 50% de aglomerado reciclado, respectivamente.

Figura 2- Resistência à compressão axial em função da relação a/c para o teor de 25%: a) idade de 3 dias; b) idade de 7 dias e c) idade de 28 dias

Fonte: MALTA et al., 2013.

Figura 3- Resistência à compressão axial em função da relação a/c para o teor de 25%: a) idade de 3 dias; b) idade de 7 dias e c) idade de 28 dias

Fonte: MALTA et al., 2013.

A presença do agregado miúdo reciclado promoveu uma redução na resistência à compressão das argamassas em todas as idades, para ambos os teores de substituição. Tal fato ocorre devido maior concentração de água, que contribui para a formação de poros maiores e, consequentemente, deixa a mistura menos estruturada. Dessa forma, é indispensável analisar o objetivo final e o impacto causado pela adição de RDC em argamassas, para que sejam utilizadas em aplicações e proporções adequadas, garantindo qualidade e segurança no produto.

Já os resultados de absorção por imersão em função da relação água/cimento, pode ser vista na Figura 4.

Figura 4- Absorção em função da relação a/c: a) teor de 25%; b) teor de 50%.

Fonte: MALTA et al., 2013.

Os valores de absorção foram maiores para as misturas com teor de 50%, uma vez que a porosidade dessas misturas é maior.

O trabalho realizado por Sousa et al. (2016), visou comparar a resistência à compressão axial e resistência à tração por compressão diametral do concreto fabricado com agregados convencionais com concretos fabricados com agregados miúdos reciclados obtidos a partir do beneficiamento de resíduos de construção e demolição. Para a fabricação dos concretos foram utilizadas taxas de substituição de 25 e 50% de agregados miúdos convencional por agregados miúdos reciclados. A influência do agregado miúdo reciclado foi avaliada no concreto em estado fresco através do ensaio de abatimento do tronco de cone, com a finalidade de avaliar a trabalhabilidade da mistura. As propriedades do concreto no estado endurecido foram avaliadas a partir de ensaios de compressão axial e ensaio de compressão diametral, comparando nas idades de 7, 14, 21 e 28 dias. Os resultados mostraram que a substituição de agregados miúdos convencionais pelos reciclados é viável para a produção de concreto com função estrutural, viso que a resistência à compressão é de 30 Mpa, quando a taxa de substituição não ultrapassa 50%. Galindo et al. (2019), estudaram a viabilidade do uso de uma mistura de agregado reciclado de RCC com um solo residual jovem de textura arenosa com escória oxidante de aciaria elétrica em pó. As composições das amostras com RCC foram preparadas de acordo com a norma ES 141/2010 do DNIT e foram acrescentados teores de 10% e 20% de escória em relação à massa seca total. A partir do ensaio CBR, na energia de compactação Proctor normal, foram avaliadas as características de resistência e expansão do solo natural e das misturas solo-RCC e solo-RCC estabilizada com escória. A Figura 5 mostra o valor médio e desvio padrão para o índice e a expansão CBR determinados a partir de 3 corpos-de-prova ensaiados, após um período de 96h imersos em água.

Figura 5- Ensaio CBR realizados nas amostras de solo, solo-RCC e solo-RCC com escória oxidante de aciaria elétrica em pó

Fonte: GALINDO et al., 2019.

A partir do ensaio CBR segundo a NBR 9895 (ABNT, 1987b), foram avaliadas as características de resistência e expansão das composições acima descritas. Os resultados apontam um ganho de resistência mecânica e decréscimo na expansão CBR para as misturas solo-RCC e solo-RCC com adição de escória. A adição de RCC ao solo implicou em ganho de 65% no CBR e não alterou, significativamente, a expansão durante o período de imersão, quando comparados ao índice e à expansão CBR do solo natural (GALINDO et al., 2019).

As propriedades dos agregados reciclados são de extrema importância e devem ser consideradas durante a aplicação do material. A massa específica está diretamente relacionada a porosidade do agregado. Malaquias et al. (2018), citaram estudos que apontam que quanto maior a taxa de absorção de água, menor a massa específica. Todavia, como a massa específica dos agregados reciclados são menores que a dos naturais, pode-se utilizá-los de forma satisfatória na confecção de artefatos de concreto, já que terão peso consideravelmente inferior quando comparado a agregados naturais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A suposição para realização deste trabalho foi a de que existe grande possibilidade de reutilização de RCD e RCC a fim de contribuir com o desenvolvimento sustentável e diminuição dos impactos ambientais. O objetivo principal deste trabalho foi realizar uma análise qualitativa sobre como os RCC e RCD podem ser reciclados e reutilizados no setor da construção civil.

Através desse estudo se percebe que a PNRS, resoluções CONAMA e NBR’s, orientam, classificam e regem a destinação dos RCD e RCC, além de atribuir responsabilidades sobre quem deve dar a destinação os resíduos. Então, a implantação de um Plano de Gestão para os resíduos sólidos se torna importante, pois reflete positivamente no âmbito social, ambiental e econômico. Diminui o consumo dos recursos naturais, proporciona a abertura de novos mercados, gera trabalho, emprego e renda, conduz à inclusão social e diminui os impactos ambientais provocados pela disposição inadequada dos resíduos.

Considera-se que o Brasil, precisa investir no avanço científico, teórico e prático na gestão dos resíduos sólidos, além de promover estratégias participativas, contextualizadas e adaptativas que permitam um progresso para o fortalecimento da infraestrutura do país. Esse conceito se fortalece ainda mais, por ser reconhecido que 82% dos responsáveis pelo setor construtivo reconhece que o desenvolvimento sustentável é necessário.

Considerando o conceito mais utilizado sobre as questões ambientais, a partir do relatório “Nosso Futuro Comum” se define que o desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de critérios de sustentabilidade social, ambiental e de viabilidade econômica.

Conclui-se que é necessário avaliar a viabilidade técnica do RDC e RCC como material de construção. Conhecer e entender o contexto atual da produção científica, nacional e internacional, sobre resíduos sólidos, bem como suas tendências e lacunas, legislação e normas, faz com que o Brasil se desenvolva no sentido de melhor destinar os resíduos sólidos no país.

REFERÊNCIAS

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ABRELPE- Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil – 2017. São Paulo, 2017. Disponível em:<http://abrelpe.org.br/download-panorama-2017>. Acesso em: 28 set. 2020.

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ANGULO, Sérgio Cirelli. et al. Metodologia de caracterização de resíduos de construção e demolição. In: VI Seminário de Desenvolvimento Sustentável e Reciclagem na Construção Civil. IBRACON CT-206. São Paulo, 2003.

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APÊNDICE – REFERÊNCIA DE NOTA DE RODAPÉ

4. O amianto foi incluído nessa classe pela Resolução CONAMA nº. 348/2004.

[1] Graduando em Engenharia civil pela Universidade de Gurupi – UNIRG.

[2] Graduando em Engenharia civil pela Universidade de Gurupi – UNIRG.

[3] Orientador. Professor Mestre em engenharia civil.

Enviado: Outubro, 2020.

Aprovado: Novembro, 2020.

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Marcus Vinicius Araújo Glória

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