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Avaliação dos Impactos Ambientais Ocorrentes do Córrego Seco, Município de Nerópolis, Goiás [1]

RC: 15048
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CONTEÚDO

COSTA, Alice Pereira da [2], SANTOS, Harlen Inácio dos [3]

COSTA, Alice Pereira da; SANTOS, Harlen Inácio dos. Avaliação dos Impactos Ambientais Ocorrentes do Córrego Seco, Município de Nerópolis, Goiás. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 04, Vol. 05, pp. 119-135, Abril de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

O presente trabalho objetivou identificar os principais impactos ambientais ocorridos no Córrego Seco, município de Nerópolis, estado de Goiás e ainda propor eventuais medidas mitigadoras. A metodologia consistiu de uma ampla revisão bibliográfica, três visitas técnicas a fim de identificar os limites e as condições de preservação da área e  ainda entrevista com o gestor da prefeitura. Os resultados obtidos permitiram concluir que a área apresenta supressão de vegetação ciliar, assoreamento, acesso de animais nas APP’s e também lançamento de resíduos sólidos  e esgotos a céu aberto. Recomenda-se a recuperação por partes dos proprietários, e do poder público, o aumento da fiscalização e campanhas de conscientização para a recuperação das nascentes.

Palavras-chaves: Impactos Ambientais, Vegetação Ciliar, Recuperação de Nascentes.

1. INTRODUÇÃO

A preservação de nascentes se torna cada vez mais essencial com o aumento da população, das atividades agrícolas, e com as crises sucessivas de recursos hídricos. Observa-se que os níveis dos reservatórios estão baixos em épocas do ano em que costumavam estar cheios, isso se torna um grande problema ambiental.

Dentre os diversos recursos naturais existentes, os recursos hídricos constituem um dos mais importantes, por ser indispensável para a sobrevivência. Entretanto, a sua qualidade está comprometida devido ao uso indiscriminado e pelo lançamento continuado de esgotos residenciais, de efluentes das indústrias, de agrotóxicos e rejeitos da agricultura e pecuária, assim como de poluentes de outras atividades humanas, que, direta ou indiretamente, promovem alterações na estrutura e funcionamento dos sistemas hídricos, com consequências finais para o próprio homem (MELO et al., 2017).

A questão ambiental tem sido objeto de muita preocupação da população e das autoridades no plano nacional e mundial, particularmente nos últimos anos. Constata-se que podemos ficar sem água potável se não buscarmos saídas inteligentes, estratégias e ações de recuperação e preservação das nascentes. A degradação do ambiente em favor de uma lógica que visa exclusivamente o lucro é incompatível com a saúde, a qualidade e o bem estar das populações (CORONA E BASTOS, 2017).

É fundamental a preservação das nascentes, a água é de suma importância e tem um valor econômico social altíssimo para a sociedade, a cada dia aumenta sua escassez. As nascentes são fontes de água e há uma necessidade maior em cuidar da preservação dessas, por parte do homem.

A área degradada ao sofrer impactos não consegue retornar naturalmente ao estado de equilíbrio, mostrando a dificuldade que um ecossistema possui de se recuperar de alterações diversas, sejam elas naturais ou provocadas pelo homem.

De acordo com a legislação ambiental vigente, precisamente na Lei Federal nº 7.803/89, é necessária uma área de preservação permanente em torno de nascentes, em quaisquer situações topográficas de um raio de cinquenta metros de largura, para conservar os olhos d’água (BRASIL, 1989).

A referida Lei ainda dispõe que as áreas de preservação permanente, onde se proíbe qualquer intervenção, protegem onze tipos diferentes de locais considerados frágeis ou importantes, são eles: as margens dos cursos d’água naturais, o entorno de lagos e lagoas naturais, o entorno de reservatórios d’água artificiais, o entorno das nascentes, as encostas com declividade superior a 45°, as restingas como fixadores de dunas ou estabilizadoras de mangues, os manguezais, as bordas dos tabuleiros ou chapadas, os topos de morros, montes, montanhas e serras, áreas com altitude superior a 1800m e finalmente as veredas.

Neste sentido, a presente pesquisa tem o objetivo de identificar os principais impactos ambientais ocorridos no Córrego Seco, município de Nerópolis, Goiás, e ainda propor eventuais medidas mitigadoras.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Existe uma ligação entre a natureza e o ser humano, há um ciclo climático que envolve ecologicamente o planeta devido às ações humanas. A cada dia que se passa a temperatura tem sofrido alterações consequentemente relacionadas à ligação humana com a natureza.

De acordo com Tristão (2013), os problemas ambientais, como problemas humanos e complexos, podem nos levar a descobrir a conexão humana com a natureza, o padrão de organização que nos liga num círculo permanente entre a vida e a natureza, em um movimento em rede que sustenta ecologicamente o planeta Terra.

O uso insustentável dos recursos naturais tornou-se o alvo de estudo de pesquisadores nesses últimos anos. A poluição da água e da atmosfera, o desflorestamento, o uso incorreto da terra, a degradação dos recursos hídricos, entre outros, caracterizam os problemas ambientais mais agravantes no mundo contemporâneo e estimulam a sensibilização da sociedade para que sejam tomadas providências imediatas, dando primazia à conservação dos recursos essenciais à qualidade de vida do planeta (OLIVA JÚNIOR E SOUZA, 2012).

O referido autor ainda afirma que no mundo contemporâneo as relações homem – natureza vem tendo um destaque importante no cenário mundial, isso por conta de uma relação conflitante, devido ao fato de que com o passar dos anos o homem foi adquirindo habilidades das quais a maior parte destas são usadas para agredir seu próprio habitat, ou seja, o homem começou a evoluir no seu modo de vida, porém age de forma irracional em relação à natureza, sem imaginar os danos que essa evolução lhe causará no futuro.

No Brasil o processo de ocupação humana de um modo geral caracterizou-se pela falta de planejamento e consequente degradação dos recursos naturais. Nesse sentido áreas naturais foram sendo fragmentadas, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades, muitas destas passando por acelerados processos de crescimento, na maioria, sendo impactados pelos processos de urbanização desordenada (SILVA JUNIOR et al., 2015).

Nos últimos anos, tem sido observado um avanço das discussões, tanto por parte da população em geral, quanto por parte do meio acadêmico, sobre a importância dos recursos hídricos para a sobrevivência dos seres humanos e para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas naturais (RODRIGUES et al., 2010).

A importância em se conservar a vegetação nas referidas Áreas de Preservação Permanente (APP’s) consiste em manter o recurso natural por elas protegido para o bem-estar da população. As matas ciliares nas margens dos cursos d’água impedem que estes recebam o excesso de material convergente, nas chuvas, que podem assorear seu leito ou causar poluição. As regiões de declive acentuado, por sua vez, necessitam da vegetação nativa intacta para evitar o desprendimento das partículas de solo (erosão), visto que o sistema radicular destas é o grande responsável pela estruturação do solo (SILVA et al., 2011).

As Áreas de Preservação Permanente (APP’s) são definidas como áreas localizadas em torno das nascentes e cursos d’água, que têm função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (ZANATA et al., 2016).

O geoprocessamento tem sido utilizado cada vez mais nas análises ambientais, por ser um instrumento que realiza o processamento de dados de forma rápida e eficiente, o que possibilita acompanhar fenômenos naturais dinâmicos da natureza, assim como o desenvolvimento em tempo real de fenômenos antrópicos, desta forma colabora com a investigação da adequação do uso da terra, principalmente nas Áreas de Preservação Permanente (APP’s), que mostram-se muito importantes na preservação da biodiversidade (ROMAGNOLI, 2016).

A conservação e a preservação dos mananciais são de suma importância na captação de água para o abastecimento público, uma água de boa qualidade significa: menos gastos com tratamentos químicos e traz uma série de benefícios à sociedade e ao meio ambiente (SILVA et al., 2016).

A água é um patrimônio natural estratégico, mais do que um recurso imprescindível à produção de bens indispensáveis ao desenvolvimento econômico e social, é um elemento vital para a conservação dos ecossistemas e da vida de todos os seres em nosso planeta, sem água a Vida não existe. No entanto, os efeitos alarmantes que a destruição do meio ambiente está provocando apontam para uma crise epistêmica, na medida em que, o sentido histórico que vem sendo atribuído ao desenvolvimento sustentável, na dimensão econômica (crescimento econômico), pode ser o principal fator dos problemas ambientais (WOLKMER E FREIBERGER, 2013).

A água é um recurso natural insubstituível para a manutenção da vida saudável e bem-estar do homem, além de garantir auto-suficiência econômica da propriedade rural. Nas últimas décadas, o desmatamento de encostas e das matas ciliares, além do uso inadequado dos solos, vem contribuindo para a diminuição da quantidade e qualidade da água (BORGES E CONCEIÇÃO SANTOS, 2016).

Problemas relacionados com a poluição da água se intensificaram após a Segunda Guerra Mundial, quando foram observados aumentos significativos nos processos de urbanização e industrialização, mas vale lembrar que a poluição das águas é fruto principalmente de um conjunto de atividades humanas. E os poluentes alcançam águas superficiais e subterrâneas de diversas formas. A grande preocupação mundial com a dificuldade de encontrar água com qualidade para o uso doméstico faz sentido. De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a água, hoje se vive uma crise global. Especialistas afirmam que se os atuais meios de exploração dos recursos hídricos da terra não forem revistos, 2/3 (dois terços) da população mundial vai sofrer com a falta de água no planeta (MARTINS, 2015).

É indiscutível a essencialidade da composição ambiental à sobrevivência humana, à manutenção da biota e à viabilização das atividades econômicas da sociedade. Por isso, ao se tratar do panorama dos recursos hídricos no Brasil deve-se, inicialmente, fazer uma breve abordagem dos usos múltiplos, da disponibilidade mundial, e algumas considerações químicas e físicas da água, com o fito de proporcionar uma contextualização pautada na interdisciplinaridade, capaz de corresponder de modo mais fiel à atual realidade hídrica no país (OURO MAMED E LIMA, 2011).

Com o reservatório em funcionamento, o principal desafio para a área é conciliar múltiplos interesses e promover a conservação e preservação dos recursos hídricos. Nesse sentido é que o Governo de Goiás, por meio do Decreto Estadual nº 5.704/2002, criou uma unidade de conservação na categoria de Área de Proteção Ambiental (APA). O objetivo é proteger a integridade da bacia de drenagem do Ribeirão João Leite, instituindo normas e restrições para utilização das terras, e, assim, proteger o manancial que servirá água à população (SOUSA, 2013).

A gestão dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas tem sido historicamente, tratada de forma isolada no que se refere aos aspectos quantitativos e qualitativos. Entretanto, um cenário de degradação ambiental aponta para a necessidade de um planejamento adequado dos recursos naturais para integrar esses dois aspectos.  Uma forma eficiente de avaliar os impactos do lançamento de cargas poluidoras, bem como de analisar cenários de intervenção e medidas de controles ambientais, é através da utilização de modelos de qualidade das águas, que servem de ferramenta no planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos em uma bacia hidrográfica (MELO et al., 2017).

Dentre os elementos que compõem a bacia hidrográfica, as áreas de nascentes são consideradas as mais importantes, representando o fluxo necessário para a formação da rede de drenagem da bacia (SANTOS E NASCIMENTO, 2016). Os autores ainda afirmam que de maneira geral, os debates acerca da preservação e conservação da vegetação nativa, sobretudo aquela situada em áreas de nascente, têm ocupado lugar de destaque nos estudos de que preconizam a sua importância para a proteção dos recursos hídricos.

A atividade antrópica em bacias hidrográficas, frequentemente, tende a gerar efluentes diversos, em que os cursos d’água são utilizados para diluir e transportar esses produtos residuais para longe do local de produção e descarga. Nesse cenário, muitas vezes a água do corpo receptor, com qualidade perturbada, acaba tornando-se inutilizável pela população, causa problemas de saúde pública e origina desequilíbrios ambientais (FAN et al., 2016).

A Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite apresenta área de 766,8 km² e está localizada ao norte da capital goiana. Os recursos hídricos superficiais ali produzidos são os principais responsáveis pelo abastecimento urbano da cidade de Goiânia – GO, além de suprirem demandas de irrigação, piscicultura e de outras atividades ao longo da bacia. Nos últimos anos, a demanda por água na bacia hidrográfica do ribeirão João Leite tem superado sua disponibilidade hídrica o que, conciliado à baixa qualidade da água presente em muitos períodos do ano, tem gerado conflitos entre usuários (SANTOS et al., 2010).

A economia regional, baseada na produção agroindustrial, tem provocado forte pressão sobre os recursos hídricos, ora gerando escassez, ora incidindo negativamente sobre a qualidade da água disponível. A poluição dos rios, nascentes e poços, a redução do volume de água nos córregos, a crescente perfuração de poços tubulares para extração de água subterrânea, o assoreamento dos rios e a falta de saneamento básico figuram entre os problemas ambientais mais preocupantes da bacia (FILIPINI et al., 2010).

Conhecer as características e a percepção sócio-ambiental de parte da população rural é de extrema importância para poder identificar e descrever alguns problemas ambientais (MENEZES E BERTOSSI, 2011).

Pesquisas acadêmicas debatem em diferentes esferas sociais e ações governamentais têm ocorrido no Brasil com maior ênfase nos últimos anos frente aos avanços de determinados processos sociais, econômicos, políticos, territoriais e ambientais relacionados à presença da crise da água no país (SABOIA, 2016).

4. METODOLOGIA

A área de estudo desta pesquisa compreende a área da nascente principal na Bacia Hidrográfica do Córrego Seco no município de Nerópolis, Goiás, dando início na zona rural e o término do perímetro urbano da cidade, sendo dividida em três trechos conforme mostram as Figuras 1, 2 e 3, para melhor avaliação.

Figura 1 - Imagem de Satélite da Área de Estudo do Trecho 1. Fonte: Google Earth.
Figura 1 – Imagem de Satélite da Área de Estudo do Trecho 1. Fonte: Google Earth.
Figura 2 - Imagem de Satélite da Área de Estudo do Trecho 2.  Fonte: Google Earth.
Figura 2 – Imagem de Satélite da Área de Estudo do Trecho 2.  Fonte: Google Earth.
Figura 3 - Imagem de Satélite da Área de Estudo do Trecho 3. Fonte: Google Earth.
Figura 3 – Imagem de Satélite da Área de Estudo do Trecho 3. Fonte: Google Earth.

A metodologia foi dividida em três etapas, a saber:

Na primeira etapa foi procedida uma ampla revisão bibliográfica a partir de livros técnicos, sites especializados, teses e dissertações acadêmicas e ainda periódicos científicos.

Na segunda etapa foram realizadas três visitas técnicas na área de estudo, sendo a primeira no mês de janeiro no período de chuva, e as demais no mês maio e julho de 2017 no período da seca, todas registradas por fotos. Os objetivos destas visitas técnicas foram identificar os limites e as condições de preservação da área.

A seguir foram realizadas duas entrevistas com o biólogo, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente do município de Nerópolis, com a finalidade de receber informações do monitoramento das nascentes e documentos do projeto de recuperação da nascente realizado em 2009.

Finalmente, foi feita a tabulação de dados obtidos e a redação deste trabalho.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Córrego Seco foi visitado e vistoriado, conforme previa a metodologia, na seca e período da chuva. Foi observado que a variação dos reservatórios hídricos está grande, ou seja, o córrego está sofrendo queda de vazão de uma forma grave. As alterações climáticas e os problemas que se tendem a ter para o futuro, são resultados das atividades humanas.

Nas visitas do trecho 1 observou-se que a área experimentou grandes modificações nos últimos anos, tanto na vegetação do entorno, quanto na vegetação ciliar, como no nível de água. O que pode ser observado nas Figuras 4 e 5, que são imagens com espaços temporais de oito anos.

Segundo Zanata et al. (2016), as áreas de preservação permanente (APP) localizadas ao redor das nascentes, têm a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações.

A temperatura e umidade do ar são elementos atmosféricos que têm uma influência na alteração da cobertura vegetal, tanto nas alterações climáticas no local da intervenção, como também em outras partes do planeta. Com isso a vegetação exerce influência direta sobre os padrões climáticos.

Entende-se que quanto maior for a cobertura vegetal, mais influencia a quantidade de umidade presente no ar. É importante a preservação das florestas para que haja equilíbrio ambiental. É necessário manter a preservação de APP’s, se houver remoção da cobertura vegetal haverá um total desequilíbrio e alterações climáticas. Com o solo desprotegido devido várias práticas agrícolas e desmatamentos, os rios estão notados assoreados, ou seja, mais rasos e largos, conforme se observa na Figura 5. É consenso a diminuição da vazão com desmatamento das nascentes que rebaixam, portanto deixam de fazer uma reposição na vazão do rio.

Figura 4 - área de nascente em 2009. Fonte: Ser Natureza, 2009 
Figura 4 – área de nascente em 2009. Fonte: Ser Natureza, 2009
Figura 5 - área de nascente de 2017. Fonte: Acervo do Autor, 2017.
Figura 5 – área de nascente de 2017. Fonte: Acervo do Autor, 2017.

Foi observado ainda no trecho 1 (Figura 1), na área da vegetação da nascente um bambuzal, de acordo com Osse e Meirelles (2011), dentre as inúmeras possibilidades de utilização do bambu no desenho ambiental pode-se destacar: a recuperação de áreas degradadas; a proteção de nascentes e mananciais de água; a contenção de bordas de áreas de desmatamento; o controle da erosão pela redução do impacto da chuva no solo; a contenção de encostas íngremes, amenizando a formação de voçorocas; e a criação de volume vegetal com alto potencial de absorção de CO2 (gás carbônico).

É interessante o processo de desenvolvimento do bambu, quando começa aparecer as folhas o crescimento do solo cessa, para que se inicie o processo de sua maturação, é nesse período que frequentemente suas folhas são trocadas, ao caírem no solo o protegem contra os impactos das gotas das chuvas que favorece a infiltração de água e minimiza sua perda por evaporação. Com esse processo fica claro o importante papel do bambuzal na proteção das nascentes.

Mas de outro ponto de vista, o bambu é uma planta que cresce muito rapidamente aproximadamente três vezes mais do que outras plantas, e com a competição de luz ele sufoca as outras, por sua agressividade e rapidez no crescimento pode comprometer a regeneração natural de árvores importantes, por ser um vegetal que se identifica muito em ambiente úmido, e torna-se difícil o seu monitoramento.

Foi observado que por causa da quantidade de bambus nesta região, a vegetação natural ficou prejudicada devido ao abafamento causado pelo bambuzal, trazendo consequências como pequenas variações de espécies de vegetais, debilitando a flora e alterando a composição do ecossistema.

As Figuras 6 e 7 mostram a presença de bambus no em torno e na vegetação ciliar da nascente.

Figura 6 - área em torno da nascente. Fonte: Acervo do Autor, 2017.   
Figura 6 – área em torno da nascente. Fonte: Acervo do Autor, 2017.                         
Figura 7 - vegetação da nascente. Fonte: Acervo do Autor, 2017.
Figura 7 – vegetação da nascente. Fonte: Acervo do Autor, 2017.

O trecho 2 (Figura 2), foi analisado pelas imagens de satélite, por não conseguir acesso ao local. Com isso foi notado pouca vegetação, sendo que de acordo com a legislação ambiental vigente, precisamente na Lei Federal nº 7.803/89, que ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluído os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura as florestas e demais formas de vegetação natural situada ali são consideradas de preservação permanente.

Com a remoção da vegetação que existe nas margens dos rios, ocasiona possivelmente o surgimento de erosões causando o assoreamento nas proximidades do próprio córrego, com isso, considera-se que as consequências em rios e lagos, podem direcionar a própria humanidade, por imprudência de fazer a deposição de sedimentos nos recursos hídricos quando se remove as vegetações nas margens.

O assoreamento é o principal problema que afeta os lagos, implicando na diminuição do volume de água utilizável, e reduzindo a quantidade de energia gerada, tendo como causa principal a água da chuva que transportam sedimentos em suspensão ou diluição e que são retidos através da sedimentação/decantação e pelo atrito com a superfície de fundo. Os sedimentos, sujeitos ao arrasto, são retidos na entrada do reservatório e nos afluentes, formando um delta pluvial. Esses sedimentos são originados do solo exposto devido à retirada da vegetação e esgotamento do mesmo pelo uso inadequado, ocasionando o assoreamento dos reservatórios (CABRAL, 2005).

Ainda no trecho 2 (Figura 2), e uma parte do trecho 1 (Figura 1), foi observado por vista, a presença de animais na região, o que se leva a entender que o córrego sofre com a compactação do solo, isso faz com que a capacidade de infiltração seja reduzida, tendo grande possibilidade de ocorrer erosão, diminuindo a qualidade da  água, dificultando o afloramento e trazendo queda a vazão do córrego.

Independentemente do tipo e do estado de conservação da nascente a ser recuperada, o primeiro passo a ser tomado é o isolamento da área num raio de 50 m da nascente, para impedir a invasão por animais domésticos, evitando, principalmente, a compactação do solo pelo pisoteio e o comprometimento do estrato regenerativo da área. Como a maioria das nascentes da bacia hidrográfica está circundada por cultura agrícola ou pastagem, o segundo passo a ser dado é o abandono dessas atividades dentro da área a ser restaurada, para que não exerçam competição com as espécies arbóreas plantadas ou regeneradas naturalmente (PINTO et al.,2005).

É necessário medidas para evitar que animais cheguem até as margens do córrego, tendo em vista que estes pisoteiam o local provocando impactos como o assoreamento e até mesmo a revegetação.

No trecho 3 (Figura 3) foram observados excesso de resíduos sólidos, animais mortos, devastações da vegetação devido às construções, trazendo consequências como: mal cheiro, poluições da água, do solo e proliferação de vetores. Devido o descarte irregular de resíduos sólidos e restos de animais, ocorre desconforto para a população, atrai outros tipos de animais que podem ser um meio de transporte de doenças.

Os resíduos são uma das principais causas para os impactos negativos de uma sociedade, sejam resíduos sólidos, líquidos ou gasosos. A falta de conscientização das pessoas fazem os problemas se agravarem, modificando rapidamente todo o meio ambiente, principalmente áreas verdes e corpos hídricos que se localizam dentro ou próximos de centros urbanos.

De acordo com Araújo e Pimentel (2016), apesar dos avanços em relação à preocupação com a problemática dos resíduos sólidos e suas consequências para o homem e ao meio ambiente, o assunto ainda é preocupante nos dias atuais, pois são necessários o desenvolvimento de novos valores culturais e éticos, de modo a reorientar o estilo de vida dos consumidores e despertar a consciência ambiental dos mesmos.

A Figura 8 mostra a quantidade de resíduos descartados à margem e na calha do Córrego Seco no perímetro urbano.

Figura 8 - Área no perímetro urbano. Fonte: Acervo do Autor, 2017.
Figura 8 – Área no perímetro urbano. Fonte: Acervo do Autor, 2017.

As consequências dos impactos observados e medidas mitigadoras estão relegadas no Quadro 1.

Quadro 1: Consequências e Medidas Mitigadoras

IMPACTOS CONSEQUÊNCIAS MEDIDAS MITIGADORAS
Supressão de vegetação na área da nascente. Produção excessiva de sedimentos;
Impermeabilização do solo;
Aumento de escoamento superficial de água;
Elevação da temperatura.
Replantio de mudas exóticas e nativas.
Acesso de animais nas APP’s. Impedimento da regeneração natural;
Compactação do solo;
Redução de infiltração;
Dificuldade de afloramento.
Isolamento da área.
Diminuição da vegetação
ciliar.
Escassez da água;
Erosão e assoreamento;
Formação de corredores naturais.
Fazer o replantio;
Isolamento da área.
Assoreamento. Sedimentos para o fundo dos cursos hídricos;
Redução de água utilizável;
Replantio de mudas;
Terraços.
Resíduos sólidos e esgotos a céu aberto. Odores;
Doenças;
Eutrofização;
Poluição da água e do solo;
Proliferação de vetores.
Educação ambiental;
Fiscalização.
Bambuzal Impedimento da diversidade da vegetação. Plano de manejo.

 

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

De acordo com os resultados obtidos, foram constatados impactos ambientais na área de estudo, tais como: supressão de vegetação na área da nascente e no seu entorno; acúmulo de resíduos nas margens do Córrego Seco e assoreamento do curso d’água.

Esta constatação de impactos não foi igual em todos os trechos, sendo mais grave a situação no trecho 1 (Figura 1), que apresentou grandes modificações tanto na vegetação do entorno, quanto na vegetação ciliar  e também a  compactação do solo, pela queda no nível da água. Já o trecho 2 (Figura 2) apresentou ausência de APP com assoreamento em todo o trecho, diferentemente do trecho 3 (Figura 3), onde se constatou excesso de resíduos sólidos nas margens do curso hídrico, produzindo consequências para  a qualidade ambiental da área.

As entrevistas realizadas com o biólogo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Nerópolis, com a finalidade de obter informações do monitoramento das nascentes e documentos do projeto de recuperação das nascentes realizadas em 2009, não obtiveram resultados devidos roubo dos computadores, que trouxeram a perca dos arquivos.

Recomenda-se aos proprietários rurais  mitigar os danos ambientais através de medidas como o  isolamento da área, a revegetação das margens  e a adoção de técnicas de controle da erosão.

Recomenda-se ainda aos órgãos públicos o aumento da fiscalização da região e a implantação de programas de conscientização ambiental no sentido de esclarecer os proprietários e usuários da área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] Artigo apresentado como exigência para obtenção do Título de Engenheira Ambiental na PUC Goiás.

[2] Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental pela PUC-Goiás

[3] Professor Orientador. Dr. .Escola de  Engenharia da PUC-Goiás

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Alice Pereira da Costa

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