REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

O ensino da contabilidade ambiental nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

RC: 43396
219
1/5 - (1 vote)
DOI: ESTE ARTIGO AINDA NÃO POSSUI DOI
SOLICITAR AGORA!

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CUNHA, Tácio Marques da [1], OLIVEIRA, Brigitte Renata Bezerra de [2], PIMENTEL, Márcio Sampaio [3]

CUNHA, Tácio Marques da. OLIVEIRA, Brigitte Renata Bezerra de. PIMENTEL, Márcio Sampaio. O ensino da contabilidade ambiental nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 01, Vol. 05, pp. 126-157. Janeiro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/contabilidade/ensino-da-contabilidade

RESUMO

A Contabilidade é uma ciência reconhecida como instrumento de informação e registro dos procedimentos e métodos adotados pelas empresas para proteção do meio ambiente. Todavia, tem-se observado que os contadores possuem um baixo grau de conhecimento e falta de preparo sobre a Contabilidade Ambiental. Esta adversidade verificada na formação destes profissionais, no âmbito da educação ambiental, impulsionou o desenvolvimento do presente estudo que teve como objetivo à identificação das caraterísticas da disciplina de Contabilidade Ambiental, ofertadas nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior do Brasil. Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva, documental e tendo como universo os 231 cursos de graduação em Ciências Contábeis que obtiveram notas 4 e 5 no “Conceito ENADE”, em 2015. A técnica de pesquisa utilizadas foi a desk research, além de uma leitura analítica dos projetos pedagógicos, ementas e/ou grades curriculares disponibilizados pelos 48 cursos integrantes da amostra final, calculada conforme critérios da amostragem não probabilística por julgamento. Os resultados apontaram que, pelo menos, 60% dos cursos ofertaram a disciplina “Contabilidade Ambiental”, em suas respectivas estruturas curriculares, com natureza obrigatória, formação teórica, carga horária de 60 horas e oferta entre os 5º e o 6º semestres. O cenário de mudanças, quanto ao tratamento da Contabilidade Ambiental nos cursos de Ciências Contábeis das IES brasileiras, denota que a Contabilidade, como ciência social, está caminhando para um quadro consoante às preocupações sociais, no que se refere aos cuidados com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Contabilidade Ambiental, Ciências Contábeis, Ensino de Contabilidade.

1. INTRODUÇÃO

A era globalizada tem propiciado o compartilhamento informacional de maneira intensiva, incluindo como pauta as constantes discussões sobre a responsabilidade ambiental das entidades. A conscientização social tem forçado às empresas a adotarem novas posturas quanto à utilização dos recursos naturais necessários para manutenção de suas operações, visto que à sua não observância tem causado grandes desastres ambientais que não apenas atingem o meio ambiente, mas afetam a saúde e oferecem risco à vida dos indivíduos (AKDOĞAN; HICYORULMAZ, 2015; BERTINO et al., 2017; TINOCO; KRAMER, 2011).

No Brasil, em um caso mais recente, pode-se mencionar o rompimento da barragem de rejeitos de mineiros de ferro de Fundão, da empresa Samarco, ocorrido em 2015, na cidade de Mariana, em Minas Gerais, como uma das maiores e graves tragédias socioambientais do país (LACAZ; PORTO; PINHEIRO, 2017). Para os autores, os danos foram materiais, ambientais, e humanos, e incluíram a infertilidade da área afetada, morte de pessoas, danos à saúde, e impactos negativos sobre as formas de organização social da população atingida.

Conforme Carvalho (2012), para cumprir seu papel ambiental com maior segurança, as organizações precisam adotar como primeiro passo a evidenciação de sua interação com o meio ambiente por meio da Contabilidade. O entendimento do autor, contudo, não é corroborado pelo cenário da Samarco, visto que o confronto das informações contidas nos relatórios financeiros com o relatório de sustentabilidade da empresa revelou que, nos anos anteriores, os valores divulgados no documento eram significativamente diferentes dos expostos pelas demonstrações financeiras, e ainda que no ano do desastre não houve divulgação do relatório citado (CABRAL; FERREIRA; QUEIROZ, 2017).

O episódio consolida a percepção de Varelo et al. (2011), que consideram a Contabilidade como fornecedora de instrumentos capazes de divulgar às ações ambientais, bem como os impactos patrimoniais sofridos. Na mesma linha de pensamento, Santos et al. (2001) apontam que a Ciência Contábil é considerada uma ferramenta de auxílio no gerenciamento empresarial do meio ambiente.  Adams et al. (1998), mesmo que anteriormente, também assumem que as demonstrações contábeis de cunho ambiental, denominados de Balanço Social ou Relatório de Sustentabilidade Empresarial, realizam registros sobre ativos e passivos ambientais, e ainda dos custos e receitas, o que fortalece a divulgação da responsabilidade ambiental das organizações.

De acordo com Cho e Patten (2013), a Contabilidade Ambiental engloba os fatos contábeis relativos às atividades organizacionais e os impactos oriundos das mesmas. Tanc e Gokoglan (2015) ressaltam que o processo decisório das entidades vem, cada vez mais, sendo influenciado pelos fatores ambientais, o que ocasiona a pressão da redução dos custos ambientais em prol da responsabilidade socioambiental defendida pelas próprias.

Neste contexto, o profissional contábil passa a ser considerado peça-chave para auxiliar as corporações na solução de problemas associados à degradação do meio ambiente (GALVÃO; TENÓRIO, 2009). Todavia, embora a Contabilidade seja reconhecida como instrumento de informação e registro dos procedimentos e métodos adotados pelas empresas para proteção do meio ambiente, nota-se, por diversos estudos, que os contadores possuem um baixo grau de entendimento e falta de preparo sobre esta seara do conhecimento (FEIL et al. 2017; MACIEL et al., 2009; MARTENDAL et al., 2013; YAMAGUCHI; SANTOS; WATANABE, 2015).

Segundo Yamaguchi e Montibeller Filho (2013), o campo ambiental da Contabilidade ainda não é totalmente aplicado nas empresas por impasses encontrados na prática e na relutância de muitos gestores. A imprecisão do conteúdo e de suas definições, a mensuração com práticas da Contabilidade Tradicional, bem como a complexa integração entre a Contabilidade Ambiental e Tradicional são apontados como outros fatores que têm impossibilitado a eficácia da utilização da Contabilidade Ambiental nas organizações (AKDOĞAN; HICYORULMAZ, 2015; NIKOLAOU; EVANGELINOS, 2009).

As adversidades verificadas na formação destes profissionais, no âmbito da educação ambiental, também são apontadas como aceitáveis justificativas para a situação descrita anteriormente. Esta percepção é respaldada pelos resultados de numerosas pesquisas que atestam a ausência, ou baixa oferta das disciplinas de cunho ambiental nas grades curriculares dos cursos de graduação em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, ou ainda da sua oferta em caráter eletivo, dando ênfase ao tratamento de outras temáticas (ALEXANDRE, 2014; BERTINO et al., 2017; CALIXTO, 2006; GALVÃO; TENÓRIO, 2009; SOUZA, 2006; VARELO et al., 2011; WEIZEMANN, 2011).

No entanto, a realidade apresentada pela academia é dissonante da demanda retratada pelo mercado, visto que as organizações estão exigindo cada vez mais profissionais qualificados para atender às questões ambientais (MARQUES; SCHULTZ; HOFER, 2009). Tal perspectiva confirma que o profissional contábil precisa de maiores conhecimentos no tocante a relevância das demonstrações ambientais, a fim de propor soluções que permitam às empresas implantarem contínuas políticas que culminem em seu desenvolvimento de maneira sustentável (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2017).

Diante das considerações apontadas, o presente estudo repousará na investigação da temática ambiental na esfera contábil, tendo como principal objetivo à identificação das caraterísticas da disciplina de Contabilidade Ambiental, ofertadas nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior do Brasil.

Assim, apresenta-se a questão norteadora que deverá ser respondida ao final deste estudo: Quais as caraterísticas da disciplina de Contabilidade Ambiental, ofertadas nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior do Brasil?

A relevância desta pesquisa se dá pelo seu interesse aos acadêmicos, gestores e sociedade em geral, visto que os resultados apresentados podem servir de base para posteriores avaliações sobre a caracterização atual da disciplina em estudo. Acredita-se, também, que o estudo possa ocasionar futuras discussões sobre a formação dos profissionais da Contabilidade no que se refere às questões ambientais, permitindo à realização de comparações com o que a academia entrega para o mercado, e o que este tem exigido destes profissionais.

De modo estrutural, além da seção teórica que discutirá sobre os aspectos gerais da Contabilidade Ambiental, bem como da realidade de seu ensino nos cursos de Ciências Contábeis e da realidade apresentada por estudos anteriores, o artigo contemplará às seções referentes aos procedimentos metodológicos adotados para sua execução, análise dos resultados, e, por fim, as considerações finais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE A CONTABILIDADE AMBIENTAL

A Contabilidade é considerada uma ciência social aplicada, cuja evolução sempre esteve associada às mudanças e exigências da sociedade. Segundo Yusoff, Othman e Yatim (2014), o crescente interesse social, no tocante ao tratamento das questões ambientais, pressionou a Contabilidade Tradicional para que a mesma, através de suas funcionalidades, demonstrasse a responsabilidade ambiental das corporações. Estas questões, de maneira universal, impactaram diretamente na ascendência da Contabilidade Ambiental, sendo denominada por Seku e Somani (2014) como um novo ramo contábil.

Conforme Kraemer (2001), a Contabilidade Ambiental, surgiu por volta de 1970, devido à importância dada aos problemas ambientais pelas organizações. Contudo, Akdogan e Hicyorulmaz (2015) consideram que no início dos anos 60, já se observavam estudos que relacionavam o meio ambiente e a Contabilidade. Corroborando com os autores, Tinker e Gray (2003) declaram que, entre os anos de 1960 e 1970, tais estudos abordavam temas como a degradação, o desempenho e as intenções ambientais das empresas.

Embora os indícios de sua existência sejam observados em décadas anteriores, a Contabilidade Ambiental desponta como um novo ramo da Ciência Contábil apenas em fevereiro de 1998, quando se findou o “Relatório financeiro e contábil sobre passivo e custos ambientais” pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental das Nações Unidas constituído por especialistas em padrões Internacionais de Contabilidade e Relatórios (TINOCO; KRAEMER, 2011).

De acordo com Carvalho (2012), a Contabilidade Ambiental não dever ser compreendida como uma nova ciência, mas sim com uma nova tendência da Contabilidade Geral. Em consonância com a autora, Ferreira (2009, p. 59) afirma que a “Contabilidade Ambiental, não se refere a uma nova contabilidade, mas a um conjunto de informações que relatam adequadamente, em termos econômicos, as ações de uma entidade que modifiquem seu patrimônio”. Ribeiro (2006, p. 45) expressa da mesma forma que:

A contabilidade ambiental não é uma nova ciência, mas sim, uma segmentação da tradicional já, amplamente, conhecida. Adaptando o objetivo desta última, podendo definir como objetivo da contabilidade ambiental: identificar, mensurar e esclarecer os eventos e transações econômico-financeiros que estejam relacionados com a proteção, preservação e recuperação ambiental, ocorridos em um determinado período, visando a evidenciação da situação patrimonial de uma entidade. (RIBEIRO, 2006, p. 45).

Clemente, Kubaski e Taffarel (2011) concordam com os autores ao reconhecer que a Contabilidade Ambiental emprega as mesmas técnicas utilizadas pela Contabilidade Geral, para comunicar e registrar os mecanismos de proteção ao meio ambiente, por meio do reconhecimento de seus benefícios, custos e perdas. Neste âmbito, a Contabilidade Ambiental desperta, conforme Maciel et al. (2009, p. 143), com o objetivo de:

(…) divulgar informações que vão desde os investimentos realizados com a aquisição de bens permanentes referentes à proteção de potenciais danos ecológicos ou em despesas que tenham por finalidade a correção de efeitos ambientais do exercício em curso, obrigações essas que foram contraídas em prol do meio ambiente, incluindo medidas físicas, quantitativas e qualitativas, voltadas à sua recuperação e preservação. (MACIEL et al., 2009, p. 143).

Na mesma linha de pensamento, Pimenta (2009) e Santos et al. (2001), destacam que a Contabilidade Ambiental, além de ser considerada uma ferramenta de registro e controle que comunica os resultados oriundos das atividades das organizações que mantém relações diretas com a degradação do meio ambiente, ela também é enxergada como meio de proteção ambiental, visto que evidenciam dados econômicos e financeiros como guia para a reorientação das políticas já adotadas, bem como da adoção de novas medidas com o intuito de propiciar o desenvolvimento sustentável.

Sobre as contribuições para gestão, Santos et al. (2001, p. 90) discorrem que “a contabilidade pode auxiliar os administradores no gerenciamento empresarial do meio ambiente, pois ela é considerada, atualmente, uma das principais ferramentas de gestão de negócio”. Bertino et al. (2017) acrescentam que a evidenciação dos ativos, passivos, custos e despesas ambientais, presentes nas demonstrações contábeis, podem auxiliar a organização na projeção de futuros cenários. Souza e Ribeiro (2004) ainda complementam que o fornecimento das informações contábeis de cunho ambiental subsidia os stakeholders em suas decisões.

Poleto e Morozini (2008, p. 1) reconhecem a Contabilidade Ambiental como ferramenta de auxílio para tomada de decisões que tem como função:

(…) fornecer dados para a gestão e conservação do meio ambiente. A contabilidade ambiental, além da função de orientar a empresa nos registros dos gastos e investimentos com o meio ambiente, tem como premissa levar o empresariado a uma tomada de consciência no sentido de que os recursos naturais não são inesgotáveis, muito pelo contrário: alguns danos causados à natureza são irreversíveis. (POLETO; MOROZINI, 2008, p. 1).

No entanto, embora se reconheçam os benefícios da Contabilidade Ambiental para sociedade e gestão das instituições, nota-se, por estudos de Fiel et al. (2017), Maciel et al. (2009) e Martendal et al. (2013), que o profissional contábil brasileiro possui um baixo grau de conhecimento sobre a mesma. É o que também introduz Santos et al. (2001), quando elucida que as empresas brasileiras ainda apresentam um baixo nível de conhecimento quando se trata da aplicação da Contabilidade Ambiental como instrumento de auxílio à gestão ambiental.

Na realidade das empresas brasileiras, estudos de Santos et al. (2001), Cavalcanti et al. (2009), Faroni et al. (2010), Freitas e Oleiro (2011), comunicam que as instituições investigadas têm o costume de não separar os fatos e os eventos contábeis ambientais das contas tradicionais, ou ainda evidenciá-los nos relatórios de administração. Por este motivo, os demonstrativos acabando não sendo claros, impossibilitando os conhecimentos sobre a aplicabilidade da Contabilidade Ambiental.

A justificativa para este quadro pode ser atribuída aos aspectos legais, pois as próprias resoluções emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e os pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) almejam apenas orientar, sem tornar obrigatória, a escrituração contábil dos aspectos ambientais (FIEL et al., 2017). Outra explicação considerável, está relacionada ao tratamento da educação ambiental na formação dos contadores, já que diversos estudos comunicam um certo grau de deficiência quanto a oferta das disciplinas de cunho ambiental nas grades curriculares dos cursos de graduação em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras (ALEXANDRE, 2014; BERTINO et al., 2017; CALIXTO, 2006; GALVÃO; TENÓRIO, 2009; GAVA, 2012; SOUZA, 2006; VARELO et al., 2011; WEIZEMANN, 2011).

Motivações e dificuldades para consolidação da Contabilidade Ambiental no cenário ambiental, são apontados por Silva, Lepre e Silva (2015, p. 445) através do entendimento de que as organizações adotam a Contabilidade Ambiental para “estar em conformidade com a política social da empresa, atender exigências de licenciamento, regulamentos ambientais impostos por órgãos fiscalizadores e melhoria de imagem perante a sociedade. ”. As autoras ainda defendem que muitas organizações a enxergam pela ótica do alto custo e de sua complexidade, ignorando seus benefícios e a visão de que sua utilização representa um investimento para elas.

Em consonância com as ideias de Souza (2013), de que a presença das informações ambientais na escrituração contábil e a proteção do meio ambiente só se tornarão legítimos através da conscientização proveniente da educação ambiental, o estudo tratará nas duas próximas seções sobre o ensino da Contabilidade Ambiental, bem como o apontamento de estudos anteriores que tratam sobre esta temática na realidade dos cursos de graduação em Ciências Contábeis das IES brasileiras.

2.2 O ENSINO DA CONTABILIDADE AMBIENTAL

O ensino da Contabilidade no cenário brasileiro iniciou-se no início do século XX, considerando como marco a criação da Escola de Comércio Álvares Penteado, em 1949, em São Paulo (VARELO et al., 2011). Até os dias atuais, a Ciência Contábil sofreu algumas mudanças consequentes das demandas sociais, e, sobretudo, pelo cenário político econômico vivenciado no país (QUINTAL et al., 2013). Embora os autores reconheçam que o principal objetivo da Contabilidade permaneça inalterado, o artigo 8º da Resolução CNE/CES nº 10, de 16 de dezembro de 2004, institui a interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento, significando que o profissional não deve ser limitado à sua área de atuação.

Em relação a introdução da temática ambiental, pode-se mencionar a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988 e a proposta da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC), em 2009, como fatores impulsionadores do tratamento das questões ambientais associadas à Contabilidade. A CF/1988 discorre em seu capítulo VI, artigo 225, sobre o direito do indivíduo em desfrutar do meio ambiente ecologicamente equilibrado, e especificamente no inciso VI do mesmo artigo, narra-se sobre o papel do poder público em assegurar este direito por meio da introdução da educação ambiental em todos os níveis de ensino, o que inclui a abordagem no nível superior.

A FBC, em 2009, trata em seu documento intitulado “Proposta nacional de conteúdo para o curso de graduação em ciências contábeis” sobre a inclusão de uma cadeira que trata sobre tópicos da área ambiental denominada Responsabilidade Social. Segundo a proposta, a disciplina deveria integrar o conteúdo de formação profissional do graduando em Contabilidade, ser ofertada obrigatoriamente e possuir uma carga horária de 60 horas. Segundo a ementa da seguinte proposta, estes deveriam ser os conteúdos abordados na referida disciplina: Responsabilidade Social; Responsabilidade Ambiental; Projetos Sociais; Marketing Social; Empreendedorismo Social; Noções de Contabilidade Social; Balanço Social; Modelos de Balanço Social; Legislação Aplicável.

No entanto, os dois fatores mencionados não tornaram obrigatória a oferta das disciplinas de cunho ambiental nos cursos de Ciências Contábeis das IES brasileiras. O episódio exposto permite, segundo Galvão e Tenório (2009), às IES formularem suas grades curriculares considerando os temas que elas acreditam ser essenciais para que a formação de seus discentes atenda a demanda do mercado. Bertino et al. (2017) confirmam o entendimento anterior, acrescentando que cabe a cada IES a decisão de incluir, ou não, as disciplinas de caráter ambiental na grade curricular de seus cursos. Diante disso, a Contabilidade Ambiental ainda continua sendo um tema com pouca abordagem nas grades curriculares das Instituições de Ensino Superior brasileiras (QUINTAL et al., 2013).

Todavia, Barboza e Conceição (2010, p. 5) defendem que “é de extrema importância a inserção da contabilidade ambiental nas instituições de ensino superior, pois essas serão as portas para o surgimento de profissionais qualificados que desenvolverão nas empresas o que se espera dessa área da Contabilidade. ” Galvão e Tenório (2009, p. 8) também ponderam que:

O futuro de um profissional habilitado para conseguir atender todas as necessidades emergentes da sociedade atual depende da evolução dos conceitos e do aprendizado teórico e prático oferecidos pelas instituições, por isso a inserção da contabilidade ambiental deve ser tratada e estudada de forma séria, para que seja aplicada nas organizações de maneira eficaz e eficiente, de modo a registrar informações de caráter ambiental com exatidão, possibilitando, assim a correta tomada de decisão. (Galvão; Tenório, 2009, p. 8).

Com o mesmo pensamento, Vasconcelos e Vasconcelos Segundo (2011) se propuseram a desenvolver um plano de ensino para Contabilidade Ambiental no Brasil com o auxílio da literatura existente e acessada pelos mesmos. São alguns pontos citados na proposta dos autores: historiar de forma introdutória, com foco nos eventos e nos momentos para tratamento da questão ambiental; abordar o tema do PIB verde; apresentar e estudar os conceitos como ambientalmente correto, desenvolvimento sustentável, ecologia, ecossistema, meio ambiente, eco eficiência, eco justiça e outros; demonstrar a importância de um cuidadoso planejamento do plano de contas contábil que contemple as necessidades de controle das informações atinentes ao meio ambiente; abordar as formas de economia, conservação, manutenção, recuperação, reciclagem, reutilização e outros procedimentos correlatos que impactam os resultados.

Os autores ainda ponderaram a importância de se atentar para o estudo dos reflexos dos procedimentos adotados no refinamento dos registros das ocorrências contábeis na própria demonstração do balanço patrimonial e na demonstração de resultados, evidenciando a melhoria do detalhamento dos eventos. E ainda, solicitar a elaboração de trabalhos relatando e descrevendo o posicionamento dos países sobre a Contabilidade Ambiental; abordar de forma introdutória o conceito de demonstrações contábeis sociais com viés ambiental, como balanço social, demonstração de valor adicionado (DVA), indicadores de sustentabilidade.

Bertino et al. (2017) compreendem que a qualificação e o desenvolvimento das competências direcionadas às questões ambientais através da inclusão do ensino ambiental nos cursos de Contabilidade das IES brasileiras, auxiliam os contadores na produção de documentos mais específicos para atender a demanda de seus usuários. É o que reafirma Galvão e Tenório (2009), ao declarar que os profissionais da Contabilidade poderão reproduzir relatórios mais precisos para os seus futuros clientes e, por conseguinte, atenderá a demanda social, que se manterá bem informada sobre a ação das entidades no tocante a questão ambiental.

Ribeiro (2006) assume que a Contabilidade Ambiental é uma obrigação social e por isto deve ser tratada com maior importância, pois outras ciências e áreas do conhecimento estão empenhadas em contribuir com a temática da produção sustentável. Entretanto, observa-se, através de estudos que objetivaram identificar a importância e o conhecimento dos profissionais da Contabilidade em diferentes realidades brasileiras, que embora tenha-se consciência de sua relevância, grande parte dos mesmos ainda possuem baixo conhecimento nesta seara contábil (ANDRADE; SANTOS; CEZAR, 2015; FEIL et al., 2017; MACIEL et al., 2009; MARTENDAL et al., 2013; OLIVEIRA; PEREIRA, 2014; SANTOS, 2014; SILVA; RIOS, 2014; VERONEZE et al., 2015).

Por esta razão, a inclusão da Contabilidade Ambiental nos cursos de Ciências Contábeis da IES brasileiras precisa ser tratada com maior rigor, para que possa potencializar a formação do profissional de Ciências Contábeis com condições de atender às demandas sociais e de seus usuários (BERTINO et al. 2017). É o que corrobora Vanzo e Souza (2008), quando discorrem que estes cursos representam para os discentes, a fonte inicial de conhecimento sobre a Ciência Contábil e, por isso, além da missão de formá-los tecnicamente, eles são responsabilizados pelo desenvolvimento de futuros profissionais que exercem a sua cidadania conscientemente.

2.3 ESTUDOS ANTERIORES

Estudos que investigaram sobre o tratamento da Contabilidade Ambiental nos cursos de graduação em Ciências Contábeis das IES brasileiras têm natureza recente. Há pouco mais de dez anos, em 2006, Souza, em um dos primeiros estudos, investigou a existência da disciplina de Contabilidade Ambiental na matriz curricular do curso de graduação em Ciências Contábeis em 916 IES que ofertavam o curso de Ciências Contábil, identificando apenas 26 cursos ofertantes. A autora também identificou um posicionamento favorável dos coordenadores e professores para o ensino da Contabilidade Ambiental. Na busca pela evolução da temática em publicações de livro e periódicos, verificou-se que houve um aumento substancial das publicações relacionadas com a questão ambiental.

Calixto (2006), apresentou como objetivo de seu estudo a verificação do grau de inserção da disciplina Contabilidade Ambiental na matriz curricular dos cursos de graduação em Ciências Contábeis oferecidos por universidades brasileiras. A autora também buscou definir a importância e as dificuldades da inclusão da disciplina de acordo com os coordenadores dos cursos. Os resultados afirmaram que a disciplina era pouco ofertada nas universidades, embora fosse considerada importante pela maioria dos coordenadores para formação dos discentes.

Com objetivos afins, Galvão e Tenório (2009) investigaram a realidade das IES da cidade do Recife e constataram que a disciplina é oferecida por um número reduzido de Faculdades, apresentando como maior dificuldade para sua inclusão a adaptação da matriz curricular, visto que a mesma apresentou como foco o atendimento a uma série de temas emergentes relevantes para a formação do profissional da Contabilidade, a exemplo do conhecimentos na área de custos para propiciar uma gestão eficaz de custos nas organizações.

Varelo et al. (2011), buscaram, em sua pesquisa, analisar a oferta da disciplina Contabilidade Ambiental nos cursos de Graduação em Ciências Contábeis, através da análise curricular de uma amostra estratificadas de 270 IES brasileiras. Os achados indicaram, mais uma vez, a baixa oferta da disciplina “Contabilidade Ambiental”, sendo obrigatória na estrutura curricular das IES que a ofertam e presentes com maior frequência entre o quinto e o sexto semestre do curso.

Observando o cenário da disciplina de Contabilidade Ambiental das IES da área de Ciências Contábeis do estado do Rio Grande do Sul, Weizemann (2011), constatou, por meio da visualização dos currículos disponíveis nos sites institucionais, que poucas IES do estado têm a disciplina como obrigatória em sua grade, bem como também é baixa a oferta das mesmas nas universidades brasileiras.

Em um estudo de caso de uma Instituição de Ensino Superior, na Região Metropolitana da Baixada Santista, no estado de São Paulo, Alexandre (2014) buscou compreender como o curso de graduação de Ciências Contábeis incorpora a temática ambiental no seu currículo, chegando à conclusão de que a preocupação com a característica “compromisso para a transformação das relações sociedade-natureza”, foi notada apenas na disciplina de caráter geral Problemas do Homem Contemporâneo (PHC). O autor também observou junto aos professores e alunos que em outras disciplinas, a temática é tratada de maneira superficial.

No estudo mais recente sobre a temática em questão, Bertino et al. (2017) propuseram como objetivos identificar as principais caraterísticas das disciplinas de caráter ambiental dos cursos presenciais de Ciências Contábeis das 39 Universidades Federais brasileiras; inferir a percepção de acadêmicos sobre as matérias desta natureza para a formação do contador, bem como a necessidade dos profissionais de Contabilidade em atender às demandas emergentes no campo ambiental.

Os autores indicaram que muitos cursos não dão prioridade as matérias de cunho ambiental, e que quando ofertada a disciplina tinha caráter eletivo, priorizando outros temas. Quanto ao tratamento por regiões, Bertino et al. (2017) observaram que a região Norte (66%) é a que mais oferta as disciplinas na modalidade obrigatória, e que a Nordeste é a região, onde o cenário é mais ínfimo, representando apenas 10% das disciplinas de cunho ambiental oferecidas.

Os referidos estudos permitem afirmar que, embora os coordenadores, docentes e discentes dos cursos de Ciências Contábeis considerem a disciplina de Contabilidade Ambiental importante para a formação do profissional contábil, a realidade observada na oferta desta disciplina pelas IES brasileiras não convergem com o entendimento dos indivíduos, o que consolida a justificativa de que o baixo grau de conhecimento dos contadores é explicado pela deficiência da educação ambiental nos cursos de Contabilidade brasileiros.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 TIPIFICAÇÃO DA PESQUISA

Em conformidade com os objetivos deste estudo, a pesquisa classifica-se como descritiva, visto que seu propósito foi o de observar o cenário investigado e descrevê-lo, sem qualquer manipulação dos dados e juízo de valor, o que é corroborado por Prodanov e Freitas (2013, p. 52) quando assumem que “tal pesquisa observa, registra, analisa e ordena dados, sem manipulá-los, isto é, sem interferência do pesquisador. ”.

Quanto aos procedimentos técnicos da pesquisa, foi realizada uma pesquisa documental, que conforme Marconi e Lakatos (2010), é caracterizada pela utilização de fontes primárias ou secundárias, sendo estes documentos escritos ou não. Neste artigo foram adotados como fontes secundárias as grades curriculares, ementas e projetos pedagógicos dos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das IES brasileiras.

A abordagem do problema empregada neste trabalho foi quantitativa. Nesta abordagem, os dados, opiniões, e informações são traduzidos em números, utilizando-se de recursos e técnicas estatísticas (CRESWELL, 2010). No artigo aplicou-se a técnica da estatística descritiva para apresentar as caraterísticas da disciplina de Contabilidade Ambiental, ofertadas nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior do Brasil.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo do presente artigo compreendeu os cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis ofertados por IES brasileiras, no segundo semestre de 2018, que apresentaram melhores conceitos no ENADE. O Conceito ENADE (CE) é um indicador de qualidade que avalia os cursos através dos desempenhos dos estudantes. O cálculo e a divulgação do CE ocorrem anualmente para os cursos que possuem pelo menos dois estudantes concluintes participantes do Exame (INEP, 2018). Considerou-se este indicador porque ele auxilia como parâmetro na medição da qualidade do ensino das IES.

De acordo com os dados coletados no portal e-MEC, portal de cadastro e base de dados oficial e única de informações relativas às Instituições e Cursos de Educação Superior, obteve-se um total de 1.838 cursos de Contabilidade ativos, ofertados no segundo semestre de 2018 pelas IES brasileiras, considerando as instituições públicas e privadas, nas modalidades presencial e à distância. Na última edição do ENADE, em 2015, 1.044 cursos da área foram avaliados, deste total 231 obtiveram notas 4 e 5 no “Conceito ENADE”, quantitativo este que representou o universo desta pesquisa.

Para definição de uma amostra representativa, foi realizado um cálculo estatístico para populações finitas, onde considerou-se um nível de significância de 95% e erro amostral de 5%, obtendo-se uma amostra de 145 cursos. Após esta quantificação, a amostra foi estratificada por região e distribuídas proporcionalmente conforme o total de cursos de componentes da população (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição, Frequência Relativa e Amostragem Estratificada dos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Regiões Brasileiras Total de Cursos com Conceitos 4 e 5 no ENADE Frequência Relativa Amostra dos Cursos com Conceitos 4 e 5 no ENADE
Norte 12 5% 7
Nordeste 30 13% 19
Centro-Oeste 18 8% 12
Sudeste 114 49% 71
Sul 57 25% 36
Total 231 100% 145

Fonte: ENADE, 2015.

 Como ponto de partida para compor os cursos representantes desta amostra, realizou-se um sorteio eletrônico. Contudo nem todos os cursos dispunham os documentos necessários para análises nos sites institucionais das respectivas instituições, o que caracterizou a adoção da amostragem não probabilística por julgamento, visto que não foi substituído, dentro dos cursos sorteados, outros para compor a amostra do estudo por não disponibilizarem as ementas, matrizes e/ou projeto pedagógico dos mesmos.

3.3 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Com o objetivo de caracterizar a disciplina de Contabilidade Ambiental, ofertadas nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das IES brasileiras, foi realizada uma desk research com base nos dados presentes nas grades curriculares, ementas e projetos pedagógicos dos mesmos. A partir destes, foi elaborado um protocolo de observação, composto pelos seguintes atributos: natureza da IES, oferta, semestre da oferta, natureza, carga horária, formação e denominação da disciplina, conteúdos mais abordados e as bibliografias mais citadas.

Com a execução da coleta dos documentos mencionados, observou-se que um número considerável das IES (67%), que ofertam os cursos, não disponibiliza todos eles em seus sites. Diante disto, contatou-se, via e-mail, as coordenações dos cursos de Ciências Contábeis das IES solicitando-os em um prazo limite de até 10 dias. Obteve-se retorno de apenas 6 delas, entretanto apenas 2 enviaram as documentações requeridas, representando uma taxa de resposta de 2%. Por esta razão, a amostra final alcançada para a realização deste estudo resultou em 48 cursos, o que corresponde a 33% da amostra inicial.

Posteriormente, foi executada a tabulação dos dados obtidos, através do software Microsoft Excel. A apresentação dos dados foi conduzida através da estatística descritiva que, de acordo com Barbosa e Milone (2004, p. 5), “coleta, critica, organiza convenientemente e resume em tabelas, figuras ou dados ou informes características e relativos aos fenômenos estudados”.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Em consonância com o protocolo de observação realizado, ressalta-se mais uma vez, um número de 48 cursos de contabilidade integrantes da amostra pesquisada, cuja as principais características identificadas são apresentadas nos tópicos a seguir.

4.1 NATUREZA DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

A amostra da pesquisa compreendeu os 48 cursos de Ciências Contábeis das IES pública e privada que participaram da última edição do ENADE, em 2015, e obtiveram notas 4 e 5. Conforme a Tabela 2, deste total investigado, observa-se que 65% IES são de natureza pública, enquanto que 35% representou as IES privadas do país.

Tabela 2 – Natureza das Instituições de Ensino Superior

Regiões Brasileiras Pública % Privada % Total % Total
Norte 3 6% 0 0% 3 6%
Nordeste 7 15% 2 4% 9 19%
Centro-Oeste 3 6% 2 4% 5 10%
Sudeste 11 23% 7 15% 18 38%
Sul 7 15% 6 12% 13 27%
Total 31 65% 17 35% 48 100%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

4.2 OFERTA DA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE AMBIENTAL

A fim de identificar se a disciplina de Contabilidade Ambiental era ofertada, analisaram-se as grades curriculares, ementas e projetos pedagógicos dos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis representantes da amostra desta pesquisa. O levantamento permitiu a construção da Tabela 3, que apresenta, por regiões, o quantitativo relativo e absoluto da oferta, ou não, da disciplina de Contabilidade Ambiental.

Tabela 3 – Oferta da Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Regiões Brasileiras Sim % Não %
Norte 3 6% 0 0%
Nordeste 6 13% 3 6%
Centro-Oeste 3 6% 2 4%
Sudeste 11 22% 7 15%
Sul 6 13% 7 15%
Total 29 60% 19 40%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

De acordo com os dados expostos, nota-se que, quanto à oferta, na realidade dos 48 cursos investigados, a maioria (60%) apresenta em sua matriz curricular a disciplina de Contabilidade Ambiental, enquanto que 40%, representado por um número de 19 cursos, não ofertam a mesma. Na análise por região, proporcionalmente ao número de cursos que compõe a amostra, a região Norte é a que mais oferta a disciplina, já que todos os cursos analisados sinalizaram a existência da mesma em sua grade curricular.

As regiões Nordeste (67%), Sudeste (61%) e Centro-Oeste (60%), também ofertam, com maior ocorrência a disciplina de Contabilidade Ambiental, quando comparados aos achados do total de cursos por região não ofertantes. A região Sul foi a única que, proporcionalmente, ofertava menos disciplinas, em comparação aos que não ofertam, visto que de um total de 13 cursos verificados, 7 não ofertavam a disciplina, representando um percentual de 54%.

Ao examinar os documentos, observou-se que 48% dos cursos de contabilidade, que não apresentaram em seu currículo a disciplina de Contabilidade Ambiental, possuíam em sua grade outras disciplinas de caráter ambiental, responsáveis pela disseminação do conhecimento e da educação ambiental na área contábil. As disciplinas observadas, tinham as seguintes denominações: Educação Ambiental; Direito Ambiental; Gestão e Sustentabilidade; Gestão Sustentável; Meio Ambiente e Sustentabilidade; Ética Profissional; Tópicos Especiais; e Tópicos Contemporâneos em Contabilidade.

Os achados, nesta realidade investigada, foram distintos do cenário identificado pelos estudos de Alexandre (2014), Bertino et al. (2017), Calixto (2006), Galvão e Tenório (2009), Gava (2012), Souza et al. (2006), Varelo et al. (2011), e Weizemann (2011), que identificaram um certo grau de deficiência quanto a oferta das disciplinas de cunho ambiental nas grades curriculares dos cursos de graduação em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras.

4.3 NATUREZA, CARGA HORÁRIA E FORMAÇÃO DA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE AMBIENTAL

Nesta seção de análise, foram identificadas as seguintes características relativas à disciplina de Contabilidade Ambiental: a natureza (eletiva ou obrigatória), a carga horária e a formação (teórica, prática ou ambas). Os dados apresentados na Tabela 4, utilizaram como base as 29 disciplinas que foram ofertadas pelos cursos de Ciências Contábeis do estudo.

Quanto à natureza, identificou-se que a maioria (62%) das disciplinas tem caráter obrigatório, frente a 32% que tem natureza eletiva. Estes achados consolidam que além de estarem presentes na maioria dos cursos examinados, as mesmas são de fato ofertadas aos discentes. O entendimento é corroborado e confirmado pelos achados de Varelo et al. (2011) ao afirmarem que quando a importância da disciplina é realmente reconhecida, ela é ofertada como obrigatória nos currículos dos cursos de contabilidade, devido a cobrança no mercado de trabalho por profissionais com conhecimentos e visões amplas.

Na realidade estratificada por regiões, apenas a região Centro-Oeste possui mais disciplinas eletivas que as obrigatórias, já que de 3 disciplinas, apenas 1 é ofertada obrigatoriamente no currículo.

Tabela 4 – Natureza, Carga horária e Formação da Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Características Descrição Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total %
Natureza Eletiva 1 3 2 5 0 11 38%
Obrigatória 2 3 1 6 6 18 62%
Carga Horária 30 horas 0 0 0 2 0 2 7%
32 horas 0 0 0 1 0 1 3%
36 horas 0 0 0 0 1 1 3%
40 horas 0 0 0 0 1 1 3%
60 horas 3 5 1 8 1 18 63%
68 horas 0 1 1 0 3 5 18%
72 horas 0 0 1 0 0 1 3%
Formação Teórica 3 6 3 11 6 29 100%
Prática 0 0 0 0 0 0 0%
Teórica/Prática 0 0 0 0 0 0 0%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Quanto ao levantamento da carga horária, observou-se a existências de 7 diferentes tipos adotados para ofertar a disciplina, que foram 30, 32, 36, 40, 60, 68 e 72 horas. Destas, a maioria (63%) apresentou carga horária de 60 horas, seguida pela carga de 68 horas (18%), e 30 horas (7%), representadas, respectivamente por um número de 18, 5 e 2 disciplinas. No que concerne à formação das disciplinas ofertadas, verificou-se que todas elas são teóricas.

4.4 SEMESTRE DE OFERTA DA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE AMBIENTAL

Analisando-se o semestre em que a disciplina é ofertada, nos casos em que a mesma tem natureza obrigatória, obteve-se os dados exibidos na Tabela 5.

Tabela 5 – Semestre de Oferta da Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Regiões Brasileiras 1º e 2º semestres 3º e 4º semestres 5º e 6º semestres 7º e 8º semestres 9º e 10º semestres
Norte 0 0 0 1 1
Nordeste 0 0 0 3 0
Centro-Oeste 0 1 0 0 0
Sudeste 0 1 3 1 1
Sul 1 1 3 0 1
Total 1 3 6 5 3
% 5% 17% 33% 28% 17%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Verificou-se que a disciplina é ofertada com maior incidência (33%) na faixa entre o 5º e o 6º semestres, compreendendo o ano referente a metade dos cursos. As faixas entre o 7º e 8º semestres aparecem como as segundas mais incidentes (28%), seguidas igualmente pelas faixas entre o 3º e 4º semestres (17%) e 9º e 10º semestres (17%). Ressalta-se que apenas as faixas entre o 1º e o 2º semestres, não apresentam significativa presença da disciplina de Contabilidade Ambiental. Os achados são semelhantes aos levantados por Varelo et al. (2011), que identificaram uma maior oferta das disciplinas nas faixas entre o 5º e o 6º semestres e o 7º e 8º semestres.

4.5 DENOMINAÇÃO DA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE AMBIENTAL

A Tabela 6 apresenta as denominações das 29 disciplinas de Contabilidade Ambiental ofertadas nos cursos de Ciências Contábeis examinados. Do total investigado, obteve-se um número de treze nomes diferentes. Os nomes atribuídos às disciplinas são muito semelhantes, e envolvem, em sua maioria, as palavras “Contabilidade”, “Ambiental”, “Social” e “Responsabilidade”.

Tabela 6 – Denominação da Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Denominações Frequência Denominações Frequência
Contabilidade Ambiental 7 Contabilidade Ambiental e Social 1
Contabilidade Social e Ambiental 6 Contabilidade Geral III 1
Contabilidade Ambiental e Responsabilidade Contabilidade Socioambiental 6 Controladoria Ambiental 1
Contabilidade Ambiental e Balanço Social 1 Responsabilidade Social 1
Balanço Social 1 Ética Profissional e Responsabilidade Social 1
Contabilidade Ambiental e Responsabilidade Social 1 Informações Socioambientais 1
Contabilidade Ambiental e Responsabilidade Social e Ambiental 1

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

As denominações observadas são semelhantes às identificadas por Bertino et al. (2017), que explicam que as similaridades encontradas nos nomes das disciplinas podem comunicar que os conteúdos abordados sejam convergentes. Para esta constatação, foram analisados quais os conteúdos mais abordados e as bibliografias mais citadas, nas duas próximas seções de análise.

4.6 CONTEÚDOS MAIS ABORDADOS NA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE AMBIENTAL

A fim de identificar se as denominações semelhantes comunicam que os assuntos abordados sejam convergentes entre as 29 disciplinas dos cursos examinados, apresentam-se, no Quadro 1, os conteúdos que apareceram com maior frequência quando analisadas as suas respectivas ementas.

Quadro 1 – Conteúdos mais Abordados na Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Conteúdos %
Noções de Contabilidade Ambiental: conceito, finalidade, pesquisas na área de contabilidade ambiental, tipos de contabilidade ambiental e seus objetivos; Demonstrações Contábeis e Evidenciação dos gastos ambientais; Relatórios e Indicadores Ambientais. 76%
Noções de Contabilidade Social: conceitos básicos; Demonstração do Valor Adicionado (DVA); Balanço Social; Indicadores Sociais. 69%
Conceitos contábeis de caráter ambiental: ativo ambiental; passivo ambiental; custo ambiental; receita ambiental; perda ambiental; gasto ambiental. 66%
Responsabilidade Social: Evolução histórica, conceito e importância; Distinção entre responsabilidade social e filantropia; Responsabilidade social nas empresas; Gestão Social. 66%
Responsabilidade Ambiental: Conceitos; Gestão ambiental e os Sistema de gestão ambiental (SGA); Sustentabilidade empresarial; Meio ambiente como oportunidade de negócios; Logística Reversa; Crédito de Carbono; Educação Ambiental e temas emergentes. 59%
Legislação e Modelos aplicáveis: normas nacionais e internacionais sobre o tema; modelo GRI, IBASE, ETHOS. 41%
Marketing e Empreendedorismo social: conceitos e importância. 17%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

Os conteúdos que foram mais abordados com os alunos, conforme as ementas, estiveram relacionados às “Noções de Contabilidade Ambiental” (76%). Com dados significativos também apareceram os assuntos associados a “Noções de Contabilidade Social” (69%), “Conceitos Contábeis de Caráter Ambiental” (66%) e Responsabilidade Social (66%).  Os dados, equivalentes aos elucidados nos estudos de Vaga (2011) e Bertino et al. (2017), revelaram que os conteúdos apresentados nas ementas, e possivelmente trabalhados em sala de aula, tem grande relevância para a formação dos futuros profissionais contábeis, que terão conhecimento neste campo da área contábil.

Os assuntos “Responsabilidade Ambiental”, “Legislação e Modelos Aplicáveis”, e “Marketing e Empreendedorismo Social” foram conteúdos abordados com frequência nas ementas das disciplinas. Diante destes dados, pode-se dizer que as semelhanças existentes nas denominações das disciplinas comunicam as proximidades entre os conteúdos abordados. As observações permitem salientar que, em sua maioria, os conteúdos seguem as propostas estabelecidas pela Fundação Brasileira de Contabilidade (2009), na disciplina de Responsabilidade Social, e de Vasconcelos e Vasconcelos Segundo (2011), na disciplina de Contabilidade Ambiental.

4.7 BIBLIOGRAFIAS MAIS CITADAS NA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE AMBIENTAL

O levantamento das bibliografias mais citadas justifica-se pelo objetivo de identificar se os conteúdos mais frequentes, também estão sendo abordados com o auxílio de bibliografias semelhantes, conforme as ementas das disciplinas. Vale destacar, que dos 29 documentos, apenas 23 continham em seu texto as bibliografias adotadas na disciplina.

Quadro 2 – Bibliografias mais Citadas na Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Autores Livro %
FERREIRA, A. C. S. Contabilidade Ambiental: uma Informação para o Desenvolvimento Sustentável 83%
TINOCO, J. E. P.; KRAEMER, M.E.P. Contabilidade e Gestão ambiental 65%
PAIVA, P. R. Contabilidade Ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com transparência focada na prevenção. 48%
RIBEIRO; M. S. Contabilidade Ambiental 48%
BRAGA, C. Contabilidade Ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade 26%
KROETZ, C. E. S. Balanço Social: Teoria e Prática 13%
COSTA, C. A. G. Contabilidade Ambiental: Mensuração, Evidenciação e Transparência 13%
SILVA, C. A. T.; FREIRE, F. S. Balanço Social: Teoria e Prática 13%
TINOCO, J. E. P. Balanço Social 13%
TINOCO, J. E. P. Balanço Social e o Relatório de Sustentabilidade 13%
VELLANI, C. L. Contabilidade e Responsabilidade social: Integrando Desempenho Econômico, Social E Ecológico 13%

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

 De acordo com os dados presentes no Quadro 2, notou-se uma expressiva semelhança entre as bibliografias adotadas, já que as obras “Contabilidade Ambiental: uma Informação para o Desenvolvimento Sustentável”, de Ferreira, e “Contabilidade e Gestão ambiental”, de Tinoco e Kraemer, aparecem na maioria das ementas, com percentuais de 83% e 65% respectivamente. Os livros “Contabilidade Ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com transparência focada na prevenção. ”, de Paiva, e “Contabilidade Ambiental”, de Ribeiro estão representativamente presentes em 48% das ementas analisadas.

Ao analisar as bibliografias, também se encontrou, em seis dos 23 documentos, outros tipos de literaturas como artigos em anais de eventos e periódicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado. As literaturas estão elencadas no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Literaturas recomendadas na Disciplina de Contabilidade Ambiental pelos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis no Brasil

Autores Título Tipo de Literatura Meio de Publicação Ano de Publicação
RIBEIRO, M. S. Custeio das atividades de natureza ambiental Tese de doutorado Repositório FEA-USP 1998
RIBEIRO, M. S Contabilidade e meio ambiente Dissertação de mestrado Repositório FEA-USP 1992
BERGAMINI JR, S. Avaliação contábil do risco ambiental Artigo Revista do BNDES 2000
CARVALHO, N.; RIBEIRO, M. S. A posição das instituições financeiras frente ao problema das agressões ecológicas Artigo Anais da IX Semana de Contabilidade do Banco Central do Brasil 2000
NOSSA, V. Disclosure ambiental: uma análise do conteúdo dos relatórios ambientais de empresas do setor de papel e celulose em nível internacional Tese de doutorado Repositório FEA-USP 2002
NOSSA, V.; TEIXEIRA, A.; PIMENTEL, V. D. O tratamento contábil para os gastos com reflorestamento de áreas degradadas ambientalmente: um estudo exploratório Artigo Anais do Congresso USP de Controladoria e Finanças 2003
RIBEIRO, M S.; LISBOA, L. P. Passivo Ambiental Artigo Anais do XVI Congresso Brasileiro de Contabilidade 2000
GOMES, S. M. et al. Proposta para o Ensino da Controladoria Ambiental nos cursos de Graduação de Ciências Contábeis nas IES brasileiras Artigo Revista de Gestão Social e Ambiental 2012
CINTRA, Y. C. A integração da sustentabilidade às práticas de controle gerencial das empresas no Brasil Tese de doutorado Repositório FEA-USP 2011

Fonte: Dados da Pesquisa, 2018.

É importante ressaltar que o artigo de Bergamini Júnior (2000) esteve presente em duas ementas analisadas. Notou-se também que a autora Ribeiro, aparece em cinco literaturas mencionadas no quadro acima, seguido pelos trabalhos de Nossa, que aparece duas vezes nos documentos. Bertino et al. (2017) declaram que ao incluir outros tipos de literatura, o campo de conhecimento no qual o aluno pode aprofundar-se é ampliado, impulsionando a compreensão de assuntos em outras realidades conceituais e práticas, diferente das comumente utilizadas pelas bibliografias tradicionais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A globalização tem impulsionado o compartilhamento informacional de maneira veloz, neste âmbito se enquadram a conscientização da sociedade na busca de maiores exigências quanto à utilização dos recursos naturais necessários para manutenção das operações organizacionais. A Contabilidade é uma ciência reconhecida como instrumento de informação e registro dos procedimentos e métodos adotados pelas empresas, o que inclui seu papel de comunicar, através de suas ferramentas, como as entidades estão agindo em prol do meio ambiente. Contudo, tem-se observado que os contadores possuem um baixo grau de conhecimento e falta de preparo sobre a Contabilidade Ambiental.

Tomando como ponto de partida, o entendimento de que a presença das informações ambientais na escrituração contábil e a proteção do meio ambiente só se tornarão legítimos através da conscientização proveniente da educação ambiental, buscou-se, neste estudo, investigar a abordagem da temática ambiental na esfera contábil, tendo como principal objetivo à identificação das caraterísticas da disciplina de Contabilidade Ambiental, ofertadas nos cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior do Brasil.

Para tal fim, analisaram-se as ementas, grades curriculares e/ou projetos pedagógicos de uma amostra estratificada por regiões dos 48 cursos de Ciências Contábeis das IES públicas e privadas que participaram da última edição do ENADE, em 2015, e obtiveram notas 4 e 5. A análise buscou identificar as seguintes características: natureza da IES, oferta, semestre da oferta, natureza, carga horária, formação e denominação da disciplina, conteúdos mais abordados e as bibliografias mais citadas.

Os resultados encontrados sinalizaram que a maioria das Instituições de Ensino Superior são de natureza pública (65%). Quanto à oferta da disciplina, identificou-se que, na amostra estudada, a maioria dos cursos ofertam a disciplina “Contabilidade Ambiental” em suas respectivas estruturas curriculares, presente em 60% dos cursos. Ressalta-se ainda que a região Norte é a que mais oferta a disciplina, já que todos os cursos analisados sinalizaram a existência da mesma em sua grade curricular. Já a região Sul foi a única que, proporcionalmente, ofertava menos disciplinas, em comparação aos que não ofertam (54%).

Os dados também evidenciaram que 48% dos cursos de contabilidade, que não apresentam em seu currículo a disciplina de Contabilidade Ambiental, possuem em sua grade outras disciplinas de caráter ambiental, responsáveis pela disseminação do conhecimento e da educação ambiental na área contábil. Foram elas: Educação Ambiental; Direito Ambiental; Gestão e Sustentabilidade; Gestão Sustentável; Meio Ambiente e Sustentabilidade; Ética Profissional; Tópicos Especiais; e Tópicos Contemporâneos em Contabilidade.

Referente à natureza, carga horária e formação da disciplina de Contabilidade Ambiental, identificou-se que as disciplinas possuem caráter obrigatório, formação teórica, carga horária de 60h, teórica e são ofertadas entre o 5º e 6º período, caracterizando o perfil nacional da oferta da mesma, de acordo com os resultados observados.

No tocante as denominações, obteve-se um número de treze nomes diferentes. Os nomes atribuídos às disciplinas são muito semelhantes, e envolvem, em sua maioria, as palavras “Contabilidade”, “Ambiental”, “Social” e “Responsabilidade”. Os conteúdos mais frequentes nas ementas foram “Responsabilidade Ambiental”, “Legislação e Modelos Aplicáveis”, e “Marketing e Empreendedorismo Social”, comunicando que as semelhanças existentes nas denominações das disciplinas refletem na proximidade entre os conteúdos abordados.

Também se constatou que os assuntos mais frequentes estão em consonância com as propostas estabelecidas pela Fundação Brasileira de Contabilidade (2009) e de Vasconcelos e Vasconcelos Segundo (2011). Quanto às bibliografias mais citadas, percebeu-se significativa similaridade entre os cursos, visto que as obras “Contabilidade Ambiental: uma Informação para o Desenvolvimento Sustentável”, de Ferreira, e “Contabilidade e Gestão ambiental”, de Tinoco e Kraemer, aparecem na maioria das ementas, com percentuais de 83% e 65% respectivamente. É importante destacar que além dos livros, também se encontrou, nas ementas dos cursos, outros tipos de literaturas como artigos em anais de eventos e periódicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

A partir dos achados deste estudo, na realidade amostra examinada, nota-se um cenário de mudanças quanto ao tratamento da Contabilidade Ambiental nos cursos de Ciências Contábeis das IES brasileiras. Esta percepção denota que a Contabilidade, como ciência social, está caminhando para um quadro consoante às preocupações sociais, no que tange aos cuidados com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

Como limitação desta pesquisa, compreende-se o tamanho da amostra e análise dos documentos, como as ementas, grades curriculares e/ou projetos pedagógicos. Sugere-se a ampliação da amostra investigada, bem como a aplicação do estudo com os docentes que ministram, ou ministraram a disciplina de Contabilidade Ambiental, e os discentes que cursam, ou cursavam a mesma, a fim de identificar se a realidade prática conduz com a presente nos documentos prospectados.

REFERÊNCIAS

ADAMS, Carol A; HILL, Wan-Ying; ROBERTS, Clare B. Corporate reporting pratices in Western Europe; legitimating corporate behavior? The British Accounting Review, v. 30, n. 1, p. 1-21, 1998.

AKDOĞAN, Habib; HICYORULMAZ, Ela. The Importance of the Sustainability of Environmental Accounting. Journal of Economic Development, Environment and People, v. 4, n. 2, p. 6-20, 2015.

ALEXANDRE, Elimar Rodrigues. A temática ambiental no curso de graduação de ciências contábeis: um enfoque sobre a ambientalização curricular. Dissertação de Mestrado. Santos: Universidade Católica de Santos, 2014.

ANDRADE, Valéria Apolinário; SANTOS, Rafael Silva; CEZAR, Jesuína Figueira. Contabilidade Ambiental: Nível de Conhecimento dos Profissionais da Área Contábil de Itaperuna. Revista Transformar, v. 32, n. 7, p. 325-341, 2015.

BARBOSA, Dalva Regina Ribeiro; MILONE, Giuseppe. Estatística aplicada ao turismo e hotelaria: Thomson. 2004.

BARBOZA, Elizangela Maria; CONCEIÇÃO, Luís Ricardo dos Santos. Perspectivas das Instituições de Ensino Superior de São Luís acerca da Contabilidade Ambiental. Revista Razão Contábil, São Luís, v. 1, n. 1, jan./jun. 2010.

BERTINO, Rafaela Maria José et al. Contabilidade Ambiental: Uma Análise das Disciplinas Ofertadas na Universidades Federais Brasileiras. In: Conferência Sulamericana de Contabilidade Ambiental de Valores Humanos e Consumo Sustentável, 5., 2017. Brasília, DF. Anais… UnB, 2017.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 30 set. 2018.

CABRAL, Ana Carolina Araújo; FERREIRA, Araceli Cristina de Souza; QUEIROZ, Juliana Molina. Contabilidade e Sustentabilidade: O Caso da Samarco S.A. In: Conferência Sulamericana de Contabilidade Ambiental de Valores Humanos e Consumo Sustentável, 5., 2017. Brasília, DF. Anais… UnB, 2017.

CALIXTO, Laura. O ensino da contabilidade ambiental nas universidades brasileiras: um estudo exploratório. Revista Universo Contábil, v. 2, n. 3, p. 65-78, 2006.

CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2012.

CAVALCANTI, Gabriella Holanda Cavalcanti et al. Divulgação de Informações contábeis ambientais das empresas brasileiras do setor de utilidade pública: Um estudo sobre o grau de aderência às Normas Brasileiras de Contabilidade. Sociedade, Contabilidade e Gestão, v. 4, n. 2, p. 104-118, 2009.

CHO, Charles H.; PATTEN, Dennis M. Green accounting: Reflections from a CSR and environmental disclosure perspective. Critical Perspectives on Accounting, v. 24, n. 6, p. 443-447, 2013.

CLEMENTE, Ademir; KUBASKI, Débora Kubaski; TAFFAREL, Marinês. Contabilidade Ambiental: uma análise na indústria de papel e celulose do Estado do Paraná. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 18, nov. 2011, Rio de Janeiro. Anais… São Paulo: CBC, 2011.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Resolução CNE/CES 10/ 2004. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces10_04.pdf> Acesso em: 30 set. 2018.

CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto; tradução Magda Lopes. 3. ed. – Porto Alegre: ARTMED, 2010.

E-MEC. Instituições de Educação Superior e Cursos Cadastrados. Disponível em: <http://emec.mec.gov.br/emec/nova#avancada> Acesso em: 21 de set. 2018.

FARONI, Walmer et al. A contabilidade ambiental em empresas certificadas pelas normas ISO 14001 na região metropolitana de Belo Horizonte-MG. Revista Árvore, v. 34, n. 6, p. 1119-1128, 2010.

FEIL, Alexandre André et al. Análise do nível de conhecimento do profissional contábil acerca da contabilidade ambiental e suas variáveis intervenientes. Revista Ambiente Contábil, v. 9, n. 1, p. 223-245, 2017.

FERREIRA, Aracéli Cristina de Sousa. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento sustentável. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

FREITAS, Débora Pool da Silva; OLEIRO, Walter Nunes. Contabilidade ambiental: A evidenciação nas demonstrações financeiras das empresas listadas na BM&FBOVESPA. Revista REUNIR, v. 1, n. 2, p. 65-81, 2011.

FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE CONTABILIDADE. Proposta nacional de conteúdo para o curso de graduação em ciências contábeis. 2 ed. rev.  Brasília: Fundação Brasileira de Contabilidade, 2009.

GALVÃO, Cícero Carlos Alves; TENORIO, José Nelson Barbosa. Um Estudo Sobre o Ensino da Contabilidade Ambiental nos Cursos de Graduação em Ciências Contábeis. In: Congresso Brasileiro de Custos-ABC, 16., 2009. Fortaleza, CE. Anais… ABC, 2009.

GAVA, Valéria Martins. O Ensino da Contabilidade Socioambiental nas Universidades Federais do Brasil e nas Instituições do Sistema ACAFE. Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Contábeis. Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Criciúma – SC, 2011.

GONÇALVES, Luiz Henrique Toledo.; OLIVEIRA, Johnny Jorge de. Importância da contabilidade ambiental na formação do profissional de Ciências Contábeis. In: Congresso UFSC de Controladoria e Finanças, 7., 2017. Florianópolis, SC. Anais… UFSC, 2017.

INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. ENADE. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/enade>. Acesso em: 06 out. 2018.

KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade ambiental: o passaporte para a competitividade. CRCSC & Você, v. 1, n.1, p. 25-40, 2001.

LACAZ, Francisco Antonio de Castro; PORTO, Marcelo Firpo de Sousa; PINHEIRO, Tarcísio Márcio Magalhães. Tragédias brasileiras contemporâneas: o caso do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão/Samarco. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 42, e. 9, 2017.

MACIEL, Carolina Veloso et al. Contabilidade ambiental: um estudo exploratório sobre o conhecimento dos profissionais de contabilidade. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 6, n. 11, p. 137-158, 2009.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARQUES, Tatiane de Oliveira; SCHULTZ, Charles Albino; HOFER, Elza. Conhecimento sobre práticas da contabilidade ambiental: uma análise junto aos alunos de Ciências Contábeis de duas instituições de ensino superior. In: Congresso Brasileiro de Custos, 16., 2009, Fortaleza, CE. Anais… CBC, 2009.

MARTENDAL, Alair et al. Contabilidade Ambiental: nível de conhecimento dos profissionais contábeis da grande Florianópolis. Revista Enfoque Reflexão Contábil, v. 32, n. 1, p. 29-47, 2013.

NIKOLAOU, E. Ioannis; EVANGELINOS, Kostantinos I. Towards a generally accepted CSR accounting framework: A literature mapping. World Review of Entrepreneurship, Management and Sustainable Development, v. 5, n. 1, p. 26–41, 2009.

OLIVEIRA, Reginaldo Aparecido de.; PEREIRA, Luís Fernando. Contabilidade Ambiental: pesquisa sobre a importância do tema para o setor contábil. Revista de Contabilidade Dom Alberto, v. 1, n. 6, p. 132-147, 2014.

PIMENTA, Clóris Patrícia. O papel da contabilidade ambiental, a importância da conscientização das empresas para um desenvolvimento sustentável, estudo de caso da empresa Ypê. In: Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar, 5., 2009. Anais… Unicesumar, 2009.

POLETO, João Batista; MOROZINI, João Francisco. A contabilidade ambiental e a evidenciação dos gastos da empresa. UNICENTRO – Revista Eletrônica Lato Sensu, Ed. 5, p.8, 2008.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani César de. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2ª ed. Novo Hamburgo: Editora Feevale, 2013.

QUINTAL, Renato Santiago et al. A inserção da Contabilidade Ambiental no contexto universitário brasileiro de ciência, tecnologia e inovação. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v. 6, n. 3, p. 533-551, 2013.

RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade Ambiental. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

RODRIGUES, Ana Tércia Lopes et al. Proposta nacional de conteúdo para o curso de graduação em ciências contábeis. Brasília: Fundação Brasileira de Contabilidade, 2009.

SANTOS, Adalto de Oliveira et al. Contabilidade ambiental: um estudo sobre sua aplicabilidade em empresas brasileiras. Revista Contabilidade & Finanças, v. 12, n. 27, p. 89-99, 2001.

SANTOS, Heloisa Lizzi dos. Contabilidade ambiental: percepção dos profissionais contábeis da cidade de alta floresta. Revista Eletrônica da Faculdade de Alta Floresta, v. 4, n. 2, p. 146-164, 2014.

SILVA, Júlio César Pereira; RIOS, Ricardo Pereira. Contabilidade Ambiental: O grau de conhecimento dos contadores do sul e sudeste do estado do Pará. Revista Eletrônica Gestão e Negócios, v. 5, n. 1, 2014.

SILVA, Irene Caires da; LEPRE, Thais Rubia Ferreira; SILVA, Cíntia Laurentino da. Motivação e Dificuldades da Implementação da Contabilidade Ambiental. Colloquium Humanarum, V. 12, n. Especial, 2015, p. 440-447, 2015.

SEKU, Anuradha.; SOMANI, Rama. Environmental Accounting – A Case Study of Cement Sector in India. International Journal of Innovative Research and Development, v. 3, n. 12, p. 447-460, 2014.

SOUZA, Carolina Grosso de. Direito Ambiental: A ciência jurídica do meio ambiente. Etic – Encontro de Iniciação Científica, v. 9, n. 9, p. 1-21, 2013.

SOUZA, Valquíria Pinheiro de et al. Análise da contribuição do ensino e dos meios de divulgação do conhecimento para a formação profissional em contabilidade ambiental. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade Estratégica). Centro Universitário UNIFECAP. São Paulo, 2006.

SOUZA, Valdiva Rossato de; RIBEIRO, Maisa de Souza. Aplicação da contabilidade ambiental na indústria madeireira. Revista Contabilidade & Finanças, v. 15, n. 35, p. 54-67, 2004.

TANC, Ahmet.; GOKOGLAN, Kadir. The Impact of Environmental Accounting on Strategic Management Accounting: A Research on Manufacturing Companies. International Journal of Economics and Financial Issues, v. 5, n. 2, p. 566-573, 2015.

TINKER, Tony; GRAY, Rob. Beyond a critique of pure reason: from policy to politics to praxis in environmental and social research. Accounting, Auditing & Accountability Journal, v. 16, n. 5, p. 727-761, 2003.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e Gestão Ambiental. 3. ed. São Paulo: Atlas. 2011.

VASCONCELOS, Emerson Hochsteiner de; VASCONCELOS SEGUNDO, Emerson Hochsteiner de. Contribuição Ao Estudo da Contabilidade Ambiental no Brasil: Recomendações para o Desenvolvimento de um Plano de Ensino. In: Simpósio de Excelência e Gestão em Tecnologia, 8, 2011, Rio de Janeiro. Anais… Rio de Janeiro: UFSC, 2011.

VARELO, Elaine Machado et al. Ensino da contabilidade ambiental nas instituições de ensino superior brasileiras. In: CSEAR Conference, 2, 2011, Ribeirão Preto. Anais… São Paulo: CSEAR, 2011.

VANZO, Geni Francisca dos Santos; SOUZA, Valquíria Pinheiro de. Um estudo sobre a influência da disciplina contabilidade social e ambiental na formação profissional e social dos futuros contadores, de acordo com a percepção dos graduandos dos cursos de Ciências Contábeis. In: Congresso Brasileiro de Contabilidade. 18º, 2008, Gramado. Anais… Rio Grande do Sul: Congresso Brasileiro de Contabilidade, 2008

VERONEZE, Mikael Vieira et al. Contabilidade Ambiental: Estudo sobre sua importância para os profissionais contábeis de tangará da serra-MT. In: Congresso Nacional de Excelência e Gestão, 11., 2015. Rio de Janeiro, RJ. Anais… FIRJAN, 2015.

YUSOFF, Haslinda; OTHMAN, Radiah; YATIM, Normahiran. Culture and accountants’ perceptions of environmental reporting practice. Business Strategy and the Environment, v. 23, n. 7, p. 433-446, 2014.

WEIZEMANN, Chírlei Aline. A discussão sobre a inclusão da disciplina de contabilidade ambiental no currículo dos cursos de ciências contábeis. Monografia de Graduação em Ciências Contábeis, Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

YAMAGUCHI, Cristina. Keiko; MONTIBELLER FILHO, Gilberto. Environmental Accounting in the Context of Environmental Information: Case Study of a Reforestation Company in Campo Belo do Sul City, Santa Catarina State, Brazil. Journal of Environmental Science and Engineering, v. 2, n. 2, p. 95-110, 2013.

YAMAGUCHI, Cristina Keiko; SANTOS, Ana Paula dos; WATANABE, Melissa. Contabilidade ambiental: um estudo bibliométrico. Espacios, v. 36, n. 11, p. 8, 2015.

[1] Mestrando em Controladoria pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.

[2] Doutora em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco.

[3] Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Enviado: Dezembro, 2019.

Aprovado: Janeiro, 2020.

1/5 - (1 vote)
Tácio Marques da Cunha

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POXA QUE TRISTE!😥

Este Artigo ainda não possui registro DOI, sem ele não podemos calcular as Citações!

SOLICITAR REGISTRO
Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita