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O pensamento político platônico: influência da religiosidade grega e legado para história política

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

GUIMARÃES, Filipe de Oliveira [1]

GUIMARÃES, Filipe de Oliveira. O pensamento político platônico: influência da religiosidade grega e legado para história política. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 01, Vol. 09, pp. 96-105. Janeiro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencia-da-religiao/pensamento-politico-platonico

RESUMO

O pensamento político no ocidente nasceu arraigado a reflexão religiosa. Platão, mesmo não tendo como foco principal questões relacionadas a religião (ele estava sobretudo interessado em questões políticas que pudessem ser aplicada em Atenas), é o pensador pioneiro a registrar a combinação do pensamento político ao pensamento religioso em um sistema de ideias,  modelo que durou milênios na história ocidental e que mesmo em plena era da laicidade continua a influenciar a mentalidade de políticos, demonstrando que questões de fé e espiritualidade fazem parte da essência dos seres humanos e, portanto, devem ser inseridas no estudo da pauta política social. Neste artigo analisaremos o pensamento político platônico, sua influência histórica e o lugar da religiosidade em sua reflexão.

Palavras-chaves: Platão, Ciência Política, Religião.

INTRODUÇÃO

A política é resultante da organização do Estado. Ela é advém da necessidade de os indivíduos estabelecerem leis, regras, regulamentos que proporcionassem a convivência mais pacífica possível tentando equilibrar os diversos interesses, porém sempre assegurando o privilégio para alguns poucos e muito trabalho para a maioria dos habitantes de um determinado espaço comum. Neste sentido podemos definir política como sendo a atividade marcada pela competição entre os seres humanos que objetiva o poder para governar um determinado grupo social. (AMARAL, 2011).

Destacado pensador grego, discípulo de Sócrates, Platão nasceu em Atenas no séc. V a.C. Seu mestre Sócrates, a exemplo de Jesus Cristo, não deixou nada escrito, porém seu pupilo Platão decidiu registrar várias de suas reflexões após a sua morte.[2] Platão foi um discípulo que transformou a oralidade legada por Sócrates em documentos escritos. (RAMOS; MELO; FRATESCHI, 2012)

Sem sombra de dúvida podemos afirmar que está na filosofia platônica, assim como na aristotélica, os alicerces dos mais diversos pensamentos políticos que foram construídos na história do ocidente, sejam antiga, medieval, moderna ou contemporânea. É principalmente em Platão encontramos o embrião de diversas correntes ideológicas que foram disseminadas por excêntricos líderes e pensadores políticos que ajudaram a construir a história política.

Em Platão beberam, e bebem, por exemplo: pensadores conservadores, aristocratas, parlamentaristas, comunistas, socialistas, democratas, nazistas, evolucionistas, nacionalistas e feministas. Por mais paradoxal que pareça o pensamento político platônico, quando tomado de forma fragmentária, é para todos os paladares sendo capaz de ajudar a desenvolver as mais diversas construções ideológicas sejam elas saudáveis ou sombrias. Tudo depende do critério de seleção dos estudiosos.

O PENSAMENTO PLATÔNICO E SUA INFLUÊNCIA NA HISTÓRIA POLÍTICA

Categoricamente podemos afirmar que é a partir de Platão que o mundo da pólis é assumido como parte integrante da agenda temática da filosofia.  Ele foi o primeiro filósofo ocidental a sistematizar um pensamento político, bem como este tema é o centro de sua filosofia. Este é seu maior interesse, é para ele que convergem todos os seus esforços ideológicos.

O julgamento do mestre Sócrates, que resultou em sua sentença de morte, marcou profundamente seu projeto filosófico. Isto porque a condenação desnecessária de um homem, demonstra até que ponto pode chegar os males consequentes de uma inadequada organização do poder político. Porém, paradoxalmente, veremos que Platão não tinha problemas com a prática do infanticídio. Este fato deve nos lembrar sobre a importância de agirmos com prudência quanto a assimilação integral de qualquer sistema político-filosófico bem como defendê-lo como o melhor caminho para o estabelecimento do progresso social. O ideal é a apropriação daquilo que seja mais nobre na reflexão daqueles que pensaram a política na história e a pensam na atualidade a fim de utiliza-la para suprir uma determinada lacuna na reflexão política, ou necessidade de aprimoramento, sempre na busca de uma reflexão que agregue ao progresso estatal no âmbito político, tornando-o, entre outros quesitos, menos corrupto.

Segundo Platão todo homem que desejasse tornar-se um bom estadista, precisava ser um bom conhecedor do Bem, o que só seria possível mediante a combinação da disciplina moral e intelectual. Segundo os princípios platônicos muita educação era fundamental para o desenvolvimento de um bom governante. Se não fosse assim certamente se corromperiam quanto chegassem ao poder. Deve o poder ser exercido como resultado do acúmulo de conhecimentos sobre o Bem e não pelo desejo de ter o poder pelo poder.

Platão não acreditava que a democracia ateniense era a melhor ideologia para reger a polis. Fora ela que condenou a morte o homem que ele mais estimava. Ele também disse ser a timocracia (governo dos donos da terra) uma forma equivocada de se praticar a política. De igual modo refutou a oligarquia (governo dos ricos para os ricos), também não entendia que a tirania (mais associada ao governo dos reis – monarquia) seria a forma mais saudável de governo para a cidade. Platão defendeu que somente uma aristocracia (governo dos melhores)[3], ou aristocracia intelectualizada,  estabeleceria uma maior qualidade política gerando o Bem na Polis.(FERREIRA; GUANABARA; JORGE, 2013)

O ato de educar só seria possível, segundo pensava, se o ócio fosse tomado como essencial à busca pela sabedoria, posto que essa não seria ser encontrada entre os que trabalham para sobreviver, mas exclusivamente entre aqueles que possuem recursos independentes ou entre aqueles que o Estado livra das angustias referentes a própria subsistência, para que pudessem se dedicar ao estudo e reflexão. (RUSSELL, 2015)

De acordo com o mais importante diálogo de Platão, a República, o governo deveriam ser exercidos por filósofos (aqueles que detinham o saber mais aprofundado, os amantes da sabedoria). Ele defende que os cidadãos deveriam se dividir em três classes: as pessoas comuns, os soldados e os guardiões. Apenas esses últimos poderiam exercer o poder político.

Segundo o pensamento platônico, para afastar o mal era necessário conhecer e respeitar a justiça.[4] Mas como ele percebia a justiça? Essa seria a correta relação do indivíduo na sociedade de acordo a parte da alma que se sobressaia em relação as outras. [5]  Neste sentido, a priori, a justiça não estava situada no plano das relações individuais, mas consistia em um valor que deveria nortear a organização social.

Platão pensava a alma como um único ente cuja composição consistia na combinação de  tinha três partes distintas: a inteligência (simbolizada pela cabeça), a coragem (simbolizada pelo coração), e os instintos (simbolizada pelo baixo ventre). (COSTA, 2006)

Para ele os instintos deviam se submeter à inteligência e por isso quem deve exercer autoridade sobre as demais classes seriam os filósofos, posto que usavam em maior intensidade a parte mais nobre da alma (a cabeça).[6] Porém, como era impossível esta relação acontecer de forma natural, então se fazia necessário a intervenção dos guerreiros, como autoridade coercitiva, contra aqueles que não aceitassem as regras ou leis formuladas pelos guardiães, caso contrário o caos reinaria. Se os filósofos não se tornassem reis ou os reis filósofos, revoltas constantes se instalaria na polis.

É interessante entendermos o porquê para Platão a sociedade deveria se estruturar hierarquicamente estabelecendo no topo os guardiões. A razão era que a realidade suprema, a verdade, estava no campo das ideias, na parte superior da alma (cabeça) e seriam justamente os guardiões que se utilizariam desta área com mais intensidade.

Ele sonhava com uma sociedade em que a corrupção, a pobreza, a tirania e a guerra não reinassem. Para que esta meta se tornasse realizável seria necessário, primeiramente, encontrar um bom rei que aceitasse fazer o seguinte experimento com seu povo: mandar embora todos os adultos (pois já estavam com as ideias corrompidas), exceto os que fossem úteis para ensinar a nova ideologia aos mais novos e manter a ordem. Aos jovens, independente, sexo ou classe, seria ministrada uma educação de 20 anos (a contar do nascimento da criança). O currículo educativo deveria incluir ensino de mitos que ensinassem os jovens a obedecer aos pais e ao estado. (COSTA, 2006)

Todas as crianças deveriam ser educadas pelo estado recebendo a mesma oportunidade de educação. Quando completassem 20 anos todos deveriam ser submetidos a testes físicos, mentais e morais. Os que falhassem formariam as classes econômicas do Estado, negociantes, trabalhadores e lavradores. Eles teriam propriedade privada e diferentes graus de fortuna de acordo com a habilidade de cada um, mas não haveria escravos.

Aqueles que fossem selecionadas por sua honra, a partir de uma mistura de qualidade intelectuais e morais, os vencedores da primeira fase, que em suma seriam os mais justos, gentis, amantes do saber, possuidores de boa memória e espírito harmonioso, receberiam mais dez anos de educação e treinamento, em que se dedicariam aos estudos pitagóricos (aritmética, geometria, astronomia e harmonia).

Ao atingirem trinta anos passariam por novos testes. Os reprovados tornar-se-iam soldados (guardas) e receberiam um salário superior aos demais. Eles, diferente das classes básicas do estado, não poderiam acumular bens. Aqueles que fossem aprovados deveriam estudar filosofia (na época a filosofia incluía matemática, lógica, política, leis, etc.)[7] por um período de mais cinco anos. Na idade de 35 anos estes deveriam ser lançados na sociedade para aplicarem seus conhecimentos. Aqueles que sobrevivessem e atingisse a idade de 50 anos se tornariam membros, automaticamente, da classe dos guardiães. (HUSSELL, 2015)

Esta elite pensante (aristocracia) não deveria ter posses, porem disporia de todos os poderes. O Estado não teria leis. Todos os casos deveriam ser submetidos aos guardiães (reis-filósofos) que dariam o seu juízo democraticamente. Para que não abusassem desses poderes, não poderiam dispor de propriedades, de dinheiro de família[8], nem de esposa individual ou permanente.[9]

O CONTEÚDO EDUCACIONAL PLATÔNICO E O EMBRIÃO DE DIVERSAS IDEOLOGIAS POLÍTICAS

Platão dividia o conteúdo educacional em duas partes: música e ginástica. Seu conceito de música é muito amplo. A melhor forma de entendê-lo é chamando de cultura, já no que tange a ginástica a melhor aproximação que podemos fazer para compreendermos seu pensamento é compará-la ao que chamamos de esporte.

O Decoro, gravidade e a coragem são altamente valorizadas no sistema educacional platônico. Seria preciso censurar desde cedo, com rigidez, a literatura que os jovens teriam acesso e a música (música mesmo) que poderiam ouvir. As mães e amas só deveriam contar para as crianças histórias autorizadas.

Hesíodo e Homero seriam duas figuras que estariam vetados por várias razões. Primeiramente, discorrem sobre os deuses se comportando mal e os jovens deveriam aprender que os males jamais viriam dos deuses, esses só seriam autores de coisas boas. Aqueles poetas também descreviam a luxúria e extravagâncias dos deuses, construindo imagens que desestimulavam a temperança. Deste modo não pode haver histórias em que os iníquos são os que se dão bem e os bons se tornam miseráveis, o impacto de tais narrativas sobre os mancebos seria muito negativo (HUSSELL, 2015).

Os jovens (0 – 20 anos) deveriam ter acesso à exemplos bons que seriam tomados como referenciais. Platão chega até censurar as peças teatrais gregas posto que apresentavam homens imitando mulheres. As melodias musicais que deveriam ser ouvidas só seriam aquelas que transmitissem coragem e temperança aos ouvintes. Ele também defende que até certa idade os jovens não deveriam contemplar a feiura e os vícios (práticas ligadas a sensualidade). Neste ponto podemos afirmar que o pensamento platônico é fonte de influência para o conservadorismo político até os nossos dias, posto que, para quem se rege por esta ideologia, valores pudicos são de grande importância para a família e sociedade, bem como afirmações que valorizem a importância de Deus para a existência humana.

Sua crítica aos dois poetas continua. Platão diz haver em Homero e Hesíodo elementos cujo objetivo é incutir, ou acentuar, o medo da morte nos leitores, ao passo que para uma boa educação é necessário fazer todo o esforço possível buscando despertar nos jovens a coragem para morrerem em batalha por seu reino ou Estado. Os jovens deveriam aprender que a escravidão é pior do que a morte, e por tanto não deveriam ouvir histórias de homens que choram ou se queixam, ainda que se trate da morte de seus amigos. Antes de atingir a maturidade os jovens poderiam observar a guerra, mas sem tomar parte do combate. Isso seria útil para gerar o sentimento de bravura tão necessário para proteger a polis. Este posicionamento em Platão pode ser tomado como o embrião do nacionalismo.

No que diz respeito ao decoro a literatura de tais poetas também ensinavam um comportamento extravagante, como por exemplo, “a inextinguível risada dos deuses bem-aventurados”, que não seria uma boa conduta para os jovens. O decoro segundo sua ótica exige que jamais haja risadas estridentes. Tal ideia nos faz lembrar do positivismo cujo lema está associado a questões de ordem (HUSSELL, 2015).

Em relação ao esporte o treinamento deveria ser rigoroso. Ninguém deveria comer peixe ou carne que não fosse assada. Estava proibida a ingestão de temperos e confeitaria. Quem fosso criado segundo esta dieta não precisaria se preocupar com médicos.

Platão propõe um comunismo pleno a classe dos guardiões. Eles deveriam ter casas pequenas e comidas simples, teriam que viver como se fosse em um acampamento, tomando suas refeições juntos. Não poderiam ter propriedades privadas exceto a que for necessária.[10] A prata e o ouro lhes seriam vetados, porém não poderiam ser pobres, teriam que ter o necessário para viverem bem a fim de desempenharem suas atividades, que consistiria em pensar o bem para a polis (HUSSELL, 2015).

Também podemos enxergar em Platão o germe do feminismo. Platão, mesmo acreditando na superioridade masculina, defende que as moças deveriam receber a mesma educação dos rapazes, aprendendo sobre arte da guerra, ginástica e música ao lado deles. Isso porque ele entendia que as mulheres, a semelhança dos homens, poderiam se tornar boas guardiãs e outras dariam excelentes soldadas. Sua reflexão é oriunda do estilo de vida espartano, povo que durante muito tempo foram invencíveis nas batalhas em terra.[11]

O pensamento eugênico que tanto influenciou Darwin e o pai do nazismo, Hitler, é registrado a princípio por sua pena.[12] Para ele todas as crianças deveriam ser retiradas dos pais assim que nascessem e grande esforço deveria ser feito para que nenhum pai ou mãe soubesse quem eram seus filhos, bem como os filhos não soubessem quem seriam seus pais.

Também defendeu que as crianças deficientes teriam que ser descartadas.[13] O Estado deveria ter a preocupação em selecionar os melhores homens para se casarem com as melhores mulheres para que crianças com boa genética nascessem. As mães deveriam ter entre 20 e 40 anos e os pais entre 25 e 55. Caso acontecesse gravidez fora deste intervalo ele defende que deveria ser obrigatório a prática do infanticídio ou aborto.

Darwin desenvolvendo sua teoria sobre a seleção natural diz:

Em algum futuro, não muito distante se medido em séculos, as raças civilizadas do homem vão certamente exterminar e substituir as raças selvagens em todo mundo. Ao mesmo tempo que os macacos antropomorfos… Serão sem dúvida exterminados. A distância entre o homem e seus parceiros inferiores será maior, pois mediará entre o homem num estado ainda mais civilizado, esperamos, do que o caucasiano, e algum macaco tão baixo quanto o babuíno, em vez de que como agora, entre o negro ou australiano e o gorila. (DARWIN, 1986)

Continuando construindo sua teoria Darwin também afirma:

Entre os selvagens, os fracos de corpo e de mente são logo eliminados; e os sobreviventes geralmente exibem um vigoroso estado de saúde. Nós, civilizados, por nosso lado, fazemos o melhor que podemos para deter o processo de eliminação: construímos asilos para os imbecis, os aleijados e os doentes; instituímos leis para proteger os pobres; e os nossos médicos empenham o máximo de suas habilidades para salvar a vida de cada um até o último momento…Assim os membros fracos da sociedade propagam sua espécie. Ninguém que tenha observado a criação de animais domésticos porá em dúvida que isso deve ser altamente prejudicial à raça humana… Ninguém jamais foi ignorante ao ponto de permitir que seus piores animais se reproduzissem (DARWIN, 1986)

Lançando as bases do pensamento maquiavélico Platão diz que mentir é prerrogativa do governo assim como medicar é prerrogativa dos médicos. Ele acreditava na existência de uma nobre mentira capaz de iludir até mesmo os guardiões bem como a todos os cidadãos da polis. Esta mentira defendida em seu pensamento como boa seria a disseminação de mitos que ajudassem a fortalecer aquilo que ele defendia ser uma reflexão nobre.

Ele também defende que as guerras são uma resultante do amor ao dinheiro. Este pensamento é sustentado pelo marxismo assim como o comunismo de marxista, como vimos anteriormente, também parte de uma reflexão de Marx sobre o pensamento platônico. Platão acreditava que o ser humano poderia viver com pouquíssimo dinheiro caso seus desejos reduzissem ao mínimo, as necessidades básicas. Porém, é importante pontuar que mesmo os bens necessários para desenvolver o intelecto são dispendiosos. Livros, bibliotecas, laboratórios, computadores, tudo isso exige um investimento considerável.

Até este ponto trabalhamos a percepção platônica sobre a importância de utilizar boas mitologias para influenciar positivamente os jovens. Também abordamos que em seu pensamento Deus só era autor de coisas boas e que este deveria ser o critério para a seleção mitológica que deveria compor a coleção de mitos autorizados na polis. Mas é na utilização de crenças religiosas, sobretudo a da existência de vida após a morte, entre elas crenças reencarnacionistas, que Platão pensava ter encontrado uma força mobilizadora para tentar convencer os atenienses a aceitarem o seu projeto político. Neste ponto Hussell abordando as crenças espirituais platônicas diz que para Platão:

A alma do verdadeiro filósofo, libertada em vida dos grilhões da carne, partirá após a morte para o mundo invisível, onde viverá na bem-aventurança e em companhia dos deuses. A alma impura, contudo, tendo outrora amado o corpo, tornar-se-á um espectro a assombrar o sepulcro ou adentrará  o corpo de um animal como o burro, o lobo ou a águia, dependendo de seu caráter. O homem que foi virtuoso, mas não filósofo, será abelha, vespa, formiga ou algum outro animal de caráter gregário e social. Apenas o verdadeiro filósofo vai para o céu quando morrer. Ninguém que não tenha estudado a filosofia e não seja inteiramente puro à época de sua partida desfrutará da companhia dos deuses (…) os homens covardes ou iníquos serão mulheres na vida que há de vir. Os inocentes e frívolos que acreditam que a astronomia pode ser aprendida pela observação das estrelas, sem conhecimento algum de matemática, se tornarão pássaros; os que não tem filosofia alguma virarão animais terrestres; os mais estúpidos peixes. (HUSSELL, 2015)[14]

O medo parecia ser um ótimo aliado para Platão, na busca convencer a maioria dos cidadãos atenienses a abraçarem sua causa mas nem esta tática foi capaz de consolidar o seu projeto político-pedagógico-filosófico na cidade.

CONCLUSÃO

Semelhante a Platão os pensadores políticos ocidentais que se seguem até a época do iluminismo terão pontos de apoio na reflexão religiosa para construir suas ideologias políticas. Mesmo na atualidade, em que o conceito de laicidade é tomado como fundamento do pensamento político, podemos tomar como exemplo o juramento que os presidentes americanos fazem no Dia da Inauguração[15], ocasião em que, como a mão esquerda sobre a Bíblia, suplicam a ajuda de Deus para preservar, proteger e defender a Constituição dos EUA.

Não pesquisar a influência da religião sobre a política, ou a influência da política sobre a religião, seja no âmbito nacional ou internacional, é uma ação que enfraquecerá a análise no campo da Ciência Política. Entender a religião, seu lugar social, sua moral, a força que exerce no cenário político é de grande relevância para a reflexão política ocidental desde sua origem.

REFERÊNCIAS

AMARAL, D. F. História do Pensamento Político Ocidental, Coimbra: Edições Almedina, 2011;

COSTA, N. N. Ciência Política. Rio de Janeiro: Forense, 2006;

Curso de Ciência Política: grandes autores do pensamento político moderno e contemporâneo. FERREIRA, Lier; GUANABARA, Ricardo; JORGE, Vladimyr. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013;

DARWIN, C. The Descent of Man and Selection in Relation to Sex, New York: Appleton.1896

HUSSELL, B. História da Filosofia Ocidental – Livro 1: A filosofia Antiga; Tradução Hugo Langone – 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015;

Manual de Filosofia Política: Para os cursos de teoria do estado e ciência política, filosofia e ciências sociais/ RAMOS, Lamarion; MELO, Rúrion; FRATESCHI, Yara. São Paulo: Saraiva, 2012;

APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

2. Após a morte de Sócrates Platão viajou por vários lugares durante um período aproximado de dois anos e em 388 a.C fundou uma escola chamada Academia por está em terras consagradas ao herói Academus. Ele faleceu por volta de 348 a.C. Sua obra compunha-se de 28 diálogos e algumas cartas.

3. A palavra aristocracia é formada por dois termos oriundos da língua grega – áristoi, que significa aqueles que se destacam, e kratos, cuja o sentido é comando ou domínio. Tomada em seu sentido literal a palavra pode ser traduzida como o “governo dos notáveis” ou “governo dos melhores”.

4. Quando ele falava do conceito de justiça na cidade esta, antes de mais nada, era uma referência a melhor organização da estrutura social, ou seja, a maneira como os bens, os poderes, as tarefas, as responsabilidades deveriam ser distribuídas entre seus cidadãos. A polis era justa quando cada cidadão faz o seu próprio trabalho e não é intrometido, em outras palavras, cada cidadão deveria se concentrar na sua tarefa esta desempenhada classe hierárquica de sua competência. Só haveria injustiça se algum cidadão que, por exemplo, deveria estar na categoria de guardião estivesse na categoria de soldado. Este conceito difere bastante do que entendemos como justiça em nossa cultura que tem haver com a aplicação da lei para fazer valer os direitos dos cidadãos.

5. Platão também entendia que a cidade ateniense de seu tempo não era justa porque era composta de duas cidades que estavam a se confrontar: a dos pobres e a dos ricos.

6. Segundo Platão o filósofo não teria que abster-se por completo dos prazeres carnais (ele não era ascético), porém era obrigação do indivíduo pensante não se deixaria dominar por nenhum tipo de prazer carnal.

7. O estudo da matemática era fundamental para aprofundamento das ideias posto que liberta o ser humano do campo do sensível.

8. Apesar de não poderem casar seriam responsáveis em decidir os casamentos na sociedade, estando sempre preocupados em unir os mais inteligentes, robustos e civilizados para que a polis continuasse a ser aprimorada.

9. Se eles tivessem direito a acumular bens e família, pensariam em conservar e fazer prosperar os seus patrimônios pessoais ao invés de dedicar sua atenção ao bem-comum da pólis.

10. Na cidade de Esparta cada cidadão recebia do Estado uma porção de terra, repartida de maneira semelhante, que era sua e passada de pai para filho. Esta prática buscava amenizar a inveja, cobiça e o deleite. Para Atenas ele entende que esta busca por um equilíbrio econômico deveria só ser praticada no topo da pirâmide.

11. O pensamento platônico neste ponto foi construído com base no exemplo da cidade de Esparta que Platão tanto admirava principalmente no quesito militar. Diferente do que acontecia nas demais cidades da Grécia onde era educadas tão somente para serem mães e esposas, as meninas recebiam o mesmo treinamento físico dedicado aos rapazes. Ambos praticavam ginástica juntos todos nus. O objetivo desta participação era o fortalecimento dos corpos das mulheres para que gerassem filhos mais robustos.

12. Platão também desenvolve este pensamento partindo da influência do exemplo espartano. Em Esparta as crianças fracas eram expostas após inspeção pelos chefes da tribo; apenas as consideradas em perfeito estado poderiam ser criadas.

13. Seguindo o modelo de Esparta, o comportamento heterossexual era valorizado (o Estado tem que ter soldados), por mais que a prática homossexual fosse tolerada, porém neste caso o homem deveria ser bissexual, pois teria que gerar filhos. Em esparta os homens que não se casavam eram declarados desprezíveis segundo a lei. Sendo obrigado a caminhar nus em um frio rigoroso. (Russell, p. 135)

14. A primeira parte do texto encontra-se na página 184 e a segunda na página 192.

15. Dia em que o presidente eleito assume o mandato para governar os EUA. A cerimônia ocorre no dia 20 de janeiro.

[1] Doutorado em Ciências da Religião. Mestrado em Ciências das Religiões. Graduação em História (Licenciatura). Graduação em Administração de Empresas.

Enviado: Novembro, 2018.

Aprovado: Janeiro, 2020.

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Filipe Guimarães

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