REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

O ensino religioso e a interdisciplinaridade

RC: 148762
564
5/5 - (5 votes)
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/ciencia-da-religiao/a-interdisciplinaridade

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

LIMA, Regina Oliveira de [1], SILVA, Franci Dalva Oliveira da [2], MCGEOCH, Graham Gerald [3]

LIMA, Regina Oliveira de. SILVA, Franci Dalva Oliveira da. MCGEOCH, Graham Gerald. O ensino religioso e a interdisciplinaridade. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 09, Vol. 03, pp. 195-206. Setembro de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencia-da-religiao/a-interdisciplinaridade, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/ciencia-da-religiao/a-interdisciplinaridade

RESUMO

O presente artigo objetivou levantar e analisar a produção acadêmica acerca do diálogo do Ensino Religioso com os diversos componentes do currículo do Ensino Fundamental brasileiro. Considerando uma perspectiva multicultural da realidade, a interdisciplinaridade se apresenta como elemento fundamental dessa análise, afinal, partiu-se do pressuposto de que em uma sociedade plural, o Ensino Religioso possui um caráter importante de promover o diálogo e a tolerância entre as diferentes crenças e práticas de fé. Por meio do levantamento de artigos em importantes bases acadêmicas, alguns trabalhos foram selecionados por apresentarem relações entre o Ensino Religioso e a interdisciplinaridade nas escolas e, assim, compuseram o caráter descritivo desta pesquisa. O debate aqui apresentado aponta para a importância do Ensino Religioso como uma ferramenta fundamental para que o diálogo multicultural exista e se desenvolva nas escolas, com os alunos sendo instigados a exercerem habilidades de tolerância e cidadania.

Palavras-chave: Ensino Religioso, Interdisciplinaridade, Currículo escolar, Ensino Fundamental.

1. INTRODUÇÃO

Em uma sociedade plural, como o Ensino Religioso pode se encaixar? A pergunta parte de uma ideia marcada pela memória histórica, isto é, em um país de colonização religiosa, a religiosidade está presente na constituição do ensino brasileiro desde seus primórdios (Shigunov Neto e Maciel, 2008). Entretanto, a educação religiosa não tinha a mesma lógica do Ensino Religioso escolar atual, isso porque, passados os anos desde que o Brasil era uma colônia do império português para a atual república federativa liberal, o entendimento sobre o conhecimento, a liberdade e a religião mudaram.

Ao pensarmos em Ensino Religioso nas escolas de hoje, o foco passa a ser a difusão de conhecimento, e não, a fé dos estudantes. Pensar nessa sociedade plural significa pensar nas mais diversas formas de cultura coexistindo juntas, levando ao chamado multiculturalismo. A pluralidade da sociedade faz com que as perspectivas multiculturais invadam todos os lugares, incluindo as escolas, ambiente extremamente marcado pela presença das diferenças humanas, já que nesses espaços, encontramos nos alunos, nos professores e nos demais profissionais, diferentes formações identitárias, classes sociais, etnias, práticas religiosas, diversidades de corpos e etc.

Vera Candau aponta que “[…] não há educação que não esteja imersa nos processos culturais do contexto em que se situa. Neste sentido, não é possível conceber uma experiência pedagógica ‘desculturalizada’” (Moreira e Candau, 2008, p. 13). Assim, em uma sociedade plural, é necessário que o ensino religioso seja igualmente plural, buscando manter sua função social válida em termos de respeito ao próximo, o que nos leva ao ponto central do presente artigo: a interdisciplinaridade.

Junqueira (2015) tece reflexões sobre o tema e chega a apontar que a fragmentação dos conhecimentos gera atitudes de intolerância, nas quais tudo aquilo que não se compreende por completo, torna-se então, objeto de medo, de repulsa, em uma categorização do ‘outro’ pelo afastamento, o não reconhecimento e, enfim, a não identificação. Por isso é necessário que o conhecimento seja dado, de forma completa e plural, através do contato e do diálogo entre as partes. O autor mostra como esse diálogo é exatamente a síntese do que acontece na interdisciplinaridade, que ao conectar os saberes, forma uma rede relacional de conhecimentos que interagem uns com os outros, criando um sentido plural das ideias.

Este artigo se propõe a analisar o que vem sendo produzido academicamente nos últimos cinco anos sobre a prática do Ensino Religioso no Ensino Fundamental. Escolheu-se esse período pois segue-se a publicação da última versão da Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018). Nesse sentido, mais do que um levantamento sobre o debate filosófico do tema, buscou-se encontrar o que vem, de fato, acontecendo no cotidiano escolar depois da publicação desse importante documento, que traz o Ensino Religioso como área de conhecimento pautado nas Ciências da Religião (Brasil, 2018, p. 435-459).

O interesse para a presente pesquisa, se deve ao fato da autora ser professora da Rede Municipal de Fortaleza e estar cursando mestrado em Ciências da Religião. Durante a leitura do documento da Secretaria de Educação do município, a pesquisadora identificou que a disciplina deve ser ministrada por meio de aulas dialogadas e pelo “desenvolvimento de projetos educativos em parceria com outras áreas do conhecimento” (Souza, 2019, p. 60). Diante disso, sentiu-se instigada a entender como o Ensino Religioso vem se apresentando mediante a interdisciplinaridade no ambiente escolar.

Diante disso, empreendeu-se uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo. Os dados foram coletados de artigos acadêmicos completos, em português, veiculados pelas bases de indexação: Capes Periódicos, Google Acadêmico e Scielo. As palavras-chaves para a busca foram: “Ensino Religioso” + Arte; “Ensino Religioso” + Educação Física; “Ensino Religioso” + Inglês (ou língua inglesa; “Ensino Religioso” + Português (ou língua portuguesa); “Ensino Religioso” + Matemática; “Ensino Religioso” + Biologia; “Ensino Religioso” + Física; “Ensino Religioso” + Química; “Ensino Religioso” + História; “Ensino Religioso” + Geografia; “Ensino Religioso” + Sociologia; “Ensino Religioso” + Filosofia.

Após o levantamento pelas bases, os resumos dos artigos foram lidos para verificar se tinham relação com esta pesquisa. Artigos que relatam práticas dialógicas entre o Ensino Religioso e outra (s) disciplina (s) do currículo escolar em seus resumos foram selecionados como válidos. Após isso, cada artigo foi completamente lido e suas contribuições para a elaboração de projetos interdisciplinares foram destacadas e discutidas.

Este estudo se justifica pela importância de maior circulação de experiências que envolvam o Ensino Religioso e os outros componentes curriculares das escolas públicas brasileiras. Isso contribui para organizar o conhecimento publicado acerca do Ensino Religioso, facilitando o acesso aos estudiosos do tema e professores que buscam inovar seus trabalhos nos cotidianos escolares.

2. A INTERDISCIPLINARIDADE NA ESCOLA

Interdisciplinaridade não é somente dois ou mais componentes curriculares de uma escola tratando de uma mesma temática durante as aulas. Junqueira conta que

Em 1937, o sociólogo Louis Wirtz propôs o termo interdisciplinaridade para indicar o que é realizado como cooperação entre várias disciplinas, ou seja, um conjunto de disciplinas interligadas com relações definidas que evitam produzir ações isoladas ou fragmentadas. Partindo desta concepção, um objeto de estudo é compreendido a partir de diferentes enfoques ao mesmo tempo. No cotidiano escolar, verificamos que quando duas ou mais disciplinas dialogam com seus conteúdos para aprofundar o conhecimento, favorece a uma dinâmica diferenciada na sala de aula (Álvarez, 1999, apud Junqueira, 2015, p. 22).

Pela explicação do autor, compreende-se que a interdisciplinaridade é um diálogo constante entre disciplinas, no qual cada área lança o seu olhar específico para o objeto de estudo em questão, contudo, as informações se entrecruzam, possibilitando, nos alunos, a construção do conhecimento sobre a temática de modo integral, sem fragmentação. Para que não haja confusão, cabe esclarecer que a diferença entre a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade, é que a primeira prevê um caráter relacional e de conexão entre as disciplinas, enquanto a segunda vai pensar a variedade de disciplinas, mas não necessariamente se relacionando entre si. Assim, a interdisciplinaridade leva a um processo que considera o conhecimento através das relações entre o sujeito, o objeto e a sociedade, reproduzindo o dinamismo da prática relacional entre os saberes, mantendo suas individualidades.

O artigo 33 da Lei nº 9.394/96 explicita que o Ensino Religioso nas escolas deve assegurar “o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo” (Brasil, 1996), garantindo que o ensino religioso priorize sua função social, sem a militância a favor de determinada prática religiosa, mas sim, propondo a convivência e a relação pacífica entre as variadas formas de expressão de fé. Isso significa que a ideia de haver Ensino Religioso nas escolas, parte do intuito de promover a liberdade religiosa e um melhor entendimento da diversidade humana e a proposta em si aponta naturalmente para a necessidade de se tratar esse componente curricular de maneira interdisciplinar.

Enquanto saber significativo, é necessário que vá além do domínio de algum conteúdo, pois é na inter-relação dos conhecimentos, no desenvolvimento de procedimentos, habilidades e atitudes que é verificado se a aprendizagem se efetivou, ou seja, se em diferentes situações o conhecimento apreendido se traduziu nas relações humanas e na proposta de estratégias que busquem soluções para o cotidiano (Junqueira, 2015, p. 98).

A palavra ‘disciplina’ é um ponto de partida essencial para se compreender suas variações, incluindo a interdisciplinaridade, em toda sua abrangência. A tentativa por definições etimológicas e conceituações que possam exaurir os significados do tema, se mostra insuficiente, o que não significa que as palavras e termos não tragam boas reflexões sobre os sentidos da interdisciplinaridade e sua forma prática. Os diversos prefixos que formam diferentes palavras que partem da mesma ideia, se encontram no objetivo de apontar uma complexidade dos aspectos relacionais e de interação entre os saberes. O ponto principal é que mais do que inevitáveis, essas interações são necessárias para a produção de mais uma palavra essencial para se entender uma interdisciplinaridade real e prática: o diálogo. Neste sentido, a interdisciplinaridade visa uma conversa, e por isso a interdisciplinaridade se apresenta como ferramenta fundamental nas pesquisas acadêmicas – em busca de um conhecimento o mais completo possível, validando seu caráter científico e pesquisador – mas para além disso, se mostrando fundamental na disseminação dos saberes científicos também no ambiente escolar (Pombo, 2005).

Qualquer demanda por uma definição unívoca e definitiva do conceito de interdisciplinaridade deve ser rejeitada, por tratar-se de proposta que inevitavelmente está sendo feita a partir de alguma das culturas disciplinares existentes. Em outras palavras, a tarefa de procurar definições “finais” para a interdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisciplinar, senão disciplinar. Na medida em que não existe uma definição única possível para este conceito, senão muitas, tantas quantas sejam as experiências interdisciplinares em curso no campo do conhecimento, entendemos que se deva evitar procurar definições abstratas da interdisciplinaridade. Os conhecimentos disciplinares são paradigmáticos (no sentido de Kuhn, 1989), mas não assim os interdisciplinares. A história da interdisciplinaridade se confunde, portanto, com a dinâmica viva do conhecimento. O mesmo não pode ser dito da história das disciplinas, as quais congelam de forma paradigmática o conhecimento alcançado em determinado momento histórico, defendendo-se numa guerra de trincheiras de qualquer abordagem alternativa. Num sentido profundo, a interdisciplinaridade é sempre uma reação alternativa à abordagem disciplinar normalizada (seja no ensino ou na pesquisa) dos diversos objetos de estudo (Leis, 2005, p. 5).

Ao tratarmos da interdisciplinaridade na escola é necessário esclarecer que ela não significa o fim das disciplinas e surgimento de novas grandes áreas de estudo a partir de uma junção das áreas do conhecimento, mas sim, a promoção de um diálogo entre elas, sem lhes ferir a individualidade. Dessa forma, ela é uma ferramenta importante em um sistema de ensino contemporâneo, onde os saberes são múltiplos e pertencem a todos os participantes do ambiente escolar, diferenciando-se do antigo entendimento de que o professor seria o único indivíduo capaz de transferir conhecimento e, enfim, criando nos alunos a habilidade da construção de pensamentos, para além da mera prática da reprodução.

3.O DIÁLOGO DO ENSINO RELIGIOSO COM OUTROS COMPONENTES CURRICULARES

Conforme a proposta deste estudo, encontrou-se 8 artigos completos em português que tratam sobre a interdisciplinaridade entre o Ensino Religioso e outros componentes curriculares do Ensino Fundamental. A proposta aqui não é realizar um Estado da Arte sobre a temática, mas sistematizar as experiências interdisciplinares publicadas nos últimos 5 anos.

Reblin (2016) utilizou-se das Histórias em Quadrinhos (HQ) como recurso para as aulas de Ensino Religioso, sendo mais do que meio de comunicação, mas uma forma de arte contemporânea. As histórias em quadrinhos foram organizadas em três blocos: no primeiro elas eram classificadas e tinham seus contextos históricos apresentados, bem como os tipos de linguagem utilizados; no segundo bloco, era apresentada a relação daquelas histórias em quadrinhos com a religião e, enfim, no último bloco, eram desenvolvidas as atividades pedagógicas que seriam realizadas com as histórias em quadrinhos. Após essa dinâmica, cinco tarefas foram propostas aos alunos: na primeira, eles produziram uma história em quadrinhos; na segunda, elaboraram uma narrativa curta partindo de uma HQ, apagando as falas e criando um enredo baseado em uma temática religiosa; na terceira, fizeram uma história a partir de desenhos aleatórios, organizando-os de acordo com a proposta própria do estudante; na quarta, eles leram e interpretaram uma HQ com temática religiosa, de modo que podiam utilizar até uma interpretação teatral para contar a história aos demais; e na quinta, criaram uma HQ a partir de um texto, mas utilizando de materiais diferentes, como uso da dobradura.

Essas atividades, além de serem possibilidades práticas de como trazer uma interdisciplinaridade entre Ensino Religioso e Arte, demonstram, também, possibilidades de interdisciplinaridade com a disciplina de Português, mediante a leitura, interpretação, análise e classificação dos textos. Destaca-se que outros tipos de linguagens foram abordadas nessa experiência, como na estratégia de prática teatral e nas produções manuais com as dobraduras. Seria possível, inclusive, trazer um diálogo com a disciplina de História, já que no primeiro passo da atividade os alunos separaram as histórias mediante seus contextos.

Um campo do conhecimento que possui diversas proximidades com o Ensino Religioso é a área de Linguagens. Em artigo, Barbosa (2012) aponta a conexão entre o Ensino Religioso e a Literatura, por meio do uso do livro “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. A leitura do texto com os alunos elucidou a cultura religiosa popular, ao apontar diversos aspectos de tradições religiosas e seus universos de significados.

Araújo e Santos Filho (2020) também trataram da conexão com a literatura, sugerindo como a literatura de cordel pode ser utilizada no ensino interdisciplinar de forma lúdica, trazendo representações de religiosidade popular, diversidade religiosa e sendo, também, uma forma de poema e de arte.

Ainda sobre a temática, De Mello, Da Luz Marques e Da Silveira Neto (2022) trouxeram para uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental com estudantes surdos, o poema “A pombinha da mata”, de Cecília Meireles, trabalhando as temáticas de vida, morte e saudade de forma lúdica, proporcionando, também, a inclusão dos alunos surdos.

Sobre as possibilidades de interdisciplinaridade entre Ensino Religioso e as Ciências Humanas, Silveira (2014) discute sobre as interdisciplinaridades entre o Ensino Religioso e a Geografia, mas também, com a Filosofia e a Sociologia. Ele propõe, principalmente, discussões sobre a temática do espaço geográfico, territorialidade e os simbolismos de sagrado e profano neles. Junqueira, Rau e Rodrigues (2007) também trazem essa discussão sobre as relações entre Ensino Religioso e a Geografia, bem como Ensino Religioso e História, por meio da abordagem de análises sobre cultura e diversidade social nos mais diversos espaços geográficos.

O trabalho de Luiz (2017) apresenta um projeto realizado nas escolas de Marabá- PA, onde as disciplinas de História, Geografia, Artes, Língua Portuguesa e Ensino Religioso foram integradas em prol de debates sobre o aprendizado das relações étnico-raciais para os alunos do Ensino Fundamental. A escola proporcionou o contato dos estudantes com manifestações culturais etnicamente plurais, como o hip hop, dança, teatro, literatura, artes visuais e jogos educacionais, visando o conhecimento dessas e, assim, o combate a preconceitos.

Enfim, Brasil e Pereira (2023) trazem a análise do programa “Se liga na educação”, feito pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, que integrou conteúdos do Ensino Religioso e da Sociologia como temas de preparação para o ENEM. Trata-se de um programa que era transmitido via televisão e internet, que serviu como alternativa de aula não-presencial para os estudantes no período da pandemia da COVID-19, pois sua programação seguia o Currículo de Referência de Minas Gerais. A ideia deu tão certo, que os professores também passaram a assistir e a utilizar o programa para elaboração de suas atividades e este continuou sendo utilizado pós pandemia, integrando, o Programa de Fomento à Implantação Progressiva do Currículo – PROFIP. Segundo os autores, a exibição dos temas relacionados às disciplinas citadas possibilitou a divulgação do propósito pedagógico de conteúdos ligados ao fenômeno religioso, demonstrando àqueles que assistiam que não se tratava de doutrinação, nem de uma mera aula de religião.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio dos dados levantados, reunidos e analisados nesta pesquisa, conclui-se que o meio acadêmico tem, cada vez mais, percebido a necessidade de debates atualizados e permanentes sobre o Ensino Religioso. Para além de pré concepções sobre o que seria o Ensino Religioso, baseado em um entendimento do que ele foi no passado histórico do Brasil, é necessário que esse componente curricular seja entendido em seus sentidos contemporâneos, em sua regulamentação e em sua importância para a formação cidadã dos alunos.

Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade se apresenta enquanto estratégia fundamental para o trabalho do Ensino Religioso no Ensino Fundamental, já que em uma sociedade complexa e plural, esse tipo de ensino deve priorizar o conhecimento geral e, não, o proselitismo religioso. É nesse sentido que a interdisciplinaridade proporciona uma prática relacional do conteúdo em diálogo, não apenas com as demais disciplinas, mas com conhecimentos mais amplos sobre as bases que estruturam os conhecimentos e todo o sentido do aprendizado.

Concluiu-se, também, que as disciplinas ligadas ao campo de Humanidades e Linguagens possuem uma maior quantidade de artigos sobre a temática do que as disciplinas das áreas de Ciências Naturais e Exatas. Nessa área nenhum artigo completo foi encontrado. Isso se dá pelo caráter do Ensino Religioso, que é permeado por temáticas que envolvem as interações humanas, em seus acontecimentos históricos, com suas especificações geográficas, constituídas em bases filosóficas e, assim, promovendo fenômenos sociológicos, bem como com produções de signos e linguagens específicas, seja pelas representações orais, escritas, ou presentes em demais construções culturais e artísticas, como o teatro e a poesia, presentes nas culturas humanas.

Em suma, a interdisciplinaridade se apresenta como ferramenta importante, inclusive para a autorregulamentação do Ensino Religioso que é pautado nas Ciências da Religião. O ensino relacional possui uma maior capacidade de abranger as mais diversas áreas do saber e ao conectá-las, coloca-as em uma lógica de sentido prática e real, pautada nas vivências dos indivíduos envolvidos no ambiente escolar e, enfim, na construção do conhecimento, promovendo um ensino permeado pela tolerância e pela liberdade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Maria José de; SANTOS FILHO, Ivanildo Oliveira. O uso da literatura de cordel no ensino religioso. Teoliterária, v. 10, n. 22, 2020. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8079650> Acesso em: 06 ago. 2023.

BARBOSA, Roseane do Socorro Gomes. O religioso em Grande Sertão Veredas e seu aporte para a aula de Ensino Religioso. Interações: Cultura e Comunidade, Uberlândia, v. 7, n. 12, p. 91-102, jul./dez. 2012. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/3130/313027340006.pdf> Acesso em: 06 ago. 2023.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. [online].

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

BRASIL, Taciana; PEREIRA, Paulo Vinícius Faria. Televisão, educação e religiosidade: experiências no campo do Ensino Religioso e da Sociologia. Aprender: Cad. de Filosofia e Psic. da Educação, Vitória da Conquista, ano XVII, n. 29, p. 240-251, Jan./Jun. 2023. Disponível em: <https://periodicos2.uesb.br/index.php/aprender/article/view/12345> Disponível em: 10 ago. 2023.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério; RAU, Débora Toniolo; RODRIGUES, Edile Maria Fracaro. História, Geografia e Ensino Religioso: uma proposta integrada. Diálogo Educ., Curitiba, v. 7, n. 20, p. 143-165, jan./abr. 2007. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?pid=S1981-416×2007000100013&script=sci_abstract&tlng=en> Acesso em: 03 ago. 2023.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério de Azevedo. Ensino religioso e a interdisciplinaridade. Curitiba-PR: IESDE BRASIL S/A, 1. ed., 2015.

LEIS, Héctor Ricardo. Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Cadernos de pesquisa interdisciplinar em ciências humanas, n. 73, FPOLIS, ago. 2005. Disponível em: <https://cmapspublic2.ihmc.us/rid=1181318845890_1252767148_7539/CadPesIDCieHum_2005_73_1.pdf> Acesso em: 01 set. 2023.

LUIZ, Janailson Macedo. Educação das relações étnico-raciais, participação e interdisciplinaridade: relato de experiência em escolas municipais de Marabá-PA. Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar, Mossoró-RN, v. 3, n. 09, set. 2017. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20190917010050id_/http://periodicos.uern.br/index.php/RECEI/article/viewFile/2421/1379> Acesso em: 15 ago. 2023.

DE MELLO, Themis Andrea Lessa Machado; DA LUZ MARQUES, Marcley da Luz;; DA SILVEIRA NETO, Harry Carvalho. Ensino Religioso e Literatura: uma proposta lúdica para educação de surdos. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 32, n. 4, p. 579-593, 2022. Disponível em: <https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/13035> Acesso em: 02 set. 2023.

MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2008.

POMBO, Olga. Interdisciplinaridade e integração dos saberes. Liinc em Revista, v.1, n.1, março 2005. Disponível em: <https://revista.ibict.br/liinc/article/view/3082> Acesso em: 05 set. 2023.

REBLIN, Iuri Andréas. Quadrinhos nas aulas de Ensino Religioso: subsídios e práticas pedagógicas de uma experiência docente. Estudos Teológicos São Leopoldo, v. 56, n. 1, p. 12-39, jan./jun. 2016. Disponível em: <http://ism.edu.br/periodicos/index.php/estudos_teologicos/article/view/2709> Acesso em: 22 ago. 2023.

SHIGUNOV NETO, Alexandre; MACIEL, Lizete Shizue Bomura. O ensino religioso no período colonial brasileiro: algumas discussões. Educar em Revista. 29 out. 2008. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/er/a/VKN68qKSCDDcvmq5qC7T6HR/> Acesso em: 17 ago. 2023.

SILVEIRA, Heitor Matos da. Religião, ensino e Geografia: propondo atividades para ensinar no viés geográfico. Geosaberes, Fortaleza, v. 5, n. 9, p.52-59, jan./jun. 2014. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5548019> Acesso em: 19 ago. 2023.

SOUZA, Vânia Célia Ventura. Laicidade, ensino religioso e escola pública no município de Fortaleza (CE). Dissertação (Mestrado em Ciências das Religiões) – Curso de Ciências das Religiões da Faculdade Unida de Vitória, Vitória, 2019.

[1] Mestranda. ORCID: 0000-0002-1628-2896. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8370386704843184.

[2] Mestranda. ORCID: 0000-0002-4449-5928. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/9049592228799672.

[3] Orientador. ORCID: 0000-0002-8738-6342.

Enviado: 23 de janeiro, 2023.

Aprovado: 17 de setembro, 2023.

5/5 - (5 votes)
Franci Dalva Oliveira da Silva

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita