REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

A educação ambiental aplicada na educação infantil: um estudo sobre o trabalho realizado em uma escola de educação infantil da cidade do Rio de Janeiro

RC: 27908
1.655
Rate this post
DOI: ESTE ARTIGO AINDA NÃO POSSUI DOI
SOLICITAR AGORA!

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CUNHA, Angélica Rangel do Nascimento [1]

CUNHA, Angélica Rangel do Nascimento. A educação ambiental aplicada na educação infantil: um estudo sobre o trabalho realizado em uma escola de educação infantil da cidade do Rio de Janeiro. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 03, Vol. 07, pp. 145-159. Março de 2019. ISSN: 2448-0959.

RESUMO

Este artigo foi escrito partindo das observações dos trabalhos realizados pelos professores de escolas de Educação Infantil da Cidade do Rio de Janeiro. O objetivo foi pesquisar através das ações isoladas, ou seja, dos projetos de trabalho desenvolvidos pela escola por professores que tentam sensibilizar alunos e responsáveis para o problema da degradação do meio ambiente e sua forma de ação, para atingir tal objetivo é a reciclagem de materiais. Nesse sentido, o artigo é resultado de uma pesquisa prático-teórica que busca apresentar como o trabalho de aproveitamento de materiais é direcionado pelos professores através de um projeto conjunto com outros docentes da escola, sem a participação dos alunos que são crianças da Educação Infantil maternal que estão aprendendo ainda a falar. O texto foi organizado de modo a explicar como esse trabalho é feito na Educação Infantil, através de fotos dos trabalhos realizados; o que dizem os documentos oficiais, buscando unir esses conhecimentos ainda fragmentados e pouco críticos.

Palavras-chave: Educação Infantil, professores, meio ambiente, escolas, reaproveitamento.

1. INTRODUÇÃO

A Educação infantil como primeira etapa da educação básica, tem como pressuposto básico o cuidar e o educar, para a escola é dada uma responsabilidade muito grande como formadora moral e ética dos cidadãos do futuro, como é muito difundida pela meios de comunicação de massa. Para Melo e Tosta,2008,o debate é ainda inconcluso sobre a função da escola na sociedade contemporânea, o que se pode identificar é a divisão em três papeis diferentes a saber: redentora da sociedade; reprodutora das desigualdades sociais e transformadora da sociedade.

Para a educação ambiental aplicada na educação infantil, entendemos como a transformadora da sociedade, exercendo o papel de trabalhar a reciclagem como forma de consciência ambiental, demonstrando que está implantando a Educação ambiental nas escolas infantis. Os trabalhos realizados com os alunos e pelos alunos com materiais reutilizados dá a impressão de que a Educação ambiental está sendo realizada no ambiente escolar, mas será que está mesmo? Ou essa é a forma que os professores encontraram para seguir um caminho ainda em busca de construção, principalmente na infância.

Para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação básica:

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

Nos documentos oficiais utilizados para a construção desse trabalho são os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais que creditam na escola a forma de conscientizar os futuros cidadãos com metas, para serem atingidas sobre como se dará a sobrevivência do planeta, responsabilizando a instituição escola, por preparar o aluno para consumir menos, ao mesmo tempo que ele é induzido pela mídia a consumir mais; qual seria o equilíbrio entre essas duas forças que ambas empurram a ideia de preservação com consumo, apenas substituindo uma forma pela outra, nem sempre tal ecológica assim.

1.1 COMO ACONTECE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A educação ambiental na educação infantil acontece de forma bem simplificada e aparentemente, o educador sem uma alternativa melhor de trabalho para mobilizar a consciência de responsáveis através dos trabalhos que fazem com os alunos, pois é através das crianças que pensamos em atingir os adultos. Então, a saída para que compreendam o trabalho é a corrida pela reciclagem que parece ser a tábua salvadora da redução da poluição e lixo na cidade. Nesse sentido, são feitas verdadeiras campanhas, para recolher latinhas, garrafas pet, rolinhos de papel higiênico, jornal, caixas de papelão dentre outros objetos que seriam jogados no lixo e que podem ser reaproveitados.

A ideia do reaproveitamento é muito boa para mudar alguns conceitos impregnados pela sociedade capitalista que prega que tudo é descartável, aproveitar materiais na educação parece ser uma saída para a falta de material para trabalhar, assim como, para o grande problema do lixo urbano. Entendemos também que não é a única forma de combate aos problemas ambientais, mas é o início de um trabalho que pode gerar frutos, se feito como projeto maior que una família e escola.

O trabalho feito nas escolas de educação infantil pode ser dividido em três partes a saber: um momento somente os professores fazem como forma de aproveitar o que iria parar no lixo e economizar o material comprado pela escola que já é pouco para tantos projetos de trabalho ao longo do ano; o professor realiza o trabalho juntamente com seus alunos, orientando e deixando uma parte do trabalho para que contribuam com a sua arte; e a última é o professor que realiza um trabalho junto aos responsáveis dos alunos, com o intuito de sensibilizá-los para a consciência ambiental, através de trabalhos manuais, transformando embalagens em objetos uteis para o dia a dia.

Fig.1 Atividade feita na escola 1- sacola porta trabalhos,feita com jornal e caixas de leite.Fonte:Elaborada pelo autor.
Fig.2 Atividade feita na escola 2-Enfeite dia das mães, feito com papel, palito e embalagem de fruta.Fonte: Elaborada pelo autor.
Fig.3 Atividade feita na escola 2-embalagem de isopor para frios, moldura para quadro com pintura e colagem.Fonte: Elaborada pelo autor.
Fig.4 Atividade feita na escola 1- contraste entre o rural e o urbano, com papel, tampinhas e caixas de leite.Fonte: Elaborada pelo autor.
Fig.5 Atividade feita na escola 1 – Confecção de regador com embalagem de amaciante.Fonte: Elaborada pelo autor.

2. AULAS MOTIVADAS PELA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

A consciência ambiental conectada com a atualidade é promovida pela mídia que com propagandas disseminam ideias soltas de como preservar, ao mesmo tempo de como consumir e também de culpabilizar a população pela poluição e destruição dos recursos naturais, sem uma verdadeira reflexão crítica. As propagandas dos meios de comunicação de massa nem sempre são tão ambientais assim ,incutem mais um consumo para reciclar o anterior, não resolvendo o problema de fato. Criando mais um problema de poluição e gasto desnecessário dos recursos ambientais.

Se não há mais como desconsiderar que a mídia é, em larga medida, produtora e conformadora de discursos de todas as ordens(político, educativo, econômico, religioso, ético, moral, dentre outros),à instituição de ensino cabe estar atenta a essa disseminação de ideias que dizem respeito a valores,comportamentos,atitudes,etc.(MELO e TOSTA,2008,p.27)

Os planos de aula das escolas precisam ter em seus projetos políticos pedagógicos o tema embutido ‘’Educação ambiental’’ mesmo que não aplicado, e ele se tornou matéria obrigatória para os segmentos da educação básica, até documentos foram confeccionados como forma de pressionar a inserção dessa discussão, mas sem uma reflexão quanto, ao como e porque fazer? Na Educação Infantil encontramos a seguinte observação sobre um projeto político pedagógico de uma escola de Educação Infantil:

O tema ‘’Descobri no meu quintal que a natureza é tão legal!’’, tem como eixo as relações vida e ambiente, nas quais as crianças serão compreendidas como seres da natureza, interagindo com os espaços do quintal, explorando as possibilidades com o corpo, através de experiências sensoriais e expressivas, que possibilitam o conhecimento da individualidade e coletividade.(prefeitura da cidade do Rio de Janeiro,2014,p.8)

A questão ambiental é mais um modismo que propriamente um problema que precisa ser enfrentado pela população e seus governantes, isso fica bem claro quando esse tema é tratado pela propaganda e pelas mídias em geral que romantizam e atribuem a responsabilidade para as pessoas de forma individual e não de forma global, dividir e separar da realidade do indivíduo: o consumo, a vida, a sociedade e o meio ambiente.

3. RECICLANDO IDEIAS

A forma como o educador trabalha em sala de aula com a ideia da reciclagem na cabeça e nas mãos os materiais de reaproveitamento pode sugerir que a educação ambiental está amplamente realizada e com êxito na sala de aula da educação infantil e ainda que esteja conscientizando os responsáveis de sua importância. E como podemos saber isso? Essa seria uma afirmação muito complicada de provar, algumas atitudes podem ser modificadas sim com esse tipo de projeto de trabalho de reaproveitamento, o que não significa mudança de postura, quanto ao consumo diário.

Valorizar o contexto sócio-cultural em que se encontra o empreendimento, visto haver variação individual e cultural no uso e interpretação do meio ambiente.(Elali,2003,p.310) Esse é um problema cuja unidade escolar, não pode estar apartada, pois ela faz parte da sociedade, reproduz e se reproduz de acordo com suas demandas, e para trabalhar a questão ambiental, é necessário ter esses conhecimentos bem definidos para propor ações que visem combatê-los.

Aproveitar objetos que iriam para o lixo, pode parecer com desenvolvimento sustentável, ou seja, continuar consumindo e com as ‘’sobras’’ desse consumo transformar em algo novo e utilizável para o dia a dia, aproveitar o que já existe; como exemplo, transformar garrafas de plástico em uma vassoura, e com isso também utilizar os cabos de vassouras velhas.

Reciclar ideias na educação ambiental é uma forma bem irônica de se referir ao conjunto de atitudes com vista à melhora do meio ambiente, essa atitude de caráter individualista se impõe perante a população que precisa fazer a sua parte na preservação da fauna e da flora terrestre, caracterizando uma política de opressão principalmente para as pessoas que vivem à margem da sociedade, ou seja, os mais financeiramente pobres que são os que mais sofrem com essas políticas restritivas de consumo.

A desumanização,que não se verifica apenas nos que têm sua humanidade roubada,mas também,ainda que de forma diferente,nos que a roubam,é distorção da vocação do ser mais.(…)A luta pela humanização,pelo trabalho livre,pela desalienação,pela afirmação dos homens como pessoas,como “seres para si’’,não teria significação.Esta somente é possível porque a desumanização,mesmo que um fato concreto na história,não é,porém,destino dado,mas resultado de uma “ordem’’injusta que gera a violência dos opressores e esta,o ser menos.(FREIRE,2013,p.40-41)

A opressão dada pela desumanização falada por Paulo Freire, pode ser vista na falta de recursos para uma vida digna da maioria da população que contribui muito para condições ambientais precárias, como falta de saneamento básico, esgoto não tratado e correndo pelas ruas; coleta de lixo deficiente formando lixões; ruas sem calçamento; terrenos abandonados e com focos de criadouros de mosquitos, tudo isso tem uma relação com a comunidade que vive no entorno da escola, é uma questão que precisa ser trabalhada em sala de aula.

4. A SALA DE AULA COMO LOCAL DE EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A sala de aula pode ser a promotora da experiência Ambiental satisfatória para servir ao ensino, preservar o planeta e oferecer mecanismos contra a degradação ambiental. O educador pode provocar nos alunos com suas atividades de sala uma percepção do que seja a verdadeira preservação do meio ambiente.

Segundo Tiriba,2010,p.2:

Creches e pré-escolas são espaços privilegiados para aprender-ensinar porque lá as crianças colhem suas primeiras sensações, impressões, sentimentos do viver. Sendo assim, a dimensão ambiental não poderia estar ausente, ou a serviço da dimensão cultural, ambas deveriam estar absolutamente acopladas.

Como proporcionar experiências na educação infantil com a Educação ambiental? A conscientização dos pequenos alunos perpassa pela consciência de que ele mora em um lugar e que nesse lugar possui uma fauna e uma flora e se não tiver, significa que esse local possui: lixo, poluição e falta do saneamento básico que são fatores importantes para se trabalhar com Educação Ambiental na infância:

(…), precisamos afirmar a importância de as crianças desfrutarem de um ambiente bonito, arejado, iluminado pelo Sol, que ofereça conforto térmico, acústico e visual. Mais que isso, entendendo que as crianças são seres da natureza, é necessário repensar e transformar uma rotina de trabalho que supervaloriza os espaços fechados e propiciar contato cotidiano com o mundo que está para além das salas de atividades. (Ibiden,2011, p.6)

O local de moradia e a localização da escola são premissas com as quais o professor pode direcionar o trabalho de forma provocadora, e incisiva na questão da preservação ambiental, mais uma preservação consciente e que engloba os grupos sociais minoritários e marginalizados do processo de consumo da sociedade capitalista, essa mudança de postura consumista precisa ser trabalhada e contextualizada na Educação Infantil.

Segundo Bomfim, 2013,p.72:

Uma perspectiva crítica para a EA entende que são os grupos que mais sofrem com a degradação ambiental (os que vivem próximos ou vivem da degradação, nos lixões, nos rios poluídos, nas encostas dos morros, etc.), os mais interessados em propor algum avanço.

Promovendo referências mais humanas para as crianças, que vivem em ambientes pouco salutares ou envoltas em lixos e próximas de rios poluídos. A escola precisa permitir a conexão com a natureza e não a natureza fabricada e sim a viva, deixando que tenham contato com plantas e animais, tais como: insetos e animais domésticos, o que se perdeu com o processo de urbanização. As crianças não conhecem os animais vivos, somente através de histórias, o que descaracteriza o aprendizado prático e tira a possibilidade de a criança internalizar aquele conhecimento.

4.1 O QUE DIZ OS DOCUMENTOS OFICIAIS SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Nos documentos oficiais a Educação ambiental é colocada como fazendo parte da realidade do ambiente escolar, misturada às outras disciplinas podendo ser considerada uma interdisciplinaridade entre as mesmas. Como considerar tal atitude do governo federal em incluir em documentos oficiais sobre Educação a questão ambiental, sem uma ideia crítica formalizada de como isso se dará no âmbito educativo. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais:

Os conteúdos de Meio Ambiente serão integrados ao currículo através da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão global e abrangente da questão ambiental.(BRASIL,1998,p.36)

Na perspectiva educativa segundo os PCNs [2]e DCNs[3], a questão ambiental deve ser tratada nas diversas disciplinas, aglutinando esses conhecimentos de forma natural e aberta. Segundo os DCNs:(…) A determinação para que a Educação ambiental seja integrada, contínua e permanente implica, portanto, o início do seu desenvolvimento na Educação infantil, prosseguindo sem futura interrupção.(BRASIL,2010,p.545)

Nesse contexto, não cabe apenas à educação infantil e sim a continuidade das ações nos outros segmentos escolares, para a melhoria das condições do planeta e para a sua permanência enquanto nascem as próximas gerações. Ainda analisando os documentos oficiais, podemos encontrar algumas respostas para os nossos problemas atuais:

Para outros, a questão ambiental representa quase uma síntese dos impasses que o atual modelo de civilização acarreta. Consideram que aquilo a que se assiste, no final do século XX, não é só uma crise ambiental, mas uma crise civilizatória. E que a superação dos problemas exigirá mudanças profundas na concepção de mundo, de natureza, de poder, de bem-estar, tendo por base novos valores individuais e sociais. Faz parte dessa nova visão de mundo a percepção de que o homem não é o centro da natureza.(BRASIL,1998,p.20)

O homem deixou de ser o centro do mundo, como ocorria no passado e pensava que podia dominar a natureza e dela retirar tudo que necessitava para viver e também para acumular, o centro do mundo agora, são os recursos naturais que ainda restam. O documento fala do fim do século passado, e já estamos na segunda década do século XXI e os problemas e discussões parecem os mesmos, o modelo de consumo não mudou, os mesmos combustíveis são utilizados e sabemos que por interesses financeiros, os países não mudam sua postura.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,1998),as crianças tomam contato com os problemas relacionados à realidade; aprendem com o contato com os animais; e também no cuidar e acompanhar o crescimento das plantas, mas o documento não relaciona o eixo: a criança, a natureza e a sociedade com a educação ambiental.

A essa falta de relação que a educação infantil trabalha com a questão ambiental, transferindo essa falar para a realidade, os professores se encontram em um caminho sem rumo, pois não é fácil trabalhar meio ambiente com crianças que ainda estão aprendendo a falar. A forma de se propagar a chamada conscientização é atingindo os adultos, ou seja, os responsáveis dos alunos é através deles que talvez mudaremos alguns hábitos ultrapassados de consumo.

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 25 prevê a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública, também preservá-lo para as presentes e futuras gerações. De acordo com a realidade presente isso não vem acontecendo. Segundo Rodrigues apud Rufino,2011:

Porém,apesar da exigência legal da inserção da educação ambiental em todos os níveis de ensino,e do consenso acadêmico em torno da importância de uma educação ampla e íntegra na primeira infância,o que certamente engloba os conteúdos da educação ambiental,o MEC[4] desenvolve uma política de educação ambiental que está mais voltada para o ensino fundamental do que a educação infantil,relação que envolve ainda um descaso com o conhecimento da realidade das escolas e das práticas de educação ambiental na educação infantil.

Os documentos oficiais não garantem por si só, a educação ambiental. É claro que não encontramos nada previsto para a educação infantil nos documentos norteadores da educação e nem específicos ao ensino infantil, isso pode trazer um pouco de insegurança em qual caminho trilhar para garantir uma educação de qualidade, crítica, reflexiva e pensando no desenvolvimento integral da criança.

5. O QUE REALMENTE SERIA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL?

A Educação Ambiental seria uma forma de educar não apenas, para a consciência ambiental, e sim para que o aluno seja um promotor das mudanças sobre a visão do que é poluir, preservar, cuidar dos recursos naturais para o bem estar do homem no agora e no futuro. Onde entra a Educação ambiental crítica? Quando as formas tradicionais

Para tomar algumas medidas para propagar tais trocas de consciências, precisamos de conhecimentos sobre o que é ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável, palavras surgidas nos últimos tempos e que estão na mídia, sendo ditas sobre qualquer pretexto. Para esclarecer tais dúvidas, Layrargues, 1997 diz que:

Enfim, enquanto o ecodesenvolvimento postula com relação à justiça social, que seria necessário estabelecer um teto de consumo, com um nivelamento médio entre o Primeiro e o Terceiro Mundo, o desenvolvimento sustentável afirma que seria necessário estabelecer um piso de consumo, omitindo o peso da responsabilidade da poluição da riqueza.

O entendimento que podemos depreender sobre os dois termos usados indiscriminadamente é que o desenvolvimento sustentável está alinhado ao capital, não dando a devida importância para verdadeiras mudanças no perfil de consumo que pode garantir a igualdade e manter as reservas naturais ainda conservadas para o presente e futuro.

Encontramos nos documentos oficiais referências sobre o desenvolvimento sustentável:

Desenvolvimento sustentável foi definido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento[5] como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Muitos consideram essa ideia ambígua, permitindo interpretações contraditórias. Porque desenvolvimento pode ser entendido como crescimento, e crescimento sustentável é uma contradição: nenhum elemento físico pode crescer indefinidamente.(BRASIL,1998,p.30)

No documento dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre Meio Ambiente e saúde, o trecho apresenta uma definição sobre o desenvolvimento sustentável e não faz referência à palavra ecodesenvolvimento, fazendo uma breve comparação ao que Layrargues fala, não há referência à culpa do consumo excessivo dos países desenvolvidos e o trecho se utiliza da palavra desenvolvimento que pode significar qualquer coisa e cai em contradição em sua própria definição, pois nada pode crescer indefinidamente. Percebe a própria impossibilidade de continuar com essa prática insustentável.

Segundo Foladori,2001,p.101:

Apesar de não existir um acordo sobre a gravidade desses problemas, nem sobre os procedimentos para encarar tal situação, a maioria das análises e propostas engloba a crise ambiental sob três temáticas: a superpopulação, os recursos e os resíduos. Por sua vez, esses três grandes problemas podem ser compreendidos sob um denominador comum: os limites físicos externos com os quais a sociedade humana se defronta.

Um problema enfrentado para o combate aos males da degradação ambiental é não ter uma ação fundamentada e nem mesmo os cientistas, conseguem entrar em um acordo sobre como combater essa crise que afeta a humanidade, e Foladori apresenta três temas de importância para a compreensão do porque os governos não agem de forma efetiva e culpabilizam o quantitativo de pessoas no mundo, como uma das fontes de destruição do meio ambiente, sem considerar como esse recurso é utilizado. Por isso, acrescentar à educação a dimensão ambiental é uma tentativa de diferenciá-la da educação conservadora que, tradicionalmente, não se tem mostrado ambiental(LAYRARGUES,2004)

Coube a Educação ficar com o maior peso, ou seja, a maior responsabilidade em preservar o planeta, o que não é justo, pois não depende apenas da Educação essa tarefa; a política internacional e os interesses governamentais em manter um status quo nas diversas formas de consumo que poderiam ser equalizados, com a divisão do consumo pelos países e a diminuição do consumo exagerado de produtos com embalagens ditas poluentes, como as de plástico que tem um tempo de desgaste no ambiente muito maior e é um gerador de lixo, que passa a afetar todo o ecossistema, quando para principalmente nos rios e mares.

Na contramão dessa perspectiva, podemos ensinar as crianças a consumir de forma equilibrada, o que exige uma reflexão permanente sobre o que é supérfluo e o que é realmente necessário, considerando que é desigual a distribuição dos bens que são produzidos. Podemos convidar as famílias e a comunidade a participarem de oficinas de produção e/ou conserto de brinquedos, feiras de troca de objetos, livros, revistas, brinquedos. (TIRIBA,2010,p.10-11)

As alternativas apresentadas pela autora podem ajudar a disseminar uma ideia mais humanista de mundo e de relações interpessoais, com as trocas e produções de brinquedos, objetos e outros itens de necessidade que o gênio humano pode criar para construir e não para destruir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo não tem como objetivo esgotar a possibilidade de discussões em torno da eficácia da Educação Ambiental para uma verdadeira preservação do planeta, esse é um assunto ainda em pauta, pois não temos como prever como a educação pode mudar a realidade consumista pregada pelo capitalismo que dela se reproduz. A grande preocupação com a problemática ambiental é justamente, a falta de um consenso entre os estudiosos sobre o assunto e isso pode interferir em uma ação em curto prazo, deixando o problema para ações individuais da população.

A implantação da Educação Ambiental é muito recente para que pensemos em resultados imediatistas, precisamos esperar um tempo maior para perceber alguma mudança no ponto de vista de uma sociedade ainda terminantemente consumista. A ação empregada pela escola é ainda tímida, perto dos problemas que se acumulam com a falta de bom senso, no uso dos recursos naturais.

A Educação ambiental aplicada na Educação aparece como a esperança de um tempo melhor, para conseguir mudar uma realidade trágica para a humanidade,(realidade assim anunciada a todo o momento), o fim dos recursos naturais não renováveis,(muito próximo de acontecer, será?)sendo essa uma responsabilidade não apenas dela, mais também dos governos dos diversos países do mundo, cujos destinos estão interligados, já que o problema ambiental não é regional ou local é mundial.

A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana.(MORIN,2001,p.47)a superficialidade dessa aplicação na Educação Infantil não é culpa dos educadores ou mesmo das leis que regem o ensino, a questões ambiental parece apartada da condição humana, como se preservar não tivesse uma relação com o homem. Sendo este, um campo relativamente novo ainda é preciso ajustes para que ocorra tudo de forma satisfatória e que possa ser percebida as mudanças necessárias à sobrevivência das espécies, incluindo a nossa.

REFERÊNCIAS

BOMFIM, A. M. Educação Ambiental para além do capital: balanço de estudos e alguns apontamentos à EA sob a perspectiva do trabalho. Grupo de pesquisa em Trabalho-Educação e Educação Ambiental- GPTEEA do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ.. In:Trabalho Necessário,Rio de Janeiro,ano 9,nº 13.Edição Especial.Rio de Janeiro,UFF,2011

________________________________. Trabalho, Meio Ambiente e Educação: apontamentos à Educação Ambiental a partir da Filosofia da Práxis. In:XIV ENDIPE,2008.Porto Alegre.XIV ENDIPE,CD –ROM.Porto Alegre:EDIPUCRS,2008.p.1-14 ISBN 987-85-7430-734-3

________________________________. O(Sub)Desenvolvimento(IN)Sustentável:A Questão Ambiental nos países periféricos latino-americanos.In:Trabalho Necessário,Rio de Janeiro,ano 8,nº10.Rio de Janeiro,UFF,2010

BRASIL.Constituição Federal de 1988.VI Meio ambiente. Disponível em: http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/constfed.nsf/16adba33b2e5149e032568f60071600f/62e3ee4d23ca92ca0325656200708dde?OpenDocument .Acesso em: 17/01/2015

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010

BRASIl. Mistério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: portal. mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf .Acesso em: 25/05/2015

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:conhecimento de mundo.Volume 3. Brasília: MEC/SEB, 1998

BRASIL Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros Curriculares Nacionais de qualidade para a educação infantil:Meio Ambiente,Saúde. VoL. 09. Brasília: 128 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf .Acesso em: 30/05/2015

ELALI,Gleice Azambuja.O ambiente da escola- o ambiente na escola:uma discussão sobre a relação escola-natureza em educação infantil. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n2/19047.pdf . Acesso em: 14/01/2015

FOLADORI, G. Limites do desenvolvimento sustentável. Campinas:UNICAMP,2001

FREIRE,Paulo.Pedagogia do Oprimido.54ªEdição.São Paulo:Paz e Terra,2013

LAYRARGUES, P. P. Do ecodesenvolvimento ao desenvolvimento sustentável: evolução de um conceito?Revista proposta, Rio de Janeiro, v.24, n.71, p.1-5, 1997

LAYRARGUES, P. P. (Re) Conhecendo a educação ambiental brasileira. In:

LAYRARGUES, P. P. (coord.). Identidades da educação ambiental brasileira.

Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004

MELO,José Marques de;TOSTA,Sandra Pereira.Mídia e Educação.Belo Horizonte:Autêntica Editora,2008

MORIN,Edgar.Os sete saberes necessários à educação do futuro.3ª Edição.São Paulo:Cortez;Brasília,DF:UNESCO,2001

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Brincadeira é coisa séria!Espaço de Desenvolvimento Infantil Samira Pires Ribeiro. Projeto Político Pedagógico, mar.2014

RODRIGUES,Cae.Educação infantil e educação ambiental:um encontro das abordagens teóricas com a prática educativa. Disponível em: http://www.seer.furg.br/remea/article/view/3354 .Acesso em:17/01/2015

TIRIBA, Léa. Crianças da Natureza.Anais do I Seminário Nacional: Currículo em movimento -perspectivas atuais.Belo Horizonte,Nov,2010. Disponível em: portal. mec.gov.br/index.php?Option=com_docman&task… Acesso em: 02/05/2015

2. PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

3. DCNs – Diretrizes Curriculares Nacionais

4. MEC – Ministério da Educação e Cultura

5. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU em 1983. Ver em: http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/01/acordos-globais

[1] Doutoranda em Educação, Mestre em Ensino de Ciências, Pós – graduada em Artes e Orientação Educacional e pedagógica, Licenciada em História, Pedagogia e Ciências Biológicas, Professora da rede pública da Cidade do Rio de Janeiro.

Enviado: Março, 2019.

Aprovado: Março, 2019.

Rate this post
Angélica Rangel do Nascimento Cunha

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POXA QUE TRISTE!😥

Este Artigo ainda não possui registro DOI, sem ele não podemos calcular as Citações!

SOLICITAR REGISTRO
Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita