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O que é a análise de conteúdo? – Compreendendo o cenário da metodologia científica e as suas possibilidades – Como posso fazer uma análise de conteúdo em meu trabalho científico?

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Características da metodologia científica: compreendendo quais são as ferramentas e técnicas de pesquisa que o pesquisador pode empregarCaracterísticas da metodologia científica: compreendendo quais são as ferramentas e técnicas de pesquisa que o pesquisador pode empregar

Olá, tudo bem? Em nosso post de hoje iremos discutir mais uma vez sobre a metodologia científica. Como temos frisado ao longo de nossos posts, um pesquisador tem em mãos uma série de métodos, técnicas e instrumentos a partir dos quais uma pesquisa pode tomar forma. Como é um cenário bastante amplo, hoje iremos nos concentrar nas técnicas de pesquisa relacionadas à análise de conteúdo. De antemão, precisamos apontar que a metodologia científica parte de dois vieses, sendo eles o quantitativo e o qualitativo. A análise de conteúdo faz parte do domínio da abordagem qualitativa, e, dessa forma, ao longo desse post iremos apresentar as suas principais características, técnicas e dicas para que o conteúdo que você deseja analisar seja apresentado ao leitor da melhor forma possível. Algo que devemos apontar a priori é que as informações devem ser introduzidas de forma detalhada.

As múltiplas faces da análise de conteúdo

No mundo acadêmico, as técnicas de pesquisa podem assumir diferentes formatos. Em relação à análise de conteúdo, uma dessas vertentes está relacionada com as demandas postas por uma pesquisa que integra o universo da abordagem qualitativa. Alguns anos atrás, houve, na academia, uma discussão muito frequente acerca da análise de conteúdo. Antes, era muito comum que os pesquisadores realizassem as suas entrevistas e/ou aplicassem os questionários e tratassem esses dados sob o viés da análise do discurso. Contudo, a análise do discurso não é uma metodologia, mas sim uma perspectiva teórica que possui uma série de variações. Trata-se de uma teoria muito explorada, sobretudo por aqueles que apoderam-se dos escritos de Marx para desenvolverem os seus estudos. Entretanto, são diversos os autores e as perspectivas teóricas que promovem as suas visões sobre o que vem a ser o discurso.

Como resolver o dilema relacionado à análise do discurso como metodologia?

Em virtude desse panorama que acabamos de apresentar, surgiu um dilema: como resolver as questões relacionadas à linguagem e às teorias do discurso? Bardin é um nome essencial quando discutimos sobre essa temática, pois ela, ao longo dos seus estudos, desenvolveu um mecanismo bastante interessante. Nasce, nesse contexto, a análise de conteúdo. Em suas obras, ela apresenta todos os pontos essenciais sobre esta ferramenta de pesquisa que muito tem ajudado os pesquisadores a interpretarem os resultados de suas entrevistas/questionários. Em seus livros, ela apresenta um passo a passo que nos ensina a aplicar a análise de conteúdo em nossas pesquisas. A fim de que compreendamos os pontos importantes desse universo criado pela autora, iremos apresentar os conceitos básicos. A primeira coisa que você precisa saber é que toda pesquisa demanda cuidados metodológicos.

Os cuidados metodológicos na pesquisa científica

Os cuidados metodológicos na pesquisa científica perpassam pelas mais diversas etapas. Estão relacionados, primeiramente, a forma a partir da qual podemos coletar aqueles materiais que irão fornecer subsídios ao desenvolvimento do nosso estudo. Além disso, esses cuidados nos ajudam a chegar em uma vertente teórica que tenha mais a ver com a nossa linha de pesquisa, isto é, a esses autores, e, consequentemente, com as visões por eles defendidas. Elencando-se a abordagem qualitativa, a análise de conteúdo pode ser uma das possibilidades em termos de ferramentas a serem aplicadas. O grande objetivo da pesquisa qualitativa é compreender com profundidade um dado contexto. Especialmente se você optar pela realização de uma entrevista, o método é essencial. Pensemos em um exemplo, suponhamos que você tenha como objetivo compreender como os adolescentes de um dado bairro têm consumido.

Como desenvolver uma pesquisa qualitativa?Como desenvolver uma pesquisa qualitativa?

Ter muito claro em mente o grupo social, a faixa etária, dentre outros aspectos é essencial para traçar um dado perfil. Delimitar um estado, cidade e bairro é uma forma de afunilar essa população que irá representar a sua amostra. Tendo essa amostra bem delimitada, você pode entrevistar as pessoas que se encaixam nesse perfil. Para que elas sejam entrevistadas, você precisa partir de um método. É preciso que você tenha muito claro em mente quantas pessoas serão entrevistadas (nesse caso, quantos adolescentes irão colaborar com o estudo), se a entrevista se dará por roteiro, quais são as perguntas a serem feitas etc. essa entrevista pode ser estruturada ou semiestruturada, sendo que nesta o pesquisador pode fazer as intervenções necessárias ao longo da entrevista para que as respostas tenham uma boa qualidade para o estudo. O interesse é o de compreender a fala dessas pessoas.

O que fazer depois de escolher a população do estudo?

Após selecionar as pessoas que serão entrevistadas, você começará a receber as respostas, seja via questionário, seja a partir da entrevista propriamente dita. Contudo, é preciso saber como aproveitar essas respostas. Temos, até esse momento, uma pesquisa que parte do viés qualitativo e, para chegar às respostas pretendidas, emprega-se uma entrevista para comprovar ou não o fenômeno/problema de pesquisa que está sendo abordado no estudo. O que irá definir se essa entrevista irá ocorrer de forma estruturada ou semiestruturada é a sua escolha junto ao seu orientador do melhor método, e, ainda, deve-se levar em consideração as demandas postas pelo próprio contexto da sua pesquisa. Contudo, é preciso que saibamos como proceder em relação a essas falas. Embora algumas pessoas denominem essas falas como discurso, aqui as entenderemos como falas, pois, como apontamos, discurso é uma teoria.

Interpretando os resultados na pesquisa qualitativaInterpretando os resultados na pesquisa qualitativa

Apenas para recapitular, gostaríamos de frisar que antes de você começar a aplicar essa entrevista, é importante que você tenha muito claro em mente como esses resultados serão interpretados e analisados. Por exemplo, é preciso que você saiba se irá criar esse questionário ou se irá se orientar por relatório. Atenha-se ao fato de que as perguntas a serem feitas precisam ser validadas por outros estudos ou submetidas ao Comitê de Ética para avaliação. Tudo deve estar alinhado com o seu problema de pesquisa e com os seus objetivos para que as respostas forneçam uma visão real acerca do fenômeno que você está investigando. É fato que após a realização de uma entrevista temos em mãos uma ampla gama de falas. O que fazer com elas? Essas falas, na verdade, são múltiplos conteúdos, e, dessa forma, a análise de conteúdo atua como uma poderosa ferramenta.

Os vieses da análise de conteúdo

Não é apenas a Bardin que discute sobre a análise de conteúdo, porém, ela é uma das mais expressivas. Ela é de suma importância no contexto brasileiro e, na verdade, na América Latina como um todo. Em sua obra discute sobre como chegou a abordagem da análise do conteúdo e sobre as etapas propriamente ditas. O interessante é que ela também se concentra na etapa da pré-análise, e, ainda, apresenta uma série de exemplos para que essas técnicas sejam aplicadas da melhor forma possível. Até mesmo dicas sobre como você pode coletar esses materiais a serem analisados são introduzidos na obra. Contudo, o que você deve saber nesse momento é que a análise de conteúdo é um método que permite que você trate os dados coletados a partir da realização de uma entrevista e/ou da aplicação de um questionário. Os dados em questão aos quais estamos nos referindo são as falas coletadas na entrevista.

Quais os tipos de dados que devo coletar?

Na entrevista, você deverá coletar aqueles dados que sejam capazes de fazer com que você compreenda o cenário que se propôs a analisar. Assim sendo, a análise de conteúdo introduz a você alguns meios a partir dos quais você pode tratar e explorar esse conteúdo, seja para confirmar ou refutar o que foi desenvolvido ao longo do estudo. Entretanto, como apontamos no início dessa conversa, muitas pessoas, ainda hoje, confundem essa técnica com a teoria da análise do discurso. São aspectos diferentes, logo, estão ligados a técnicas de análise diferentes, visto que o discurso é uma vertente teórica e não um método. Contudo, até os primeiros dez anos dos anos dois mil muitas pessoas nomeavam essa técnica como análise do discurso. Todavia, o interesse da análise de conteúdo é fornecer mecanismos para que você, enquanto pesquisador, a partir de uma linha teórica pré-estabelecida, analise esse conteúdo.

Dicas preliminares relacionadas à análise de conteúdo

A análise de conteúdo gira em torno da vertente teórica por você escolhida, do problema de pesquisa e dos objetivos relacionados a esse problema. São esses aspectos que irão ajudar você a chegar até as respostas a serem analisadas pelo viés da análise de conteúdo. Assim sendo, um dos aspectos fundamentais nesse processo é ter muito claro em mente como você irá olhar para essas respostas fornecidas por aqueles que estão contribuindo para com o seu estudo. Chegamos, nesse momento, no formato mais utilizado pelos pesquisadores que adotam a análise de conteúdo para as suas produções. De acordo com os preceitos de Bardin, esta forma mais comum empregada é o mecanismo da categorização dos dados. Esta categorização, por sua vez, pode assumir duas formas diferentes. A primeira delas é a forma pré-estabelecida.

Como funciona o processo de categorização?

A primeira possibilidade para esta categorização é de forma pré-estabelecida. Nela, as categorias de conteúdo a serem tratadas já encontram-se bem definidas. Contudo, essas categorias não podem ser escolhidas de forma aleatória, de modo que devem estar de acordo com a literatura que você está defendendo. Por exemplo, suponhamos que você esteja analisando como uma quantidade x de casais costumam se relacionar. A fim de que você possa chegar a essas respostas, você precisa partir de uma linha de raciocínio, teórica, e, a partir dela, você irá categorizar esses achados. Alguns professores, por diversas razões, chamam essas categorias de variáveis, porém, o sentido é o mesmo. Não iremos entrar nessa discussão aqui, isto é, não iremos afirmar se é correto ou não chamar uma categoria de variável no contexto da análise de conteúdo, já que o nosso foco é compreender como ela funciona.

A organização das falas a serem categorizadasA organização das falas a serem categorizadas

Um dos grandes princípios da análise de conteúdo é a organização em categorias das falas a serem analisadas. Essas falas não podem ficar “soltas” em seu texto, e, além disso, elas devem ser amarradas com a perspectiva teórica que está fornecendo subsídios ao seu estudo. Essas falas também não podem ser introduzidas de forma aleatória. Com isso, compreendemos que elas devem ser categorizadas, ordenadas de forma que façam sentido nesta discussão. Essa categorização é feita previamente (pensando-se em categorias que chegam capazes de responder aos seus objetivos e ao problema de pesquisa), ou, ainda, pode assumir uma outra forma. Suponhamos que você tenha um grupo focal. Podem surgir falas interessantes ao seu estudo que não se enquadram em nenhuma das categorias, e, dessa forma, podem ser inseridas neste momento, ou seja, fogem daquelas categorias que você já havia pré-estabelecido.

A união das falasA união das falas

Uma das formas de exploração dessas falas é a sua união por meio de sentenças à medida em que a pesquisa vai ganhando forma. Por exemplo, suponhamos que você queira investigar o comportamento de adolescentes que são gamers. Como afirmamos, é preciso que haja pré-categorias, porém, ao longo do estudo, você pode perceber que, de forma recorrente, porém, não foi algo considerado previamente, que esses gamers passaram horas nesse outro universo como uma tentativa de fuga de um outro universo, que é a vida real (é um caso hipotético). As respostas desses entrevistados podem afirmar que há uma certa preferência pelo virtual em detrimento do contato físico. Essa é uma fala que emergiu nesse novo contexto.

Nesse segundo tipo de categorização tem-se, portanto, o surgimento de respostas que ao mesmo haviam sido pensadas durante a seleção dessas categorias, porém, apontam para resultados interessantes ao estudo e que não podem deixar de serem introduzidos no momento da análise. Dessa forma, apenas para frisar, gostaríamos destacar que esse conteúdo pode tanto ser analisado a partir daquelas categorias que você estabeleceu antes de começar a tratar os dados, bem como pode partir de categorias inseridas em virtude dessas respostas não esperadas. Essa categorização, ao invés de ser feita previamente, pode ser feita após a coleta das falas, visto que podem demandar outras categorias.

Uma resposta

  1. Galera,
    Antes de qualquer coisa, devo agradecer a disponibilidade de um material tão contributivo para ampliação de informações sobre a AC. Mas fiquei me perguntando o motivo pelo qual vocês não disponibilizaram as referências bibliográficas que serviram de base para o artigo. Metodologicamente, e AC é pura metodologia, seria de fundamental importância, mesmo que se possa crer que Bardin (2011) possa ter sido essa base teórica.
    Saudações e grata, uma vez mais.

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