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Evolução do curso de medicina no Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas no Município de Coari /AM, e seu atual estado de implantação

RC: 150772
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/biologia/estado-de-implantacao

CONTEÚDO

REVISÃO INTEGRATIVA

MALOSSO, Milena Gaion [1], SUPRAVIDA, Keila Abreu [2], LIMA, Paula Andreza Viana [3], GUILHERME, Adriano Pereira [4], SANTOS, Ivan Monteiro dos [5], LEÔNIDAS, Lilian Vieira [6], FARIAS, Fleming Nabeshima de [7]

MALOSSO, Milena Gaion et al. Evolução do curso de medicina no Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas no Município de Coari /AM, e seu atual estado de implantação. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 08, Ed. 12, Vol. 03, pp. 160-179. Dezembro de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/biologia/estado-de-implantacao, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/biologia/estado-de-implantacao

RESUMO

A implantação do curso de medicina em Coari-AM é uma conquista recente para a cidade e a toda a região do Médio Solimões, primordial para suprir a carência de médicos na Região Norte que possui uma média de cerca de 1,4 médicos por mil habitantes em todos os seus Estados, representando os piores indicadores do Brasil. Assim, visando conhecer a história da implantação do curso de medicina no Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) de Coari da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o estado atual da implantação atual, o objetivo deste trabalho foi relatar os fatos históricos sobre a implantação deste curso a partir de uma análise consubstanciada da realidade de trabalho atual ofertada aos docentes médicos nele atuantes. Para isso, foram averiguadas as perspectivas dos docentes que atuaram na implantação do curso, diagnosticadas as causas que levam à evasão dos profissionais médicos do ISB e propostas de medidas para permanências destes profissionais neste Instituto.  Este trabalho se justifica, pois, realizar um levantamento histórico da implantação do curso de medicina no ISB de Coari é necessário para a obtenção do diagnóstico preciso das causas de evasão atuais dos docentes da área médica desta graduação. Como resultado, verificamos que para fins de implantação do curso, apenas um prédio foi construído, porém não foi equipado, que houve falha institucional na elaboração de perfil de vagas para a contratação de docentes para este curso, de modo que apenas doze professores com formação em medicina foram contratados. O mesmo ocorreu com os técnicos administrativos, de modo que há apenas dois profissionais concursados para dar suporte especificamente a este curso.

Palavas-chave: Implantação de curso medicina, Dificuldades de fixação de profissionais no interior dos estados da região norte, Diagnósticos institucionais.

1. INTRODUÇÃO

A implantação do curso de medicina em Coari é uma conquista recente para a cidade e a toda a região do Médio Solimões, que anteriormente não contavam com uma instituição de ensino superior com cursos nessa área. A ideia de trazer um curso de medicina para o município surgiu da necessidade de suprir a carência de médicos na região, além de oferecer uma oportunidade de formação para os jovens deste local e adjacências.

A implantação deste curso foi de suma importância, uma vez que, de acordo com Pávoa e Andrade (2006), o Brasil é bastante carente de profissionais médicos que se proponham a atuar no interior dos estados. Silveira e Pinheiro (2014) identificaram que a Região Norte possui uma média de cerca de 1,4 médicos por mil habitantes em todos os seus Estados, representando os piores indicadores do Brasil. Esses números evidenciam um panorama de maior vulnerabilidade, com importantes dificuldades no acesso a médicos na região (Brasil, 2012).

No caso do Município de Coari, localizado a 360 Km fluviais da capital Manaus/AM, a cidade apresenta um indicador de 0,2 médicos para cada 1.000 habitantes, número dez vezes menor quando comparado com o índice da capital Manaus, que é de 2,0 médicos para 1.000 habitantes (Guimarães et al, 2020).

Por diversas razões, há uma grande dificuldade de fixar profissionais médicos nesta cidade, levando a uma alta rotatividade destes profissionais no município. A grande maioria dos médicos que trabalham em Coari são generalistas, recém-graduados que buscam o município para trabalhar por curtos períodos que variam de 2 meses a 1 ano e que, após este período, retornam à capital para continuarem o processo de especialização (Faria, 2019).

O processo de implantação do curso de medicina em Coari deu-se através do projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades (REUNI), lançado pelo Ministério da Educação em 2005 e oficializado pela Portaria MEC/SESU nº 109, de 5 de junho de 2012, que visava a interiorização das Universidades Federais e disponha, entre outros, sobre a expansão de vagas em cursos de medicina existentes e a criação de novos cursos de medicina em Universidades Federais (Brasil, 2012). Assim, para que o curso de medicina pudesse ocorrer em Coari, foram realizados diversos convênios de parceria entre o Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a Prefeitura Municipal, onde a primeira forneceria a estrutura de cunho teórico e a segunda forneceria a infra-estrutura prática de modo a permitir que os discentes supervisionados por docentes de diversas área da medicina realizassem as atividades práticas necessárias à boa formação do aluno tanto no Hospital Regional de Coari, como nas diversas 14 (quatorze) Unidades Básicas de Saúde (Faria, 2019).

Com a parceria consolidada, iniciou-se a construção e equipagem do prédio do curso de medicina. Concomitantemente, foram abertos vários editais para a contratação de professores das diversas áreas de medicina. Além disso, deu-se início aos processos seletivos para a seleção dos estudantes que inicialmente foram alocados no Campus I deste Instituto. Porém, atualmente, já encontram-se realizando todas as atividades pertinentes a este curso no Campus II, que foi inaugurado em 29 de março de 2021 (UFAM, 2021).

A implantação do curso de medicina em Coari trouxe diversos benefícios para a cidade e região pois, além de formar profissionais capacitados que poderão atuar no município e adjacências, o curso também atrai estudantes de outras localidades, o que aquece a economia local e abre novas vagas de emprego nas mais diversos setores, não só institucionais, mas também municipais, o gera renda para a população local, que via de regra, não tem onde trabalhar.

A inclusão da UFAM, entre as Instituições de Ensino Superior responsáveis pela implantação de novos cursos de medicina em campi do interior, colabora para o alcance dos interesses e objetivos da instituição, expressamente sistematizados no seu Plano de Desenvolvimento Institucional (UFAM, 2019).

Assim, visando conhecer a história da implantação do curso de Medicina no ISB de Coari, o objetivo deste trabalho foi relatar os fatos históricos sobre a implantação do curso de Medicina no Município de Coari a partir de uma análise consubstanciada da realidade de trabalho atual ofertada aos docentes médicos do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas. E, para isso, foram averiguadas as perspectivas dos docentes que atuaram na implantação do curso, diagnosticadas as causas que levam à evasão dos profissionais médicos do ISB e propostas de implantação de medidas para permanências destes profissionais neste Instituto.  Este trabalho se justifica, pois realizar um levantamento da história da implantação do curso de Medicina no ISB de Coari, bem como analisar a evolução desta etapa, são necessários para a obtenção do diagnóstico preciso das causas de evasão do profissional docente do curso de medicina do ISB.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização deste relato de caso foi feito um levantamento bibliográfico no Google Acadêmico utilizando os termos “Interiorização do Curso de Medicina”, “Implantação do Curso de Medicina em Coari”, “Dificuldades de permanência de profissionais Médicos no interior dos Estados”. Os critérios de inclusão foram compreender o período entre 2000 a 2023, estar relacionado ao ISB, ter passado por escopo editorial, tratar da Faculdade de Medicina, possuir parâmetros indicadores de conteúdos socioculturais do Município de Coari, estar escrito em português e ser de período equivalente à implantação da faculdade medicina em Coari. Após essa etapa, foram realizadas duas rodas de conversa com os docentes do ISB, sendo a primeira realizada com os que atuaram na implantação do curso e a segunda com os docentes efetivos que atuam como docentes no curso de medicina hoje em dia, visando primeiramente levantar dados sobre o histórico da implantação da Faculdade de Medicina no ISB e, posteriormente, o estado de desenvolvimento atual do curso, além de verificar as causas de evasão dos docentes médicos e encontrar soluções para resolver esta problemática. O critério de inclusão foi tratar-se atores que estiveram envolvidos na história da implantação do curso em questão e o de exclusão foi que, para participar da roda de conversa, o profissional deveria estar trabalhando no Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas durante o período de realização deste projeto.

A realização da coleta de dados ocorreu por meio de duas rodas de conversa realizadas com os profissionais do perfil adequado que foram previamente informados que o debate mantido nesta ocasião geraria dados para um artigo (dos quais todos os envolvidos tornaram-se autores deste artigo), que todos que aceitassem expressar suas opiniões neste sentido, deveriam permanecer na roda e que aqueles que fossem contrários, eram livres para sair ir embora. Após esta etapa, os dados foram prescritos e então analisados.

Durante a roda de conversa, foram levantadas questões de ordem pessoal como nome, função, tempo de trabalho no curso de medicina e área de atuação, além de questões sobre estrutura predial, composição técnico-laboratorial e administrativo e do corpo docente e os motivos que dificultam a permanência dos profissionais médicos neste curso, além de uma análise crítica do PPC e seus problemas para a implantação deste.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A expectativa era de que a implantação do curso de medicina no ISB contribuísse para a melhoria da saúde na região, reduzindo a carência de médicos e ampliando o acesso a serviços de saúde de qualidade. Além disso, a formação de médicos locais também fortaleceria o vínculo com a comunidade, favorecendo o entendimento das necessidades e realidades locais, no entanto, pode-se verificar nas conversas mantidas por esses autores, que há uma grande dificuldade em fixar os profissionais da área médica no município de Coari.

A implantação deste curso representou um marco importante para a cidade e região, proporcionando formação e oportunidades para os jovens locais, o que deveria contribuir significativamente para a saúde da população local. Porém, na prática, verifica-se que, tanto os discentes egressos como os docentes médicos concursados acabam migrando para a capital, uma vez que lá encontram maiores facilidades de atuar no campo de assistência e, com isso, aumentar sua renda.

Isso pode ser facilmente verificado conforme mostra o Gráfico, pois dos 86 alunos matriculados até o momento, 02 (7,69%) foram jubilados, 06 (6,97%) foram transferidos, 30 (30,88%) são desistentes, 07 (8,13%) colaram grau e 41 (47,67) constituem os discentes que encontram-se regularmente matriculados.

Gráfico 1: Situação atual dos discentes do curso de medicina do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas

Fonte: Autores (2023).

Como pode ser analisado no Gráfico 1, o número de discentes formados e que estão efetivamente matriculados no curso de medicina é de 48 (55,81 %), o que indica uma grande evasão deste curso, uma vez que 38 (44,19%) dos alunos, desistiram de terminar seus estudos neste instituto. Na roda de conversa entre os docentes do ISB, detectou-se que os principal motivo postos para esta grande evasão foi que os discente prestaram vestibular e passaram em Instituições de Ensino Superior mais próximas às capitais, ou nestas localizadas, o que reforça a necessidade de formação de médicos para atuarem nas cidades do interior dos Estados, principalmente do Norte e do Nordeste.

Para analisar um pouco melhor este dado, procuramos relacioná-los com os dados referentes à implantação do curso, encontrados na revisão de literatura.

No levantamento de literatura, foram escolhidos 7 textos para trazer as informações contidas neste texto, conforme mostra a Tabela 1 a seguir:

Tabela 1. Levantamento de literatura

Título Autores Ano de Publicação Informações
Portaria Nº 109, de 05 de junho de 2012 BRASIL, Ministério de Educação 2012 Legislação que dispõe sobre as vagas de medicina e criação de novos cursos de medicina nas Universidades Federais
A interiorização do curso de medicina e o Programa Mais Médicos para o Brasil: o caso da Universidade Federal do Amazonas em Coari -AM. Ricardo dos Santos Farias 2019 Versa sobre a implantação de cursos de medicina no Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas sob a égide do Programa Mais Médicos.
Acesso ao serviço de saúde por ribeirinhos de um município no interior do estado do Amazonas. Ananinas Fagundes Guimarães et al. 2020 Entre outros, trata do índice de distribuição de médicos em diversas localidades.
Distribuição geográfica dos médicos no Brasil: uma análise a partir de um modelo de escolha locacional. Luciano Pávoa e Mônica Viegas Andrade 2006 Entre outros, dos problemas de fixação de médicos em diversas localidades.
Entendendo a necessidade de médicos no interior da Amazônia – Brasil Rodrigo Pinheiro Silveira e Roseni Pinheiro 2014 Entre outros, dos problemas de fixação de médicos em diversas localidades
Em solenidade on line, UFAM inaugura o segundo campus de Coari. Universidade Federal do Amazona,  Assessoria de Comunicação 2021 Informa sobre a inauguração do Campus II de Coari, que alberga o curso de medicina neste município
Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI 2019. Universidade Federal do Amazonas, Pró-reitoria de planejamento. 2023 Entre outros, informa sobre os benefícios para o município de Coari advindos da implantação do curso de medicina.

Fonte: Autores (2023).

Tentando compreender os motivos da procura de discente e docentes pelas IES em grandes centros, foram discutidos vários aspectos que poderiam favorecer essa migração, sendo eles analisados a seguir.

Com relação à infraestrutura, foi construído o Campus II do Instituto de Saúde e Biotecnologia (Foto 1), constituído de um prédio de 4 andares, contendo 13 salas de aula, 3 salas de tutoria, 3 salas de conferência, 1 sala de centro acadêmico. Possui também 1 sala de coordenação de curso, 1 de convívio dos servidores, 1 de técnicos administrativos, 1 de processamento de dados, 1 de recursos humanos, 1 de diretoria e secretaria acadêmica, 1 de reunião, 1 de coordenação administrativa e 1 de gerência. Conta ainda com 1 laboratório de realidade virtual, 1 de multiuso de microbiologia médica, 1 de multiuso geral, 1 de multiuso de parasitologia, 2 de multiuso de semiologia e semiotécnica, 1 de saúde da mulher, 1 de anatomia a seco, 1 de multiuso de técnica operatória e cirurgia experimental e 1 sala de esterilização. Conta também com um almoxarifado, uma biblioteca composta de vasta literatura, uma sala de informática totalmente equipada, um auditório com capacidade para 100 pessoas, um restaurante universitário em pleno estado funcional, uma guarita de segurança e um amplo estacionamento interno.

Foto 1: Campus II do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (2023)

Fonte: Arquivos do Instituto de Saúde e Biotecnologia (2023).

Na roda de conversa, foi diagnosticado que, embora a estrutura predial esteja adequada ao curso de medicina, o prédio não se encontra minimamente equipado, não possuindo os equipamentos essenciais ao bom funcionamento deste curso, tais como bonecos anatômicos, ginecológico, manequins de ressuscitação, manequim de ausculta cardíaca e pulmonar, manequim de punção venosa, manequins de sutura entre outros, que são extremamente necessários para o início prático das atividades médicas.

Seguindo os critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos, a primeira rodada de conversa foi realizada entre quatro docentes, todos concursados no Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e que atuaram ativamente no processo de implantação do curso de medicina no município de Coari.

O docente 1 trabalha no ISB desde agosto de 2009 e era o coordenador acadêmico do ISB quando iniciaram-se as negociações para a implantação do curso em Coari atuando diretamente nesta etapa, a docente 2 trabalha no ISB desde outubro de 2006 e era coordenadora do curso de Bacharelado em Biotecnologia e Presidente do Núcleo Docente Estruturante deste curso e, por isso, foi nomeada para atuar nas etapas pedagógicas da implantação deste curso, o docente 3 trabalha no ISB desde 2016 e é médico docente contratado através do primeiro edital para professores do curso de medicina e vem atuando na implantação prática desse curso, desde a matrícula da primeira turma de medicina deste instituto e, finalmente, o quarto docente é o atual coordenador do curso de medicina do ISB, porém é lotado na Faculdade de Medicina de Manaus e trabalha na UFAM desde 1979. Durante esta conversa, foram levantadas as seguintes questões:

1) Você conhece a história da implantação do curso de Medicina?

Quando questionados se conheciam a história da implantação do curso de Medicina no ISB, o docente 1 respondeu que conhece bastante, já que era a coordenador acadêmico à época e foi a favor da implantação deste curso, que é fruto de um programa de expansão dos cursos das universidades lançado na primeira gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Explicou ainda que a UFAM optou por aceitar esta expansão porque receberia verba para infraestrutura e vagas para docentes para implantar em Coari o curso de medicina porque o Instituto deste município é de Saúde e Biotecnologia e, por isso, já teria parte da infraestrutura e do corpo docente necessário para o início do funcionamento do curso, uma vez que o ISB é um polo de saúde e já tinha os cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição.

Este docente comunicou ainda que participou de várias reuniões com a reitoria e com professores da Faculdade de Medicina de Manaus, e que estes últimos impuseram grande resistência à implantação deste curso em Coari, sugerindo que o mesmo fosse uma extensão do curso de Manaus, visto que entendiam que o curso não seria viável em Coari  e que, por fim, o Conselho Universitário foi favorável à abertura do curso em Coari.

A docente 2 informou que também conhece bastante a história da implantação do curso de medicina em Coari, e que foi a favor da implantação do curso, uma vez que fazia parte do Conselho Diretor à época e foi nomeada juntamente com outros professores como membro da Comissão de Implantação do Curso de Medicina do ISB, relatou ainda ter participado de várias reuniões com membros do MEC e professores da Faculdade de Medicina de Manaus, onde foi diversas vezes discutida a viabilidade de implantação do curso em Coari. Já o docente 3 relata que sabe que ocorreram muitas reuniões no período de 2013 e 2014 para a implantação do curso antes de sua entrada em 2016 e que ao ser concursado para as atividades laborais docentes, toda a parte estrutural e pedagógica já estava pronta. O docente 4 informa que conhece a história da implantação do curso de medicina em Coari desde o primeiro minuto até o momento atual.

Já na segunda roda de conversa, onde estavam, além do docente 3, mais três docentes concursados mais recentemente (em 2019, 2022 e 2023), para a docência na faculdade de medicina, quando questionados, responderam que não conheciam a história da implantação deste curso.

2) Quais os principais problemas do curso de Medicina que você identifica?

Os entrevistados 1, 2, 3 e 4 diagnosticaram que o principal problema encontrado no curso de medicina é fixação de docentes médicos no município, uma vez que o salário de professor é pouco atrativo quando comparado com o valor que estes profissionais recebem trabalhando na assistência médica. Os entrevistados 1 e 2 relatam que, visando contornar este problema, foram criadas vagas para cargos de docentes de 20 horas para que os médicos pudessem também atuar no Hospital Regional de Coari, nas UBSs deste município, bem como em clínicas particulares, mas que mesmo assim, a dificuldade de fixação persistiu, uma vez que vários editais foram abertos para a contratação de docentes médicos e muitos deles não possuem nenhum inscrito.

Além disso, a maioria destes profissionais não são portadores de diploma de mestrado e/ou doutorado, que é um fator de aumento salarial dentro do âmbito universitário federal e, por isso, o corpo docente que já reduzido, é constituído apenas por graduados e especialistas, que não possuem cursos de licenciatura ou especialização voltados para a área do ensino.

Outra dificuldade apontada é que os médicos não querem exercer atividades administrativas, inclusive a coordenação do curso, o que prejudica o andamento didático-pedagógico do curso, que tem sido coordenado por dentistas e enfermeiros.

O docente 3 identifica como um problema que tanto os docentes como os discentes fazem concurso de carreira e vestibular, respectivamente, já com a intenção de realizar as atividades do curso em Manaus e indica como solução que esteja claro nos Editais que o curso será realizado em Coari e que tanto docentes como discentes deverão ter ciência disso.

O docente 4 acrescenta ainda como um problema o fato de o Plano Pedagógico Curricular (PPC) inicial do curso, elaborado em 2014, foi baseado no PPC de Manaus e não é adequado para funcionar em áreas remotas, de modo que não funciona para a realidade da amazônica profunda, principalmente do interior, uma vez que é fragmentado em disciplinas de especialidades e este foi o principal problema que já foi corrigido no segundo PPC que agora é integrado, básico, circunclínico, baseado em módulos temáticos e não em disciplinas. Este docente vê ainda como outro problema a falta de professores fixados no município e propõe que o novo PPC é uma alternativa para erradicar este problema, que não demanda mais a necessidade de professores especialistas em medicina em Coari.

Já os docentes contratados mais recentemente indicaram o segundo PPC também como um problema para o bom andamento do curso, pois, além de os docentes médicos não serem treinados para trabalhar em metodologias ativas como a PBL e também não tem conhecimento pedagógico para elaborar um PPC.

3) O que você acha da estrutura física do prédio?

Com relação à estrutura física, o docente 1 entende que este é o ponto mais forte do curso e que foi inclusive, muito elogiado pelos membros do MEC que fazem o acompanhamento da implantação deste curso, mas que, por ter formação em física, não tem capacidade técnica para versar sobre os laboratórios. No entanto, esclarece ainda que há a necessidade de aquisição de material e alguns equipamentos para o curso. A entrevistada 2 entende que o Campus II onde está alocado o curso de medicina é excelente em termos de estrutura mas, no entanto, entende que, pelo fato de já funcionar há sete anos, os docentes com formação na área já deveriam ter elaborado projetos para a ampliação desta infraestrutura, tal como o de uma clínica-escola e do hospital-escola e informa igualmente ao entrevistado 1 que não tem entendimento técnico suficiente para discorrer acerca de laboratórios, pois é bióloga. Já o docente 3 relata que, embora o prédio destinado ao curso de medicina seja moderno, não possui rampa de acesso à cadeirantes e deficientes físicos e os elevadores nunca funcionaram, o que dificulta o atendimento às pessoas com problemas de locomoção, devendo estas adaptações serem sanadas. Enquanto profissional da área, identifica ainda a falta de manequins novos para algumas atividades de ensino teórico-práticas nos laboratórios, pois os que existem no laboratório foram herdados do curso de enfermagem e estão velhos e muito usando e ultrapassados, apontando assim, a necessidade de investimento neste quesito. Informa ainda que há anos foi feita a licitação para aquisição de diversos materiais como oxímetros, manequins para intubação e para exames físicos e ginecológicos, novas peças para o laboratório anatômico, mas nada foi entregue.

Já o docente 4 informa que inicialmente a infraestrutura era sucateada pois a UFAM e o MEC há muitos anos não investiam em infraestrutura no ISB até que o curso de medicina recebeu aporte financeiro para a construção do prédio super moderno de 4 andares com todos os ambiente necessários e a construção deste prédio foi muito demorada, uma vez que levou  cerca de 5 anos para ser entregue, devido ao fator logística para Coari. Porém, atualmente, o Campus II encontra-se funcionando. Relata ainda que a infraestrutura poderia ser melhorada com equipamentos de realidade simulada e com treinamento de técnicos e docentes para a utilização dos mesmos, além da informatização do Campus II como um todo.

Os professores novos informam que ou não conhecem o prédio novo do Campus II, ou passaram por lá apenas no momento de sua posse no cargo, uma vez que estes encontram-se realizando suas atividades docentes na sede em Manaus.

4) O que você acha do corpo docente?

Os docentes 1 e 2 acreditam que o corpo docente do curso é bom, principalmente o composto pelos docentes das disciplinas de base que são todos mestres ou doutores. Esclarecem ainda que o corpo docente técnico de área com formação em medicina é ainda muito reduzido, contando apenas com 10 (dez) médicos e sendo poucos deles especialistas. Para melhorar o corpo docente técnico de área, sugerem a criação de políticas públicas que criem bolsas para profissionais médicos como complemento salarial visando a fixação do médico como docente.

Entendem ainda que o corpo técnico administrativo é bom e capacitado, no entanto, não sabem opinar como melhorar este quesito.

O docente 3 comunica que não há problemas com o corpo docente das áreas básicas, mas que na área específica que constituída por médicos, verifica que além de serem poucos os profissionais atuantes como docentes, estes ainda não querem fixar-se em Coari, permanecendo na capital para acompanhar os discentes nas atividades realizadas a partir da segunda metade do curso.

Para melhorar a qualidade do corpo docente técnico de área de medicina e visando aumentá-lo e fixá-lo ao menos parcialmente no município, sugere que a instituição implante disciplinas modulares e crie mecanismos para que estes docentes permaneçam apenas 15 dias por mês no município, uma vez que entende que é melhor ter um médico por 15 dias do que ficar sem ninguém. No entanto, esta sugestão não pode ser levada adiante, pois está em desacordo com a Lei 8.112/90 (Brasil, 1990), no concernente às questões de assiduidade. Já os docentes mais novos informam que não pretendem fixar-se no município, pois a mudança da sede para o interior não compensa financeiramente.

Quanto aos técnicos, estes são excelentes, mas relata que no projeto de implantação do curso de medicina constam 40 técnicos, mas que muitos foram desviados para outros cursos e funções, permanecendo poucos deles efetivamente alocados para realizar as atividades do curso.

Já o docente  4 diz que o corpo técnico do ISB é de boa qualidade, uma vez que são muito dedicados ao trabalho, desempenham um bom papel e há um excelente relacionamento interpessoal entre todos os funcionários, no entanto, dos 24 técnico concursados para curso de medicina, muitos não são de funções ligadas à medicina aplicada à atenção à saúde e ao cuidado de paciente, sendo a maioria técnicos de bancada e que na hora de definir o perfil para as próximas contratações é necessário ter uma visão mais objetivas às atividades fins do curso de medicina. Um dos docentes novos também afirma a necessidade de escutar o docente médico antes de elaborar o perfil para a contratação de corpo técnico para a faculdade de medicina de Coari.

Ainda na fala do docente 4, fica registrada a necessidade de contratação de um número maior de técnicos em medicina, pois em sua visão, o corpo docente peca por ter apenas 4 médicos residentes em Coari e os demais professores médicos deste curso estarem atuando em Manaus.

Além disso, o docente 4 ainda averigua que há muitos docentes de outros cursos como nutrição, biotecnologia, enfermagem e fisioterapia atuando no curso de medicina, mas que esta situação é válida, além destes docentes externos tentarem cobrir áreas básicas uma vez que os docentes da área de medicina não se interessam por ministrar disciplinas no ISB, o curso de medicina integra-se aos outros.

O docente 4 vê ainda que, para melhorar o corpo docente, é necessário a formação docente para o profissional médico, além de qualificação a nível de especialização, mestrado e doutorado destes profissionais.

Já os docentes contratados recentemente não souberam opinar a este respeito.

5) O que acha do Projeto Pedagógico do Curso?

De acordo com o docente 1, atualmente, existem dois PPC propostos para o curso de medicina de Coari. O antigo que não funcionou, por estar baseado em atividades técnicas da área de medicina que só são possíveis de se realizar em cidades grandes, o que levou os discentes a realizarem as disciplinas na sede em Manaus após a segunda metade do curso e, por isso, foi substituído pelo segundo, que é baseado PDL que é uma metodologia alternativa promissora para o bom andamento do curso no município de Coari.

A docente 2 não sabe opinar sobre este assunto, pois não mais acompanhou o andamento do curso de medicina após a sua efetiva implantação com a contratação de docentes médicos.

O docente 3 relato que o primeiro PPC foi baseado em medicina tradicional, mas que a partir de 2014, é obrigatório o uso de metodologia ativa nos cursos de medicina daí a necessidade de reformulação e implantação do segundo PPC, uma vez que esta metodologia não necessita de docentes especialistas em todas as áreas de medicina o que facilita a realização total do curso no município de Coari. No entanto, prevê ainda a necessidade de treinamento prévio dos docentes para trabalhar com este tipo de metodologia.

Os novos docentes novamente não souberam opinar a respeito, o que demonstra o desinteresse destes no desenvolvimento didático-pedagógico do curso, uma vez que querem permanecer realizando suas atividades laborais na sede em Manaus, mesmo sabendo que são contratados para trabalhar no curso de medicina de Coari.

Tendo em vista os fatos mencionados, conclui-se que a implantação do curso de medicina no município de Coari se deu de forma compelida, pois se iniciou o curso com diversas deficiências que na prática seriam indispensáveis para o funcionamento, sendo a mais agravante a falta de docentes médicos, situação que se perdura até os dias atuais. No entanto, para combater as dificuldades em fixar o profissional médico na região, são necessárias medidas como investimentos em infraestrutura médica, programas de incentivo financeiro e capacitação profissional, assim como a criação de políticas que busquem melhorar a qualidade de vida no interior, como oferta de serviços básicos e acesso a lazer e cultura.

Compreende-se que ao trabalhar no interior, os professores têm a oportunidade de ter um impacto direto na saúde da comunidade local, evidenciando que o seu trabalho vai além da sala de aula, permitindo-lhes que contribuam para a melhoria dos serviços de saúde, formação de profissionais competentes e conscientes e promoção da saúde preventiva.

4. CONCLUSÃO

A implantação deste curso representou um marco importante para a cidade e região, proporcionando formação e oportunidades para os jovens locais, além de contribuir significativamente para a saúde da população local e para a geração de emprego e aquecimento da economia local. No entanto, é necessário realizar alterações no PPC, e visando buscar alternativas para fixação de docentes da área médica no município de Coari, pode-se propor a contratação de docentes no regime de 40 horas ou 40 horas em dedicação exclusiva, tendo em vista que a maior reclamação desses profissionais é o baixo salário. É também necessário realizar novos concursos públicos visando a contratação tanto de docentes como técnicos administrativos com perfis adequados ao curso de medicina.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Casa Civil, Subchefia de Assuntos Jurídicos. Lei Nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.htm. Acesso em: 16 nov. 2023.

BRASIL, Ministério da Educação. Portaria Nº 109, de 05 de junho de 2012.  Dispõe sobre as vagas de medicina e criação de novos cursos de medicina nas Universidades Federais. 2012.

FARIA, Ricardo dos Santos. A interiorização do curso de medicina e o Programa Mais Médicos para o Brasil: o caso da Universidade Federal do Amazonas em Coari -AM. 2019. Dissertação (Mestrado Profissionalizante e Saúde da Família) – FIOCRUZ. Coari – AM, 2019, p. 10.

GUIMARÃES, Ananias Facundes; BARBOSA, Vitor Linec Maciel; DA SILVA, Mariana Paula; PORTUGAL, Jéssica Karoline Alves; REIS, Marcelo Henrique da Silva; GAMA, Abel Santiago Muri. Acesso ao serviço de saúde por ribeirinhos de um município no interior do estado do Amazonas. Revista Pan-Amazonense de Saúde. v.11, p. 1 – 7, 2020.

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[1] Orientadora. Doutorado. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1613-1331. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/1873078781409836.

[2] Estudante. ORCID: https://orcid.org/0009-0009-8806-8897. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8973470464442112.

[3] Mestrado em Enfermagem. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8217-8288. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2465235113667421.

[4] Doutorado. ORCID: orcid.org/0000-0001-5203-9917. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9119402956173089.

[5] Mestrado. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9698-7780. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9058515069208347.

[6] Especialista. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6171-6596. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9101659548374794.

[7] Especialista. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-5157-8963. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1989410587735182.

Enviado: 17 de novembro de 2023.

Aprovado: 12 de dezembro de 2023.

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Milena Gaion Malosso

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