GUIMARÃES, Mateus Henrique Dias [1]
GUIMARÃES, Mateus Henrique Dias. NANDA e NIC Aplicada ao Paciente Portador de Diabetes Mellitus. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 2, Vol. 15. pp 44-53, Fevereiro de 2017. ISSN:2448-0959
RESUMO
O Diabetes representa um fator de risco para as doenças cardiovasculares e cardiopatias e outros tipos de iatrogenicidades. O presente estudo tem como objetivo implantar os Diagnósticos de Enfermagem da NANDA [2] e as Intervenções de Enfermagem do NIC [3] no paciente em estudo para o bem-estar e melhoria da qualidade de vida do paciente, realizando anamnese e exame físico, como fonte de coletas de dados, conhecendo o tratamento farmacológico por ele usado. Para a realização do presente estudo realizou-se acompanhamento do paciente durante o período de 02 a 04 de Junho de 2016, por meio de entrevista, exame físico e análise do prontuário do mesmo. Foi implantado a NANDA e NIC obtendo êxito e aprendizado com o tema, ressaltando também a importância do enfermeiro que representa um papel importante na sociedade, pois como abordado, a paciente em estudo faz o seu acompanhamento na rede de atenção básica.
Palavras-chave: Estudo de casos, Diagnósticos de Enfermagem, Assistência de Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
O Diabetes representa um fator de risco para as doenças cardiovasculares e cardiopatias e outros tipos de iatrogenicidades. É uma síndrome de comprometimento do metabolismo dos carboidratos, gorduras, lipídeos e proteínas. É causada pela ausência de secreção da insulina, característica do diabetes tipo 1, ou pela redução da sensibilidade dos tecidos à insulina, ou seja um defeito na secreção da insulina, característica do diabetes tipo 2, levando à hiperglicemia (COTRAN, KUMAR; ROBBINS, 1994).
O Diabetes do tipo 1 é o tipo mais agressivo e causa emagrecimento rápido. Mais característico e/ou de maior ocorrência na infância e adolescência. A causa para ocorrência do desenvolvimento do diabetes do tipo 1 é a destruição auto-imune das células β das Ilhotas de Langerhans. Auto-anticorpos atuam contra as células β, contra insulina, contra os tecidos glutâmicos descarboxilase, contra tirosina fosfatase. O desenvolvimento do diabetes está associado à destruição das Ilhotas de Langerhans, esse efeito de destruição pode ser induzido por doença pancreática inflamatória, cirurgia, tumores, drogas, sobrecargas de ferro e determinadas endocrinopatias adquiridas ou genéticas O indivíduo não tem produção de insulina, a glicose não entra nas células e o nível de glicose no sangue fica aumentado, à hiperglicemia (SMELTZER; BARE, 2002).
Anteriormente era conhecido como diabetes não melito insulinodependente (DMID), diabetes juvenil ou com tendência à Cetose que representa 10 a 20% dos casos de diabetes. Os outros 80% a 90% dos pacientes possuem a segunda forma da doença, o diabetes tipo 2, causada pela resistência à insulina e obesidade, esse último citado representa atualmente um grande fator de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 (LUCENA, 2007 apude GUYTON; HALL, 2002).
O Diabetes tipo 2 é causado pela resistência à insulina e obesidade. Geralmente ocorre em pessoas acima dos 40 anos de idade. O mecanismo de desenvolvimento para o aparecimento do diabetes tipo 2, é quando o pâncreas secreta insulina normalmente, mas sobram insulina e glicose no sangue e por conseguinte as células sanguíneas estarão com pouca glicose. Com o aumento da secreção de insulina causa uma sobrecarga levando as células β a se deteriorarem. Com as células β destruídas não têm produção de insulina e o indivíduo passa a ter a necessidade de tomar insulina e medicamentos para aumentar a sensibilidade à insulina, conhecido como insulino-dependente (GUYTON; HALL, 2002).
É uma síndrome heterogênea que resulta de defeitos na secreção e na ação da insulina, sendo que está associada a fatores genéticos que são causas predisponentes para o desenvolvimento e sua incidência e prevalência vêm aumentando em várias populações, tornando-se uma das doenças mais prevalentes no mundo e se tornando um grande problema de saúde pública (SMELTZER; BARE, 2002).
Estima-se que, em 1995, atingia 4,0% da população adulta mundial e que, em 2025, alcançará a cifra de 5,4%. A maior parte desse aumento se dará em países em desenvolvimento, acentuando-se, nesses países, o padrão atual de concentração de casos na faixa etária de 45-64 anos. No Brasil, no final da década de 1980, estimou-se que o diabetes ocorria em cerca de 8% da população, de 30 a 69 anos de idade, residente em áreas metropolitanas brasileiras. Essa prevalência variava de 3% a 17% entre as faixas de 30-39 e de 60-69 anos. A prevalência da tolerância à glicose diminuída era igualmente de 8%, variando de 6 a 11% entre as mesmas faixas etárias (BRASIL, 2006).
Hoje 14 milhões de brasileiros são portadores do diabetes mellitus (população estimada IBGE 2014).
O diabetes apresenta alta morbi-mortalidade, com perda importante na qualidade de vida. É uma das principais causas de mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 1997 que, após 15 anos de doença, 2% dos indivíduos acometidos estarão cegos e 10% terão deficiência visual grave. Além disso, estimou que, no mesmo período de doença, 30 a 45% terão algum grau de retinopatia, 10 a 20%, de nefropatia, 20 a 35%, de neuropatia e 10 a 25% terão desenvolvido doença cardiovascular (BRASIL, 2006).
Este estudo tem como objetivo de implantar a NANDA e NIC no paciente em estudo, realizando anamnese e exame físico, conhecendo o tratamento farmacológico por ele usado e dando diagnósticos de enfermagem e as intervenções necessárias para o bem-estar e melhoria da qualidade de vida do paciente.
2. MÉTODO
Realizou-se acompanhamento do paciente durante o período de 02 a 04 de Junho de 2016, por meio de entrevista, exame físico e análise do prontuário do mesmo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 ANAMNESE E EXAME FÍSICO
M.O.S.N.; sexo feminino, 62 anos de idade, casada, dona de casa, natural de um município do interior de Sergipe. Nega antecedentes familiares de diabetes e hipertensão (SIC), a mesma refere ter descoberto o diabetes mais ou menos há três anos e a PA elevada há quinze anos e que não faz ingestão de alimentos gordurosos e evita açúcar. A paciente afirma que está em acompanhamento médico na Unidade Básica de Saúde (UBS) de seu município; não faz uso de insulina (SIC) e sem a presença de complicações presentes. Sem presença de pé diabético e sem presença de lesão por pressão, com fissuras e corte em MIE.
Quanto ao exame físico: normocefálica, pupilas isocóricas, acuidade auditiva preservada, cavidade nasal e paranasal preservada, cavidade oral preservada, pescoço sem a presença de gânglios palpáveis, mobilidade física preservada (MMSS e MMII), tórax simétrico, abdômen globoso e flácido, função renal normal, eliminação intestinal normal, sem presença de edema, turgidez da pele corada e preservada. Sem queixas no momento. Conduta: orientada quanto à alimentação, quanto ao autocuidado (higienização, cuidado com o pé diabético), orientada quanto ao aprazamento das medicações, calendário vacinal e atividade física. SSVV: T=36,1ºC, FC=100bpm (estava em atividade), PA= 110X60mmHg.
- Medicações em uso
Quadro 1 – Medicações
MEDICAMENTO | INDICAÇÃO | CONTRA-INDICAÇÃO |
LOSARTANA | Tratamento da Hipertensão; Proteção Renal em Pacientes com Diabetes Tipo 2 e Proteinúria; | Sensível aos componentes da fórmula |
HIDROCLOROTIAZIDA | Tratamento da Hipertensão | Pacientes com anúria |
ANLODIPINO | Tratamento da Hipertensão | Sensível ao componente da fórmula |
METFORMINA | Hipoglicemiante | Gravidez, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, insuficiência hepática, alcoolismo, |
GLIBENCLAMIDA | Hipoglicemiante | Diabetes insulinodependente, gravidez e lactentes. |
3.3 EXAMES LABORATORIAIS
Em 10/03/2016 comparece a UBS do município para amostragem dos exames laboratoriais realizados em 01/12/2015: HC: 4,63; Hb: 14.2; Ht: 41%; leucócitos: 7.800/mm3; plaquetas: 18.800/mm3; colesterol total: 164 mg/dl; glicemia: 125 mg/dl; sumário de urina: raras células epiteliais, 3 píocitos por campo; parasitológico de fezes: entamoeba histolytica, giárdia lamblia, trichocephalus trichuiras. Prescrito Albendazol 400mg/ 5 dias e enfermeira da unidade orienta quanto à limpeza e lavagem das frutas e verduras para consumo e orienta quanto ao uso e aquisição do hipoclorito dispensado na UBS.
3.4 DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM DA NANDA 2009-2011 E INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NO NIC 2010
Serão listados seis diagnósticos de enfermagem que podem ser aplicados a paciente em estudo conjuntamente com as intervenções de enfermagem que podem ser feitas para a melhoria do quadro da paciente e promoção de conforto e bem-estar.
- Diagnóstico: Ansiedade
(Domínio 9, Classe 2, NANDA 2009-2011)
Definição: Vago e incômodo sentimento de desconforto ou temor, acompanhado por resposta autonômica (a fonte é frequentemente não específica ou desconhecida para o indivíduo); sentimento de apreensão causada pela antecipação de perigo. É um sinal de alerta que chama a atenção para um perigo iminente e permite ao indivíduo tomar medidas para lidar com a ameaça.
Características Definidoras: Insônia
Intervenções de Enfermagem:
Proporcionar tranquilidade e conforto, permanecendo com a pessoa sempre que possível.
Realizar atividades que diminuam a ansiedade e o medo, como música, aromaterapia, exercícios de relaxamento, mentalização de imagens, massagem.
- Diagnóstico: Conhecimento deficiente
(Domínio 5; Classe 4, 2009-2011)
Definição: Ausência ou deficiência de informação cognitiva relacionada a um tópico específico.
Características definidoras: Falta de familiaridade com os recursos de informação.
Intervenções de Enfermagem:
Identificar fatores internos e externos que possam aumentar ou reduzir a motivação para comportamentos saudáveis.
Determinar o contexto pessoal e o contexto sociocultural de comportamento de saúde de um indivíduo, família ou comunidade.
- Diagnóstico: Estilo de vida sedentário
(Domínio 1; Classe 1, NANDA 2009-2011)
Definição: Refere-se a um hábito de vida que se caracteriza por um baixo nível de atividade física.
Características definidoras: Escolhe uma rotina diária sem exercícios físicos, demonstra falta de condicionamento, físico verbaliza preferência por atividades com pouco exercício físico.
Intervenções de Enfermagem:
Orientar o indivíduo sobre o tipo adequado de exercício para o seu nível de saúde, juntamente com o médico e/ou fisioterapeuta.
Informar a pessoa sobre os benefícios à saúde e efeitos fisiológicos do exercício.
- Diagnóstico: Risco de glicemia instável
(Domínio 2; Classe 4, NANDA 2009-2011)
Definição: Risco de variação dos níveis de glicose no sangue em relação aos parâmetros normais.
Características definidoras: Aumento de peso, conhecimento deficiente sobre o controle do diabetes (p. ex., plano de ação), controle de medicamentos.
Intervenções de Enfermagem:
Monitorar os níveis de glicose sanguínea conforme indicação.
Monitorar o aparecimento de sinais e sintomas de hiperglicemia: poliúria, polidpsia, polifagia, fraqueza, letargia, mal-estar, embaçamento visual, cefaléia.
- Diagnóstico: Risco de perfusão tissular
(Domínio 4; Classe 4, 2009-2011)
Definição: risco de redução na circulação cardíaca (coronária)
Fatores de risco: diabetes melitus, hipertensão.
Intervenções de Enfermagem:
Fazer uma avaliação completa da circulação periférica (p. ex, verificar pulsos, edema, enchimento capilar, cor e temperatura de extremidade).
Monitorar as extremidades quanto às áreas de calor, vermelhidão, dor ou edema.
- Diagnóstico: Risco de quedas
(Domínio 11; Classe 2, NANDA 2009-2011)
Definição: Suscetibilidade aumentada para quedas que podem causar dano físico.
Características definidoras: ambiente com móveis e objetos em excesso, idade acima de 65 anos.
Intervenções de Enfermagem:
Identificar comportamentos e fatores que afetam o risco de quedas.
Identificar características ambientais capazes de aumentar o potencial de quedas (p. ex., chão escorregadio e escadas se proteção.
3.5 RESULTADOS ESPERADOS DA PACIENTE
De acordo com os diagnósticos estudados e suas respectivas intervenções de enfermagem, espera-se que a paciente mantenha o aumento da disposição para o autocuidado, que a mesma ficará isenta de complicações evitáveis da progressão da doença e suas sequelas; saberá encaminhar solicitação de ajuda sempre que necessário; participará das atividades desejadas de acordo com sua capacidade; verbalizará que compreende a situação/fatores de risco para o seu caso; demonstrará técnicas e comportamentos que possibilitem a retomada das suas atividades; procurará a unidade não só quando for necessário e sim dando continuidade ao acompanhamento médico e de enfermagem para evitar agravamentos da doença.
4. CONCLUSÃO
A realização deste trabalho proporcionou um grande aprendizado sobre o tema tratado, considero como aspecto positivo a aplicação da NANDA E NIC (processo de enfermagem), a atividade de pesquisa desenvolvida e a produção deste estudo, podendo acrescentar mais nas pesquisas científicas. Vale à pena ressaltar que a Equipe de Saúde da Família representa um papel importante na sociedade, pois como abordado, a paciente em estudo faz o seu acompanhamento de saúde na atenção básica, e a Equipe de Saúde da Família deve desenvolver ações relacionadas a orientações, esclarecimento de dúvidas e questionamentos que permeiam o paciente e desenvolvendo ações para identificação de grupos e fatores de risco, orientações à saúde, e a promoção do cuidado integral, ou seja fazendo do mesmo participante de sua saúde.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO NORTE AMERICANA DE DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM (NANDA). North American Nursing Diagnosis Association – NANDA: definições e classificação 2009-2011/ NANDA International, Porto Alegre: Artmed, 2010.
COTRAN, S. R. ; KUMAR, V. ; ROBBINS, S. L. Pâncreas. In: ______ Patologia básica. 5. ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan. 1994. Cap. 17.
SMELTZER, S. C. ; BARE, B. G. Histórico e tratamento de pacientes com diabetes mellitus. In: ______. Tratado de enfermagem médico-cirurgica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Cap. 37.
GLORIA M. BULECHEK; HOWARD BUTCHER. Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC). 5. ed. Porto Alegre: Elsevier, 2010.
GUYTON, A. C. ; HALL, J. E. Insulina, glucagon e diabetes mellitus. In: ______.
Tratado de fisiologia médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. p. 827-840.
LUCENA, J.B.S. Diabetes Mellitus Tipo 1 e Tipo 2. Trabalho de Conclusão de Curso. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. São Paulo: 2007. Disponível em:< http://arquivo.fmu.br/prodisc/farmacia/jbsl.pdf> Acesso em 20 de junho de 2016.
2. NANDA – Associação Norte Americana de Diagnósticos de Enfermagem. Definições e classificação 2009-2011/ NANDA International.
3. NIC – Classificação das Intervenções de Enfermagem. GLORIA M. BULECHEK; HOWARD BUTCHER, 2010.
[1] Graduado em Enfermagem pela Faculdade de Aracaju – FACAR, Aracaju, Sergipe, Brasil.
Uma resposta
Maravilhoso todo o material!
Muito obrigada!