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Compreendendo A Compostagem Em Suas Dimensões Doméstica, Comunitária E Institucional: Manual De Orientação

Manual De Orientação

DENDASCK, Carla Viana [1], FECURY, Amanda Alves [2], OLIVEIRA, Euzébio de [3], DIAS, Claudio Alberto Gellis de Mattos [4]

DENDASCK, CV et. al. Compreendendo A Compostagem Em Suas Dimensões Doméstica, Comunitária E Institucional: Manual De Orientação. Revista Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 05, Vol. 06, pp. 05-77. Maio de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de Acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/manual/meio-ambiente/compostagem, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/manual/meio-ambiente/compostagem

APRESENTAÇÃO

A sanção da Lei de Nº 12.305/2010 fez com que a Política Nacional de Resíduos Sólidos fosse institucionalizada, o que justifica a proposição deste guia voltado ao ensino da compostagem. A Política apresenta diversas diretrizes, objetivos e responsabilidades a serem cumpridos pela sociedade brasileira como um todo. Em relação aos resíduos orgânicos, o objetivo é a implantação de sistemas de compostagem a fim de que esses sejam articulados com os agentes econômicos e sociais, obrigados a executarem os serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos, como reitera o inciso V do Art. 36 da Constituição Federal. Os resíduos orgânicos representam cerca de 50% dos resíduos urbanos gerados em solo brasileiro, sendo que esses podem ser reciclados a partir de processos como a compostagem, em qualquer escala, desde a doméstica até a industrial. Este guia promove a compostagem como alternativa pois, além da abrangência de tais escalas, a reciclagem dos resíduos orgânicos não demanda grandes exigências de cunho tecnológico ou, ainda, equipamentos para que o processo possa ser realizado com segurança. Assim sendo, a partir da articulação dos conceitos, processos e benefícios da compostagem com exercícios, visa-se introduzir aos alunos esta prática que é tão cara ao contexto contemporâneo em que vivemos. É um processo seguro, e, dessa forma, a compostagem tem obtido grande êxito em ações voltadas à educação ambiental. Tais ações costumam ser associadas à jardinagem e à agricultura urbana (Altieri, 2002). Trata-se de uma forma de empoderar as pessoas a fim de que executem o ciclo da matéria orgânica, mudando a sua visão e postura em relação ao descarte dos resíduos de modo geral. Mesmo com o seu impulsionamento, há diversos desafios a serem enfrentados.

Múltiplos municípios têm enfrentado, de maneira geral, dificuldades no que toca à exploração da compostagem enquanto política pública. Cumpre destacar que a maior parte das iniciativas municipais voltadas à compostagem no Brasil se dão nos pátios centralizados. Esses recebem resíduos oriundos de coleta mista, ou seja, resíduos orgânicos misturados com os rejeitos, ou, ainda, de grandes geradores de resíduos orgânicos. Entende-se que os resíduos orgânicos domésticos, de forma geral, acabam sendo descartados em aterros sanitários ou lixões. Desperdiça-se, com isso, nutrientes e matéria orgânica, que, no ciclo natural, exercem o papel de fertilizadores, mantendo a vida nos solos. O lado positivo é que o Brasil acumula, hoje, uma considerável experiência em relação à temática. Diversos projetos têm explorado, de forma positiva, técnicas de compostagem e formas inovadoras de gestão de resíduos orgânicos.

Demonstra-se, com isso, que é possível aproveitar o potencial de descentralização no processo de gestão de tais resíduos. Os benefícios oriundos de tal aproveitamento são os mais múltiplos, assim como diversas esferas são beneficiadas com o emprego de tal prática de forma correta, como a econômica, a social e a ambiental. A compostagem é considerada como uma alternativa mais viável e vantajosa quando comparada com o aterramento dos resíduos orgânicos. Também deve-se chamar a atenção para o fato de que diversos pesquisadores têm estudado e adaptado o método de compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração coerente com a realidade brasileira. Espera-se, com este guia, auxiliar docentes, discentes e a sociedade em geral a executarem o método da compostagem de forma mais correta, dinâmica e adaptada ao contexto atual e real brasileiro.

INTRODUÇÃO

Compreendendo o processo de destinação dos alimentos e dos resíduos de jardins que descartamos em nosso dia a dia. Aqui algumas questões norteadoras a serem apresentadas aos alunos neste primeiro momento:

(Mma, 2017)

Como esse descarte é feito?

De onde vem os adubos e fertilizantes que precisamos para produzir os alimentos que consumimos?

As hortas e jardins também podem ser beneficiadas com a compostagem?

Este guia parte do princípio de que com o conhecimento técnico necessário, com a mobilização social e com a força de vontade, é possível conduzir os resíduos orgânicos produzidos diariamente a um tratamento mais apropriado a partir da realização da compostagem nas residências, comunidades e instituições. A compostagem associada à agricultura urbana e à jardinagem transforma um problema ambiental potencial em fonte de saúde coletiva, promovendo-se, ao mesmo tempo, a reconexão com a terra, fortalecendo-se laços sociais em busca de um bem-estar coletivo (Vinholi et al., 2009). O principal objetivo deste guia é desmistificar a gestão descentralizada dos resíduos orgânicos e inspirar as comunidades e instituições a se envolverem de forma mais efetiva com a gestão dos resíduos orgânicos gerados diariamente (Abreu e Tommasi, 2010). Discute-se sobre a compostagem comunitária e institucional (em restaurantes, hotéis, órgãos públicos e escolas, sendo essas últimas alvos do guia).

Para tanto, utiliza-se uma linguagem mais acessível, porém, sem deixar de abordar as técnicas importantes à concretização de ações e iniciativas. Este tipo de gestão é caracterizado por ser descentralizado, e, geralmente, seu porte é pequeno ou médio, dispensando a necessidade de transportar os resíduos para outros locais. Assim, o guia parte de um método específico de compostagem. Este tem sido aplicado em diversos locais do Brasil, tanto nas residências quanto nas instituições. Trata-se do processo de compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração passiva. O público-alvo são os profissionais que tratam tais resíduos sólidos (os técnicos de prefeituras, empresas e demais instituições), líderes comunitários, agentes de saúde, estudantes e pessoas interessadas na temática. O conhecimento aqui disposto parte da experiência comunitária e institucional relacionada ao assunto, isto é, parte daqueles que assumiram uma maior responsabilidade pelo tratamento de tais resíduos.

O guia promove um caminho de aprendizagem que visa a transformação dos restos descartados em fonte de vida. Entende-se que reciclar os resíduos orgânicos e reestabelecer o seu papel natural enquanto fertilizador dos solos configura, hoje, como um dos principais desafios na esfera ambiental (Mma, 2017). É um desafio contemporâneo e apenas pode ser enfrentado com o esforço e envolvimento coletivo com a causa para que o sucesso pode ser alcançado, e, com isso, para que a Política Nacional de Resíduos Sólidos seja, de fato, concretizada em todas as instâncias da vida social e coletiva, embora o foco, aqui, seja na esfera educacional, com ênfase nos educandos que estão aprendendo a temática da compostagem. Articula-se os principais conceitos com exercícios a fim de que o assunto seja bem fixado e convertido em ações reais e concretas.

SEÇÃO I – NOÇÕES GERAIS

1. O CICLO NATURAL DA COMPOSTAGEM

(Mma, 2017)

A fim de que a temática do tratamento e reciclagem dos resíduos orgânicos via compostagem possa ser abordada, é preciso, antes, compreender o processo histórico da geração de resíduos. Esse conhecimento é necessário para que seja possível saber como a técnica da compostagem começou a ser empregada em nossa sociedade (Mma, 2017). Os registros históricos apontam que há milhares de anos as pessoas sobreviviam no mundo de formas diferentes, isto é, caçando, coletando frutas, folhas e raízes. Os seres humanos, portanto, eram nômades.

Enquanto nômades, não possuíam quaisquer vínculos empregatícios em um lugar específico. Surgiram, ainda, entre 10.000 e 12.000 anos atrás grupos de partes diversas do planeta que perceberam que era possível enterrar os grãos a fim de que novas plantas comestíveis crescessem. Nasce, daí, a agricultura em sua fase mais remota. Sabe-se, ainda, que, em algum momento da agricultura antiga, começou-se a cultivar os próprios alimentos e cultivar animais, o que fez com que os seres humanos se tornassem agricultores (Abreu e Tommasi, 2010). Hoje temos um fenômeno natural conhecido como fertilização do solo. A fertilização, por sua vez, é iniciada quando uma folha cai no solo se se mistura com as fazes de aves ou de quaisquer outros animais, bem como quando há a mistura com outras folhas, frutos e galhos.

Sofrem a influência das condições climáticas, iniciando-se, com isso, a decomposição e reciclagem natural da matéria orgânica. Além disso, nesses locais, as bactérias, fungos, formigas, minhocas e outras formas de vida se desenvolvem, gerando, portanto, húmus. A partir disso, devolve-se os nutrientes à terra, ficando esses disponíveis para as plantas.  Na página a seguir, é possível visualizar o ciclo de vida natural sobre o qual estamos chamando a atenção.

(Mma, 2017)

Vamos pensar na seguinte situação hipotética: suponhamos que os antigos agricultores, ao observarem esse processo, tenham passado recolher o humus fértil encontrado sob as árvores, vales e outros locais, onde, naturalmente, depositava-se a matéria orgânica e, como fruto de tal observação, passaram a transporta-lo para os locais de cultivo. Imagine, também, que, aos poucos, passou-se, de forma intuitiva, a imitar o processo, misturando, portanto, diferentes materiais, como as folhas, os restos de frutas, as fezes de animais, deixando esse material por algum tempo em repouso. Após esse repouso, o material foi aplicado na agricultura (Abreu e Tommasi, 2010).

Esta é uma das hipóteses sobre o processo de aprendizagem natural sobre a reciclagem do homem em relação à matéria orgânica. O ser humano passou, desde então, a lidar com a metéria orgânica dessa forma, reproduzindo de acordo com as suas necessidades ao longo do tempo. Com isso, deu-se origem ao processo que hoje, na sociedade contemporânea em que vivemos, atribuímos o nome de compostagem (Inácio e Miller, 2009).

(Mma, 2017)

Há relatos sobre civilizações que remontam a mais de 5.000 anos. Eles estão ligados à prática da compostagem. Praticam, historicamente, a ciclagem de nutrientes, como os plantios tradicionais na China e os chinampas, que correspondiam à região que hoje é conhecida como México. A compostagem não se trata de um processo recente voltado ao tratamento dos resíduos orgânicos (Mma, 2017). Além disso, é uma prática simples e intuitiva praticada pela humanidade há milênios. Entretanto, com o advento da sociedade do consumo, começou-se a gerar quantidades expressivas de resíduos inorgânicos, como é o caso dos plásticos, o que tornou o processo de manejo dos resíduos mais complexo, mas não impossível.

Há alguns marcos históricos sobre esse processo, como a Revolução Industrial que propiciou a utilização de petróleo na produção de materiais. Além dos materiais orgânicos, como vidro, metal e papel, a utilização de materiais inorgânicos intensificou-se e diversificou-se.  O grande problema é que não se degradam de forma fácil e a sua destinação passou a ser um grave problema ambiental. Esses materiais facilitam a vida diária, porém, a rapidez com que são utilizados e descartados tem preocupado a todos. A economia global estruturou-se a partir de uma lógica essencialmente consumista, o que acabou por gerar algumas consequências, de modo que a produção e o consumo em demasia têm sido considerados como sinônimo de sucesso em uma perspectiva econômica, porém, na dimensão ambiental, os danos são múltiplos.

Considerando esse contexto, há que se chamar a atenção para os problemas ambientais suscitados pela expansão da economia. Tem-se, com isso, um descarte crescente dos resíduos inorgânicos, o que tem propiciado a acelerada exaustão dos recursos naturais, e, ainda, tem-se contribuído para com a degradação do meio ambiente, colocando-se em risco o acesso das gerações futuras a tais recursos. Esse processo fica melhor de ser visualizado quando conhece-se como os produtos voltados ao consumo eram apresentados e comercializados há cinquenta anos. O leite, o refrigerante e semelhantes eram vendidos em garrafas de vidro retornáveis, o que hoje já não é uma prática tão comum. O mesmo aconteceu com os eletrodomésticos. A sua duração não é mais a mesma, o que desperta as pessoas a substituírem logo esses materiais. No caso dos alimentos, existe uma diversa variedade de embalagens que estão sendo utilizadas em bolachas, salgadinhos, pizzas, dentre outros alimentos.

Com esse panorama apresentado, percebe-se que a geração de resíduos, hoje, desempenha um papel muito maior, sobretudo quando comparada com décadas atrás. As técnicas de manuseio da compostagem tornam-se ainda mais necessárias para que o descarte consciente seja, de fato, uma realidade (Inácio e Miller, 2009). O diálogo a seguir resume o consumo acirrado no mundo atual em que vivemos:

(Mma, 2017)

Deve-se-chamar atenção para o fato de que o crescimento das vilas e cidades fez com que grande parte da população deixasse, de forma gradativa, de plantar e cultivar, visto que as pessoas não encontravam mais utilidade para aplicar o composto neste novo estilo de vida. Dessa forma, o reaproveitamento dos resíduos orgânicos, aos poucos, foi perdendo importância, passando a serem descartados juntamente com os resíduos inorgânicos. Assim sendo, os resíduos orgânicos que, antes, eram uma solução para a produção de alimentos, passaram a ser um problema ambiental e de saúde pública em razão da quantidade gerada ser muito alta de do descarte se dar de forma inapropriada. Ao se decompor em um ambiente considerado como inadequado, como é o caso dos aterros, produzem líquidos e gases poluidores que contaminam a água e o solo (Mma, 2017).

Esta contextualização é de vital importância, e, desse modo, iremos apresentar dois motivos fundamentais para que a compostagem seja reintroduzida em nosso dia a dia. A primeira motivação para essa reinserção é que trata de uma alternativa simples e segura para destinarmos os resíduos orgânicos de forma ambientalmente adequada. Possui baixo custo e pode ser facilmente assimilada pela população como um todo (Altieri, 2002). O segundo é que esta prática propicia a criação de um composto orgânico de alta qualidade (Mma, 2017). Este pode servir como um fertilizante orgânico atendendo aos objetivos mais diversos dos seres humanos, como é o caso, por exemplo, da possibilidade de adubar hortas e jardins urbanos, o que contribui para com a ampliação de nossas áreas verdades, bem como com o aumento da biodiversidade e da segurança alimentar. Além disso, as nossas cidades e os seus espaços passarão a ser mais saudáveis e resilientes.

ATIVIDADE 1 – PENSANDO NO AMBIENTE EM QUE VIVEMOS

APRESENTAÇÃO

QUESTÕES INDAGADORAS

Pensar na composição do lixo domiciliar;

Técnicas que podem propiciar o manuseio do lixo domiciliar;

O que posso fazer para diminuir o consumo de materiais inorgânicos?

Conscientização: eu preciso desse produto nesse momento?

DURAÇÃO DAS AULAS: 2 aulas

OBJETIVOS:

Fazer uma pesquisa sobre os elementos que caracterizam a composição do lixo domiciliar brasileiro

Interpretar os resultados dessa pesquisa a partir dos elementos visuais (gráficos, tabelas e ilustrações) sobre a composição do lixo domiciliar brasileiro

Aprender a classificar o lixo como orgânico e inorgânico

 

Expressar de forma oral e escrita os resultados dessa investigação. Os resultados devem exprimir a realidade de cada aluno.

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

1º MOMENTO:

Este é o primeiro contato dos alunos com a temática da compostagem. Indica-se, ao professor, a aplicação de um questionário (de forma oral ou escrita) para verificar o conhecimento dos discentes sobre a composição do lixo domiciliar brasileiro, estabelecendo um panorama a partir das respostas. É interessante que a pesquisa seja feita no Laboratório de Informática da escola. Antes, deve-se certificar com a coordenação se este se encontra disponível, pois, a depender do número de computadores disponíveis, a atividade deverá ser realizada em duplas.

2º MOMENTO:

Nesse momento, os alunos irão realizar a busca propriamente dita sobre os aspectos iniciais que perpassam pela compostagem, com enfoque na composição do lixo domiciliar. O professor deve indicar ao aluno que pesquise dados sobre a composição do lixo domiciliar de nosso país a partir de um dado recorte temporal, sendo importante que o aluno consiga visualizar se houve progresso ou regresso no descarte. Os resultados desta pesquisa podem ser projetados pelo professor a partir de slides para que todos os alunos consigam visualizar e dimensionar esta evolução ou não. Deve-se enfatizar, nesse momento, a importância da reciclagem do lixo, sensibilizar o aluno acerca dos 5 R’s e promover uma discussão sobre o consumo consciente.

3º MOMENTO:

Esta é uma temática que pode integrar competências e habilidades das mais diversas disciplinas. Indica-se, ao professor, que a importância da reciclagem seja introduzida a partir de uma narrativa (conto ou romance), de um seriado, de um filme ou de qualquer outra mídia de sua preferência. O importante nesse exercício é que o aluno concentre-se nos momentos em que a narrativa aborda a questão. Promover um debate sobre o conteúdo lido/assistido também é importante. Deve-se respeitar o argumento de cada aluno, bem como cada compreensão. Instigar esse aluno a trazer exemplos do seu próprio cotidiano também pode enriquecer a proposta.

A partir das questões norteadoras é possível visualizar se o aluno entendeu a proposta do exercício e o quanto está comprometido com a introdução da compostagem em seu cotidiano. A fim de que esse primeiro de contextualização seja finalizado, pode-se entrelaçar o assunto estudado com os problemas da vida cotidiana com base na realidade individual apresentada por cada aluno. Com isso, provoca-se novas indagações

acerca da temática, sendo que essas, em diversas das vezes, podem extrapolar o que foi abordado pelo conteúdo midiático escolhido pelo professor (o livro, o episódio de uma série, um filme etc). Gonçalves (2014), apresenta em seu estudo um modelo de respostas esperadas. A mídia utilizada pela autora foi uma narrativa, cuja personagem principal é um saci.

4º MOMENTO:

Para o quarto momento, Gonçalves (2014) indica que seja aplicado aos alunos um questionário. O objetivo é analisar como se dá a relação desses com os assuntos refletidos até o momento. Para tanto, propõe-se algumas questões norteadoras:

A partir de tais questões norteadoras, a promoção de debates é essencial, propondo-se, aos alunos, a identificação de problemas e conflitos pertencentes ao seu contexto de vida. É crucial, neste momento, estimular a atitude crítica e responsável dos alunos, pois estão em um processo de construção de uma consciência cidadã, preparando-se, portanto, para se tornarem membros pertencentes à comunidade, possíveis agentes transformadores desta realidade. A partir dessas questões, cabe, ao professor, caso julgue necessário, acrescentar outros questionamentos voltados ao âmbito escolar no que toca à compostagem. Aspectos sobre os seus benefícios, técnicas e como pode se tornar um hábito são relevantes.

É fundamental esclarecer, aos alunos, que o meio ambiente não é constituído apenas de uma dimensão física e biológica, mas também integra o meio sociocultural, manifestando-se nas interrelações humanas. Especificamente sobre o âmbito da escola, é possível pensar se essas práticas têm sido cumpridas, como é o caso da limpeza da escola (sala de aula, banheiro, pátio, rua etc); se tem havido uma cooperação para que esses ambientes se mantenham limpos; se tem sido adotadas formas seletivas para o recolhimento do lixo; dentre outras. Refletir sobre o desperdício, sobre as doenças causadas pela poluição na atmosfera, lixos tóxicos, águas poluídas, transmissão de doenças por insetos e ratos também são pautas importantes.

2. A GESTÃO DOS RESÍDUOS COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO DA VIDA

Este capítulo tem como objetivo refletir sobre técnicas mais sustentáveis para a gestão dos resíduos orgânicos e inorgânicos. É uma forma de priorizar a preservação da vida humana (Gliessman, 2009). A fim de que a importância da separação dos resíduos orgânicos seja compreendida, é preciso compreender alguns aspectos essenciais, como o tempo de decomposição dos mais diversos materiais e produtos (Mma, 2017). O esquema a seguir apresenta a média do tempo de decomposição de alguns dos materiais mais consumidos pela população brasileira:

(Mma, 2017)

O tempo de decomposição da maior parte dos resíduos orgânicos costuma ter uma duração curta, aproximadamente de um ano. Contudo, por outro lado, os resíduos inorgânicos levam muito mais tempo para serem decompostos. No caso dos pneus e das garrafas PET o problema é ainda maior, visto que não se sabe ao certo qual é o período em que costumam ser decompostos finalmente. Esses materiais em uma pilha de composto produzirá um adubo de baixa qualidade, visto que este estará contaminado com outros elementos que não podem ser absorvidos pela vegetação. Entretanto, a partir do momento em que se percebeu que os resíduos poderiam ser reaproveitados, tornando insumo para novos materiais, surgiram formas de coleta para que esses materiais fossem recuperados.

Os principais eram aqueles de maior interesse para a indústria, especialmente os metais, plásticos, papéis e vidros. Além disso, as formas de coleta de tais materiais recicláveis secos, não incluindo, portanto, os orgânicos, utilizam cores ou formatos diferentes de lixeiras. Esses foram padronizados de acordo com os parâmetros internacionais. Geralmente, as formas de separação descartam os resíduos orgânicos misturados com os rejeitos, o que inviabiliza a execução da compostagem (Inácio e Miller, 2009). Com isso,

aumenta-se, de forma significativa, o volume dos resíduos destinados aos aterros sanitários. Tem-se, também, um problema ainda mais grave: os locais de destinação imprópria. Prejudica-se tanto o meio ambiente quanto a saúde pública. Esses espaços são conhecidos como lixões.

O capítulo anterior citou que os resíduos orgânicos desempenham um papel importante nos ciclos de nutrientes, e, dessa forma, destiná-los para os aterros sanitários, além de acarretar grandes desperdícios econômicos, está ferindo os princípios e preceitos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei de Nº 12.305/2010). Esta prevê que apenas os rejeitos devem seguir para disposição final. A fim de que a função natural dos resíduos orgânicos seja resgatada, isto é, a de fertilizar os solos, recomenda-se a adesão a um outro tipo de separação para esses resíduos. Deve-se considerar a realidade concreta dos centros de triagem de associações e cooperativas de catadores. Assim sendo, a separação pode ser feita a partir de três fases:

(Mma, 2017)

A separação dos resíduos deve ser feita em três etapas, visto que, com isso, atende-se bem as necessidades reais em relação à destinação de tais resíduos. Em primeiro lugar, passa-se a valorizar os resíduos orgânicos, o que facilita o processo de compostagem, garantindo-se, ainda, a qualidade do adubo final (Inácio e Miller, 2009). Em segundo lugar, reduz-se a contaminação dos resíduos recicláveis secos – papel, plásticos, vidro, metal e semelhantes – sendo que esses, geralmente, são encaminhados para as indústrias de reciclagem. Assim sendo, quanto menor a quantidade de resíduos orgânicos que chega nas centrais de triagem, mais simples e higiênico será o processo de separação dos resíduos secos, bem como melhores serão as condições de trabalho dos catadores (Mma, 2017). Há, ainda, um terceiro motivo para que a separação correta seja um hábito: a separação em três frações faz com que seja enviado ao aterro apenas aquilo que não pode de nenhuma forma ser aproveitado, isto é, os rejeitos (Gliessman, 2009). A separação traz, portanto, vantagens econômicas e ambientais diversas, pois o processo de transformação desta fração em adubo orgânico torna-se mais viável. Este é referenciado como condicionador de solos, húmus, fertilizante, composto orgânico etc.

(Mma, 2017)
(Mma, 2017)

Alguns materiais demandam alguns cuidados especiais a fim de que se evite danos e prejuízos ao meio ambiente em que vivemos. Assim sendo, esses materiais contam com um sistema de logística reversa, o que demanda que o descarte desses materiais seja feito em pontos de descarte estratégicos. Se você possui dúvidas, informe-se em seu município sobre a existência de tais pontos.

(Mma, 2017)

ATIVIDADE 2– REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM

APRESENTAÇÃO

OBJETIVOS DAS AULAS

Apresentar dados sobre a relação dos cidadãos com a reciclagem;

Introduzir notícias sobre a reciclagem tem sido executada;

Esclarecer a diferença entre reutilizar e reciclar os produtos e como esse     processo deve ser executado;

Construir propostas coletivas para um consumo mais consciente;

Auxiliar os alunos a fazerem o descarte adequado e a reutilizar/reciclar os materiais consumidos na escola e em sua vida cotidiana.

DURAÇÃO DAS AULAS: 2 aulas

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

1º MOMENTO:

Nesse momento, questiona-se, aos alunos, o que sabem sobre a temática. O professor pode registrar todas as hipóteses. A pergunta norteadora sugerida é: “o que é reciclar um material?”. As respostas devem apontar o que a reciclagem significa para esses alunos. Instiga-los a trazer exemplos do seu dia a dia é importante. Muitos podem não saber as diferenças entre reciclar e reutilizar. A fim de que a aula possa ser bem conduzida, é necessário que os conceitos de reciclagem e reaproveitamento sejam desmembrados.

Pode-se citar o pneu como exemplo, pois ao transformar um pneu em um banco tem-se o reaproveitamento de um objeto que seria descartado, já que a sua função original já foi cumprida. Reciclar, por sua vez, é um processo que ocorre de forma diferente, visto que envolve um movimento de transformação em seus aspectos químicos e físicos. Pode-se trazer como exemplo os materiais feitos a partir dos plásticos, uma vez que esses são triturados e derretidos. Como resultado desse processo, tem-se um novo formato e forma de uso para tais plásticos.

Alguns links podem ajudar os alunos a compreenderem esse processo:

https://www.ecycle.com.br/711-reciclagem-de-plastico.html

https://www.youtube.com/watch?v=ZcymnW5NRYQ

2º MOMENTO:

Nesse momento, pode-se introduzir algumas notícias sobre a prática da reciclagem e reutilização de materiais a fim de que esses alunos possam ser mais conscientizados acerca de como esta prática beneficia as mais diversas pessoas, apresentando, ainda, resultados sobre as pessoas que têm essa prática como fonte de renda, que é o caso dos catadores. Pedir para que os alunos leiam as manchetes das reportagens selecionadas, e, se possível, o conteúdo também é recomendado aos professores. Perguntar à turma se eles compactuam desse mesmo sentimento de que reciclar é algo vantajoso é essencial. Também é importante conversar sobre o que é necessário para que a reciclagem exista.

Como forma de aproximar esses alunos ainda mais da temática, perguntar se em suas casas há o hábito de separação dos resíduos produzidos é recomendado. Também é importante investigar sobre os pontos de coleta seletiva disponíveis no município e como as pessoas podem chegar até esses pontos. Recomenda-se, também, que as reportagens selecionadas sejam próximas do cotidiano desses alunos a fim de que seja possível verificar o processo de absorção sobre o tema e, mais do que isso, se e como pretendem mudar os seus hábitos. Essa discussão primária sobre a reciclagem é fundamental para que as atividades voltadas à compostagem em si sejam bem executadas.

Sugere-se algumas reportagens recentes sobre as práticas de reciclagem em nosso país:

  • https://diariodocomercio.com.br/economia/empresas-de-reciclagem-terao-incentivo/
  • https://diariodovale.com.br/nacional/reciclagem-de-latas-de-aluminio-bate-recorde-no-brasil-em-2020/
  • https://www.portalr3.com.br/2021/04/reciclagem-de-latas-de-aluminio-permanece-acima-de-97-no-brasil-cerca-de-64-sao-reciclados-pela-novelis/
  • https://extra.globo.com/noticias/rio/reducao-do-volume-de-residuos-atinge-em-cheio-quem-vive-da-reciclagem-24944731.html

3º MOMENTO:

Recomenda-se, aos professores, que este momento seja mais prático, de modo que os alunos podem ser colocados em contato com os resultados propriamente ditos da prática da reciclagem. A realização de uma espécie de oficina para que possam produzir certos materiais é incentivada. Em primeiro lugar, disponibilize certos objetos confeccionados a partir da reutilização de materiais, bem como alguns realizados a partir das técnicas de reciclagem. Caso não seja possível obter esses materiais, recomenda-se a apresentação de algumas imagens para que as diferenças entre as duas práticas sejam bem fixadas. A fim de que a atividade seja conduzida, deixe os materiais agrupados no centro da sala. Os estudantes organizados em duplas ou trios devem separar esses materiais em dois grupos, seguindo critérios do professor.

Com o término desse processo de separação, pode-se questionar a esses alunos se algum objeto deve ser modificado para o outro grupo. É preciso que justifiquem as suas respostas. Quando todas as mudanças tiverem sido feitas e não houver mais apontamentos sobre essas mudanças, deve-se questionar o critério que utilizaram para que esses materiais fossem separados dessa forma. Algumas respostas possíveis são “objetos a mão, com reutilização”, ou, ainda, “artesanato com reaproveitamento”, “produtos industrializados que foram confeccionados a partir da matéria-prima de um outro objeto”, dentre outras possibilidades. Nesse momento, deve-se permitir que os alunos discutam entre si e concluam que a reciclagem é uma atividade obtida a partir de um objeto que faz uso de outro como matéria-prima.

Apresentar os processos químicos envolvidos é importante, sendo eles o derretimento, o dilaceramento, a trituração. Também deve ficar claro que a reutilização é a transformação de um objeto em outro, mudando-se, com isso, o formato, o recorte, a colagem, a pintura etc. Retomar as hipóteses iniciais do começo da aula também é importante para que o professor verifique se ainda há dúvidas quanto aos dois processos, que são diferentes. Recomenda-se assistir a um vídeo para que ideias inspiradoras possam servir como base para que esses alunos desenvolvam os seus próprios materiais, seja em aula ou em suas casas. Tais ideias podem ser acessadas no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=xvB3dCkDwM0.

3. CONHECENDO AS ALTERNATIVAS PARA TRATAMENTO DOS RESÍDUOS

Este módulo visa conscientizar os alunos acerca das alternativas para que os resíduos possam ser tratados da melhor forma. Cada um dos métodos a serem apresentados ao longo deste módulo possuem funções específicas voltadas ao tratamento e destinação dos resíduos orgânicos (Mma, 2017). Embora o enfoque deste manual seja na compostagem, além dela, há outras medidas que não podem deixar de serem apresentadas, assim como as suas principais características. Dentre essas alternativas, temos a vermicompostagem, que é feita com minhocas, o enterramento, a biodigestão, a incineração, e a compostagem propriamente dita. Algumas características desses métodos serão apresentadas (Inácio e Miller, 2009).

O tratamento dos resíduos sólidos tem como objetivo principal a redução do volume ou o potencial poluidor de tais materiais descartados. Além disso, visa-se, também, a promoção da recuperação dos materiais. Há algumas formas de tratamento que são mais conhecidas, como a reciclagem, a própria compostagem e os tratamentos térmicos. A reciclagem é considerada como um processo que beneficia o descarte sustentável dos resíduos pelas indústrias especializadas, promovendo o seu retorno ao ciclo produtivo (Gliessman, 2009). Com isso, preserva-se os recursos naturais, há a economia de energia e no transporte dos resíduos até a disposição final, gerando empregos, renda e maior conscientização na população.

(Mma, 2017)

O enterramento é uma forma de destinação de resíduos que se dá de forma simples. É recomenda quando a produção dos resíduos orgânicos é considerada como baixa, bem como quando há a disponibilidade de espaço. A fim de que o processo seja vantajoso, todas as etapas devem ser executadas e de maneira correta (Gliessman, 2009). Apenas fazer uma vala no solo e enterrar os resíduos não é uma solução, mas sim um grande problema, visto que suscitará problemas que podem gerar danos ao meio ambiente e à população como um todo devido ao mau cheiro e à atração de vetores – moscas, ratos e semelhantes. A fim de que o enterramento seja realizado da maneira correta, recomenda-se uma estrutura específica: o enterramento deverá ser feito em uma vala quadrada com dimensões de 20 cm x 30 cm de profundidade para cada dez litros de resíduos orgânicos a serem ali depositados.

Após o depósito dos resíduos orgânicos na vala, deve-se adicionar a matéria seca. Como exemplo, pode citar a serragem, a palha e as folhas. Essas devem servir como cobertura, a serem misturadas com terra ou palha. Assim como ocorre no processo de compostagem, deve-se adicionar a matéria seca a fim de que seja possível criar condições de degradação aeróbia da matéria orgânica, evitando-se, dessa forma, o mau cheiro (Inácio e Miller, 2009). O procedimento deverá ser repetido até que a vala seja preenchida por inteiro, antes que o local do enterramento seja substituído

Com o passar do tempo, mudas de frutas ou árvores na vala preenchida poderão aparecer. As sementes estavam na matéria seca ou nos resíduos orgânicos ali depositados. É possível, com este método, escolher e delimitar um local para que os resíduos orgânicos sejam depositados. Podem ser transformados, posteriormente, em um canteiro para horta caseira ou até mesmo em um jardim. Mesmo que se trate de um método considerado como simples, apresenta algumas restrições que não podem deixar de ser mencionadas. Tem-se algumas recomendações, como evitar o enterramento de carnes. Além disso, recomenda-se, ainda, que o local seja isolado, pois, dessa forma, impede-se a chegada dos animais domésticos, como cães e gatos, que podem interferir no processo e dificultar a implementação.

(Mma, 2017)

 

O processo digestivo das minhocas (vermicompostagem), também é considerado  como uma forma de decomposição da matéria orgânica, ideal, portanto, para o tratamento dos resíduos. O método é denominado de vermicompostagem. Ele é popularmente conhecido como “tratamento em minhocários”. O processo, geralmente, é realizado em um local fechado, a fim de que as minhocas a serem utilizadas não fujam. A fim de que os resultados possam ser efetivos, recomenda-se, também, que o espaço seja coberto, uma vez que o excesso de umidade pode prejudicar a sobrevivência das minhocas a serem utilizadas. Como exemplo, pode-se citar as caixas de plástico, onde costumam ser cultivadas. Os resíduos são dispostos no minhocário e, assim como na primeira alternativa, adiciona-se matéria seca. Os minhocários podem admitir os mais diversos tamanhos, contudo, devem ser proporcionais à quantidade de resíduos orgânicos a serem produzidos.

 

As minhocas mais utilizadas no Brasil devem ser, preferencialmente, aquelas espécies que se alimentam de resíduos frescos. As espécies mais utilizadas em nosso país são as minhocas californianas, visto que essas podem ser compradas em sites especializados, ou, ainda, podem ser doadas por pessoas que já possuem um minhocário. Os minhocários costumam ser utilizados para tratamento de resíduos orgânicos sobretudo em apartamentos ou em outros tipos de imóveis que possuem restrição de tamanho. São práticos e fáceis de serem manuseados. O manejo do minhocário deve ser feito de forma cuidadosa, pois, no caso de algum fator não estar equilibrado – umidade, calor ou frio em excesso – as minhocas podem fugir ou morrer. Também possuem restrições quanto aos tipos de resíduos que podem ser depositados em grandes quantidades, pois podem ser prejudiciais à vida das minhocas.

Alguns exemplos são os restos de carnes, os alimentos cítricos, os alimentos cozidos ou os alimentos que possuem um alto teor de sal. Esses devem ser evitados para que a vida útil do minhocário seja significativa.

A biodigestão anaeróbia também é um dos processos mais executados quando se trata de técnicas alternativas para o tratamento dos resíduos. Os biodigestores nada mais são do que equipamentos que promovem processos anaeróbicos de degradação da matéria orgânica. É a degradação que se dá na ausência de oxigênio. Tem-se, como consequência, a geração de alguns subprodutos, como é o caso da produção de fertilizantes, geralmente na forma líquida e gases (o biogás), especialmente o gás metano (CH4).

Trata-se de uma espécie de combustível. Tem-se, com isso, algumas vantagens que não podem deixar de ser mencionadas. O principal benefício gerado por essa tecnologia de reciclagem dos resíduos orgânicos é o fato de que o gás metano gerado pode ser aproveitado em virtude da geração de calor, enquanto energia elétrica ou como combustível em automóveis (ou outros motores adaptados). Contudo, embora este método seja considerado como simples, a tecnologia utilizada é mais complexa do que a compostagem, necessitando, portanto, de investimento em infraestruturas que sejam adequadas para a produção e condução do gás metano. É necessário que haja, ainda, o conhecimento técnico especializado.

(Mma, 2017)

Esse conhecimento, por sua vez, é necessário para que o biodigestor seja manuseado de forma segura. Além disso, cumpre destacar que se trata de um método ideal ao tratamento de resíduos líquidos, e, desse modo, é muito utilizado no tratamento de estercos animais, especialmente de algumas espécies. É utilizado, também, para a extração de biogás de resíduos da coleta indiferenciada, representado pelos materiais orgânicos misturados com os rejeitos. Esses são dispensados nas unidade de tratamento mecânico-biológico, conhecidas como TMB.

(Adaptado de https://www.facebook.com/1500072670298028/photos/a.1500073776964584/1500073783631250/)

Os aterros sanitários são a única forma de disposição final de rejeitos admitida pela legislação em vigor. Encontram-se regulamentados pelas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente, bem como pelas normas estipuladas e atualizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, popularmente conhecida como ABNT. Um aterro sanitário nada mais é do que um espaço selecionado para o descarte final. Essa seleção deve respeitar os critérios ambientais previamente estipulados. Além disso, esses lugares devem ser equipados com dispositivos que permitem a proteção do meio ambiente e que promovem a saúde pública, como a impermeabilização do solo, a drenagem e o tratamento de chorumes e outros gases tóxicos.

A partir do momento em que os rejeitos passam a ser compactados e cobertos com camadas de solo, tem-se um aterro. Diante desse contexto, cumpre mencionar um importante ganho para o contexto brasileiro. Trata-se da Lei de Nº 12.305/2010. Ela é importante pois foi o dispositivo legal que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Estabeleceu, a partir dos seus artigos, que os rejeitos devem ser enviados para disposição final. Os aterros sanitários foram os locais escolhidos, considerados, em termos legais, como ambientalmente corretos (Altieri, 2002). Os resíduos orgânicos, de modo geral, são recicláveis, e, dessa forma, a sua disposição em aterros sanitários não é uma prática considerada como ambientalmente correta (Mma, 2017). Mesmo que apresentem um expressivo potencial econômicos, a maior parte dos resíduos orgânicos no Brasil é enviada para os aterros sanitários ou para os demais espaços considerados como inadequados.

A compostagem desempenha um papel essencial nesse processo, visto que, com a sua popularização, exerce um papel muito relevante, impulsionando as pessoas a investirem nesse tipo de técnica, diminuindo o descarte de materiais indevidos nos aterros sanitários espalhados pelo país (Inácio e Miller, 2009).

         

A incineração trata-se de um processo no qual é realizada a queima controlada dos resíduos sólidos, gerando, com isso, energia elétrica, energia térmica e cinzas. Dentre as principais vantagens relacionadas ao uso desta tecnologia, pode-se chamar a atenção para a diminuição do volume e do nível de periculosidade dos resíduos sólidos a serem ali descartados, mas atenção: destinar a matéria orgânica para um incinerador inviabiliza o processo de reciclagem, e, por consequência, a sua conversão em fertilizante orgânico. Assim como ocorre nos aterros sanitários, o envio dos resíduos orgânicos para os incineradores acarreta o desperdício dos nutrientes contidos em tais resíduos, sendo que esses deveriam retornar ao solo como fertilizantes naturais (Mma, 2017). Dessa forma, embora seja um processo bastante executado, gera certos danos ambientais.

Diferentemente dos outros processos anteriormente abordados, a incineração é um processo considerado como de alta complexidade, o que demanda o emprego de certos recursos tecnológicos e de uma infraestrutura específica. Além disso, os especialistas alertam que a os gases gerados nesse tipo de tratamento são considerados como muito perigosos, e, dessa forma, as técnicas de tratamento e os cuidados necessários para que o incinerador possa ser operacionalizado também é algo que deve ser levado em consideração. Em razão de tais especificidades desta técnica, o processo costuma ser muito mais caro que os modelos anteriores e do que a compostagem. Por esse motivo, recomenda-se que o tratamento dos resíduos seja feito via incineração apenas no caso de não haver outras alternativas mais viáveis disponíveis. Deve-se levar em conta, também, a quantidade de resíduos gerados e a disponibilidade de um espaço para a sua disposição final. Os custos para a manutenção dos equipamentos costumam ser bastante elevados, e, além disso, os especialistas chamam a atenção para o fato de que corre-se o risco de contaminação atmosférica.

 

A compostagem é um processo de degradação que se dá de forma controlada. Controla-se os resíduos orgânicos a partir de condições aeróbias, isto é, conta-se com a presença do oxigênio para a realização do procedimento. O processo tem como objetivo reproduzir algumas condições ideais – umidade, oxigênio e nutrientes, sobretudo o carbono e o nitrogênio (Inácio e Miller, 2009). Com isso, tem-se, como objetivo, impulsionar e acelerar o processo de degradação dos resíduos de forma ambientalmente segura, evitando-se, portanto, a atração de vetores de doenças, eliminando os patógenos (Altieri, 2002). A fim de que obtenha-se êxito, é preciso que todas as condições sejam preservadas, pois elas fazem com que haja uma diversidade de macro e micro-organismos, como é o caso das bactérias e fungos.

Podem atuar de forma sucessiva ou simultaneamente a fim de que haja a degradação acelerada dos resíduos. Tem-se, como resultado final, um material que conta tanto com textura e cor homogêneas, com características de solo de húmus. Atribui-se a esse material o nome de composto orgânico. Diferentemente do processo de incineração, o método é considerado como simples, seguro e de baixo custo (Altieri, 2002). Ao final, obtém-se um produto uniforme. Este encontra-se pronto para ser utilizado nos cultivos de plantas, por exemplo. Em relação a sua proporção, este pode ser realizado tanto em uma escala pequena, em ambientes domésticos, quanto em média escala – em comunidades e instituições – e em grande escala, como é o caso da compostagem municipal e industrial. Entretanto, para que o método seja eficiente, precisa o que seja bem compreendido e manuseado.

Evita-se, com isso, certos problemas, como a geração de odores e gases tóxicos à vida humana e ao meio ambiente, assim como a proliferação dos vetores de doenças. Em razão do fato de que este método é caracterizado pela sua simplicidade e versatilidade, este guia concentra-se nesta medida alternativa para o tratamento dos resíduos sólidos. A temática será aprofundada nas demais unidades. Pensaremos em seu uso em uma escala doméstica, comunitária e institucional.

ATIVIDADE 3 – LIXO E COLETA SELETIVA

APRESENTAÇÃO

Esta atividade promove, a partir de jogos educativos, a compreensão acerca da coleta seletiva, com ênfase no lixo orgânico e inorgânico.

DURAÇÃO DAS AULAS: 2 a 3 aulas.

OBJETIVOS:

Compreender o que são resíduos orgânicos e inorgânicos a partir de exemplos da vida desses próprios alunos;

Refletir sobre o conceito, bem como sobre a relevância do processo de preciclar, atentando-se as suas características;

Sensibilizar os alunos acerca do que são os 5 R’s, apresentando as suas principais características e ações que podem viabilizar tais objetivos.

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

1º MOMENTO:

Neste primeiro momento, o professor pode introduzir o conceito de “preciclar”. Como se trata do contato inicial com a temática, pode-se indagar aos alunos acerca do seu conhecimento sobre “preciclar”, visto que, para muitos, pode ser uma palavra desconhecida, mas que pode desperta-los para o debate e diálogo. A depender da interpretação dos alunos, as respostas podem surgir aos poucos. É primordial abrir espaço para que participem, trazendo alguns exemplos de ações do cotidiano. Interagir com os alunos e questiona-los acerca de conceitos semelhantes trabalhados em aula também é fundamental.

(Gonçalves, 2014)

Os alunos devem se lembrar que os resíduos vão se acumulando a cada nova compra adquirida, como, por exemplo, as embalagens. Devem ser convidados a refletirem acerca das motivações e consequências desta prática. A temática do consumo inteligente é de extrema importância neste momento da discussão, visto que, a cada dia, mês e ano, aumenta-se o consumo, independentemente do poder aquisito e classe social das famílias brasileiras.

2º MOMENTO:

Neste momento é introduzida a discussão sobre a responsabilidade individual de cada um para com o meio ambiente. Deve-se relembrar com os alunos a prática dos 5 R’s de forma crítica. Registrar as ações necessárias para cada um dos R’s com base nas respostas dos alunos é recomendado. É fundamental que haja espaço para que os alunos possam contribuir com a atribuição de significado a cada um dos R’s dentro do seu contexto – repensar, reutilizar, reduzir, reciclar e recusar. Feitas as contribuições, o professor fornece o seu feedback.

(Adaptado de https://mgnconsultoria.com.br/educacao-financeira-e-sustentabilidade/)

3º MOMENTO:

Por fim, neste último momento do módulo inicial, o professor poderá levantar questionamentos acerca de como o processo de separação dos resíduos pode ser feito. É muito importante que a função social de cada um seja relembrada, bem como deve ser frisado que o processo deve ser realizado com zelo para que a separação não agrida o meio ambiente, para que a vida útil dos recursos naturais seja assim preservada. Enfatizar que a prática correta da separação evita doenças causadas pela falta de higiene também é essencial, visto que contribui-se com o bem-estar coletivo. Apontar os benefícios que todos recebem com ações e atitudes corretas é importante (Gliessman, 2009). Distribuir fichas ou cartões com dicas para que a separação dos resíduos seja feita de forma apropriada é essencial. Um exemplo de ficha é proposto por (Gonçalves, 2014).

SEÇÃO II – O PROCESSO DE COMPOSTAGEM

4. A COMPOSTAGEM TERMOFÍLICA EM LEIRAS ESTÁTICAS COM AERAÇÃO PASSIVA

O método de compostagem adotado por este manual é denominado de método UFSC. Ele é conhecido como Compostagem Termofílica em Leiras Estáticas com Aeração Passiva. Sendo assim, as suas principais características e aspectos mais relevantes serão apresentados ao longo desta unidade. Entende-se que todo processo de degradação da matéria orgânica que conta com a presença de oxigênio pode ser considerado como compostagem. Contudo, a forma a partir da qual os fatores umidade, aeração e temperatura são combinados e controlados irá implicar a adesão a um método específico de compostagem de baixo custo. Tais métodos têm sido aplicados, aprimorados e adaptados ao contexto brasileiro. Escolheu-se pelo método da UFSC porque ele é caracterizado pela sua simplicidade, dispensando-se grandes exigências voltadas aos equipamentos, pela sua versatilidade – atinge desde a escala doméstica até a municipal, e, ainda, pela experiência acumulada com o emprego de projetos com êxito em todo o país, sobretudo no âmbito comunitário e institucional.

(Mma, 2017)

A compostagem termofílica é um processo de decomposição microbiológica da matéria orgânica, e, como tal, depende da presença do oxigênio, e, por esse motivo, é considerada como aeróbia, propiciando, ainda, com a geração de calor. Desenvolve-se a partir de temperaturas acima dos 45°C, contudo, pode atingir picos que podem chegar a mais de 70°C. Quando a compostagem atinge temperaturas acima dos 45°C costuma ser denominada de termofílica. Diferencia-se dos outros métodos de compostagem em razão do fato de que os demais são realizados a partir de temperaturas mais baixas ( inferiores aos 45°C).

As leiras são montes formados a partir de resíduos e de outros materiais a partir dos quais a compostagem ganha forma. Não se exige, nesse processo, revolvimentos ou tombamentos durante a sua operação. Difere dos demais métodos de compostagem em que as leiras devem ser revolvidas para que os materiais possam ser bem misturados, bem como para que haja a homogeneização da temperatura e a aeração. A aeração passiva, por sua vez, apenas pode ser realizada por meio da convecção natural, isto é, o ar quente escapa pelo topo da leira, de modo que o ar frio, consequentemente, é sugado pela base permeável da leira. O método difere dos demais em razão de dispensar os equipamentos para a aeração forçada, bem como os revolvimentos do material para que a aeração da leira possa ser realizada.

4.1 FASES DA COMPOSTAGEM TERMOFÍLICA

O gráfico a seguir apresenta os processos que caracterizam uma leira termofílica de compostagem. O processo pode ser definido em fase inicial, fase termofílica, fase mesofílica e fase de maturação. Cada fase tem um certo tempo. Em cada uma delas, predomina-se diferentes micro-organismos, sendo que esses estão relacionados à diferentes temperaturas e processos químicos igualmente específicos:

(Mma, 2017)

A fase inicial pode durar de 15 a 72 horas. Nesse processo, há a liberação do calor, bem como a elevação rápida da temperatura, até que se atinja os 45°C necessários. O processo ocorre em virtude da expansão das colônias de micro-organismos mesófilos e da intensificação da ação de decomposição.

Inicia-se a partir do momento em que a temperatura da fase inicial atinge uma temperatura superior aos 45°C. A temperatura mais comum é entre 50 e 65°C. Tem-se, nesse momento, a plena elevação dos micro-organismos termófilos, havendo a intensa decomposição do material, bem como a liberação de calor e vapor d’água. A aeração é intensificada pelo ar quente (mais leve) ser elevado, o que favorece a entrada de ar frio por baixo da leira, que é o processo de convecção.

Na fase mesofílica há a diminuição da temperatura em razão da diminuição da atividade dos micro-organismos, da degradação de substancias orgânicas mais resistentes e da perda de umidade. A base termofílica é dominada pelas bactérias, sendo que, nessa fase, predominam os fungos actinomicetos. Esses também desempenham um papel muito importante.

A fase da maturação representa o momento em que o húmus é formado, isto é, quando a atividade dos micro-organismos diminui e o composto perde a sua capacidade de auto aquecimento. Assim sendo, a partir dessa fase específica, a decomposição passa a ser processada de forma lenta, prosseguindo dessa mesma forma até que o composto passe a ser aplicado no solo, liberando, finalmente, os nutrientes. As quatro fases aqui apresentadas demonstram o processo ocorrido em uma leira. Entretanto, a fim de que os processos físicos e químicos envolvidos sejam melhor compreendidos, pode-se considerar mais duas fases, sendo elas a FASE ATIVA e a FASE DE MATURAÇÃO, com características próprias.

A fase ativa compreende as seguintes fases: INICIAL, TERMOFÍLICA e parte da MESOFÍLICA. A sua duração média é de cerca de 90 dias. A fase também é conhecida como “fase da degradação”. Dentre as suas principais características tem-se as suas reações bioquímicas de oxirredução e a rápida decomposição dos polissacarídeos e das proteínas. Essas se transformam em açúcares simples e em aminoácidos. Além disso, ocorre, nessa fase, uma maior redução do volume e do peso da leira de compostagem em virtude da liberação de calor, gás carbônico e água. A fase da maturação, por sua vez, tem o seu início no final da fase mesofílica, acontecendo nos últimos dias após o início da fase ativa, isto é, quando ocorre o processo de formação do húmus da matéria orgânica, quando há, também, a decomposição dos ácidos orgânicos e das partículas maiores e mais resistentes, como é o caso da celulose e da lignina. Outra característica dessa fase é a neutralização do pH, redução da relação carbono/nitrogênio e o aumento da capacidade de troca catiônica (CTC). Esta indica a capacidade do solo ou do composto orgânico em disponibilizar os cátions necessários para as plantas.

(Mma, 2017)

4.2 ESTRUTURA DA LEIRA

Neste método, a estrutura da leira desempenha um papel muito importante, visto que é o principal mecanismo que propicia uma aeração adequada. Podem ser operadas de forma manual/artesanal, ou, ainda, de forma mecânica, a partir de tratores do tipo pá carregadeira. É o tipo de operação que irá definir a estrutura da leia, isto é, as suas dimensões e o seu formato. As dimensões da leira, portanto, variam, dependendo da disponibilidade de espaço, porém, a largura não deve ultrapassar 2 metros, para que permita-se a entrada de ar no interior da leira. O comprimento, por sua vez, depende do planejamento e da dinâmica do pátio de compostagem e das áreas disponíveis. Geralmente, varia entre 1 e 20 metros. O formato é preferencialmente retangular. As leiras são pilhas regulares da mistura do material seco, que é rico em carbono, com o material orgânico, que é rico em nitrogênio.

(Mma, 2017)

A construção da leira é iniciada com as paredes de palha. Podem ter a espessura de até 50 cm. A base da leira, por sua vez, será formada a partir de galhos, podas e folhas de palmeiras. São elementos necessários para que seja possível cria um local que facilite a entrada de ar. O fluxo é importante, visto que, quando a leira chegar na fase termofílica, o ar quente sairá sob forma de vapor d’água, e, assim, sugará o ar frio da leira, formando, dessa forma, um fluxo de ar que é favorável para que a atividade dos micro-organismos possa ser realizada sem inconvenientes. A partir dos galhos da base da leira, pode-se elaborar um leito com folhas, serragem ou demais materiais obtidos a partir de um picador de podas. Na primeira montagem da leira, deve-se adicionar uma parte do composto pronto. Este é denominado de inoculante.

Contudo, cumpre afirmar que este processo, antes, ocorria de forma natural, mesmo sem a adição do composto pronto, porém, a inoculação reduz o tempo necessário para que seja possível chegar à fase termofílica. A vantagem é que, dessa forma, evita-se a atração de vetores de doenças, sendo os mais comuns os ratos, bem como alguns insetos. Com a adição do inoculante, deposita-se, então, os resíduos orgânicos em sua forma úmida, isto é, os restos de comida, as cascas de frutas, as verduras, as carnes e materiais orgânicos semelhantes. A partir disso, o inoculante deverá ser misturado com os demais resíduos, e, assim, realiza-se uma espécie de cobertura da matéria seca somada à serragem, podendo-se, também, acrescentar algumas folhas. Posteriormente, a serragem deverá ser coberta com uma camada de palha, pois, dessa forma, forma-se uma proteção e uma barreira física.

Elas impedem a proliferação das moscas, bem como previne-se a diminuição da perda de água em virtude da evaporação. Assim sendo, tem-se, na próxima etapa, o fato de que esta camada de palha superior ser á transformada em uma espécie de parede lateral, e, assim, com o fechamento da leira (recomendando-se que esse tempo seja, no mínimo, por 48 horas), mais alguns acréscimos deverão ser feitos. Este acréscimo é de uma maior quantidade de resíduos orgânicos considerados como frescos, realizando-se, portanto, o procedimento padrão a ser apresentado a seguir sempre que a composteira for aberta.

5. O TRATAMENTO DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS NA COMPOSTAGEM

5.1 A IMPORTÂNCIA DE SEPARAÇÃO DOS MATERIAIS

A separação dos materiais orgânicos e inorgânicos exerce um papel muito importante no processo de compostagem, impulsionando, inclusive, o seu sucesso. O sucesso da compostagem depende, sobretudo, da qualidade do resíduo levado para as leiras (Inácio e Miller, 2009). Por esse motivo, a forma mais segura e ideal para que esses resíduos possam ser administrados e tratados pela compostagem é por meio da separação na fonte dos resíduos orgânicos, isto é, a partir do momento em que um resíduo orgânico é gerado, este não deverá ser misturado com os outros resíduos, visto que a eficácia do processo pode ser comprometida (Mma, 2017). Tomando esses cuidados, os benefícios são diversos, visto que torna-se possível evitar a contaminação dos resíduos orgânicos, e, por consequência, o futuro do composto não é colocado em risco. Assim sendo, alguns materiais devem ser evitados, como é o caso dos metais pesados, dos vidros ou de outros materiais considerados como indesejáveis, uma vez que comprometem a qualidade do solo (Mma, 2017).

Contudo, para que a separação na fonte seja realizada da maneira correta, necessita-se de alguns materiais específicos, como é o caso dos recipientes de armazenamento dos resíduos adequados e de acordo com cada realidade, desde que disponham de uma boa vedação e de tamanhos apropriados tanto para o manejo quanto para o transporte.

Os baldes também desempenham um papel muito importante nesse processo. Eles são considerados pelos especialistas como ferramentas ideais para domicílios que desejam implementar uma compostagem individual ou coletiva/comunitária.

Sugere-se que cada família tenha um recipiente pequeno, como, por exemplo, um pote de sorvete ou baldinho com tampa. Devem ficar próximos à pia de cozinha (ambos ou um deles). Além disso, um balde ou pote maior também devem ficar disponíveis, de modo que possam ser pegos rapidamente. Em relação às dimensões desse balde, recomenda-se que a sua capacidade seja de, pelo menos, 20 litros. Ele deve ficar fora de casa para que evite-se o mau cheiro e os vetores.

Assim sendo, recomenda-se que quando o recipiente menor estiver completo, o seu conteúdo seja despejado no recipiente maior, que pode ser um balde com essas dimensões. Esse balde, por sua vez, quando estiver totalmente preenchido, poderá ser encaminhado para a composteira familiar. Também é possível adotar um modelo de compostagem coletivo/comunitário. Dessa forma, é ideal que a família tenha um balde que seja suficientemente grande para acumular os resíduos por um período de tempo específico. O tempo mínimo recomendado é de um dia. Quando o balde for completado, recomenda-se que os resíduos em questão sejam encaminhados para o Ponto de Entrega mais próximo de sua casa. Essas indicações são recomendadas para domicílios, visto que as residências possuem cozinhas que, em termos de tamanho e infraestrutura, são menores do que as de restaurantes.

No caso dos restaurantes, que possuem cozinhas específicas, torna-se necessário a adesão a um sistema coletor que possibilite o levantamento da tampa com os pés. É necessário aderir um balde desse tipo em virtude das regras sanitárias em vigor, uma vez que elas não permitem que a equipe que trabalha em uma cozinha toque a lixeira com as mãos.

 

5.2 FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS PARA A COMPOSTAGEM

A fim de que o trabalho de revolvimento e maturação das leiras possa ser desempenhado da melhor forma, algumas recomendações tornam-se necessárias, como é o caso do uso de garfos agrícolas contendo quatro pontos. Em algumas regiões específicas de nosso país tais garfos são conhecidos como forcados. Dentre os principais benefícios acarretados por esse uso, tem-se o fato de que o garfo auxilia a postura do trabalhador, fazendo com que este consiga operacionalizar a ferramenta, proporcionando, assim, uma ótima aeração das pilhas. É recomendado, ainda, que outros instrumentos sejam mantidos perto da leira, como é o caso do facão, pá, enxada e de um carrinho de mão. Além disso, há os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) a serem utilizados para que o processo seja executado com segurança nos pátios de compostagem.

Eles são as botas, as luvas, os chapéus e as roupas adequadas, especialmente a calça comprida, indispensáveis para garantir a segurança do operador. Além disso, é importante que tenha, também, equipamentos apropriados para a higienização correta dos contentores, como é o caso das mangueiras, das lavadoras de alta pressão, das escovas e das esponjas. Uma curiosidade é que existem pátios de compostagem que utilizam máquinas carregadeiras, ou, ainda, micro tratores, sendo esses adaptados a fim de que auxiliem na operação das leiras e na própria manutenção do pátio. A depender do tamanho do pátio, bem como do tipo de resíduo a ser comportado pela composteira, um outro equipamento pode ser essencial. Ele é o triturador de podas, galhos e folhas, sendo capaz de gerar matéria seca.

Tais trituradores podem ser encontrados no mercado com diversas potências, oferecidos por múltiplas marcas e modelos. Fica à critério de cada administrador escolher por aquele que melhor se adapta ao contexto no qual a composteira está inserida.

5.3 CONHECENDO OS MATERIAIS E INSUMOS NECESSÁRIOS À COMPOSTEIRA

A fim de que o processo de compostagem seja bem feito, necessita-se de uma mistura com resíduos úmidos, que são ricos em nitrogênio, e com matéria seca, rica em carbono. O material rico em nitrogênio, geralmente, corresponde à maior parte dos resíduos que virão das cozinhas, restaurantes, refeitórios, residências e indústrias de alimentos. O fornecimento da fonte rica em carbono, por sua vez, conta com serragem ou com o material advindo das podas em sua forma triturada, e, assim, precisa ser planejado e articulado de acordo com a disponibilidade dos fornecedores da vizinhança, visto que o descarte, comumente, não é feito pela população em grande quantidade.

Em relação à quantidade de porção seca necessária para a realização da compostagem, esta dependerá do volume da porção úmida que está sendo empregada. Contudo, como regra geral, recomenda-se que, para cada porção de resíduos úmidos colocada na composteira, insere-se, por consequência, duas porções de matéria seca para que haja uma certa equivalência. Assim sendo, com o tempo, a quantidade necessária pode ser tanto aumentada quanto reduzida. Tudo irá depender das características de cada leira específica, visto que as condições podem variar bastante de uma para a outra. Tem se alguns locais onde a matéria seca pode ser encontrada:

A serragem pode ser adquirida facilmente em madeireiras ou em marcenarias da sua região, de modo que são comuns no contexto urbano. Um setor de marcenarias que costuma ter o material em quantidade suficiente são as lojas que vendem madeiras de demolição, visto que não fazem uso de tratamentos químicos em tais madeiras. Este tratamento causa alguns danos que podem prejudicar os micro-organismos presentes na leira de compostagem. Atenção:  não é recomendado o uso do pós de serra, apenas da maravalha, do cepilho ou do cavaco. A serragem, portanto, precisa estar na forma de lascas mais grossas, pois, assim, cria pequenos espaços dentro da leira, e, então, facilita o fluxo de ar. Além disso, o pó de serragem é muito fino, e, dessa forma, acaba deixando a leira compactada, criando um ambiente que não possui a quantidade de oxigênio necessária ao processo.

A palha é um material que pode ser obtido nas Centrais de Abastecimento (CEASAs) de sua região. Para os boxistas, este material, geralmente, é considerado como um resíduo. Sabe-se que tanto as melancias quanto os abacaxis são carregados em caminhões que fazem uma cama de palha para que a qualidade das frutas não seja prejudicada no processo de locomoção até onde serão disponibilizadas. Após esses produtos serem descarregados, o material – a palha – costuma ser descartado, e, dessa forma, pode ser reaproveitado. As regiões agrícolas que contam com a produção acirrada de cereais, como é o caso, por exemplo, do arroz, do milho, da aveia, da cevada ou do trigo (gramíneas), há, também, uma certa abundância deste material – a palha – recomendando-se, portanto, uma articulação com os produtores para que esse material seja obtido, e, assim, reaproveitado, já que, de qualquer forma, seria descartado.

Este material em específico provém da criação de alguns animais específicos, como é o caso da criação de cavalos, de aves, de roedores (que, geralmente, são cobaias nas pesquisas científicas), dentre outros animais. Atenção: nestes criadouros, como é o caso das áreas experimentais com cobaias em universidades, hípicas, haras, unidades avícolas etc. Deve ser realizada, diariamente, a limpeza dos resíduos dos animais. Em relação ao uso da serragem, geralmente, esta costuma ficar no chão, onde ficam os animais cujos excrementos são misturados com a serragem, sendo que essa, de forma periódica, deve ser substituída. O descarte desse resíduo pode ser um problema e, dessa forma, pode ser feito um acordo entre as partes interessadas na utilização do material como fonte de carbono para a compostagem.

Os especialistas chamam a atenção para uma questão muito importante: com a presença dos desejos animais, a relação Carbono/Nitrogênio – C/N é reduzida pela maior quantidade de nitrogênio ofertada pela presença da urina e do esterco. Assim sendo, recomenda-se o uso de uma porção menor desse material comparado com o uso de serragem, sobretudo quando destinada à compostagem.

5.4 COMO DEVE SER FEITO O MANEJO NAS LEIRAS DE COMPOSTAGEM

Há dois eixos principais que devem nortear a partir de dois critérios principais:

A compostagem pode assumir diferentes formas, servindo à finalidades igualmente múltiplas. No caso de uma compostagem de pequeno porte, como é o caso, por exemplo, daquelas realizadas em unidades escolares ou em residências, sugere-se a utilização de uma primeira leira até que esta alcance o tamanho máximo de 1,3 m. Recomenda-se, ainda, que ela seja manejada ao menos duas vezes por semana, como, por exemplo, todas as terças e sextas-feiras. Assim sendo, ao final de seis meses, haverá cerca de três leiras, sendo que uma corresponderá ao composto pronto, outra à maturação e outra estará em pleno funcionamento. No caso dos pátios que contam com uma maior disponibilidade, tendo médio e grande porte, sugere-se duas opções para que as leiras possam ser manejadas.

 

Atenção: o volume dos resíduos a serem depositados é grande, e, dessa forma, a compostagem é realizada diariamente, de modo que uma das possibilidades para que possa ser manejada é possuir um conjunto de três ou quatro leiras funcionando de forma simultânea. Assim sendo, os resíduos deverão ser depositados cada dia em uma leira diferente. Tem-se, então, o fato de que a mesma leira acabará sendo aberta a cada três ou quatro dias. As leiras em questão são manejadas também de forma simultânea até que alcancem a altura máxima para que a sua operação seja feita de forma confortável e segura. Atingindo-se o limite máximo da altura recomendada, forma-se um novo conjunto de três ou quatro leiras. O primeiro conjunto, por sua vez, estaria em sua fase de repouso, processamento e maturação.

Os especialistas recomendam que, neste modelo, é importante que haja um certo planejamento para que possa ter acesso às leiras, sobretudo quanto à retirada do composto para maturação final. A fim de que novas leiras no local pudessem ser realizadas onde se encontra o primeiro conjunto, deve-se esperar, no mínimo, quatro meses após o início do descanso. Outro modelo de pátios para espaços de médio e grande porte é a inclusão metade ou todo o pátio com diversas leiras funcionando de forma simultânea. Metade do pátio com leiras pode manter-se funcionando por seis meses, depositando os resíduos nas leiras em um sistema de rodízio, a ponto de que essas leiras devem ter tempo suficiente para iniciar o processo, permanecendo em sua fase termofílica. Transcorridos os seis meses, constrói-se leiras na outra metade do pátio.

As leiras em rodízio, por sua vez, passam a ser gerenciadas novamente. Retornando para a primeira metade do pátio, as leiras já estarão estabilizadas, e, dessa forma, o composto pode ser retirado para ser utilizado.

Novas leiras poderão ser construídas no local. Torna-se necessário, nesse processo, planejar a circulação de máquinas para a retirada do composto, bem como para a entrada de resíduos.

(Mma, 2017)
(Mma, 2017)

ATIVIDADE 4 – COMPREENDENDO A COMPOSTAGEM – PARTE I

APRESENTAÇÃO

Nesta atividade, o professor deve promover exercícios voltados à prática da compostagem e aos seus benefícios para cada indivíduo e para a coletividade, como um todo. Ao longo da atividade, deve ficar claro, ao aluno, que a compostagem trata-se de uma atividade que visa a transformação da parte orgânica do lixo em um composto, sendo que esse poderá servir de fertilizante para o solo.

Esta parte orgânica do lixo corresponde aos restos alimentares, à cobertura vegetal fresca, às plantas aquáticas, ao esterco (de galinha, cavalou ou vaca) e à cobertura vegetal seca. A fim de que a compostagem seja bem introduzida aos alunos, recomenda-se o uso de vídeos e apresentação de algumas reportagens. Ao final, recomenda-se a montagem de uma composteira na escola.

DURAÇÃO DAS AULAS: 3 aulas

OBJETIVOS:

Em um primeiro momento, tem-se, como objetivo, identificar o que é o lixo orgânico e as etapas relacionadas ao processo de compostagem;

Em um segundo momento, visa-se, junto aos alunos, discutir sobre a influência dos fatores físicos e químicos no processo de compostagem;

Em um terceiro momento, junto aos alunos, de forma oral e escrita, visa-se instigar os alunos a apresentarem os resultados da investigação a partir de uma atividade em que possam falar sobre o assunto (como um seminário)

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

1º MOMENTO:

Na primeira etapa, visa-se identificar as características do lixo orgânico. O professor deve levar os alunos ao laboratório de informática e pedir aos alunos para que pesquisem sobre o lixo orgânico. Um modelo pode ser seguido e algumas perguntas podem nortear essa pesquisa, como: o que é o lixo orgânico; onde o lixo orgânico é produzido; qual é a destinação do lixo orgânico; a destinação está sendo feita de forma correta; e, em caso negativo, o que devemos fazer enquanto cidadãos para que consigamos reverter essa situação (Gliessman, 2009). Trata-se, portanto, de um trabalho de conscientização, de modo que todos na escola possam entender a importância da compostagem.

Após o término dessa pesquisa, o professor poderá disponibilizar cartolinas, tintas e pincéis, lápis de cor, materiais para recorte, tesouras, cola e outros materiais para que possam criar cartazes informativos a serem disponibilizados em um espaço no qual possam ser bem visualizados. Os resultados coletados a partir dessa pesquisa devem ser compilados no cartaz. Os alunos podem ser divididos em grupos para que seja possível obter diversos cartazes. Quando esses estiverem prontos, podem ser apresentados de forma oral e fixados em um espaço onde possam ser vistos. Promover o debate entre os alunos a partir dos cartazes também é uma prática recomendada.

2º MOMENTO:

Este é o momento em que a composteira será criada. Peça autorização à direção da escola para que um pequeno espaço possa ser utilizado. Também será necessário pedir a colaboração das cantineiras para que separem os restos de alimentos, como o resto de verduras, talos, folhas, dentre outros. Caso a escola realize a coleta seletiva, poderá ser utilizado o lixo orgânico depositado no coletor cuja cor é marrom. Tem-se alguns objetivos com essa atividade:

  • Saber para o que serve a composteira;
  • Identificar quais são os materiais que podem ser utilizados na composteira;
  • Montar uma composteira com os materiais reunidos na própria escola;
  • Conscientizar os alunos acerca da importância do reaproveitamento dos materiais orgânicos para a produção do composto orgânico, tanto para o meio ambiente, pois evita-se a contaminação do solo e das águas quanto para as plantas, que são fontes de nutrientes.

Sobre os materiais recomendado, tem-se os restos de alimentos e podas de jardim e recomenda-se que os resíduos sejam colocados em uma caixa de madeira com tela, jardineira plástica ou, caso necessário, a compostagem pode ser realizada diretamente no solo. Em relação aos procedimentos, em um primeiro momento, deve-se escolher o local ou o recipiente onde a pilha de materiais orgânicos será depositada, nas jardineiras plásticas, nas caixas de madeira com tela ou diretamente no solo. Em segundo momento, deve-se montar as camadas com os resíduos orgânicos, de modo que a primeira camada deve ser composta pelo material seco – podas de árvores ou galhos picados.

A segunda camada, por sua vez, deve ser composta pelo material úmido. Recomenda-se, ainda, que os materiais sejam alternados, tomando o cuidado devido para que não seja formada uma camada muito espessa a partir de um único material. As camadas, portanto, devem ter a mesma proporção de resíduos secos e úmidos. Na última camada, insere-se os resíduos de jardinagem ou de terra para evitar a atração de moscas. Quando a composteira estiver cheia, deve-se parar de colocar material fresco e cobri-la com folhas secas ou manta plástica (na época das chuvas).

3º MOMENTO:

Neste último momento da atividade, os alunos deverão desvendar os fatores que podem interferir no processo da compostagem. Atenção: nesse momento, os alunos já terão condições suficientes para que elenquem os benefícios do processo de compostagem. Contudo, os alunos devem ser instigados a enumerarem os possíveis problemas que podem se manifestar durante o processo de preparação do composto. Recomenda-se, também, que os alunos formulem soluções para esses problemas. Para tanto, os alunos podem ser dispostos a partir de equipes. Eles devem observar a composteira pronta e questionar-se acerca de alguns processos.

  • A composteira pode gerar algum tipo de problema ou danos?
  • Em caso afirmativo, quais seriam esses principais problemas e danos e como eles podem ser evitados?
  • Há como solucionar esses problemas existentes?

É fundamental que, nesse momento, os alunos apresentem as suas respostas, discutindo e apresentando as suas anotações aos demais. Atenção: caso os alunos não consigam identificar os possíveis problemas que podem comprometer a realização da compostagem, o professor deverá fazer as intervenções necessárias, direcionando, portanto, as observações a serem feitas e compartilhadas pelos próprios alunos. Sugere-, nesse processo, a proposição de mais algumas questões norteadoras para que a temática seja bem absorvida:

  • A composteira pode gerar mau cheiro?
  • A composteira pode atrair vetores (como insetos, ratos e outros animais que podem colocar em risco a saúde):
  • O que acontece com a composteira quando ela fica encharcada?

Por fim, disponibilizar, aos alunos, alguns endereços eletrônicos também é recomendado, pois, dessa forma, podem pesquisar, sempre que necessário, os problemas, as motivações e as soluções voltadas ao processo de compostagem.

5.5 MANTENDO A COMPOSTAGEM EQUILIBRADA E SAUDÁVEL

As variações da compostagem  dependem de uma série de fatores. Esses, por sua vez, são relativos à montagem da leira de compostagem, como é o caso do grau de mistura e posição das camadas dos materiais e, por consequência, de suas características. Essas características, por sua vez, não podem ser resumidas à relação C/N dos materiais orgânicos. Isso decorre do fato de que o processo também envolve características físicas, como é o caso da capacidade de absorção e retenção da água e da condutividade térmica. Além disso, os especialistas apontam que a estrutura da leiras influencia em alguns processos, como é o caso do fluxo do ar, do vapor d´’agua e retenção de calor. O processo, por consequência, influencia na ecologia dos micro-organismos envolvidos no processo de compostagem.

O método de compostagem não possui grandes exigências de equipamentos e tecnologia industrial, porém, é muito importante que haja o conhecimento acerca da ecologia do processo, bem como sobre a capacidade técnica de avaliação e funcionamento das leiras, verificando-se se elas se encontram saudáveis e equilibradas (Inácio e Miller, 2009). A fim de que o processo possa ser melhor visualizado, os principais desequilíbrios que podem manifestar-se nesse momento serão ilustrados por meio de um esquema. O objetivo é verificar as alterações indesejadas na leira de compostagem.

SEÇÃO III – APLICAÇÃO PRÁTICA DA COMPOSTAGEM

6. A COMPOSTAGEM RESIDENCIAL OU INDIVIDUAL

A compostagem doméstica (ou residencial) ou individual é um método utilizado em residência que produzem um volume mínimo de 20 litros de resíduos por semana. Essas residências devem dispor de uma área mínima de 4 m2, sendo que as proporções ideais é que esta área possua dimensões de 2 m x 2 m. Recomenda-se para as residências com pouca geração de resíduos orgânicos (ou com restrição de espaço, como é o caso dos apartamentos e kitnets), sugere-se a adesão a um sistema Super R. Assim sendo, a coleta e o armazenamento  de tais resíduos deve ser feita a partir de um recipiente que possua uma tampa com, no máximo, 3 litros. Ele deve ficar na cozinha da residência. Um recipiente entre 20 e 25 litros, também com tampa, deverá ficar fora da casa, ou, caso não seja possível, em um local no qual há pouca circulação de pessoas.

Sempre que o recipiente menor for completado, os resíduos deverão ser depositados neste recipiente maior, sendo que esse, quando estiver completo, deverá ser encaminhado para a compostagem. No caso de uma produção mínima semanal de 20 litros, a alimentação das leiras deverá ser feita apenas uma vez por semana. Atenção: é muito importante que todos estejam atentos a cada fase do processo, especialmente no que toca à relação C/N e à aeração. Para tanto, recomenda-se que se tenha em casa uma boa quantidade de serragem e palhas para que o processo não seja comprometido. Como apresentado neste manual, a serragem pode ser obtida em marcenarias ou serrarias, devendo-se dar preferência para os materiais que não passaram por nenhum tipo de tratamento químico.

Por fim, indica-se que, em um espaço determinado, incialmente delimitado por uma leira com proporções de 1 m x 1m, deve-se fazer a paredes da leira com a palha. Assim sendo, com essas dimensões específicas, a leira poderá ser construída a partir dos elementos recomendados. A leira poderá ser alimentada até que alcance um metro de altura. Após atingir essa altura máxima, permanecerá em seu período de maturação por cerca de 3 meses ( o composto orgânico). Enquanto isso, uma nova leira deverá ser construída com as mesmas dimensões e métodos. Assim sendo, o sistema sempre contará com uma leira em estado de maturação e com outra que será alimentada semanalmente, de forma ininterrupta.

(Mma, 2017)

As fases da construção da leira são as seguintes:

(Mma, 2017)

7. A COMPOSTAGEM COLETIVA OU COMUNITÁRIA

Este modelo possui uma proporção maior, e, dessa forma, pode ser utilizado tanto em condomínios de casas ou prédios, quanto em um bairro, vila ou em uma comunidade inteira. Contudo, para que o modelo obtenha o êxito necessário, é preciso que haja um grupo que tome a iniciativa para que a compostagem possa ser implementada nessa realidade. Para que o modelo obtenha êxito, é preciso que a comunidade seja mobilizada e conscientizada para que todos se comprometam com a construção coletiva do modelo. O primeiro passo, portanto, é justamente a conscientização da comunidade acerca da importância, vantagens e cuidados a  serem tomados, pois a compostagem será gerenciada de forma coletiva.

É essencial para que os resíduos orgânicos sejam tratados da melhor forma possível, sem que se cause danos à saúde de todos e ao meio ambiente. Além disso, a compostagem obterá uma maior êxito caso haja o envolvimento de diferentes pessoas com os projetos de compostagem. Esses projetos, por sua vez, estão fortemente associados às inciativas de agricultura urbana voltada ao uso do composto, e, dessa forma, cria-se uma dinâmica mais positiva (Vinholi et al., 2009). Esta eficiência, por sua vez, está fortemente associada com o envolvimento da comunidade. Os esforços devem comprometer-se com a manutenção e expansão dos seus plantios e jardins, diminuindo, assim, as chances de o processo ser abandonado (Abreu e Tommasi, 2010).

 

O primeiro passo é justamente a mobilização e sensibilização de todos os que compõem a comunidade que irá se comprometer com a compostagem. Como ressaltado, deve ficar clara a relevância, as vantagens e os cuidados que todos os membros devem ter ao tratarem os seus resíduos orgânicos. Tem-se observado que o êxito é recorrente quando  os projetos de compostagem passam a ser associados às iniciativas de agricultura urbana, voltadas, portanto, ao uso do composto propriamente dito (Vinholi et al., 2009). Cria-se, dessa forma, uma dinâmica virtuosa, uma vez que a comunidade passa a sentir a necessidade de manter o composto, expandindo os seus plantios e jardins (Abreu e Tommasi, 2010). Recomenda-se, também, que, na fase de mobilização comunitária, deve-se formar um grupo que deve ser devidamente capacitado e ativo.

(Mma, 2017)

Dentre as suas principais funções, terá, como objetivo, a concretização das ações necessárias, desde a educação ambiental até a sensibilização propriamente dita dos moradores para que a segregação de tais resíduos seja feita a partir de três frações essenciais – orgânicos, recicláveis secos e rejeitos – sendo necessário, ainda, que tais membros conheçam as técnicas sobre o manejo correto, incluindo-se a coleta, o transporte, a compostagem e a visitação nos pátios de compostagem. Ainda durante a mobilização deverá haver, também, uma proposta na forma de plano. Este deve ser discutido e firmado a partir desta discussão um acordo entre os membros da comunidade, especialmente quanto à localização do pátio de compostagem e dos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs). O pátio de compostagem, por sua vez, deve ser um local destinado apenas para esta atividade, tomando-se todos os cuidados ambientais necessários.

Caso seja pertinente, a atividade a ser desenvolvida neste local específico precisará ser submetida a um processo de licenciamento (ou de autorização ambiental). Além disso, geralmente, o pátio conta com uma infraestrutura específica para que seja possível manter a qualidade dos resíduos a serem ali tratados. Devem fazer parte desta infraestrutura um sistema de drenagem, um local para que os recipientes possam ser lavados, um local para que as ferramentas e os insumos possam ser guardados, um local para o armazenamento da serragem, palha e folhas e precisa-se que haja cercas ou barreiras verdes no entorno do pátio. É a gestão de tais aspectos que faz com que haja uma compostagem saudável e equilibrada em uma perspectiva coletiva.

(Mma, 2017)

7.1 MOVIMENTOS DE IMPLEMENTAÇÃO DA COMPOSTAGEM COLETIVA

Diversos movimentos em todo o país se destacam ao implementarem a compostagem nas mais diversas comunidades. Como exemplo, pode-se citar a “Revolução dos Baldinhos” (Farias, 2010). Trata-se de um projeto de gestão comunitária dos resíduos orgânicos realizado na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, no Bairro Monte Cristo, em 2008. A fim de que a compostagem pudesse ser efetivamente implementada, tanto as lideranças quanto os próprios moradores da comunidade, representantes das escolas e do Centro de Saúde, um técnico do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura e as mulheres da Frente Temporária de Trabalho reuniram-se para juntos debaterem sobre como a compostagem poderia ser uma realidade naquela comunidade.

Havia um certo consenso: não bastaria intervir a partir da dedetização, pois, caso o alimento proveniente dos resíduos nas ruas continuasse a ser de fácil acesso, poderia correr o risco do surgimento de um novo surto, sendo necessário, portanto, encontrar uma solução definitiva para o problema daquela comunidade.

A solução definitiva encontrada foi justamente a compostagem dos resíduos orgânicos, considerada como muito promissora. A fim de que aceitação da compostagem nesta comunidade possa ser melhor compreendida é preciso destacar três momentos, que, na verdade, são iniciativas. Essas já estavam sendo empregadas em outras localidades. O primeiro momento é representado pela Frente Temporária de Trabalho. Esta foi criada para que fosse possível encontrar uma solução para um problema específico daquele contexto, que era o acúmulo de resíduos nas ruas. As mulheres, então, eram contratadas pela prefeitura local por cerca de três meses. Realizavam a limpeza nas ruas, e, em virtude desse trabalho contínuo, tinham um contato próximo com as famílias que integravam aquele bairro em específico. O segundo momento que marcou a implementação da compostagem em nosso exemplo é a atuação significa de duas escolas. Desde 2006 elas estavam realizando um projeto de hortas escolares.

Para darem vida a tais hortas faziam uso da compostagem dos resíduos como alternativa para a produção de adubo orgânico para os plantios, obtendo resultados bastante satisfatórios. Tem-se, por fim, um terceiro momento. Este é representado pela iniciativa de um médico do posto de saúde local. Visava-se a difusão da compostagem para a reciclagem dos resíduos domésticos e produção de alimentos mais saudáveis. O projeto é reconhecido justamente pelo seu trabalho satisfatório de sensibilização. Não eram técnicos que iam até as casas das famílias para que este trabalho de conscientização fosse feito, mas sim os jovens e os próprios moradores das comunidades. Apresentavam as soluções que eles mesmos haviam identificado ao longo da execução do projeto, apresentando as melhorias que iram beneficiar o bairro como um todo, desde que houvesse esforço coletivo para tal. Criou-se, com isso, uma relação de reciprocidade, visto que as famílias participantes viam de perto o trabalho e o engajamento dos responsáveis pela coleta e pela reciclagem.

Viam os resultados desse processo serem transformados em algo que iria beneficiar a todos, que era o composto orgânico que ficava disponível para que os membros do bairro o pudessem utilizar em suas respectivas hortas e plantios. O interessante é que, em pouco tempo, as informações sobre o processo foram disseminadas de forma massiva pelas próprias famílias participantes. Elas desempenhavam o papel de orientadores, fornecendo os dados necessários para os vizinhos relacionados à separação adequada dos seus resíduos individuais orgânicos. Em relação à coleta em si, esta era realizada, inicialmente, com um carrinho de supermercado, surgindo, daí, o nome “Revolução dos Baldinhos”. A coleta era feita duas vezes por semana. Visitava-se cada uma das casas do bairro (Farias, 2010). Devido às proporções que o movimento tomou, mais famílias se comprometeram e passaram a participar de uma forma muito mais ativa, e, com isso, o tempo de coleta aumentou. Assim sendo, a fim de que o tempo da coleta fosse otimizado, realizou-se uma parceria com a Companhia Melhoramentos da Capital, que é uma empresa municipal de limpeza urbana da cidade de Florianópolis.

Trazer experiências desse tipo como exemplo é muito importante, visto que a experiência acumulada ao longo dos anos de implementação do projeto fez com que ele e os que surgiram a partir dele garantissem a viabilidade da gestão comunitária da compostagem. Além disso, passou-se a promover a reciclagem descentralizada dos resíduos orgânicos, contando-se com o apoio da agricultura urbana, fornecendo-se, com isso, uma maior segurança alimentar e nutricional, e, ainda, passou-se a valorizar de forma mais significativa as áreas verdes urbanas (Vinholi et al., 2009). Em uma outra perspectiva, chegou-se a outros tipos de benefícios, de ordem financeira, inclusive, visto que se evidenciou o grande potencial econômico dos resíduos orgânicos (Abreu e Tommasi, 2010). Passou-se a evitar maiores danos causados ao meio ambiente, uma vez que os resíduos orgânicos que costumavam ser destinados às áreas de disposição final passaram a ser melhor aproveitados. Com isso, influenciou-se e aumentou-se a vida útil dos aterros sanitários, contribuindo, portanto, para com a preservação do meio ambiente (Gliessman, 2009).

Os resíduos podem ser transformados em fertilidade para o solo, bem como pode se tornar uma fonte de renda para as diversas famílias brasileiras que dependem deste tipo de atividade. Entretanto, constatou-se que o modelo possuía uma certa precariedade financeira, visto que estava dependente da proveniência de recursos via lançamento de editais, o que acabou revelando a necessidade de que instituições de iniciativas públicas e de que as próprias políticas públicas passassem a abarcar esta questão. Esta necessidade é muito importante para que não só este projeto, mas todos em vigor no Brasil possam ter a sua continuidade garantida, de forma estruturada. Assim sendo, o reconhecimento da gestão local dos resíduos é uma das principais estratégias para que os princípios e objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos possam vir a ser alcançados a partir de medidas e ações efetiva.

8. A COMPOSTAGEM INSTITUCIONAL OU EMPRESARIAL

Até agora discutimos sobre uma espécie de compostagem de pequeno porte, comum, sobretudo, em residências e empregadas em comunidade. Trouxemos um exemplo concreto de aplicação no âmbito coletivo (A Revolução dos Baldinhos). Contudo, ela ainda pode ser aplicada a outros dois contextos, sendo o primeiro deles nas esferas institucionais e empresariais, trazendo ganhos bastante efetivos para os espaços que permitem a sua real implementação (Farias, 2010). Como sabemos, hoje, as empresas que trazem a verdade para a sua gestão são as mais competitivas, visto que visto que a sustentabilidade tem sido cobrada de diversas formas, inclusive pelos próprios consumidores, que não mais aceitam adquirir produtos e serviços que não sejam ambientalmente seguros e corretos (Altieri, 2002). Nesse contexto, a compostagem pode agregar valor à essa marca, visto que encontra-se amparada em princípios legais de nosso ordenamento jurídico.

Este manual entende que há uma compostagem institucional ou empresarial sempre que uma entidade se compromete com a causa. Esta entidade em questão pode ser tanto pública quanto privada. É representada pelas escolas, pelos centros de saúde, pelas universidades, pelas empresas propriamente ditas, pelos restaurantes, pelas indústrias, dentre outros tipos de espaços (Inácio e Miller, 2009). Tem-se, como objetivo, a operacionalização de um pátio de compostagem a fim de que a fração orgânica dos resíduos gerados por suas atividades seja descartada de uma forma ambientalmente segura e ideal (Altieri, 2002). Assim sendo, geralmente, há múltiplas fontes de resíduos orgânicos, como é o caso dos restaurantes, das lanchonetes, dos supermercados e dos bares. Há diversas experiências que têm implementado o modelo no país – universidades, escolas, creches, centro comunitários, supermercados etc. Visam o descarte adequado de seus resíduos.

O processo de implementação pode ser executado a partir de oito etapas:

Em um primeiro momento, é feita a caracterização dos resíduos a serem descartados. Neste momento, visa-se conhecer os resíduos gerados por essa instituição que deseja implementar o modelo. O método é conhecido por análise gravimétrica ou gravimetria. O processo envolve a separação do resíduo a partir da sua origem – resíduos de cozinha, de podas e de jardinagem, por exemplo – sendo que, na sequência, é feita a pesagem de cada amostra. A partir desta amostragem, torna-se possível quantificar o volume ou a massa dos resíduos gerados por essa instituição. Pode-se levar em consideração um período específico, ou, ainda, uma dada época do ano, ficando à critério da instituição.

No caso de instituições integradas por mais de uma unidade e que, em termos geográficos, são próximas entre si, recomenda-se a avaliação e definição de um modelo de gestão a ser adotado por ambas. Este modelo pode ser centralizado, em que uma mesma unidade irá realizar a compostagem dos resíduos gerados por ela e as demais a ela associadas nessa mesma localização, ou, ainda, pode-se optar por um modelo descentralizado, em que cada unidade, em razão dessa escolha, terá o seu próprio pátio de compostagem.

As fontes que irão fornecer palha e serragem para a manutenção das leiras de compostagem devem ser escolhidas neste momento, assim como será necessário ter claras as possibilidades a partir das quais o composto será destinado, podendo, por exemplo, servir para uso próprio da instituição em suas hortas e jardins, ou, ainda, caso necessário, pode ser doado ou comercializado.

O estudo acerca do volume gerado na etapa 1 (caracterização dos resíduos) irá servir de base para a elaboração de um projeto técnico responsável por prever as áreas em que a palha, serragem, folhas, lavação das bombonas, galpão de ferramentas e sistema de drenagem possam ser armazenados.

Inicia-se, aqui, o trabalho de conscientização dos membros que integram esta instituição. Recomenda-se a realização de reuniões para que este trabalho possa ser bem realizado. A sensibilização deve ser quanto à implementação do novo sistema de gerenciamentos dos resíduos e formas de segregação. A equipe como um todo, incluindo os dirigentes, técnicos e o time ligado às áreas que perpassam pela concretização da compostagem – colaboradores da cozinha, serviços gerais, limpeza, educação ambiental e nutrição – exercem um papel essencial nesse processo.

Os membros diretamente envolvidos com a coleta dos resíduos e com a manutenção do pátio de compostagem necessitam de uma capacitação adequada a fim de que consigam realizar essas tarefas da maneira correta, incluindo-se, por exemplo, a realização de estágios em algum pátio em funcionamento e/ou a realização de cursos de capacitação.

O acompanhamento técnico deve ser contínuo, especialmente na equipa responsável pela construção das primeiras leiras (mas não só). Recomenda-se, ainda, que seja feito o acompanhamento técnico e a avaliação de tal observação de forma periódica. Tal continuidade é necessária para que seja possível garantir a qualidade e a segurança do processo de compostagem, bem como para avaliar a gestão e o funcionamento do pátio, e, caso sejam identificados, devem ser feitos os devidos ajustes para que haja a sua plena execução.

Devem ser feitas avaliações periódicas para que seja possível dimensionar e mensurar a qualidade dos resíduos e o funcionamento do pátio.

9. A COMPOSTAGEM NA ESCOLA

Por fim, este manual irá apresentar mais algumas práticas de compostagem que podem ser aplicadas às escolas. O modelo de gestão para os resíduos orgânicos em unidades escolares deverá seguir os mesmos princípios dos demais modelos aqui apresentados. Contudo, como se trata de uma escola, alguns cuidados adicionais deverão ser tomados, especialmente em relação à escolha do local das leiras, da equipe responsável pela manutenção e dos meios voltados ao aproveitamento pedagógico da prática da compostagem juntos aos alunos e professores envolvidos. Atenção: a compostagem na escola poderá ser explorada de formas diversas, podendo-se citar alguns exemplos mais rotineiros.

É o caso da educação ambiental promovida no espaço escolar. Escolheu-se por esta prática em virtude do fato de que ela exerce um papel capaz de mobilizar e integrar todos os membros desta comunidade como um todo – os professores, os alunos, os funcionários, os gestores e as próprias famílias desses alunos. Apresentado este panorama, devemos elencar algumas etapas essenciais que perpassam pelo processo de implementação da compostagem nesse espaço específico – as unidades escolares. Essas fases-etapas irão tomar basicamente as mesmas proporções que as técnicas de compostagem realizadas no âmbito da instituição, contudo, possui algumas especificidades.

Nessa fase, visa-se conhecer os resíduos que são gerados com mais frequência na escola, sendo que esses devem ser separados pela origem do resíduo, levando cada amostra em consideração. Nas unidades escolares, a maior parte dos resíduos orgânicos acaba sendo gerada na cozinha, e, dessa forma, o monitoramento e a pesagem de tais resíduos no período correspondente a uma semana já é o suficiente para fornecer os dados sobre a geração total desta escola (o seu volume ou massa). Considera-se uma época do ano ou um período de tempo para que o pátio possa ser melhor dimensionado.

Na sequência, identifica-se as fontes capazes de fornecer palha e serragem para que as leiras de compostagem sejam mantidas em pleno funcionamento, bem como para que se conheça as possibilidades de destinação do composto. Os pais dos alunos podem auxiliar nesse processo fornecendo fontes de carbono, como aparas de gramas, folhas secas, serragem e outros. Tais insumos podem ser coletados tanto em seu meio de trabalho quanto nas atividades domésticas. O envolvimento dos pais é muito importante nesse processo, pois, com o seu interesse, os alunos podem se engajar com a prática, difundindo a compostagem no contexto doméstico.

Também é possível obter os insumos necessários em marcenarias ou serrarias próximas à escola, assim como o serviço de limpeza urbana pode disponibilizar as roçadas obtidas na região (Vinholi et al., 2009). Em relação à destinação dos compostos em unidades escolares, a mais ideal é no cultivo de hortas escolares, com o objetivo de fechar o ciclo da gestão dos resíduos orgânicos, aproveitando, ao máximo, seu potencial pedagógico. Caso a escola não possua horta ou demais áreas verdes, o composto pode ser utilizado em jardins e outras áreas verdes comunitárias ao redor da escola. O importante é que os alunos saibam onde o composto será destinado.

Os dados oriundos do estudo do volume dos resíduos gerados na escola servirão de base para a elaboração de um projeto técnico. O dimensionamento das áreas onde a palha, a serragem, as folhas, a lavagem das bombonas, o galpão de ferramentas e o sistema de drenagem deverá ser feito para que o espaço seja bem aproveitado. A composteira poderá ser instalada em espaços que possuem dimensões que permitam a instalação das leiras, com o espaço apropriado para o manejo, sendo preferível, também, que o local esteja relacionado diretamente com a horta escolar.

A sensibilização da equipe perpassa por espaços e pessoas diversas, iniciada junto ao pessoal da cozinha, uma vez que são responsáveis pela separação na fonte dos resíduos orgânicos. Esses deverão ser armazenados em recipientes específicos e adequados, como é o caso das bombonas com pedais de acionamento de abertura. Além disso, ao mesmo tempo, a sensibilização deverá ser promovida junto a todos que integram a unidade escolar, especialmente sobre os aspectos sobre a problemática do descarte inadequado de resíduos, sobre as formas de separação, bem como sobre a importância da compostagem para a escola e para a sociedade como um todo.

A fim de que a compostagem seja bem administrada no contexto da escola, além da preparação das equipes propriamente dita, sendo que esta irá operacionalizar todo o processo de coleta e formação/manutenção do pátio de compostagem, é importante, ainda, que os professores sejam preparados para que possam explorar a temática a partir de atividades diversas junto aos alunos. Em geral, são pequenos volumes de resíduos a serem compostados na escola, assim, todos os membros da comunidade escolar podem ser envolvidos no processo, inclusive os familiares desses alunos. Todos podem operar as leiras.

O professor pode criar uma tabela ilustrada para que todos visualizem os cuidados necessários para que a compostagem possa ser realizada da maneira correta e para que conheçam os passos relacionados à operação da composteira. Tais dados devem ser apresentados aos alunos e à todos os voluntários que se dispuseram a participar do processo. Entretanto, é necessário que uma pessoa na escola seja designada para garantir que as leiras continuem em pleno funcionamento, realizando, portanto, a manutenção necessária. Independentemente da participação da comunidade nessa atividade, esta pessoa é indispensável.

Nesta fase, é importante que seja feito o acompanhamento técnico das leiras a partir de uma equipe especializada, especialmente nos momentos iniciais, em que as primeiras leiras estão sendo construídas. Recomenda-se, ainda, que este acompanhamento técnico seja realizado de forma periódica, pois, dessa forma, garante-se que a qualidade e a segurança estejam presentes em todos os processos que envolvem a implementação e a manutenção da compostagem na escola.

Neste último momento, o professor, a partir de certas atividades, pode explorar a compostagem. Recomenda-se a realização dessas atividades porque uma das vantagens em se trabalhar a implementação da compostagem nos espaços escolares é, justamente, a possibilidade de aproveitamento de seu potencial pedagógico durante o processo de ensino-aprendizagem. Algo que pode ser evidenciado ao longo dessas atividades é o potencial de mudanças nos hábitos desses alunos não apenas no âmbito da escola, mas também em suas residências, visto que um dos objetivos é propagar essa prática da compostagem em locais para além da escola.

Contudo, para que os resultados sejam, de fato, efetivos, é necessário que haja um engajamento por parte dos professores envolvidos com o processo de implementação e manutenção da compostagem na unidade escolar em questão. Esses, portanto, devem ser apropriar dos princípios que perpassam pela prática da compostagem, explorando, ao longo das atividades, as suas mais diversas dimensões (como a compostagem residencial/doméstica) antes que esta seja pensada em um contexto maior, que é o caso da escola. Além disso, essa temática deve ser explorada, também, a partir das interrelações entre os alunos ao realizarem tais atividades.

ATIVIDADE 5 – A COMPOSTEIRA DE TELEVISÃO

APRESENTAÇÃO:

Esta atividade permite, aos alunos, que visualizem os processos que ocorrem no interior de uma leira de compostagem. A fim de que todos os processos sejam bem compreendidos, recomenda-se, ao professor, que oriente esses alunos a acompanharem a leira gradualmente, em tempo real, pois, assim, vislumbra-se as etapas de decomposição dos resíduos orgânicos nela depositados.

MATERIAIS RECOMENDADOS:

Caixa de madeira

Vidro recortado nas dimensões de uma caixa lateral de madeira

Folhas ou aparas de grama

Serragem

Inoculante (composto)

Resíduos orgânicos

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

A fim de que seja possível demonstrar aos alunos as diversas camadas que o processo de compostagem assume, pode-se inserir no fundo do caixote alguns galho. As laterais, por sua vez, com exceção da lateral de vidro, deverão ser forradas com palha. Na sequência, serão dispostas as camadas de resíduos orgânicos, do inoculante, isto é, um pouco do composto pronto maturado e de serragem. Deve ficar bem visível ao público cada uma das camadas da composteira. Este processo de construção poderá ser realizado de forma conjunta com os alunos, ou, caso não seja possível, apresentado quando estiver pronto, deixando um exemplar em cada sala de aula ou um único exemplar para toda a unidade escolar. Esta é uma questão relativa, visto que cada escola possui as suas próprias restrições e demandas.

Na sequência, o professor irá escolher como a oficina deverá ser realizada junto aos alunos. Deverá, primeiramente, decidir sobre os aspectos relacionados à quantidade de caixas (a quantidade de composteiras que será realizada no interior da escola, ficando à critério do professor ou de um grupo de professores decidirem se apenas uma será feita para que todos possam manusear junto aos seus alunos ou se serão criadas para que não haja problemas em relação ao contato desses alunos com a composteira, que é o grande objetivo do exercício). O ideal é que todos possam usar a composteira em suas aulas (e que os alunos tenham acesso) sempre que o professor desejar, e, desse modo, haver mais de uma é algo que pode beneficiar a todos os discentes e docentes que estão passando pelo processo de ensino-aprendizagem desse tema.

Com fins ilustrativos, indica-se, ainda, que, junto à “composteira televisão”, seja mantido um balde. Este, por sua vez, deve conter os resíduos orgânicos e sacos com alguns materiais essenciais, sendo eles sacos de serragem, de palha e de composto pronto. Esses devem ser apresentados aos alunos separadamente, de forma que possam compreender em que momento tais materiais devem ser utilizados. A partir do exercício de criação e manutenção da “composteira televisão” pode-se provocar uma série de reflexões e indagações entre os alunos (de uma mesma turma ou entre turmas, caso seja viável) acerca da natureza e diferença dos componentes, deixando claro a importância de cada um para a evolução do processo, os locais onde esses materiais podem ser obtidos, bem como deve-se difundir a ideia da composteira na unidade escolar.

REFERÊNCIAS

ABREU, M. J. D.; TOMMASI, L. Banheiro Seco: economia de água e transformação de dejetos em vida. Florianópolis SC,  2010.  Disponível em: < http://www.cedapp.org/assets/cartilha_banheiro_seco_01.pdf >. Acesso em: 26 maio 2021.

ALTIERI, M. Agroecologia – bases científicas para uma agricultura sustentável.  São Paulo SP: Editora Expressão Popular, 2002. 400.

FARIAS, E. Revolução Dos Baldinhos: Um Modelo De Gestão Comunitária De Resíduos Orgânicos Que Promove A Agricultura Urbana 2010. 70 (Graduação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis SC

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia. Processos Ecológicos Em Agricultura Sustentável.  Porto Alegre RS: UFRGS, 2009. 656

GONÇALVES, C. R. Educação Ambiental Nos Anos Iniciais: Uma Proposta Com Sequência Didática. 2014.  (Mestrado). Universidade Tecnológica Federal Do Paraná, Ponta Grossa PR.

ILZB. Compostagem x Qualidade de Vida.  2019.  Disponível em: < https://ilzb.org/compostagem-x-qualidade-de-vida/ >. Acesso em: 10 maio 2021.

INÁCIO, C. D. T.; MILLER, P. R. M. Compostagem: Ciência e Prática Para a Gestão de Resíduos Orgânicos.   Embrapa, 2009. 156.

MMA. Compostagem Doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos. Brasília DF: Ministério do Meio Ambiente: 66 p. 2017.

VINHOLI, A. C.  et al. Cartilha De Agricultura Urbana: Com Enfoque Agroecológico. Itajai SC,  2009.  Disponível em: < https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/smasac/2019/susan/CEPAGRO%3B%202009%20-%20Cartilha%20de%20Agricultura%20Urbana%20com%20Enfoque%20Agroecol%C3%B3gico.pdf >. Acesso em: 26 maio 2021.

[1] Teóloga, Doutora em Psicanálise Clínica. Atua há 15 anos com Metodologia Científica (Método de Pesquisa) na Orientação de Produção Científica de Mestrandos e Doutorandos. Especialista em Pesquisas de Mercado e Pesquisas voltadas a área da Saúde.

[2] Biomédica, Doutora em Doenças Tropicais, Professora e pesquisadora do Curso de Medicina do Campus Macapá, Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Pro-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESPG) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

[3] Biólogo, Doutor em Doenças Tropicais, Professor e pesquisador do Curso de Educação Física, Universidade Federal do Pará (UFPA).

[4] Biólogo, Doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Professor e pesquisador do Curso de Licenciatura em Química do Instituto de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Amapá (IFAP) e do Programa de Pós Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (PROFEPT IFAP).

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