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Parto Cesariana: Perfil Epidemiológico no Estado de Sergipe (2009-2013)

RC: 9398
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CONTEÚDO

SOUZA, Débora Almeida [1], PINHEIRO, Renan Xavier [2], CARVALHO, Walter Marcelo Oliveira [3], SÁ, Darla Lorena Freitas de [4], JUNIOR, Gilson Alves Souza [5]

SOUZA, Débora Almeida; et.al. Parto Cesariana: Perfil Epidemiológico no Estado de Sergipe (2009-2013). Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 04. Ano 02, Vol. 01. pp 803-816, Julho de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Objetivos: traçar o perfil epidemiológico das cesarianas realizadas no Estado de Sergipe no quinquênio compreendido entre 2009 a 2013. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, do tipo levantamento, de caráter exploratório, retrospectivo, e de abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada através do site www.datasus.gov.br, do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (LEAL; GAMA, 2014 – DATASUS). Foram selecionados os ícones Acesso a Informações, Tabnet, Estatísticas Vitais, Nascidos Vivos, chegando-se aos dados desejados, ou seja, tipos de parto, selecionando disponibilizados entre 2009 a 2013. Resultados: Os dados das séries históricas do SINASC revelaram que em Sergipe houve um aumento da taxa de partos cesáreos no período compreendido entre 2009 e 2013. Sendo maior prevalência de partos cesáreos envolvendo mulheres entre 20 e 34 anos, com maior grau de escolaridade, solteiras, de gestação de um único concepto e com uma média de 7 ou mais consultas pré-natal, com gestação a termo. Quanto ao recém-nascido, a avaliação do Apgar no primeiro e no quinto minuto se mostrou satisfatória em quase a totalidade dos partos cesáreos e os RN’s apresentaram peso adequado. Já, em relação às anomalias, não foi possível relacioná-las ao tipo de parto. Conclusão: Assim, conclui-se que a hipótese de que, entre os anos de 2009 e 2013, o aumento da prevalência de partos cesarianas no estado de Sergipe não encontra respaldo baseado em critérios técnicos de dados clínicos maternos e dos recém-nascidos registrados nas Declarações de Nascidos Vivos para indicação desse procedimento cirúrgico podendo existir outros fatores não médicos que justifiquem esse desfecho.

Palavras-Chave: Cesarianas, Assistência ao Parto, Epidemiologia.

1. INTRODUÇÃO

O parto cesáreo é um procedimento cirúrgico e consiste na retirada do concepto mediante a incisão da parede abdominal e uterina materna, quando a gestação é desenvolvida na cavidade uterina (GABBE, 2007; CORREA et al., 2011; FREITAS et al., 2011; SOGIMING, 2012; REZENDE, 2013).

No Brasil, assim como em outros países, vem-se observando um aumento expressivo no número de partos cesáreos em comparação com o número de partos normais, tendo sido este procedimento apontado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2012, como uma das cirurgias abdominais mais realizadas em todo o mundo. Tal realidade tem suscitado inúmeras preocupações por parte dos governantes, uma vez que para o sistema público de saúde a alta incidência de cirurgias cesarianas representa elevação dos custos (BITTENCOURT; CAMACHO; LEAL, 2008).

Apesar de a OMS recomendar índices inferiores a 15%, desde a década de setenta do século passado, verifica-se uma tendência mundial para o aumento de cesarianas. No país, as taxas de incidência em todas as regiões estão entre as mais altas do mundo e o seu uso indiscriminado deve ser visto como um problema de saúde pública (CARNIEL; ZANOLLI; MORCILLO, 2007; SANCHES; MAMEDE; VIVANCOS, 2012).

Embora a menor prevalência de partos cesáreos entre as mulheres brasileiras esteja no Norte e no Nordeste, no Estado de Sergipe, igualmente aos demais estados país, o número de cesarianas tem aumentado significativamente. No período de cinco anos (2005-2010) o número de cirurgias cesarianas realizadas no Estado passou de 34,6% para 47,8%. (INAGAKI  et al., 2014)

Deve-se ressaltar que quando as taxas de cesarianas encontram-se muito acima da margem aceitável há indicativos de que o procedimento está sendo realizado desnecessariamente. Assim, mesmo que os critérios técnicos venham sendo utilizados para justificar a opção pelo parto cesáreo, esses não têm se mostrado suficientes para explicar as altas taxas registradas desse procedimento (CARNIEL; ZANOLLI; MORCILLO, 2007; BITTENCOURT; CAMACHO; LEAL, 2008).

A indicação de cesarianas inclui: partos cesarianas anteriores (30%), distócia (30%), apresentação pélvica (11%) e frequência cardíaca fetal (FCF) não tranquilizadora (10%) (AMORIM; SOUZA; PORTO, 2010). Por outro lado, segundo Patah (2011), a incidência de partos cesáreos também está relacionada a fatores sociais, demográficos, culturais, modelo assistencial desenvolvido e à opção materna.

Levando-se em consideração que o parto cesáreo não é um procedimento isento de riscos, Carniel, Zanolli e Morcillo (2007) recomendaram que a decisão para a sua realização seja criteriosa, considerando os benefícios para a mãe e para o concepto. Sugere-se que sua indicação seja eminentemente médica e apenas quando os benefícios para as gestantes ultrapassam os riscos da sua efetivação (LEGUIZAMON; STEFFANI; BONAMIGO, 2013).

A morbimortalidade materna e neonatal em relação à via de parto apresenta maior risco de complicações quando o parto se dá por cesariana eletiva, constituindo um problema de saúde desse grupo populacional (VILLAR et al., 2006; CARNIEL; ZANOLLI; MORCILLO, 2007; HANSEN et al., 2008; BITTENCOURT; CAMACHO; LEAL, 2008. ; TITA et al., 2009). Em consoante, ainda que os avanços nas técnicas cirúrgicas e anestésicas tenham reduzido os riscos de morte por meio desse procedimento, as taxas de mortalidade materna brasileira ainda se encontram mais elevada que as dos países desenvolvidos, podendo ser o procedimento cirúrgico desnecessário um contribuinte para os altos índices verificados (SANCHES; MAMEDE; VIVANCOS, 2012).

Os aspectos acima destacados associados à escassez de trabalhos sobre o perfil de Sergipe, no que diz respeito à prevalência de partos cesáreos, são razões que justificam essa pesquisa. Os resultados deverão contribuir com a formulação de indicadores relacionados ao tema, auxiliar no planejamento administrativo das instituições públicas de saúde, bem como subsidiar pesquisas futuras.

Para isso procurou-se identificar as taxas de cesarianas; analisar a prevalência de cesarianas conforme dados clínicos maternos (idade, escolaridade, estado civil, número de conceptos nesta gestação, número de consultas pré-natais) e do recém-nascido (RN) (peso ao nascer, idade gestacional, Apgar 1º minuto, Apgar 5° minuto, anomalia congênita).

2. OBJETIVO

Traçar o perfil epidemiológico das cesarianas realizadas no Estado de Sergipe no quinquênio compreendido entre 2009 a 2013.

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, do tipo levantamento, de caráter exploratório, retrospectivo, e de abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada através do site www.datasus.gov.br, do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (LEAL; GAMA, 2014 – DATASUS). Foram selecionados os ícones Acesso a Informações, Tabnet, Estatísticas Vitais, Nascidos Vivos, chegando-se aos dados desejados, ou seja, tipos de parto, selecionando os disponibilizados entre 2009 a 2013.

A pesquisa bibliográfica, mediante consultas em artigos científicos dos bancos de dados Medline/Pubmed e Lilacs/Scielo, aliada à pesquisa documental, por meio de consultas em relatórios, portarias e publicações do governo federal visando identificar as atividades, ações, publicações e iniciativas governamentais que dizem respeito ao tema objeto de estudo, além da pesquisa exploratória, através da coleta nos dados no Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) no sentido identificar os índices correspondentes às variáveis selecionadas.

Foram definidas as seguintes variáveis: maternas (idade, escolaridade, número de conceptos nesta gestação, número de consultas pré-natais, duração da gestação) e do recém-nascido (peso ao nascer, idade gestacional, Apgar primeiro minuto, Apgar quinto minuto, anomalia congênita).

Os dados foram tabulados para calcular as taxas de cesarianas expressas como o percentual desse tipo de parto no estado em relação ao total de partos hospitalares (normais e cesáreos) ocorridos no estado de Sergipe e estratificados em variáveis, conforme a cronologia estabelecida. Também foi utilizado o Programa Microsoft Office Excel versão 2010 para análise exploratória das variáveis e foram apresentados em forma de gráficos e tabelas. Não foram registrados riscos éticos na realização da pesquisa, uma vez que se trabalhou com banco de dados de domínio público nos quais não se identificam os indivíduos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, observa-se que segundo os dados das séries históricas do SINASC, tomando como referência o período 2009-2013, dos 172.386 partos realizados no Estado de Sergipe, 61,74% (106.440) foram normais e 38,19% (65.821) foram cesáreos. Isso mostra uma prevalência muito acima do limite proposto pela OMS. Esse número expressivo foi observado também em outros estudos, especialmente nos dados obtidos em Carniel, Zanolli e Morcillo (2007) referentes à cidade de Campinas/SP, que registrou 54,9% para esse tipo de parto. Inagaki et al. (2014) demonstraram taxas desse procedimento de 40,5% no município de Aracaju, Sergipe. Sanches, Mamede e Vivancos (2012) revelou, em pesquisa realizada em Ribeirão Preto, São Paulo, um percentual de 23%. Yazlle et al. (2001) observou valores expressivos de cesariana correspondendo a 48,3% do número de partos no período pesquisado.

Tabela 1 – Tipos de partos realizados em Sergipe no período 2009-2013

Tipo de parto 2009 2010 2011 2012 2013 Total %
TOTAL 35.109 34.016 34.925 34.108 34.228 172.386 100,00
Normal 23.489 21.873 21.583 20.106 19.389 106.440 61,74
Cesáreo 11.589 12.130 13.302 13.979 14.821 65.821 38,19
Ignorado 31 13 40 23 18 125 0,07

Fonte: SINASC (2009 – 2013).

4.1 DADOS MATERNOS

De acordo com as variáveis estabelecidas na pesquisa, referentes às informações sobre a mãe (idade, escolaridade, número de conceptos nesta gestacional, número de consultas pré-natais), os dados colhidos do SINASC apresentaram os resultados a seguir.

4.1.1 IDADE MATERNA

De acordo com os resultados obtidos (Tabela 2), percebe-se que o maior percentual de partos cesáreos se concentra nas faixas etárias de 20 a 29 anos com um percentual 49,32% (32.464) seguido da faixa etária entre 30 a 39 anos que correspondeu a 32,93% (21.679).

Santos et al. (2014) observaram que as cesarianas eram mais prevalentes em pacientes com idades compreendidas entre 20 e 25 anos. Freitas et al. (2008) e Osava et al. (2011) mostraram a maior prevalência desse tipo de parto nas idades mais elevadas, sendo maior em mulheres de 20 a 34 anos e com idade maior que 35 anos. Na pesquisa de Sanches, Mamede e Vivancos (2012), os índices de cesarianas na faixa etária 14 a 19 anos corresponderam a 21,3%, valores superiores aos encontrados no presente trabalho. Nesse contexto, Santos et al. (2014) chamam atenção para a preocupação decorrente do início de vida sexual ‘precoce’, que tanto causa impacto no estado de saúde tanto materno quanto neonatal. Acrescenta-se a esse entendimento a ideia de Guimarães et al. (2013), que as mulheres que iniciam a vida reprodutiva cedo tendem a ter número maior de filhos e, consequentemente, estão expostas a mais riscos nas gestações futuras, sendo considerada esta faixa etária como de risco fisiológico. Em relação às mulheres com idade na faixa entre 40 a 49 anos, obteve-se um percentual de 3,02% de partos cesáreos. Esse resultado encontra respaldo na tese de Schupp (2006), o qual sugere uma proporção de apenas 2 a 5% de parturições nas mulheres acima de 40 anos. Porém, Freitas et al. (2008) encontrou índices de 8,9% desse tipo de parto na faixa etária superior a 35 anos. Caetano et al. (2011) igualmente relataram ter havido uma tendência cada vez maior de gravidez entre mulheres que se encontram na faixa dos 35 anos de idade ou mais.

Tabela 2 – Cesarianas por faixas etárias maternas

Idade da mãe Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
10 a 19 anos 9687 14,72
20 a 29 anos 32464 49,32
30 a 39 anos 21679 32,93
40 a 49 anos 1985 3,02
>50 anos 6 0,01

Fonte: SINASC (2009 – 2013).

4.1.2 ESTADO CIVIL

De acordo com os dados contidos na Tabela 3, observa-se que 37,99% (25.003) das cesarianas ocorreram em solteiras e 32,90% (21.654) em casadas.

Na pesquisa realizada por Sanches, Mamede e Vivancos (2012) ocorreu o predomínio em mulheres em união consensual, sendo que apenas 14,3% eram solteiras. De maneira semelhante Inagaki et al. (2014) também revelaram a prevalência em mulheres que apresentam companheiro fixo.

Tabela 3 – Cesarianas por estado civil materno

Estado civil mãe Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
Solteira 25.003 37,99
Casada 21.654 32,90
Viúva 97 0,14
Separada Judicialmente 531 0,80
União consensual 17.944 27,27
Ignorado 592 0,9

Fonte: SINASC (2009 – 2016).

4.1.3 GRAU DE INSTRUÇÃO

Em relação à variável grau de instrução a prevalência de partos cesáreos cresceu conforme o nível de escolaridade. Os dados mais relevantes se referem às mães que tinham entre 8 e 11 anos de escolaridade, chegando a 45,80% (30.143).

Tabela 4 – Cesarianas por nível de instrução da mãe

Instrução da mãe Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
Nenhuma 558 0,85
1 a 3 anos 4.104 6,24
4 a 7 anos 15.281 23,21
8 a 11 anos 30.143 45,80
12 anos e mais 15.470 23,50
Ignorado 265 0,40

Fonte: SINASC (2009-2013).

Freitas et al. (2008) também registraram que a cirurgia cesariana esteve presente na maioria das mulheres com maior grau de instrução. Cardoso e Barbosa (2012) igualmente observaram que as gestantes que têm mais escolaridade optam como predileção escolher a via de parto cesariana. Inagaki et al. (2014) relatam maior incidência desse tipo de parto em mulheres que cursaram de 10 a 12 anos de estudo.

4.1.4 TIPO DE GESTAÇÃO

No tocante à variável tipo de gravidez, 96,73% (63.671) das mulheres submetidas a cesarianas resultaram em apenas um recém-nascido. Fato semelhante foi observado no estudo realizado por Freitas et al. (2008) que revelaram que os partos múltiplos correspondiam a apenas 1,7% dos nascimentos.

Tabela 5 – Tipo de parto por tipo de gravidez

Tipo de gravidez Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
Única 63.671 96,73
Dupla 2.065 3,15
Tripla e mais 71 0,10
Ignorada 14 0,02

Fonte: SINASC (2009-2013).

4.1.5 CONSULTAS PRÉ-NATAL

Na Tabela 6 foi demonstrado que 61,30% (40.343) das mulheres submetidas a cesarianas fizeram 7 ou mais consultas de pré-natal.

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012), encontra-se estabelecido que o número mínimo de consultas no pré-natal seja seis, devendo ser distribuídas no primeiro, segundo e terceiro trimestre, sendo respectivamente, uma, duas e três consultas. Dado semelhante a esta pesquisa foi observado por Sanches, Mamede e Vivancos (2012) que mostraram uma prevalência de 66,5% em mulheres que realizaram mais de 7 consultas pré-natal. Segundo Carniel, Zanolli e Morcillo (2007), a maioria das gestantes que foram submetidas à cesariana havia frequentado adequadamente o pré- natal.   

Tabela 6: Cesarianas por número de consultas pré-natal

Consultas pré-natal Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
Nenhuma 510 0,78
De 1 a 3 consultas 4.410 6,70
De 4 a 6 consultas 20.378 30,95
7 ou mais consultas 40.343 61,30
Ignorado 180 0,27

Fonte: SINASC (2009-2013)

4.1.6 DURAÇÃO DA GESTAÇÃO

Na Tabela 7, percebe-se que 87,10% das pacientes submetidas a cesarianas se encontravam entre 37 a 41 semanas gestacionais.

Segundo Tamez e Silva (2010), o recém-nascido pode ser classificado em termo quando apresenta entre 37 semanas e 41 semanas e 6 dias.Freitas et al. (2008) observaram uma prevalência de 82,8% com idade gestacional a termo. Quadro semelhante ocorreu nos estudos de Sanches et al. (2012) e Osava et al. (2011) associando maiores índices nas gestações a termos. Os dados se mostraram inexpressivos em relação aos partos cesáreos realizados em mulheres com menos de 22 semanas de gestação, que Zugaib (2012) considera como prematuridade extrema. Foram contabilizados apenas 18 casos de cesarianas com essa idade gestacional durante todo o período.

Tabela 7: Cesarianas por duração gestação

Duração gestação Cesário %
TOTAL 65.821 100,00
Menos de 22 semanas 18 0,03
De 22 a 27 semanas 175 0,27
De 28 a 31 semanas 607 0,93
De 32 a 36 semanas 5.585 8,49
De 37 a 41 semanas 57.343 87,10
42 semanas ou mais 1.580 2,40
Ignorado 513 0,78

Fonte: SINASC (2009 – 2013)

4.2 DADOS DO RECÉM NASCIDO

4.2.1 PESO AO NASCER

Na Tabela 8, se observa que 83,30% (54.834) das cesarianas realizadas foram em recém-nascidos cujos pesos ao nascer ficaram compreendidos entre 2.500 a 3.999 gramas.

Segundo Osava et al. (2011), os recém-nascidos que apresentam peso inferior a 2.500 gramas ou superior a 3.500 gramas têm maior probabilidade de nascer por cesariana. Sanches, Mamede e Vivancos (2012) apresentaram nos seus estudos pesos em média igual a 3.300 gramas. O número de RNs nascidos no período em referência com menos de 1.000 gramas, segundo Cunningham et al. (2014), que são classificados pela OMS como extremo baixo peso, foi praticamente desprezível. E entre os que nasceram de parto cesariana com peso entre 1.000 gramas e 1.499 gramas, que segundo os mesmos autores estariam na faixa que a OMS estratifica como sendo de muito baixo peso, o percentual de cesarianas atingiu apenas 0,57%.       

Tabela 8: Cesarianas de acordo com o peso as nascer

Peso ao nascer Cesário %
TOTAL 65.821 100,00
< 500g 21 0,04
500 a 2299g 5417 8,23
2500 a 3999 g 54834 83,30
4000g e mais 5.549 8,43

Fonte: SINASC (2009 – 2013)

4.2.2. APGAR DO PRIMEIRO MINUTO

Os percentuais contidos na Tabela 9 revelam que 82,80% (54.502) dos recém-nascidos advindos de cesarianas tiveram Índices de Apgar do 1º minuto situados entre 8 a 10.

Tabela 9: Cesarianas de acordo com o Apgar do 1º minuto

Apgar 1º minuto Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
0 a 2 632 0,96
3 a 5 2.410 3,66
6 a 7 6.872 10,44
8 a 10 54.502 82,80
Ignorado 1.405 2,14

Fonte: SINASC (2009 – 2013)

4.2.3. APGAR DO QUINTO MINUTO

Os percentuais contidos na Tabela 10 revelam que 94,78% (63.381) dos recém-nascidos advindos de cesarianas tiveram Índices de Apgar do 5º minuto situados entre 8 a 10.

No que diz respeito aos sinais objetivos do recém-nascido, os dados revelam que no período considerado, 2009 a 2013, a maioria relativa das cesarianas realizadas no Estado teve o desfecho favorável obtendo nascidos vivos com Apgar ótimo. Considera-se boa vitalidade quando apresenta índices acima de 7, sendo avaliadas no primeiro e quinto minutos de vida do recém-nascido as condições fisiológicas e a capacidade de resposta. O estudo de Sanches, Mamede e Vivancos (2012) revelaram Apgar de 61,4% no primeiro minuto e 98,2% no quinto minuto com valores acima de 7.

Tabela 10: Cesarianas de acordo com o Apgar do 5º minuto

Apgar 5º minuto Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
0 a 2 168 0,26
3 a 5 273 0,42
6 a 7 1.592 2,42
8 a 10 62.381 94,78
Ignorado 1.407 2,12

Fonte: SINASC (2009 – 2013)

4.2.4. ANOMALIAS CONGÊNITAS

Na Tabela 11 se observa que em 98,42% (64.778) das cesarianas realizadas não foram detectados nos recém-nascidos nenhuma malformação congênita e/ou anomalia cromossômica.

Para a variável anomalia congênita foi verificado que a maioria das cesarianas não apresentavam esse tipo de alteração como indicação para o procedimento cirúrgico, sugerindo que outros aspectos possam ter influenciado na realização desse tipo de parto. Esse dado foi ignorado em 0,06% dos partos realizado no período, indicando que a presença de anomalias como fator isolado não foi critério absoluto de indicação de cesariana ou ainda que as gestantes que possuíam fetos com anormalidades não haviam realizado o pré-natal adequadamente, não sendo observadas alterações nas consultas e exames de rotina.

Tabela 11: Cesarianas de acordo com a presença de malformações congênitas e/ou anomalias cromossômicas

Anomalia congênita Cesáreo %
TOTAL 65.821 100,00
Sim 788 1,20
Não 64.778 98,42
Ignorado 255 0,38

Fonte: SINASC (2009 – 2013)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados das séries históricas do SINASC revelaram que em Sergipe houve um aumento da taxa de partos cesáreos no período compreendido entre 2009 e 2013.

Em relação aos dados maternos foi possível verificar que a maior prevalência de partos cesáreos envolveu mulheres na faixa etária entre 20 e 34 anos, com maior grau de escolaridade, solteiras, de gestação de um único concepto e com uma média de 7 ou mais consultas pré-natal, com gestação a termo.

No que se refere aos aspectos relacionados ao recém-nascido, a avaliação do Apgar no primeiro e no quinto minuto se mostrou satisfatória em quase a totalidade dos partos cesáreos e os RN’s apresentaram peso adequado. Já, em relação às anomalias, não foi possível relacioná-las ao tipo de parto.

Cabe, por fim, ressaltar que a coleta de dados no SISNAC representou valioso instrumento para a análise proposta, propiciando um aporte significativo de dados sobre a mãe e o recém-nascido, podendo vir a subsidiar pesquisas futuras. Chama-se atenção apenas para o fato que de o número de casos ignorados, constantes da Declaração de Nascidos Vivos, mesmo pequeno, aponta para falhas no preenchimento dos dados no sistema.

Assim, conclui-se que a hipótese de que, entre os anos de 2009 e 2013, o aumento da prevalência de partos cesarianas no estado de Sergipe não encontra respaldo baseado em critérios técnicos de dados clínicos maternos e dos recém-nascidos registrados nas Declarações de Nascidos Vivos para indicação desse procedimento cirúrgico podendo existir outros fatores não médicos que justifiquem esse desfecho.

REFERÊNCIAS

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FREITAS, F; MARTINS-COSTA, SH; RAMOS, JGL; MAGALHÃES, JA; et.al. Rotinas em Obstetrícia. 5ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2008.

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[1] Médica especialista em saúde pública. Aracaju-SE, Brasil.

[2] Médico do Programa Saúde da Família. Aracaju-SE, Brasil.

[3] Médico, mestre em ciências da saúde e doutorando em saúde pública. Aracaju-SE, Brasil.

[4] Enfermeira pós-graduando em Terapia Intensiva e Centro Cirúrgico. Aracaju-SE, Brasil.

[5] Enfermeiro plantonista. Aracaju-SE, Brasil.

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Darla Lorena Freitas De Sá

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