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Transtorno Desafiador Opositivo: A Agressividade no Ambiente Escolar [1]

RC: 13690
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CONTEÚDO

SANTOS, Leisle Maclene Santos [2], GONZAGA FILHO, Milton [3]

SANTOS, Leisle Maclene Santos; GONZAGA FILHO, Milton. Transtorno Desafiador Opositivo: A Agressividade no Ambiente Escolar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 02, Vol. 03, pp. 101-119, Fevereiro 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

O transtorno desafiador opositivo é um conjunto de comportamentos disfuncionais persistentes que está cada vez mais assíduo no ambiente escolar. O objetivo deste artigo é analisar o TDO enfocando a conexão com a família, a relação professor-aluno, o desempenho escolar e o risco de evolução para o transtorno de conduta. Realizou-se uma avaliação qualitativa em entrevista a cinco professores e juntamente com a análise das abordagens literárias pode-se perceber o impacto do transtorno desafiador opositivo na sociedade e o fato de que ele não deve ser ignorado.

Palavras-Chave: Transtorno Desafiador Opositivo, Agressividade, Ambiente Escolar.

INTRODUÇÃO

A desobediência é um problema cada vez mais comum no ambiente escolar, que afeta diretamente o desenvolvimento da criança e compromete a sua aprendizagem. Ela pode estar ligada a diversos fatores, entre eles ao transtorno desafiador opositivo. O TDO é um transtorno pouco falado, mas que tem crescido assustadoramente dentro da sociedade nos últimos anos. Diversos estudos têm

mostrado os prejuízos que uma família desestruturada pode acarretar na infância de uma criança. A falta de limite potencializa os problemas de comportamento, que são manifestações cada vez mais presentes. Os problemas de comportamento são considerados como comportamentos socialmente inadequados, que tem dificultado nas aprendizagens e interações do indivíduo, gerando assim, crianças agressivas, infelizes e prisioneiras do seu próprio poder. Essas crianças se tornam verdadeiros tiranos mirins e em pouco tempo se transformam em um problema insolúvel para a sociedade em que vive.

Nesse sentido, ao delimitar o tema desse artigo, foi levado em consideração a grande relevância que a criança tem na sociedade, bem como o crescimento da indisciplina em sala de aula nos dias atuais, pretendendo assim, compreender a agressividade infantil nos aspectos sociais e educativos.

Segundo estudos, o transtorno desafiador opositivo é duas vezes mais frequente em crianças do sexo masculino. Isso pode se dar ao fato da tradição marxista de criar o filho para dar continuidade à descendência. Em pró disso, a liberdade é maior para o menino, passando este a poder muito mais.

O objetivo desse artigo é destacar o que vem a ser o transtorno desafiador opositivo, identificando suas causas e consequências, bem como enfocar a importância do educador no combate ao comportamento agressivo do aluno, ajudando-o a superar suas limitações e acentuar suas potencialidades. Quanto à metodologia, utiliza-se do método indutivo, aquele encontrado como integrante das ciências formais, onde parte de verdades menores e pontuais para generalizações. Ele pode ser classificado como descritivo, pois tem como pretensão descrever as características de determinada população, bibliográfico, pois parte de abordagens literárias e coleta de dados, realizada através da aplicação de questionários e entrevistas com professores.

CARACTERIZAÇÃO DO TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO

A infância é o período que compreende desde o nascimento até aproximadamente o décimo segundo ano de vida. É nesse período que a criança se desenvolve fisicamente, emocionalmente e cognitivamente e desenvolve sua personalidade. O papel da família é de extrema importância para que a criança tenha um desenvolvimento saudável.

A criança hoje, não é mais um ser passivo como antigamente, ela possui um papel ativo na sociedade e no seu desenvolvimento. E junto com essa evolução vieram acompanhados os problemas. No ambiente escolar, a desobediência tem sido um problema altamente perturbador, que tem dificultado no aprendizado do aluno e nas suas relações interpessoais. Crianças desobedientes, que apresentam comportamentos negativistas e agressivos, que não aceitam regras, que não conseguem lidar com as suas frustações e estão a todo o momento desafiando os professores tem se tornado cada vez mais comum nas salas de aula.

A frequência desses comportamentos perturbadores transformam comportamentos considerados normais da infância em um transtorno conhecido como desafiador opositivo.

Segundo Teixeira (2014, p. 18):

O transtorno desafiador opositivo é uma condição comportamental comum entre crianças de idade escolar e pode ser definido como um padrão persistente de comportamentos negativistas, hostis, desafiadores e desobedientes observado nas interações sociais da criança com adultos e figuras de autoridade de uma forma geral, como pais, tios, avós e professores, podendo estar presente também em seus relacionamentos com amigos e colegas de escola.

Essas crianças perdem a paciência com facilidade, discutem com professor e colegas, se recusam a obedecer e a receber ordens, mostrando-se descontroladas e enraivecidas quando as coisas não acontecem do modo que a desejam. Elas não aceitam as regras escolares, fazendo com que uma simples atividade a deixe chateada. E após apresentarem uma birra, uma agressão, um comportamento inadequado, ela culpa o outro por esse seu comportamento disfuncional.

As suas relações afetivas tendem a ser comprometidas, pois os colegas ao verem esse comportamento desajustado, passam a excluí-la do grupo e das brincadeiras, ignorando-a. Essa criança então, não consegue criar laços duradouros e passa a viver isolada do restante do grupo.

Vergés e Sana (2012, p. 15) completam:

A “criança-difícil” desenvolveu um repertório de comportamentos inaceitáveis que causam, por exemplo, sua rejeição por outros, ou seja, a criança que é indisciplinada, muitas vezes, acaba sendo isolada pelo próprio grupo em que está inserida, porque quando agride os colegas, física ou verbalmente, eles se afastam dela, e ela acaba por excluir-se daquele grupo.

No transtorno desafiador opositivo, a criança não chega a cometer atos prejudiciais à população que está ao seu redor como no caso do transtorno de conduta, onde o indivíduo pode realizar atos de vandalismo, violência contra pessoas e animais, roubos, uso abusivo de drogas, depredação do patrimônio público, entre outros comportamentos irregulares. Contudo o TDO pode evoluir para o TC se não for dado o tratamento necessário à criança na sua fase precoce. A união entre família, escola e psicólogo é de extrema importância para detectar e tratar esse transtorno. Quanto mais cedo for diagnosticado, mais fácil e rápido será o seu tratamento.

Os critérios diagnósticos segundo o Manual Diagnóstico Estatístico dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatry Association) para o transtorno desafiador opositivo são:

A) Um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiador que dure pelo menos 6 meses, durante os quais 4 (ou mais) das seguintes características estão presentes:

  1. Frequentemente perde a paciência;
  2. Frequentemente discute com adultos;
  3. Com frequência desafia ou se recusa ativamente a obedecer a solicitações ou regras dos adultos;
  4. Frequentemente perturba as pessoas de forma deliberada;
  5. Frequentemente responsabiliza os outros por seus erros ou mau comportamento;
  6. Mostra-se frequentemente suscetível ou é aborrecido com facilidade pelos outros;
  7. Está frequentemente enraivecido e ressentido;
  8. Está frequentemente rancoroso ou vingativo.

Obs.: Considerar o critério satisfeito apenas se o comportamento ocorre com maior frequência do que se observa tipicamente em indivíduos de idade e nível de desenvolvimento comparáveis.

B) A perturbação do comportamento causa prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.

C) Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um transtorno psicótico ou transtorno do humor.

D) Não são satisfeitos os critérios para transtorno da conduta e, se o indivíduo tem 18 anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para transtorno da personalidade antissocial.

O entendimento das causas do TDO, causas estas multifatoriais que estão relacionadas com questões biológicas, sociais e psicológicas, é importantíssimo para a aplicação de intervenções e tratamento.

Fatores Biológicos

Que uma gestação saudável é importantíssima para o desenvolvimento físico e cognitivo do feto todo mundo sabe. Mas, o que poucos conhecem, é que algumas alterações comportamentais estão diretamente relacionadas a esse período. Mulheres que utilizam substâncias tóxicas, como o uso do álcool, durante a gravidez apresentam maiores chances de gerir filhos que estarão mais propensos a desenvolver o TDO. Do mesmo modo, crianças que apresentam temperamentos difíceis, agressivas, que possuem dificuldades de aprendizagem, que apresentam o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, depressão, bipolaridade, baixa capacidade de adaptação a mudanças, também possuem maior facilidade para desenvolver esse transtorno.

Fatores Sociais

A família é a base do desenvolvimento humano. É a partir dela que a criança cria os seus primeiros laços afetivos e desenvolve sua personalidade, sendo o primeiro grupo ao qual ela pertence. A falta de estrutura familiar desencadeia

inúmeros problemas infantis e o TDO está entre eles. Questões sociais com violência familiar, falta de regras e limites, pais usuários de drogas, negligentes e ausentes podem favorecer o aparecimento do TDO.

Fatores Psicológicos

Quanto aos fatores psicológicos o surgimento do transtorno desafiador opositivo está diretamente relacionado com o aprendizado social. Crianças que convivem com pais agressivos, que estão a todo tempo brigando e se desentendendo acabam aprendendo e reproduzindo o comportamento inadequado destes. Elas tomam esse comportamento como normal, pois estão acostumadas a viverem num ambiente assim e levam para o ambiente escolar.  Do mesmo modo, lares onde as regras e os limites não são colocados claramente, resultando assim crianças que não respeitam a autoridade dos pais, acabam reforçando o comportamento irregular.

ATUAÇÃO DOCENTE FRENTE AOS ALUNOS COM TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO

Como já foi mencionada anteriormente, a desobediência tem sido um problema altamente perturbador, que tem dificultado no aprendizado do aluno e nas suas relações interpessoais. O aluno com transtorno desafiador opositivo apresenta comportamentos com as seguintes características dentro do ambiente escolar:

  1. Não aceita ordens;
  2. Não respeita a autoridade do professor;
  3. Não consegue realizar atividades em grupo;
  4. Não respeita as regras da sala de aula;
  5. Não realiza os deveres escolares;
  6. Deseja que tudo ocorra do seu modo;
  7. É agressivo com os colegas.

Essa criança desarmoniza o ambiente da sala de aula e em pouco tempo se torna a “aluno-problema”. E essas suas atitudes acabam refletindo em como os outros a veem. Se ela age negativamente, o professor começa a vê-la também de forma negativa. Entretanto, é preciso salientar que a criança agressiva, não é o tempo todo assim. Ela possui seus momentos de carinho e afeto e isso desperta no professor uma necessidade crescente de trazê-la para perto de si.

Segundo Souza e Castro (2008, p. 841):

Pode-se pensar que as manifestações agressivas das crianças despertam nos professores não apenas sentimentos dolorosos ou destrutivos, mas também preocupações, o que reflete uma atitude ambivalente.

Muitas vezes, por encontrar-se despreparado para lidar com um aluno desafiador e agressivo, o professor acaba utilizando métodos de punição, numa tentativa de frear o comportamento inadequado. Royer[4] (2003, p.60) citado por Souza e Castro (2003, p.840) “revela que os docentes mostram-se inábeis perante a emergência de comportamentos problemáticos, recorrendo costumeiramente a uma atitude punitiva, parecendo não saber como intervir de forma adequada”.

Skinner ao escrever sobre as técnicas comportamentais considerava possível a modificação de um comportamento inadequado. Em suas pesquisas ele enfatizava que o ser humano ao ser punido era capaz de aprender a evitar certos comportamentos. Porém, ele acreditava que os reforçadores positivos, isto é, as pessoas que aprendiam através de recompensas e premiações por um bom comportamento, eram muito mais eficazes do que a punição por um mau comportamento.

O emprego da punição deve ser evitado e substituído pela sanção por reciprocidade, onde a criança é estimulada a construir suas regras morais, por estar ligada a ideia de cooperação e reciprocidade. As regras são facilmente respeitadas quando a criança participa da criação delas. É importante lembrar que a sanção por reciprocidade pode facilmente se transformar em punição se não for aplicada num ambiente solidário, onde existam relações de afeto e respeito entre professor-aluno.

Fortuna (2010, p.14) completa:

Sua adoção garante não só que a situação indesejável seja eliminada – o que a punição faz –, mas também educa a criança para a responsabilidade por seus atos. Do ponto de vista educativo, não é suficiente suprimir o comportamento indesejável; é necessário difundir a adesão ao comportamento desejável, o que passa por compreensão e participação.

Mas na prática o que se observa são professores estressados por não conseguirem êxito no manejo dos comportamentos inadequados dos seus alunos. Eles se sentem falhos, pois não conseguem dar conta da situação. Primeiramente, por virem de um sistema educacional defasado, e segundo por não receberem o apoio necessário para lidar com o problema. Não se deve atribuir somente ao professor a tarefa de superar o problema comportamental da criança. Por isso, deve existir uma parceria entre família e escola, para, juntas, poderem trabalhar a indisciplina dentro e fora da sala de aula, não desestimulando, nem excluindo os alunos. (VERGÉS E SANA, 2012, p.16).

Ao deixar de lado o modelo hierarquizado onde a criança era um ser totalmente passivo, e construir uma relação mais aberta entre pais e filhos, a família moderna tomou como base o princípio de relacionamentos que defendem o não autoritarismo. Porém, muitos pais têm exagerado no excesso de liberdade concedida aos seus filhos, gerando crianças cheias de mimos e vontades.

Yves de La Taille (1998, p.38) escreve:

O perigo do excesso de mimo também está em passar à criança a ideia de que, a despeito do que realmente realiza, ela merece ser o centro das atenções, ela é ótima, merecedora de elogios, enfim, excelente. Tal contribuição incondicional de valor faz com que a criança construa uma auto-estima [sic] totalmente artificial e, ao entrar em contato com pessoas estranhas a seu círculo familiar, em geral pouco inclinadas a elogios gratuitos, venha a sofrer um choque que poderá levá-la até à neurose.

A falta de limite dos pais para com os filhos está totalmente entrelaçada à indisciplina dos mesmos em sala de aula. A família abriu mão de seu papel essencial de geradora de ética e de primeira agência socializadora das novas gerações. (ZAGURY, 2006, p. 89). O excesso de tolerância concedido aos filhos, longe de formar crianças críticas, e ajudá-las a superar o egocentrismo, cria pequenos tiranos insaciáveis de seu próprio querer, invertendo os papeis de autoridade das famílias. Sendo assim, os pais ficam a mercê das vontades dos filhos, que se descontrolam criando mal-estar nos lugares quando suas exigências não são prontamente atendidas.

A criança por estar acostumada a ser o reizinho do lar, ao chegar à sala de aula e se deparar com regras que não existem em sua rotina, descontrola-se, se tornando extremamente agressiva, pois não consegue lidar com a frustração de não ter conseguido realizar seus desejos.

A posição do educador frente a essa criança determinará seu sucesso ou insucesso no combate ao comportamento irregular. Acredita-se que um bom ambiente escolar, cercado por pessoas carinhosas, que coloquem o limite e as regras de uma forma não autoritária possa conseguir barrar o comportamento agressivo.

CONSEQUÊNCIAS DO TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Os prejuízos acadêmicos em criança com TDO são enormes, tornando as reprovações escolares muito mais frequentes. Problemas de relacionamento entre estudantes em sala de aula e prejuízos acadêmicos estão relacionados com aumento de agressividade e de comportamentos de conduta. (TEIXEIRA, 2014, p.50).

A criança agressiva frequentemente não atende aos comandos do professor, não participa das atividades coletivas e quando o professor propõe dinâmicas pedagógicas se ela não sair vitoriosa, ela também não aceita a derrota e acaba se frustrando. Essas simples frustrações podem ser suficientes para provocar um comportamento indisciplinado, desencadeando quantidades incontroláveis de agressões e maus tratos.

O comportamento desajustado se torna um grande impedimento para que a criança venha construir seu conhecimento. Se ela não aceita a ajuda do professor, como ele poderá auxiliar no seu aprendizado? O professor então necessita utilizar-se de técnicas para adquirir a confiança do seu aluno e trazê-lo para perto de si.

Segundo Vergés e Sana (2012, p.18):

O professor deve usar a sua autoridade dentro dos limites da democracia para orientar seus alunos, pois quanto maior a confiança entre eles, mas bem aceitas serão as intervenções do professor. Assim, este deve dizer “sim” sempre que possível e “não” quando necessário, para que passe confiança aos alunos e, assim eles possam se sentir mais seguros e confortáveis na promoção de diálogo com o professor.

O processo de aprendizagem desse aluno se torna assim, mais lento que o do restante da turma, pois ele não consegue seguir os comandos do professor.

As crianças que apresentam o TDO apresentam muitas vezes algumas condições comportamentais como o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, e também os transtornos ansiosos, a depressão e a bipolaridade, o que dificulta ainda mais no processo de aprendizagem das mesmas.

Teixeira (2014, p. 35) completa:

Essas crianças apresentam maior agressividade, maior impulsividade, mais conflitos com outros estudantes, maior dificuldade nos relacionamentos sociais e pior desempenho acadêmico. Essa associação piora o prognóstico de tratamento e pode ainda facilitar a evolução do transtorno desafiador opositivo para o transtorno de conduta.

Quando o assunto trabalhado pelo professor não desperta seu interesse, não prende sua atenção, ela procura qualquer outra distração para não prestar atenção à aula, até porque se ela não quer estudar naquele momento, ela simplesmente não o faz. Se na sala de aula que é um ambiente com regras, essa criança apresenta uma grande dificuldade em ouvir, prestar atenção aos ensinamentos do professor e realizar as tarefas, em casa a situação é ainda pior, pois lá é seu território. Novamente a questão da falta de regras e limite volta a ser abordada. A falta de rotina é um impasse para o aprendizado da criança. Ela não possui horário para a realização das tarefas escolares, e quando a faz é de qualquer jeito. E o acompanhamento necessário para que haja continuidade do trabalho realizado em sala de aula, muitas vezes devido à ausência dos pais, não existe. Ficando assim cada vez mais difícil a concretização de um aprendizado sólido na vida escolar dessa criança.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistadas cinco professoras (uma do ensino particular e quatro do ensino público) que trabalham com crianças da educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental inicial. Além da entrevista, essas professoras responderam a um questionário onde foram distribuídas perguntas sobre a agressividade infantil no ambiente escolar, a participação dos pais na vida educacional dos filhos e as formas de manejo que elas, como pedagogas, utilizavam para barrar o comportamento agressivo desses alunos.

A tabela abaixo mostra o comportamento do aluno agressivo e o acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos.

Respostas dos professores sobre a agressividade em sala de aula e a participação da família na vida escolar dos filhos.

 

CATEGORIAS RESPOSTAS NÚMERO
Agressivo com o professor 5
Agressivo com os colegas 5
Não aceita as regras da sala de aula 4
Atitudes Agressivas Não realiza as tarefas 4
Não consegue trabalhar em equipe 4
Não lida bem com suas frustrações 5
É agressivo durante todo o dia 3
Frequência com que os pais aparecem na escola. Sempre 1
Raramente 2
Nunca 2

 

Observa-se que, com relação à participação dos pais na vida escolar dos filhos, a única professora que disse que o pai ou a mãe está sempre frequente na escola, querendo saber do comportamento e desenvolvimento do seu filho foi a do ensino particular. As outras se dividiram em raramente e nunca aparecem. Esses pais quando vão à escola é através de convocações e mesmo assim não aparentam interesse na situação, mostrando-se insatisfeitos por serem chamados para falar sobre o comportamento irregular do seu filho. A parceria família-escola nesse contexto não existe.

O gráfico abaixo apresenta as formas de manejo que o professor utiliza. Essa pergunta foi de múltipla escolha, e com isso as professoras marcaram mais de uma alternativa.

Gráfico 1
Gráfico 1

O gráfico mostra que apesar do cansaço e do exaustivo trabalho, as professoras estão sempre tentando converter o mau comportamento do aluno agressivo. Elas acreditam em uma relação professor-aluno saudável, pautada no respeito e na tolerância e depositam a esperança de mudança daquele quadro. Apesar da negatividade dos pais em comparecer à escola, o gráfico mostra que as professoras estão sempre tentando manter um diálogo com a família, tentando deixá-los a par do comportamento irregular da criança, para que juntos tentem encontrar uma solução de barrar a agressividade.

A partir das entrevistas foi possível coletar alguns dados sobre essas crianças agressivas no qual serão citados abaixo. Foram utilizados nomes fictícios para preservar a identidade de cada criança.

João é o primeiro caso a ser mencionado. Ele tem seis anos e estuda em uma conceituada escola privada da cidade. É o caçulinha da família, pois os seus dois irmãos já se encontram na fase adulta. João apresenta um comportamento extremamente agressivo, não respeita a professora nem os colegas, não consegue lidar com suas frustrações, descontando em tudo e em todos a sua raiva. A professora conta que em um desses momentos de fúria, ele arrancou uma mecha do cabelo dela porque ele foi contrariado e após esse ato, culpou-a por essa ação, alegando que ela tinha deixado ele chateado. Em seus desenhos, João retrata alto grau de violência contra suas professoras e contra a instituição. No momento da realização das atividades, ele risca, rasga e joga fora a tarefa porque não quer realizar. João não interage com as crianças da sua idade, preferindo sempre estar entre os adolescentes e adultos.

Pedro tem cinco anos e estuda em uma pequena escola pública da cidade. Mora com sua mãe, seu irmão e seu padrasto. Em sala de aula é uma criança extremamente violenta. Agride verbalmente e fisicamente professores e colegas, fura os colegas com o lápis, quebra o material dos outros, coloca o pé para os colegas caírem e quando a professora o repreende, ele a cospe e profere xingamentos contra ela. Ele já chegou a falar que iria matar a professora e os colegas com um tiro. No momento do brincar na brinquedoteca, encontra-se sempre sozinho porque não consegue interagir em grupo devido a sua agressividade.  Pedro, já chegou a tocar fogo na própria casa porque estava com ciúmes do irmão mais novo.

Antônio tem nove anos e está prestando o segundo ano do ensino fundamental em uma escola municipal. Mora com sua mãe, tias, avó, padrasto e dois irmãos mais novos. Antônio é uma criança muito agressiva, mas não apresenta esse comportamento todo o tempo, às vezes mostra-se tranquilo. Ele não gosta de ser contrariado e quando acontece, grita, chora, bate portas e portões e já chegou a quebrar cadeiras. Ele é grosseiro com a professora e bate nos colegas, é o chamado pavio curto. Não realiza as atividades, e se a professora insistir ele faz xixi na roupa.

Vitor é um menino de cinco anos, gêmeo de uma menina meiga e doce, que estuda em uma grande escola pública. A professora conta que todos os dias que ele chega à escola ela respira fundo porque sabe que será mais um dia de desafio. Ele é agressivo com os colegas o tempo todo, totalmente o inverso da sua irmã. Desafiador, ele está sempre provocando e quebrando as regras da sala de aula. Vitor requer a atenção da professora em tempo integral, ficando assim impossível ela ministrar a aula e realizar as atividades com a turma.

Paulo tem cinco anos, mora com a mãe, uma irmã e o avô. Como os outros casos, ele também é muito agressivo, desafiador e desobediente. Irrita-se com facilidade, chuta as cadeiras, fazendo escândalos quando não consegue o que quer. Às vezes ele fica emotivo, chora, mas continua a fazer as mesmas coisas. A professora conta que durante todo esse ano não houve melhoras em seu comportamento, mesmo ela utilizando diferentes técnicas. O ponto positivo em Paulo é que ele realiza as tarefas e com isso não compromete tanto seu aprendizado como nos outros casos.

Nota-se que nos cinco casos relatados pelas professoras, todos os indivíduos são meninos. Isso reafirma as pesquisas de que o transtorno desafiador opositivo é mais comum entre crianças do sexo masculino. Nota-se também, que todos tem um motivo por trás para agirem dessa maneira. Seja a falta do pai, a violência em casa ou a grande necessidade em chamar atenção, essas crianças apresentam comportamentos inaceitáveis como consequência das suas relações interpessoais provenientes da sua família. Entra em foco novamente à questão de que a criança necessita de lares saudáveis, estruturados, onde ela se sinta protegida para se desenvolver.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O transtorno desafiador opositivo é um transtorno que tem afetado milhares de crianças no Brasil e no mundo.  Essas crianças apresentam comportamentos inadequados, são desafiadoras, desobedientes e agressivas. Fazem vergonha aos pais aonde quer que vá, desarmonizam o ambiente da sala de aula e influenciam o comportamento irregular nas outras crianças, é um verdadeiro problema social

Ambientes hostis, violência familiar, pais alcoólatras, ausentes, viciados em algum tipo de droga, irmãos agressivos, lares disfuncionais, sem regras, onde não há limite são fatores que potencializam o TDO, e este, quando não tratado, possui uma grande chance de ser transformar em um transtorno de conduta. Crianças necessitam de regras, de rotina, de um ambiente familiar e escolar saudável, de pais e professores carinhos, que saibam educar sem bater e corrigir sem intimidar. O uso da punição deve somente ser utilizado em último caso. O ideal é educar a criança para a responsabilidade por seus atos.

O TDO é um problema sério, que afeta diretamente o social e o aprendizado da criança e precisa ser tratado como tal. Crianças com TDO necessitam de acompanhamento adequado para não se tornarem adultos problemáticos. Elas precisam ser encaminhadas às clínicas específicas, para que juntamente com a família e a escola possam ter o comportamento modificado.

REFERÊNCIAS

FORTUNA, Tânia Ramos – O manejo de situações envolvendo limites na educação infantil. Pátio, ano VIII, nº 23. 2010.

LA TAILLE, Yves de – Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 1998.

SKINNER, Burrhur Frederic – Ciência e comportamento humano. 10º ed. São Paulo: Martins, 2000.

SOUZA, Maria Abigail de; CASTRO, Rebeca Eugênia Fernandes de – Agressividade infantil no ambiente escolar: concepções e atitudes do professor. Psicologia em estudo, Maringá, v.13, nº4. 2008. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722008000400022&script=sci_arttext. Acesso em: 16 de setembro 2014.

TEIXEIRA, Gustavo – O reizinho da casa. Rio de Janeiro: Best Seller, 2014.

VERGÉS, Maritza Rolim de Moura; SANA, Marli Aparecida – Limites e indisciplina na educação infantil. 3º ed. São Paulo: Alínea, 2012.

ZAGURY, Tania – O professor refém. – Para pais e professores entenderem por que fracassa a educação no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2006.

[1] Artigo científico apresentado ao Curso de Pedagogia da Faculdade Pio Décimo, como requisito parcial para aprovação na disciplina TCC II e obtenção do título de pedagogo. Aracaju. 2º semestre/2014.

[2] Graduando em Pedagogia na Faculdade Pio Décimo.

[3] Professor Orientador. Mestre

[4] ROYER, E. Condutas agressivas na escola: pesquisas, práticas exemplares e formação de professores. Em Unesco (Org.), Desafios e Alternativas: violência nas escolas, Brasília: Unesco. 2003.

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Leisle Maclene Santos

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