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Docência Masculina Na Educação Infantil

RC: 23393
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/pedagogia/docencia-masculina

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

OLIVEIRA, Ricardo da Cunha [1]

OLIVEIRA, Ricardo da Cunha. Docência Masculina Na Educação Infantil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 12, Vol. 01, pp. 80-94 Dezembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

O tema docência masculina na educação infantil ainda não tem muitas produções disponíveis e nem muitas pesquisas de ordem científica contemporâneas, por este motivo realizar uma reflexão sobre a existência ou não do homem como professor neste segmento seria de grande valia para futuros pesquisadores. Como historicamente o espaço da educação infantil sempre foi extremamente feminino e o masculino não encontra destaque, através de pesquisas e revisão de literaturas, intenciona-se transcorrer sobre o tema e desmistificar/esclarecer padrões de gênero.

Palavras Chave: Educação Infantil, Professor, Gênero.

INTRODUÇÃO

A docência masculina na educação infantil no Brasil ainda nos dias de hoje se encontra muito atrelada à figura da mulher, professora, mãe, sem citar é lógico a eternizada tia.

A presença de figura masculina no ambiente escolar ainda é pequena e em alguns casos até rejeitada por várias questões e situações que serão apresentadas no transcorrer deste artigo. Pois bem, constatado que há escassez de profissionais masculinos em abundância nas escolas, sobretudo na educação infantil ou inicial, uma vasta revisão através de bibliografias dentre outras produções que existam sobre o assunto serão pontuadas. O objetivo de tal pesquisa se dá para que o mito de que homem não pode ser cuidador, não tem sensibilidade, não consegue falar a mesma língua que as crianças e até mesmo para que se extermine de uma vez por todas, ou ao menos se contribua para isso, que a figura do bicho papão que forma-se quando o assunto é homem educando, cuidando, participando da educação de base das crianças, não seja mais recorrente.

Outro ponto recorrente sobre a presença masculina na educação dos pequeninos é que sua sexualidade é sempre colocada a prova, como se homem não pudesse desenvolver tarefas semelhantes a mulher num reduto em que até outrora fora predominantemente povoado por mulheres. Ora, se os direitos são iguais e a qualificação técnica através de graduação é a mesma para todos, independente de gênero, por que razão uma pedagoga mulher seria mais ou melhor que um pedagogo homem? E por que um homem pedagogo, portanto, licenciado para atuar na educação infantil seria mais ou menos homem que qualquer outro homem? Pela escolha de sua profissão? Tais pontos, questionamentos, desconfianças infelizmente ainda existem até hoje e talvez seja esse um dos principais motivos para ainda haver escassez de homens atuando na educação infantil.

O Brasil sendo ainda culturalmente machista e latinamente com pensamentos retrógrados atrasam um pouco a modificação de valores que em nada ajudam na inserção de professores homens na educação infantil.

De acordo com Sayão (2005) ainda resiste de algum modo o pensamento de homem de verdade não atua na educação infantil e a figura masculina deve ficar longe do corpo das crianças.

Na contramão do preconceito e da divisão de gênero e sexo que se impregna no âmbito escolar até hoje, autores e estudiosos sobretudo ligados ao campo da psicologia que veem com bons olhos a interação masculina com as crianças no setor educacional. .

Para Ramos (2011) há casos em que não existe a figura masculina em casa por parte das crianças, portanto, seria meio que uma compensação, tendo em vista que o professor homem exerceria essa influência positiva e supriria tantas necessidades para a formação da personalidade de uma criança, no caso, trazendo para a vida da criança além da presença ostensivamente feminina que já vem de mãe, avó, tia etc, passando a ter também convívio com um homem, de certa forma haveria fortalecimento de vínculo.

Já sob a ótica da Sociologia do Trabalho há um entendimento de que a presença masculina num ambiente basicamente feminino contribui e muito para solucionar muitos outros tipos de diferenças:

…quanto maior o envolvimento de homens na Educação Infantil, aumentaria a opção de carreira para eles contribuindo para que se desfizesse a imagem de que esta etapa da educação básica é um trabalho apenas para as mulheres, alterando, dessa maneira, a imagem da profissão e, quem sabe, melhorando significativamente os salários e o status da carreira (SAYÃO, 2005, p. 16).

A história da profissão de professora, no caso em questão a professora das séries iniciais, constata-se que sempre houve exercício da profissão por mulheres, pois as mesmas é que são agraciadas com o dom da maternidade, e ao se registrar a entrada de um homem nesse contexto escolar, do educador de crianças homem e, o mesmo terá de enfrentar muito preconceito.

O início de toda e qualquer discussão acerca do homem na educação infantil, primordial se faz a definição do que é gênero e o transcorrer, a existência do mesmo no ambiente da unidade escolar, pois em se tratando de um espaço ainda preconceituoso e majoritariamente feminino, tal espaço não estaria preparado para discutir temas como, diversidade, deficiência, religião etc, sem esquecer é claro que, neste mesmo local, diferentes aspectos se encontram e são formadores de nossos costumes, da nossa cultura, do núcleo familiar, portanto, amplamente diversificado.

Acerca de gênero temos “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1995, p. 86).

As distinções de gêneros eram usadas de forma específica para nomeação das duas formas, portanto, masculinas e femininas, sendo apropriadas como pontual termo contrastante com sexo, designando assim, a codificação de homem e mulher.

Entretanto, existe outra definição atual no quesito gênero que não se opõe a sexo:

..mas inclui a percepção a respeito do que seja sexo dentro de um conceito socialmente elaborado de gênero, uma vez que assume que as próprias diferenças entre os corpos são percebidas sempre por meio de codificações e construções sociais de significado.

O gênero não seria um conceito útil apenas na compreensão das interações entre homens e mulheres, mas uma parte importante dos sistemas simbólicos e como tal, implicado na rede de significados e relações de poder de todo o tecido social (PINTO,2010, p. 513).

A atuação da escola como um todo primordialmente deveria se constituir/caracterizar como local não de exclusão, mais sim de um elo, uma espécie de aliada na derrocada de paradigmas diversos, pois assim evitaria confrontos e desencontros em suas ações como um todo.

A plena aceitação da figura masculina como professor está bem distante, pois barreiras de exclusão sexistas ainda figuram e a questão não é amplamente discutida como deve, não existe a problematização, o que se reproduz na verdade é um modelo obsoleto educacional, totalmente diferente do que se prevê na regulamentação da educação em nosso país.

DESENVOLVIMENTO

Há que se pontuar todo o histórico da educação infantil no Brasil para que depois possamos iniciar os estudos e posteriormente nos remetermos ao entendimento sobre o real significado da inserção de docentes do sexo masculino nesta etapa da educação básica, não esquecendo que historicamente a educação infantil sempre fora em sua parcela grandemente composta por mulheres.

Os direitos das crianças na faixa etária de zero a seis anos até seu pleno alcance educacional público, foi marcado por diversas lutas em nosso país, isso é fato, reconheçamos tal processo lento e longo, tipo um trabalho de formiguinha.

As conquistas da Educação Infantil em nosso país se deram através da Constituição Federal, de 1988 (CF); o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990 (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de1996 (LDBEN).

A integração da educação infantil na educação básica se deu no ano de 1996 com a promulgação da LDBEN (Lei N°. 9394) que, em seu artigo 4°, preconiza que o Estado tem dever com educação escolar pública e que essa será efetivada mediante a garantia de atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990) também destaca em seu artigo 53 o direito da criança de até seis anos de idade à educação em creches e pré-escolas.

Portanto, conjuntamente a LDBEN/9394, o ECA representam importantíssimos instrumentos no âmbito da educação e do cuidado da criança.

Somente através desses meios é que nos últimos 20 anos, as árduas reivindicações da sociedade civil ao pleno direito da educação da criança conseguiram alcançar espaço e legitimidade nos debates político e social.

O ambiente escolar por sua essência transita entre o espaço masculino do saber científico técnico-racionalista e a docilização materna, portanto na existência dos saberes.

Partindo dessa ideia de circulação de saberes, o mínimo que seria recomendado ou até mesmo esperado é que houvesse ampla, aberta e irrestrita discussão das relações de gênero, infelizmente não é o que ocorre, ficando novamente reproduzidos os modelos arcaicos socialmente empurrados goela a baixo (CARVALHO 1998).

A unidade escolar nada mais é do um espaço do social, sendo assim reproduz seus padrões, modelos e pré-conceitos.

Na atual sociedade em que as profissões são ainda amplamente divididas entre masculinas e femininas, torna-se natural o lugar que a mulher ocupa na licenciatura, principalmente quando se trata de lecionar para crianças pequenas.

A partir do século XIX, por muitas razões, principalmente pela precariedade nas condições de trabalho, salários baixíssimos dentre tantos outros aspectos, ocorre a predominância da mulher em todos os níveis educacionais, estratificando assim sexualmente a carreira docente (VIANNA, 2002).

O que também teve grande peso para o favorecimento da mudança e predominância ostensivamente feminina na docência infantil é que os homens sempre foram vistos como inadequados moralmente falando para educar meninas especificamente, pois ainda até hoje não é muito raro ouvir que homens não são dotados da sensibilidade que apenas uma mulher teria sensibilidade esta que seria indispensável no trato com as crianças (CUNHA, 2012).

DOCÊNCIA MASCULINA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para todos nós já é meio que lugar comum que, quem está mais preparado para ser o educador de seus filhos no período da educação infantil, é somente as mulheres e que, apenas elas encontram-se preparadas para atuarem como professoras de crianças com idade de zero a três anos, devido ao seu instinto maternal. Porém, quando se busca na história da educação na infância, tem-se como principais teóricos a se preocuparem com essa etapa da educação, na maioria homens.

Essas preocupações começam a surgir no início do século XVII.

Apenas no início do século XVII que ocorreram as discussões iniciais e indagações com relação a educação infantil.

O autor ressalta que foi Campanella (1568-1639) o primeiro a tratar desta questão específica, a educação infantil, em sua obra intitulada “Cidade do Sol”, e partir de então, surgiram as primeiras preocupações com pormenores sobre o tema educação infantil. O mesmo observa que:

Campanella em sua obra “Cidade do Sol” criticou o ensino servil da gramática e da lógica aristotélica e ressaltou a importância das crianças aprenderem ciências, geografia, os costumes e as histórias pintadas nas paredes das cidades, “sem enfado, brincando”. Podemos constatar que Campanella já demonstrava uma preocupação com a educação da criança pequena e, desde então, podemos verificar, surgiram as primeira propostas educativas contemplando a educação da criança de 0 a 6 anos (ALMEIDA 2002, p. 2)

Durante esse período o que mais se notava no que tange a forma de tratar as crianças, ou melhor, dizendo a falta de um tratamento específico, pois, eram especificadas as formas com que o professor deveria ou não se portar em relação aos seus alunos, com a devida atenção especial na educação infantil.

Além de suas contribuições para a educação, o autor também serviu de inspiração para outro teórico que foi Pestalozzi, que dizia que intencionava a união do homem com sua realidade histórica, ao contrário de seu antecessor.

Sua base educacional era nos pilares de proporcionar às crianças seus primeiros elementos do saber, mas que fosse de uma forma natural e intuitiva.

Ainda no que se refere à preocupação com a educação das crianças, afirma que:

Há que se destacar, também, que seu projeto educativo tinha a “intuição” como fundamento básico para se atingir o conhecimento. Assim sendo, a educação se fundamenta na “arte de conduzir as crianças de intuições superficiais e fragmentárias a intuições sempre mais claras e distintas (ALMEIDA, 2002, p. 5).

Trocando em miúdos, mesmo sendo homem o autor e, não possuindo o tão falado instinto materno, mostrou suas preocupações com relação às crianças e suas também com suas necessidades, deixando assim um grande legado para a educação infantil.

De acordo com (PIAZETTA, 2015) o ambiente educacional apareceu como sendo um local, espaço predominantemente masculino, até porque é sabido que já os primeiros educadores eram homens e os mesmo é que tinham a função de educar os meninos sobre todo e qualquer conhecimento construído por outros homens.

O docente que inicia os trabalhos na unidade escolar atual é sempre masculino, um vocacionado religioso.

Tal perspectiva origina uma visão da docência como um caminho vocacional, entrelaçado a paternidade que apenas os religiosos seriam capazes de exercer através docência.

A partir do momento em que ocorrem mudanças e as transformações econômicas, culturais e sociais, o homem vai aos poucos fazendo a migração para outros espaços, o que culminou na ascensão feminina dentro do ambiente escolar LOURO,1997).

Para (EUGÊNIO,2010) a feminização docente não é somente “a presença maciça das mulheres nos quadros docentes, mas a adequação do magistério às características como cuidado, associadas historicamente ao feminino”.

Porém nem tudo são flores e de acordo com (ARAUJO & HAMMES, 2012) a repulsa e o pré-conceito contra a figura do homem atuando em unidades de educação infantil, é um fenômeno da sociedade, que incide recorrentemente, vindo de encontro com as ideias e valores/conceitos iniciais constatados em grande parcela da sociedade.

Não muito raro, quando se trata de literatura relacionada à docência masculina, boa parte encontrada de tal literatura educacional e de material didático-pedagógico, existe a predominância da utilização do termo “professora”, e não há muito um termo que contemple ambos os gêneros, ou seja, (professor (a).

No que trato do assunto produção dedicada à temática do saber educar e saber cuidar justifica-se a nomenclatura apresentada de as professoras, pois são em quase maioria absoluta todas mulheres. Isto é apenas um dos vários exemplos nos quais a utilização se apresenta de forma tendenciosa e não alcança os diferentes atores sociais (RABELO, 2013).

Neste ponto, retoma-se a ideia de (TARDIF 2014) de que “nos ofícios e profissões não existe conhecimento sem reconhecimento social”.

Mesmo tendo sua nomeação omitida e até mesmo negligenciada de certa forma, os professores são desafiados ao escolherem uma profissão predominantemente feminina, e com isso:

[…] fomentam estratégias envolvendo relações que moldam parte de um pacto que consiste na sua “aceitação” como membros do espaço institucional da creche. Tais estratégias são elaboradas e se desenvolvem pelo enfrentamento das diferenças e concepções de gênero e de Educação Infantil, além de elementos objetivos e subjetivos abrangendo os afetos, as emoções, a sexualidade, a raça/etnia e classe social que compõem a identidade do/a profissional. (SAYÃO, 2005, p. 65).

A presença de homens na escola pode ajudar para que se aumente a quebra de paradigmas e tabus, porém, em alguns casos ou em certas situações, tal presença pode dar impressão de reforço, ou parcial reforço dos es estereótipos sobre a masculinidade do professor homem”.

De qualquer forma, a masculinidade presente (ou ausente) no contexto escolar certamente repercute tanto nos profissionais, nos alunos, portanto crianças e também em suas famílias, sendo esta uma importante chance de ocorrer mudanças em tudo que se é vivenciado dentro do contexto escolar por todos os envolvidos (SAYÃO, 2005).

Ao apontar estudos sobre a questão de gênero na docência, (SOUZA 2010, p. 29) refere que “os discursos são consensuais ao defenderem a participação masculina na educação infantil”.

Entretanto, ainda há lacunas entre esse reconhecimento e a forma como transformar essa questão.

A autora ainda questiona, entre outras coisas, se docência que precisa de uma revisão de seus modelos, levando em conta se o modo como o homem deve mudar para poder adaptar-se ao universo da docência feminina ou se esta inserção trará algumas limitações, simultaneamente podem ocorrer novas perspectivas quando um homem se faz presente neste ambiente.

De acordo com (TARDIF,2014), só haverá pleno reconhecimento social como protagonistas do conhecimento e verdadeiros atores sociais se iniciarmos um trabalho de nos reconhecer nos outros como sendo pessoas competentes, pessoas iguais e que podem sim aprender uns com os outros, quaisquer mudanças são possíveis partindo do reconhecimento pessoal se sua própria atuação profissional, e por consequência, da valorização do lugar do outro em sua atuação.

Ainda discorrendo sobre a atuação masculina na educação infantil, de acordo com (FINCO 2003 p.56) “não é só por que há mulheres que a profissão é feminina”.

O existir feminino na educação infantil se deu através de uma construção sociocultural, que preconizava que apenas as mulheres possuíam habilidades para o cuidado de crianças, isso graças ao pensamento embutido de que a mulher nasce com esse dom.

A autora completa:

Neste sentido, não há um “saber natural” das professoras para educarem as crianças na creche, por que todo conhecimento mobilizado foi aprendido socialmente. Há que se considerar que, historicamente, as bonecas são brinquedos oferecidos principalmente, as meninas, e ainda persiste a valorização distinta do feminino e do masculino, por que as meninas é que são consideradas a atribuir sentimentos às bonecas e às pessoas (FINCO 2003, p.56).

A presença de homens atuando na docência infantil ainda nos dias de hoje para a faixa de 0 a 6 anos na Educação Infantil se apresenta como minoria, o que causa estranheza não só na escola, mas também na família, os mesmo sentem na pele ainda, diversas situações no curso de sua prática docente que os levam a questões como preconceito, desmotivação e desvalorização do trabalho.

O homem na educação infantil demora para firmar sua atuação profissional e conseguir envolvimento de toda a comunidade escolar, justamente por estarem “invadindo” um espaço historicamente dominado pelas mulheres o que rotineiramente acaba por levantar novamente uma discussão sobre a questão de gênero (SILVA, 2014)

A presença de professores do sexo masculino na Educação Infantil se apresenta recentemente com as inovações constituídas na legislação a infância, no que diz respeito à educação básica, onde se obteve a abertura de concursos públicos legitimando a presença desses profissionais sem distinção de gênero na educação Infantil, fazendo-se necessário lutar para romper com os preconceitos socioculturais decorrente da profissão sem prejudicar seus trabalhos e a relação com os demais indivíduos envolvidos no processo.

Observa-se que cuidado e educação caminham juntos e o cuidar exige uma ampla junção de conhecimentos, que valorizem e auxiliem a criança em seu desenvolvimento. Assim, para cuidar é preciso estar comprometido com o outro, estabelecer vínculo com a criança ganhar a sua confiança, ensiná-la a reconhecer as suas necessidades, dar atenção se interessar por aquilo que elas gostam para então promover a autonomia na criança. (BRASIL, 1998).

BENEFÍCIOS DE EDUCADORES HOMENS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

No cotidiano das séries iniciais da Educação básica a existência de homens é fundamentalmente importante para as crianças, pois as mesmas podem contar com a referência masculina em suas vidas o que é de suma importância ao seu pleno desenvolvimento. Constata-se ainda que é nessa fase da vida das crianças que elas mais convivem com a figura feminina, pois já tem a mãe, avó, tias, primas, babá empregada e na escola tem a figura da professora. É salutar que as crianças entendam, constatem e aprendam que não existe apenas a figura feminina. (FERNANDJES, 2013).

Mas e quando o profissional docente é um homem?

De acordo com (TEODORO, 2013) o professor tem que obrigatoriamente ter o conhecimento específico de que na educação infantil o mesmo deve entender o desenvolvimento biopsicossocial que a criança vivencia, não há importância significativa ou até mesmo nenhuma de quem seja esse profissional, se mulher ou homem, o que se necessita é que o profissional tenha condições (formações inicial e continuada) para o desempenho de seus afazeres.

GÊNERO E PROFISSÃO DOCENTE

Quando temos conhecimento da expressão divisão sexual do trabalho, nos deparamos com a sua utilização em dois sentidos diferentes. No primeiro sentido, percebemos que se trata a forma com que distribui desigualmente mulheres e homens em nosso mercado de trabalho, na divisão de tarefas, nas profissões etc. No segundo sentido, o que se evidencia é a sistemática de tais desigualdades já citadas no mercado de trabalho, com isso existe uma análise de como a sociedade usa as diferenças para estabelecer hierarquias de atividades e por consequência de sexos, gêneros, portanto, estabelece-se um dito sistema de gênero nas relações entre sexos socialmente falando (HIRATA; KERGOAT, 2007).

A UNESCO publicou em 2008 que, na grande maioria dos países, os profissionais graduados na área de educação em porcentagem, as mulheres superam 70%.

Delimitando a origem desta divisão sexual do trabalho, obtêm-se:

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.). (HIRATA E KERGOAT 2007, p. 599).

A perspectiva de divisão sexual do trabalho é facilmente ilustrada quando se constata que a docência direcionada a educação infantil está associada profissionalmente com o trabalho das mulheres, portanto associado a uma esfera reprodutiva. O ato de educar crianças é associado ao âmbito essencialmente doméstico, área esta naturalmente sendo classificada como feminina. Já com os homens a esfera é essencialmente produtiva, de provedor, fora do ambiente doméstico, portanto masculino (MONTEIRO & ALTMANN, 2014).

Reforçando o contexto, (SILVA, 2010), preconiza que o histórico da educação infantil, por mais que seja a primeira etapa da educação básica tem diversas origens, dentre elas várias propostas como o de cuidar e o de educar se evidenciam sempre à maternidade e ao ambiente doméstico. Desde sua origem, a profissão de educador infantil esteve alinhada, portanto, usualmente desempenhada pelo gênero feminino.

Para Rosemberg (1999), em seus estudos que a associação de gênero justifica-se por característica vinculada à produção humana.

De acordo com a autora:

A educação infantil – tanto na vertente creche quanto na vertente pré-escola – é uma atividade historicamente vinculada à “produção humana” e considerada de gênero feminino, tendo, além disso, sido sempre exercido por mulheres, diferentemente de outros níveis educacionais, que podem estar mais ou menos associados à produção da vida e de riquezas. Isto é, diferentemente de outras formas de ensino, que eram ocupações masculinas e se feminizaram, as atividades do jardim da infância e de assistência social voltadas à infância pobre iniciaram-se como vocações femininas no século XIX, tendo ideais diferentes das ocupações masculinas que evoluíam no mesmo período. (ROSEMBERG, 1999, p. 11).

Existem dois princípios organizadores sob a ótica de uma ideologia naturalizadora. Um deles é o princípio da separação, o mesmo faz a separação entre trabalho dos dois sexos, ou seja, há trabalhos de homens e trabalhos de mulheres. O segundo princípio é o princípio hierárquico, que como o nome já diz, estabelece hierarquia, portanto, o trabalho do homem teria maior valor que o trabalho exercido por uma mulher. A partir de então toda e qualquer prática social ficaria restrita a papéis sociais e sexuados, os mesmos limitam gênero a sexo biológico.

A partir de estudos feministas, dos gêneros e da ideia de considerar gêneros como categoria de análise tornou-se acessível uma “desnaturalização” da divisão sexual das profissões.

No Brasil no fim dos anos 80 tais estudos obtiveram notoriedade, pois problematizavam as características sociais entre as diferenças de sexo e rejeitaram o discurso que determinava biologicamente tais diferenças (HIRATA; KERGOAT, 2007).

A discussão dos termos de gênero e sua abordagem acabaram proporcionando reflexões de elevada importância.

Em um estágio inicial o termo fora utilizado como sinônimo de “mulheres”, em uma busca por legitimidade dos estudos feministas lá no final dos 80.

Acerca da definição autora acrescenta que:

Na sua utilização mais recente, o termo “gênero” parece ter feito sua aparição inicial entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição do determinismo biológico implícito no uso de termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O termo “gênero” enfatizava igualmente o aspecto relacional das definições normativas da feminilidade. Aquelas que estavam preocupadas pelo fato de que a produção de estudos sobre mulheres se centrava nas mulheres de maneira demasiado estreita e separada utilizaram o termo gênero para introduzir uma noção relacional em nosso vocabulário analítico. Segundo esta visão, as mulheres e os homens eram definidos em termos recíprocos e não se poderia compreender qualquer um dos sexos por meio de um estudo inteiramente separado (SCOTT. 1995, p. 72).

Os estudos de gênero incluem as questões relacionadas às masculinidades.

De acordo com (CONNELL 2010), tem-se demonstrado que não há padrões fixos para os gêneros, existe uma espécie de negociação nas vidas individuais do ser sobre suas identidades e que as categorias podem emergir de acordo com o contexto histórico, existe multiplicidade entre as masculinidades e as feminilidades e também há variação de classes diferentes entre os gêneros, entre as etnias e os contextos nacionais.

Sendo nossa sociedade absolutamente dinâmica, não é de pouco conhecimento ou não se tem ignorância total do fato de que dia após dia o homem tem colaborado cada vez com as tarefas do lar e isso inclui a educação de filhos.

Nesse sentido, temos:

Como os estereótipos vão se modificando, as representações acerca dos espaços em que homens e mulheres deveriam atuar foram sendo alteradas. É bem verdade que as questões ligadas ao poder ainda são mais associadas aos homens, mas também é verdade que, atualmente, eles têm participado mais intensamente do processo de educação dos filhos, se comparados com épocas não muito remotas (GONÇALVES 2009, p. 29)

Se em casa os homens são considerados educadores, na escola eles também poderiam muito contribuir com o processo de educação de crianças, sendo preciso desmitificar a ideia de que não há espaço para o homem atuar como docente de Educação Infantil. O importante é a formação para essa atuação e não apenas o fato de pertencer ao gênero feminino ou masculino.

CONCLUSÃO

Ao longo do tempo o homem se aventura a exercer a docência em Educação Infantil encontra muitas dificuldades para o pleno desenvolvimento da profissão, que é predominada ainda, por maioria feminina.

A partir do momento em que um professor, homem, assume uma função predominantemente feminina (na ótica da sociedade), este profissional depara-se com embates/confrontos/desconfortos na educação infantil.

Sob a perspectiva de uns equipara-se a aceitar não fazer “papel de homem” e entrar para o “lugar de mulher”.

Em certo sentido, isso requer vivenciar uma situação de rebaixamento social, pois envolve ter que exercer funções profissionais localizadas em um nível social menos valorizado.

Sob este ponto de vista, para alguns, dar banho e limpar crianças representa “rebaixar-se” na profissão docente.

Diferentemente, para outros professores, assumir a docência na educação infantil representa uma importante inserção numa carreira profissional com possibilidades de ascensão social. Se for homem ou mulher, pouco importa.

Olhar para o tempo da infância e desempenhar sua profissão abarca homem e mulher em busca de um bem comum: que as potencialidades dessas crianças emerjam.

Além dos desafios intrínsecos à docência na educação infantil, no caso dos homens professores ocorrem dificuldades relacionadas a noções hegemônicas de masculinidade que se mostraram incompatíveis com o trabalho pedagógico nessa etapa da escolarização. As questões presentes nas trajetórias dos professores homens revelam quão polarizadas se mostram as noções de feminino/masculino em nossa sociedade e a necessária perspectiva relacional para compreender as relações de gênero na profissão docente.

Vale a pena nesta conclusão citar SIMONE DE BEAUVOIR, 1980, a mesma diz que ”não só a mulher não nasce mulher, mas torna-se mulher, como também o homem, no decorrer de suas relações sociais e culturais, torna-se determinado homem, com características, preferências e formas de expressão próprias, podendo condizer ou não com as noções de masculinidade hegemônicas em sua comunidade”.

A presença de homens lecionando para crianças na educação infantil, que se apresenta em um primeiro momento como incompatível, como algo estranho e um problema a ser solucionado, proporcionando uma quebra de preconceitos.

Vale ressaltar que o presente artigo não tem o intuito de esgotar a temática uma vez que é importante que novas pesquisas surjam na área afim de melhor compreender a atuação e o interesse do profissional masculino na Educação Infantil, especialmente por se acreditar que homens têm muito a contribuir com o processo educacional de crianças, tanto quanto a mulher o que os coloca em uma posição de igualdade frente ao processo de profissionalização docente.

REFERÊNCIAS

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ARAUJO, M.P. HAMMES, C.C. A Androfobia na Educação Infantil. Disponível em: file:///C:/Users/Ricardo/Downloads/580-816-1-PB.pdf. Acesso em 03 de jun 2016.

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BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

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CARVALHO, Marília Pinto de. Vozes Masculinas numa Profissão Feminina. Estudos Feministas, v. 6, n. 2, p. 406-424, 1998.

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[1] Mestrado em educação, Pós graduação em docência do ensino superior. Funcionário público municipal.

Enviado: Fevereiro, 2018

Aprovado: Dezembro, 2018

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Ricardo da Cunha Oliveira

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