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Integração e Globalização Relativizada: Uma Leitura de Tefé no Amazonas

RC: 1222
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CONTEÚDO

QUEIROZ, Kristian Oliveira de [1]

QUEIROZ, Kristian Oliveira de – Integralização e Globalização relativizada: Uma leitura de Tefé no Amazonas – Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento – Vol. 2. Ano. 1. Maio. 2016, pp. 3-22 – ISSN: 2448-0959

RESUMO

Analisar a integração territorial da região do Médio Solimões no Amazonas por meio do papel da centralidade de Tefé no contexto de uma globalização relativizada é o grande objetivo deste artigo. Primeiramente, apresenta-se a história da centralidade tefeense. Posteriormente, a análise das funcionalidades da centralidade tefeense sob o contexto de uma modernização incompleta com o intuito de compreender amplitude territorial das relações de Tefé. Finalmente, esta leitura de uma integração territorial deficiente, ou seja, uma integração relativizada, é focado a partir da atuação de agentes da globalização presentes na região de Tefé integrando-a neste processo capitalista atual.

Palavras-chave: Integração territorial, globalização relativizada, modernização incompleta, Amazônia, Centralidades.

INTRODUÇÃO

O tema desta pesquisa surgiu do desejo de conhecer e compreender as funcionalidades socioeconômicas, político e históricas exercidas por Tefé na região do Médio Solimões amazonense e, concomitantemente, na formação sócio espacial brasileira, dirigidas pelas relações capitalistas no mundo contemporâneo, a globalização. A globalização da técnica informacional impacta com diferentes intensidades os lugares no globo, subsidiada pela política que reafirma os lugares e ajusta os anseios locais para uma adaptação produtiva às novas configurações territoriais impostas pela racionalidade hegemônica provenientes das ações dos agentes da globalização. Estes agentes ligam de maneira verticalizada os pontos que possuem maior aptidão nas redes que sustentam a economia-mundo. Em resistência ao avanço desta técnica e desta racionalidade que impõem valores, normas e ordens com o objetivo de gerir o funcionamento dos espaços de fluxos se encontram os lugares da solidariedade horizontalizada que tendem a uma desorganização vinculada pelas pressões políticas e imposições econômicas e sociais dos agentes das verticalidades (SANTOS, 2011 [2000], p.111).

Alguns lugares absorvem mais os efeitos desta globalização da racionalidade e da técnica a partir de sua estrutura territorial, normativa e informacional previamente estabelecida. Estes fatores delimitam, em sua densidade ou rarefação, a menor ou maior capacidade de absorção destes efeitos. No entanto, nenhum lugar se encontra fora do alcance dos impactos direcionados pela globalização.

A integração territorial se realiza de forma a admitir a repercussão dos resultados econômicos de um subespaço em relação a outros menos favorecidos pelos aportes técnicos e estruturais da globalização, vetores da modernidade que permitem irradiar com maior intensidade as influências econômicas e sociais de subespaços luminosos por intermédio dos aportes representados pelos agentes e ações do capitalismo contemporâneo.

Entretanto, frente à seletividade imposta pelos vetores externos da globalização, acolhidos diferentemente pela capacidade técnica, normativa e informacional do território, se desenvolve uma modernização seletiva e incompleta, tornando relativo o processo de estabelecimento e o desempenho dos instrumentos que operacionalizam o meio técnico-científico-informacional em territórios distantes dos grandes centros econômicos. Milton Santos (2008 [1987]) afirma que “cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende da sua localização no território” (SANTOS, 2008 [1987], p.107). Indivíduos com a mesma formação cultural, soma de capital e capacidade física possuem possibilidades efetivas desiguais conforme a posição no espaço em que se localizam. Este pensamento suscita uma reflexão quanto à situação social e econômica dos cidadãos na Amazônia.

A Amazônia que margeia o rio Solimões no estado do Amazonas é uma região preservada e conservada em relação aos estados com maior atividade antrópica e capitalista. O Amazonas possui 98% de seu território preservado, e destes, 50,9%, ocupado por Unidades de Conservação e Preservação e Terras Indígenas restringindo o uso do território para diversos fins como o cultivo de produtos agrícolas e para a produção pecuária (VERÍSSIMO et al, 2011). A Amazônia que grande parte dos brasileiros conhece está ligada aos desmatamentos, às grilagens de terra, aos índios e a grande selva distante que deve ser preservada. Muitos esquecem que no seio desta “floresta urbanizada” se encontram populações organizadas em comunidades tradicionais, cidades pequenas, médias e mesmo metrópoles nacionais. Algumas na fronteira e outras na borda territorial exercendo suas funções econômicas e políticas durante séculos.

É nesta fração territorial periférica que se encontra Tefé, área de estudo desta pesquisa, longe dos centros de decisão do estado do Amazonas, do país e do mundo.

Tefé no Brasil e no Mundo
Mapa 1 – Tefé no Brasil e no Mundo

Este estudo fornece subsídios para compreender que na região do Médio Solimões no estado do Amazonas, o município de Tefé se configura como nodal no funcionamento dos fluxos estabelecidos pela circulação de bens, mercadorias e serviços na rede de transportes e comunicação no interior amazonense. Esta pesquisa parte da hipótese que os meios de produção mais significativos para a economia de Tefé são as relações e os fluxos que compõem sua centralidade, funcionalizados a partir dos fixos herdados de uma concentração de instituições e infraestruturas estabelecidas no município pela valorização da posição estratégica do seu território na Amazônia. Por conseguinte, a circulação é a variável que permite o fermento da vida em Tefé. Soma-se a esse pressuposto a hipótese sobre a influência de uma “globalização relativizada”, típica de espaços opacos, que caracteriza e identifica entraves à integração territorial de Tefé e da região à totalidade brasileira.

Ainda, é possível afirmar que este estudo traz subsídios para a compreensão de que os fluxos desta centralidade tefeense integram as cidades da sua Região de Influência. Como se realiza esta integração em um subespaço onde estes mesmos fluxos são limitados e, concomitantemente, fundamentais para a economia do município de Tefé e dos circunvizinhos inseridos em uma modernização incompleta? Deste modo, busca fornecer o entendimento das razões pela qual Tefé efetua o controle do espaço e da gestão do território no Médio Solimões, que condicionados pelas funcionalidades de uma centralidade periférica, acaba por produzir uma integração territorial restrita que nestes tempos de globalização se torna relativizada em vários âmbitos. Ou seja, isso leva a presunção que a posição territorial de Tefé no rio Solimões é o seu maior recurso econômico, gerando fluxos e circulação limitados e incipientes consequentes de uma globalização seletiva desenvolvida em espaços opacos, onde um capitalismo regionalizado e/ou adaptado aos meios de produção disponíveis produzem diferentes racionalidades, horizontalidades e mesmo verticalidades, envoltos em um mesmo processo de globalização da técnica, da informação e das normas.

FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CENTRALIDADE TEFEENSE

O estudo de regiões sob o contexto de uma modernização incompleta com complexidade física e cultural singular como a do Médio Solimões na Amazônia amazonense se torna útil e base para o entendimento da pobreza arraigada, da economia estagnada e de uma sociedade imersa em “globalitarismos” (SANTOS, 2011 [2000]) latino-americanos que maquiam negativamente a verdadeira face amazônida, esta sim vinculada à fartura de sua biodiversidade e a riqueza cultural inerente aos povos da floresta. A baixa densidade demográfica da região esconde um povo quase esquecido, envolto a uma porosidade e fluidez territorial que lhes transmutam a identidade já enfraquecida com inúmeras ações ineficazes decorrentes de políticas públicas atreladas aos interesses socialmente escamoteados pertinentes a relação do binômio governo-iniciativa privada (IANNI, 1981) que produzem as esperanças falsas de desenvolvimento na “eterna nova fronteira” (QUEIROZ, 2013).

Primordialmente, o nível maior de aculturamento dos indígenas que habitavam o sítio de Ega em relação a outras tribos permitiu um aprimoramento no processo de comercialização de drogas do sertão. Os portugueses valorizaram isso, pois os índios conheciam os melhores pontos de acesso ao rio Solimões o que facilitava a localização de produtos da floresta, o seu recolhimento, o carregamento e o transporte destes produtos para os europeus. Posteriormente, as grandes expedições que passaram pela posição de Tefé, principalmente a de Francisco Orellana e o escriba Carvajal em 1542; e a expedição de Pedro Teixeira e Cristóbal Acuña em 1639. Os trabalhos do Padre Samuel Fritz no século XVII condicionaram a fundação das primeiras aldeias no Solimões, entre elas Santa Tereza de Tefé, que viria ser destruída e reconstruída por Frei André da Costa alguns posteriormente, as instruções reais de 5 e 6 de junho de 1755 fundou a vila de Ega. A gênese do território tefeense. A Vila é elevada a cidade em 15 de junho de 1855. Com a valorização da posição estratégica no vale do Amazonas, na foz do rio Solimões, Japurá e Tefé, várias instituições públicas federais e estaduais se estabeleceram em Tefé condicionando à cidade ser um centro que irradia e atrai fluxos de pessoas, ideias, mercadorias e serviços neste subespaço amazônida.

Sem função a estrutura perde a sua historicidade (OLIVEIRA, 1982) o que releva o conhecimento dos tempos históricos para o reconhecimento da dinâmica da totalidade. No decorrer dos últimos quatro séculos, Tefé acumulou responsabilidades administrativas, políticas e econômicas. No entanto, as condições materiais e estruturais concedidas pelo Estado foram direcionadas de forma incipiente para contemplar estas responsabilidades e deveres. Pela carência de técnicas e de um grande mercado, isto provocou um desenvolvimento restrito, impondo a Tefé responsabilidades que extrapolam sua capacidade de gerir o território e assumir plenamente os objetivos impostos pelas políticas territoriais e públicas destinadas ao desenvolvimento desta região.

CENTRALIDADE PERIFÉRICA

Tefé é considerado o maior centro urbano no Amazonas a montante de Manaus (IBGE, 2013; MENEZES, 2009). Sua posição periférica, longe do centro econômico e político do país, lhe confere exercer um papel chave na circulação e na produção do consumo neste subespaço amazônida. A circulação de mercadorias, bens e capital inerentes ao movimento da centralidade e de seus fluxos produzem um relativo dinamismo econômico a partir da diversificação das funcionalidades tradicionais. Ocorre desta forma, a valorização de Tefé como um centro urbano na região do Médio Solimões que se configura como a expressão formal do processo de centralização definindo-o e redefinindo-o por intermédio da concentração de equipamentos, atividades, pessoas, ideias e informações (AJONAS, 2009).

Isto provoca uma melhor situação econômica frente ao desempenho consumidor das cidades circunvizinhas, elevando o rendimento econômico e social de sua população que constitui um mercado de consumo atraente para firmas e serviços no interior do estado. A periferia é entendida neste estudo como o território que se encontra longe do grande centro nacional de onde provêm as decisões políticas e sociais e onde se concentra o poder econômico, a periferia sócio espacial.

A periferia é entendida neste estudo como distante das sedes das corporações e do grande capital, como o lugar onde existe uma diluição do meio técnico-científico-informacional; entendida como o setor que margeia o território nacional, a borda, perto da fronteira, antes dela, que pela distância proporciona a menor presença e atuação do Estado o que acaba por ser caracterizada pela pobreza, por desigualdades, diferença e pelo abandono.

Tefé representa uma centralidade periférica quando concentra a partir do uso dos tributos pagos pela população local e regional às instituições estabelecidas em sua sede, arrecadações importantes para a manutenção dos fluxos que permitem a circulação de capital. A importância do conhecimento dos valores destes recursos advindos dos repasses dos impostos é vinculada ao papel que estas instituições estatais funcionalizam a partir de seus serviços à população regional em Tefé. A região de influência de Tefé é condicionada às infraestruturas e serviços institucionais que geram uma maior valorização estatal às arrecadações municipais.

Por conseguinte, as instituições se tornam relevantes para a economia do município, pois sua produção agrária é limitada. A base da economia rural de Tefé é a farinha de mandioca tradicional da região, em torno de 900 toneladas deste produto são produzidos no município de Tefé (BILLACRÊS e SCHWADE, 2009). Em Tefé a farinha produzida na região é encaminhada e embalada para Manaus seu principal mercado de consumo em larga escala. Entretanto, excetuando esta economia regional produtiva de farinha de mandioca que é significante para a sobrevivência dos produtores da região de Tefé, a produção de outros produtos madeireiros e não madeireiros na zona rural poderiam ser melhor aprimoradas para suprir o potencial econômico municipal no que tange à agregação de valor e para a acumulação de capital, o que permitiria assim constituir como um relevante instrumento econômico em Tefé.

As importações ainda não foram substituídas pelas produções locais, que se tornam insuficientes para autonomia alimentar da cidade. Quase tudo é importado, grande parte da produção de alimentos é advinda de Manaus o que propicia o ágio dos insumos embutidos no transporte e no acondicionamento das mercadorias, encarecendo o valor de compra e tornando-os pouco acessíveis à população mais pobre.

Quanto à pecuária, a cidade possui apenas a de corte que depende da compra de bovinos, bubalinos e caprinos do estado do Pará, principalmente das cidades do baixo Amazonas como Alenquer, Oriximiná e Óbidos. A agricultura, a pecuária e o extrativismo são promessas ecossistêmicas de uma economia limitada pelos argissolos e plintossolos tefeenses que apresentam produtividade limitada. Somada à tecnologia e estudos científicos podem contribuir de diferentes maneiras para contemplar as necessidades da população, minimizando e substituindo as importações e criando cadeias produtivas que permitam a autonomia agrícola de Tefé e das cidades de sua influência.

A economia em espaços opacos se caracteriza por possuir uma debilidade no nível de trocas, na medida em que a introdução de elementos modernos em uma economia “tradicional” apresenta seus efeitos e distorções. Tefé, cidade que possui um papel fundamental para a circulação desses fluxos no Médio Solimões se configura como uma cidade limitada e muitas vezes precária quando do oferecimento de seus serviços neste espaço polarizado, um modelo de difusão de uma modernização incompleta que irradia desenvolvimento parcial. Neste sentido, configura-se uma centralidade que providencia relações com sua região de forma limitada e precária reciprocamente, uma centralidade regionalmente periférica.

AS FUNCIONALIDADES DA CENTRALIDADE DE TEFÉ

Em cidades com carências e deficiências na manutenção de meios de produção que possibilitem a sobrevivência de suas populações os elementos que estruturam o espaço se configuram como meios de sobrevivência. Desta forma, é fundamental entender as relações os fluxos pertinentes às atividades institucionais, concernentes às infraestruturas das instituições e de outros agentes, assim como as relações do comércio e das pessoas são o que proporcionam a sobrevivência da cidade e da região. Isto possibilita compreender sua centralidade e suas potencialidades intrínsecas econômicas compõem o seu respectivo subespaço.

As instituições, firmas, as infraestruturas e os homens produzem em Tefé a vida que movimenta o espaço, a inércia dinâmica (SANTOS (2008 [2002], p. 45) que promove a partir de pontos fixos (elementos) a movimentação e os fluxos que irão configurar o comportamento e as funções destes elementos como um sistema vivo; onde as ações e reações são partes do todo e, nesta totalidade, estas partes se sincronizam. A vida que anima o espaço e o espaço que promove a vida são produtos de uma mesma força, única e crucial. O movimento gera a centralidade a partir de um centro; os fluxos são advindos dos fixos. A leitura dos meios de produção de Tefé está vinculada ao entendimento destes movimentos institucionais, comerciais, humanos e do uso das infraestruturas necessárias para o deslocamento das mercadorias, do capital, das ideias e das pessoas.

CENTRALIDADE INSTITUCIONAL

A discussão da centralidade tefeense requer pensar em dimensões regionais e nacionais, por isso a relevância da leitura deste subespaço brasileiro envolvido em distâncias e dimensões que ultrajam sua real capacidade de gestão.

CENTRALIDADE INSTITUCIONAL ADMINISTRATIVA

Segundo Santos (2008 [1981], p.74) as funções administrativas compreendem a função política; da administração pública e privada e a função militar. Cidades com função de liderança no mundo subdesenvolvido se apresentam como administrativas aglomerando instituições e repartições públicas que atraem outras funções como a comercial, as funções bancárias e de serviços (Quadro 1).

Instituições Jurisdição Territorial Funcionários
 

Exército

Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí,

Santo Antônio do Iça, Atalaia do Norte, São Paulo de Olivença, Amaturá, Carauari, Coari, Tonantins, Benjamin Constant

 

800

Prelazia Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Carauari, Itamarati 41
Marinha Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Carauari 10
PM Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 191
Receita Federal Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Eirunepé, Coari, Itamarati, Carauari 04
Justiça Federal Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Tapauá, Carauari. 31
Ministério Público Federal Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Coari, Carauari, Tapauá. 14
Justiça do Trabalho Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 09
Cartório Eleitoral Tefé, Uarini 03
IBGE Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Japurá, Maraã, Jutaí 03
SESAI/DSEI/CASAI Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Itamarati, Envira, Ipixuna, Eirunepé, Coari, Carauari. 31
FUNAI Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Japurá, Maraã. 04
ICMbio Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Tonantins, Amaturá, Santo Antônio do Iça 18
INSS Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Itamarati 12
DETRAN Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 03
Correios Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 15
Polícia Civil Tefé, Alvarães, Uarini, Japurá, Maraã 09
SEFAZ Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 04

Quadro 1 – Centralidade institucional administrativa de Tefé – 2013

Fonte: Autor

CENTRALIDADE DE INFRAESTRUTURA E SERVIÇOS INSTITUCIONAIS

Santos (2008 [2002], p.67) discute que a partir da repartição das infraestruturas no espaço nacional e pela escolha daquelas que beneficiam um determinado setor da produção e da população a instância política acaba por decidir a localização das empresas, das instituições e dos homens segundo características específicas. Assim, a localização das infraestruturas no território depende da vontade político-institucional em vigor. Neste sentido, Tefé possui singularidades como a sua posição e as condições históricas favoráveis para a instalação destas infraestruturas pertinentes às atividades de instituições estatais. Seu passado permitiu a construção de uma importância política e social por intermédio do trabalho humano realizado no território usado. O produto deste trabalho humano e mesmo de um planejamento estatal são infraestruturas que permitem a uma cidade inserida na maior selva do mundo exercer funcionalidades de âmbito regional, nacional e global. Suas infraestruturas representadas pelo o aeroporto, o entreposto fluvial, o centro de telecomunicações, a universidade e os hospitais, oferecem serviços não apenas à população tefeense, mas de todas as cidades circunvizinhas, da capital Manaus e de fora do estado do Amazonas (como o aeroporto) que necessitem do uso destas infraestruturas (Quadro 2).

Instituições Cidades inseridas nos fluxos Funcionários
 

Telecomunicações (Oi)

Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí,

Tonantins, Carauari, Coari, Beruri, Itamarati, Ipixuna, Eirunepé, Envira, Guajará, Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga.

 

4

Aeroporto (Infraero/Bombeiros) Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí,

Carauari, Eirunepé, São Paulo de Olivença, São Gabriel da Cachoeira, Coari.

 

37

Entreposto Fluvial Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Benjamin Constant, Tonantins, Carauari, Tabatinga, Santo Antônio do Iça, Coari, Anori, Codajás, Manaus.  

19

Hospitais Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí,

Carauari, Tonantins, Coari, Manaus.

206
Mamirauá Tefé, Maraã, Manaus, estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Paraná. Países como Portugal, Reino Unido, Estados Unidos, entre outros.  

242

 

UEA

Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Benjamin Constant, Tonantins, Tabatinga, Santo Antônio do Iça, Apuí, Coari, Tapauá, Itamarati, Caapiranga, Anamã, Manaus. Cidades de estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Sant Catarina, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Pará, Distrito Federal, Alagoas, Roraima, Ceará, Bahia, Espanha e Cuba.  

 

 

101

Cursos Técnicos

(SENAC, CETAM, particulares)

Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Manaus, estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e São Paulo. 50
Banco do Brasil Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 22
CAIXA Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí 17
Bradesco Tefé, Alvarães, Uarini, Juruá, Japurá, Maraã. 19
Banco da Amazônia Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Tonantins, Benjamin Constant, Amaturá, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça, Atalaia do Norte, Tabatinga 8

Quadro 2 – – Centralidade de Infraestruturas Institucionais de Tefé

Fonte: Autor

CENTRALIDADE COMERCIAL

O espaço de fluxos estabelecido a partir das atividades da centralidade de Tefé se concretiza por intermédio da manutenção das instituições pelo Estado e da circulação monetária de suas remessas salariais estatais à população tefeense assalariada propiciando a força do comércio, base da centralidade no Médio Solimões. Somada a isto, a necessidade de aquisição de bens e mercadorias pelas populações das cidades circunvizinhas e pertencentes à sua região de influência. Um ponto relevante é a economia tefeense tem sua produção baseada no consumo de bens e mercadorias. Uma divisão territorial do trabalho assim como uma divisão espacial do consumo é estabelecida; a macrocefalia espacial determinada por Manaus, sede do Pólo Industrial de Manaus (PIM) onde se produz grande parte da produção nacional de bens duráveis e eletroeletrônicos a qual exporta para os municípios do interior do Amazonas que tenham “acesso” a estes bens e mercadorias, suscetibiliza uma fragmentação territorial neste subespaço. As cidades interioranas como Tefé, não produzem produtos ou mercadorias, apenas consomem o que podem comprar, sua produção é baseada na capacidade de suas populações consumirem gerando circulação e autonomia econômica. Por conseguinte, a importação de alimentos, móveis, equipamentos, veículos, combustível, vestuário, etc. é fundamental para a sobrevivência destas cidades amazônidas. Fluxos são criados a partir de Tefé com cidades luminosas como Manaus e São Paulo e a centralidade estabelecida corrobora para as relações globalizadas capitalistas que impulsionam a vida no Solimões (Quadro 3)

Empresas Cidades inseridas nos fluxos Movimentação anual (Reais)
Frigorífico Frigopeixe Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí,

Carauari, Coari, Manaus, São Paulo, Goiânia, Brasília, Belém.

3.6 milhões
Deusdeth – Importadora Luany e J F Lopes Ltda  

Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí.

 

 

5 milhões

Cometa Motocenter Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Carauari, Eirunepé, Envira. 13.2 milhões
Indústrias de Cerâmicas Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã

 

2 milhões
Flutuante Takafaz Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí.

 

3 milhões
Colônia dos pescadores Z4 Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Parintins, Belém e Manaus. Não informado
Mercado Municipal de Tefé Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Manaus, estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. Não informado
Amazonaves Estados do Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Acre e Amapá. Não informado
Navios comerciais e balsas de carga Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Juruá, Japurá, Maraã, Jutaí, Coari, Codajás, Manaus. 18 milhões

Quadro 3 – Centralidade Comercial

Fonte: Autor

CENTRALIDADE DEMOGRÁFICA

A centralidade demográfica se desenvolve por meio do encontro e contato de pessoas de diferentes origens em um lugar, fluxos que proporcionam uma organização comunitária baseada nos interesses de uma coletividade que produz as bases de uma organização social construída por uma experiência desenvolvida por meio destas relações e trocas entre as pessoas. No caso de Tefé esta organização constituída historicamente, se desenvolveu motivada em primeira instância por interesses econômicos ligados à exploração de drogas do sertão e, principalmente, aos condicionantes institucionais vinculados à posição estratégica na Amazônia Ocidental, fatores que operam como forças centrípetas criando uma sinergia no lugar.

As funcionalidades da centralidade demográfica se entrelaçam às outras analisadas anteriormente neste estudo (centralidades institucionais e a comercial); no entanto, possui elementos próprios que proporcionam uma dinâmica atrelada à circulação regional. Ressalta-se que o nó de rede representado por Tefé na região se contextualiza pelos objetos geográficos estabelecidos e ativados pela circulação, bem como pela energia advinda do movimento demográfico originado pelas necessidades básicas dos homens presentes neste respectivo lugar.

A centralidade humana em Tefé também se constitui de fluxos negativos, principalmente vinculados à urbanização e às consequências sociais de exclusão e violência que este processo gera. Como centro urbano regional Tefé possui problemas com excessos de veículos e problemas no trânsito, poluição sonora relevante (QUEIROZ, 2009) e a violência urbana advinda principalmente do tráfico e uso de drogas. A Polícia Militar e o Exército são os grandes agentes na tentativa de mitigação dos problemas ocasionados pelo tráfico e o uso de drogas em Tefé, onde se localiza a base de operações destas duas instituições para toda região.

A centralidade periférica demográfica apresenta sua culinária, seus hábitos, seus costumes, sua tradição, suas relações humanas que ainda são representantes genuínas de um subespaço, mesmo com traços incipientes da sociedade hegemônica mundial.

INTEGRAÇÃO RELATIVIZADA

A integração territorial relativizada se estabelece pelas dinâmicas econômicas e sociais de uma modernização incompleta e subsidiadas pelos elementos primordiais da globalização representadas pelas finanças e os serviços (SASSEN, 1998) compondo formas distintas deste processo de globalização.

No Médio Solimões, e particularmente em Tefé, evidencia-se que a globalização relativizada se estabeleça pela funcionalidade das redes, comunicando as ações globais às locais, e pela ação do Estado, agente de fomento econômico e de modernização técnica e social, permitindo a atuação financeira do território e o movimento de capitais do trabalho coletivo advindo dos assalariados estatais.

As finanças e os serviços estruturados pela técnica e a informação, comandados por “tele ação” permitem uma ação global e uma modernização social e econômica, tendem a executar suas atividades de forma limitada em subespaços inseridos em uma globalização relativizada, onde os elementos de infraestruturas, tecnologia, pessoal qualificado e capital disponível são incipientes. Este cenário acarreta prejuízos à economia e deficiências à integração territorial, dificultando o acesso pleno deste subespaço outrora presidido por Tefé ao meio técnico-científico-informacional que como afirmou Santos (1999) “é a cara da globalização”. Presume-se que são as deficiências pertinentes aos fluxos da centralidade de Tefé, vista como uma cidade intermediária neste subespaço opaco, o que possibilita uma integração relativizada, friccionando a divisão territorial do trabalho pretérita com a divisão territorial do trabalho atual. Ou seja, ocorre uma integração debilitada ao processo da globalização que envolve e impacta as regiões do mundo de forma diferenciada.

A centralidade na periferia se torna uma centralidade integrada aos lugares centrais, porém, de forma relativa.

Discute-se neste momento a perda da força da centralidade efetuada por Tefé em sua região frente ao avanço dos agentes da globalização, pela ação de objetos técnicos perfeitos que compõem verticalidades unidas pela “tele ação” e tecnologia de informações e comunicação disponibilizada às cidades pequenas ou regionais de toda e qualquer região que propiciam conectividade ao mundo. O resultado é uma integração territorial que ignora as próprias fronteiras territoriais, culturais, as identidades e tradições.

A integração relativizada objetiva discutir as nuanças derivadas das diversas formas de um mesmo processo, a globalização, em seus enfoques e bases que fragmentam e compartimentam territórios e se protagonizam como um processo da produção do espaço. A integração relativizada se baseia na comunicação e na relação de cidades obsoletas com as cidades luminosas que se realiza via a subjugação das hierarquias urbanas e territoriais tradicionais criando rupturas com “cidades-elos” históricos na dinâmica do desenvolvimento regional e da organização territorial da formação sócio espacial.

Ressalta-se que a integração relativizada se configura como uma integração territorial sob condicionantes de uma modernização incompleta e uma globalização relativizada. Presume-se que os agentes deste processo de integração a promovem tanto ao curso da globalização quanto ao meio geográfico contemporâneo, o meio técnico-científico-informacional.

A integração de espaços opacos ao processo de globalização está baseada na contradição inerente ao modo de produção capitalista atual, que não permite desenvolver plenamente o potencial produtivo dos lugares.

O maior agente destas finanças em Tefé e em sua região são os bancos e as financeiras que drenam as rendas dos assalariados, aposentados e funcionários do comércio por intermédio de seus serviços para as sedes destes bancos. Atuam coletando estas rendas em parceria com diversas empresas comerciais assim como empresas aéreas, de veículos terrestres e fluviais; oferecendo serviços como fundos privados de pensão, créditos imobiliários, auxílio maternidade, cartão de crédito e empréstimos consignados que são procurados pela clientela dos bancos. Os agentes financeiros existentes em Tefé que permitem a esta presidir as relações nesta fração do território são significativos frente a sua hinterlândia. Esta centralização de capital é decorrente das infraestruturas de fixos herdadas no decorrer da conjuntura histórica e econômica proporcionada pela dinamicidade de sua centralidade neste subespaço letárgico.

Em Tefé os proprietários das financeiras priorizam a localização de seus estabelecimentos na proximidade de bancos e mesmo próximos a outras financeiras, oferecem créditos e realizam pagamentos de boletos bancários, o que descentraliza os fluxos dos bancos assim como as lotéricas e o banco postal. Nesta mesma rua tefeense, existem firmas que propõem a consulta no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e SERASA para o auxílio no recondicionamento do crédito caso esteja negativo, se ocorrer algum problema na solicitação do empréstimo, agentes criativos da atividade financeira.

Esta situação expõe a centralidade institucional de Tefé neste subespaço amazônida mostra duas formas de relações urbanas análogas às dinâmicas das cidades. A centralidade periférica na formação sócio espacial brasileira representada por Tefé expõe suas relações externas de maneira a valorizar o território em sua posição estratégica na borda territorial e manter a presença de serviços importantes para o Estado neste subespaço distante dos grandes centros. Este cenário propicia às cidades como Tefé exercerem, de uma maneira mais intensa, as ligações e atividades com centros distantes e mesmo assim continuarem sua gestão territorial contígua e pretérita que possui as hierarquias urbanas como base de suas relações.

A cidade de Carauari relaciona-se institucionalmente com Tefé apesar de estar sob a influência de Manaus assim como outras cidades do sul do Amazonas como Eirunepé, Itamarati e Lábrea localizadas fora da região de influência de Tefé e que utilizam os serviços do INSS em Tefé. Isto se observa nos fluxos e jurisdições territoriais de outras instituições como a Receita Federal e a Justiça Federal.

A vida econômica e social da população inserida nas cidades da hinterlândia tefeense tem sido influenciada pelo acesso destas cidades ao mercado externo via relações urbanas baseadas na informação e na tecnologia, influenciado e modernizando as operações mercantis e financeiras. Inserindo novas formas de realizar “trabalhos” vinculados às novas necessidades impostas pela modernidade que se articula via as funcionalidades de objetos perfeitos e técnicos do meio técnico-científico-informacional.

A presença dos fluxos virtuosos advindos das operações de transportes aéreos e fluviais modernos operantes na região de Tefé; dos empreendimentos comerciais com fins de exportação utilizando os recursos naturais disponíveis nos municípios; dos serviços dos profissionais liberais e principalmente os ligados à internet e às finanças, não obedecem integralmente a uma prerrogativa organizacional e política consistente que possam convergir às diretrizes e normas da economia global o que permitiu a livre ação do capital e das ações de agentes da globalização de “uma maneira mais frouxa” (SANTOS, 2001).

Carauari e Coari se apresentam como pontos verticalizados em que as ordens exógenas forçam os lugares a obediência via o poder do capital proporcionando a eclosão de outras pelejas e discordâncias entre estas forças externas e internas ao lugar. Desenvolve-se assim, “uma dialética entre a heterogeneidade do território e a tendência homogeneizadora do mercado que resulta numa hierarquização espacial” (SILVEIRA, 1999, p.166). A baixa capacidade de gerir objetos e técnicas estranhas ao local proporciona um baixo controle organizacional e administrativo; com funções mínimas a cidade é gerida por agentes distantes e contextualizada por uma modernização “feitichizada” vulnerável às atividades das empresas exploradoras que tendem a substituir os lugares a serem explorados. Isto acontece quando os recursos se esgotam ou seu capital se valoriza para permitir a aquisição de novos clusters de exploração petrolífera em outro local do globo. Carauari mostrou que somente os fluxos que construíram as infraestruturas e que promoveram a especulação da produção ainda inexistente promoveram um surto de crescimento e mesmo desenvolvimento relativo, uma integração relativizada. O poder do capital se mostra ágil quando bem gerido em suas circunstâncias políticas e sociais, os fluxos advindos de uma globalização relativizada caracterizados pela baixa densidade técnica e diminuta racionalidade capitalista inerente aos subespaços periféricos proporcionam uma solidariedade verticalizada frente à dinâmica de sistemas de engenharia que direcionam o funcionamento de objetos técnicos úteis à produção. Os aportes da globalização integram territórios ao sistema global obstruindo uma solidariedade horizontal da produção, ou seja, uma cooperação contígua dos resultados econômicos e sociais.

Sassen (1998, p.72) afirma que “aquelas cidades que são locais estratégicos na economia global tendem, em parte, a desconectar-se de sua região”, ou seja, estes sistemas e modelos econômicos impostos nas cidades não promovem integração territorial. A análise desta autora baseia-se em razão à globalização absoluta de espaços luminosos, cidades globais que se comunicam a partir das relações de seus agentes da globalização atuantes neste cenário.

No entanto, no cenário de uma globalização relativizada, a afirmação desta autora também se realiza, pois, a integração relativizada se direciona a partir de cidades que agem funcionalizando uma solidariedade verticalizada, beneficiando lugares e agentes distantes ao local, produzindo relações fragmentadoras e desvirtuosas ao desenvolvimento regional. Sendo assim, fluxos fragmentadores são desarticuladores dos setores produtivos entre cidades com economias escassas como as do Médio Solimões e pertencentes à hinterlândia tefeense. Desta forma, são negligenciadores de uma perspectiva de recrudescimento da economia e dos fluxos virtuosos que trazem o fermento da integração e da igualdade.

CONCLUSÃO

Discutir a integração territorial da região do Médio Solimões a partir de uma leitura de Tefé no Amazonas foi o objetivo deste artigo. A análise da centralidade operacionalizada pela dinâmica dos elementos espaciais que criam os fluxos e integram as cidades da hinterlândia tefeense a uma globalização relativizada permitiu a compreensão do papel de Tefé como um elo em uma integração relativizada ao meio técnico-científico-informacional.

A gênese e configuração da centralidade de Tefé no Médio Solimões resultaram de um longo período histórico marcado pela presença de diversos agentes, como missionários, exploradores, viajantes, cientistas e indígenas. Estes agentes contribuíram para que o movimento de mercadorias, pessoas, ideias e informações estruturado em função da posição de Tefé na rede de comunicação e transporte se tornasse um centro de atração e difusão de fluxos que compõem uma centralidade relevante na periferia amazônida.

Os processos pertinentes à valorização do território tefeense foram de âmbitos mundiais, nacionais e locais; diferentes escalas envolveram desde as atribuições da demarcação de limites do Tratado de Madri e Santo Idelfonso até as ações políticas que intensificaram uma dinâmica vinculada aos interesses nacionais e regionais, muitos dos quais submeteram o território a uma fragmentação. Contradições foram direcionadas, pois muitos destes municípios criados não possuíam estruturas suficientes para gerar sua autonomia econômica, inclusive Tefé, o município originário, se submetendo à ação conjunta do meio de produção regional disponível que promoveu a “autonomia integrada” das cidades do Médio Solimões. Este meio de produção se configura principalmente na circulação vinculada à massa salarial dos funcionários públicos, já que a coleta de drogas do sertão e demais recursos não trouxeram nenhum beneficio significante à autonomia econômica dos municípios no decorrer de suas histórias.

Evidenciou-se que os fluxos que compõem a centralidade tefeense configuram-se como os meios de produção mais relevantes para economia e autonomia da cidade. Uma particularidade do lugar, vinculada ao seu papel dinamizador na circulação na rede de transportes e comunicação do Médio Solimões, foi configurada, agindo como entroncamento comercial e exercendo uma polarização às cidades adaptadas a sobreviver com o escasso, com o distante, ao limitado e ao precário. Conclui-se que as funcionalidades da centralidade de Tefé a configuram como um centro de serviços, comércio e assistência institucional às populações deste subespaço amazônida.

Os fluxos tefeenses se atrelam aos fluxos emanados de agentes mundiais que adentram na região via os condicionantes do capitalismo contemporâneo, a globalização. Normas e ordens externas, advindas e organizadas por estes agentes detentores de uma racionalidade hegemônica, vinculada à rapidez e ao uso de objetos perfeitos que comandam principalmente as finanças e os serviços contemporâneos, funcionalizam setores operacionalizados pelos instrumentos do meio técnico-científico-informacional.

Tefé, o maior centro urbano de um subespaço letárgico, é um município submetido a uma modernização incompleta. As normas globais de produção e mercado impõem uma remodelação de seu papel administrativo e funcional como nó de rede de circulação no Médio Solimões. Validou-se a ideia que Tefé acumula as funções de cidade regional e intermediária confluindo tempos e divisões territoriais do trabalho distintas, espaço compartimentado com o objetivo de funcionalizar as ordens e normas que providenciam a valorização do território normado que viabiliza o estabelecimento de agentes relevantes à dinâmica econômica dos entes urbanos de sua região.

Deduz-se que as cidades da região de Tefé se configuram como lugares de “tempos esparsos”, em que os vetores pertinentes ao meio técnico-científico-informacional e à racionalidade hegemônica inerente à globalização se fazem presentes em menores proporções.

A integração territorial se realiza com a repercussão de atividades econômicas de um subespaço em outro; na região da Amazônia do Médio Solimões estas repercussões se apresentam como “flashes” de espaços luminosos que refletem nestes espaços escuros. Neste sentido, tecidos do meio geográfico contemporâneo que constroem uma modernização incompleta se irradiam atendendo a uma capacidade limitada de se adentrar no espaço, devido à condição das distâncias amazônicas, dos custos logísticos e da precariedade infraestrutural que propicia desempenhos limitados vinculados às funcionalidades de seus elementos espaciais. Isto promove fluxos deficientes, que criam obstáculos a seus objetivos primordiais, pois são limitados, incontínuos e por isso “fluxos incompletos”.

Conclui-se que Tefé age de maneira a integrar relativamente sua região, assumindo competências de uma cidade regional e de uma cidade intermediária em instâncias espaciais diferentes, pois absorve competências ambíguas devido aos desempenhos deficientes de sua rede de transportes e comunicações. Aspectos de uma integração relativizada que efetua sob os condicionantes da precariedade e insuficiência operacional de seus objetos e fluxos, isto é, uma dinâmica econômica e social submetida às limitações impostas por uma modernização incompleta.

Evidenciou-se que uma integração territorial limitada restrita ao processo da globalização e ao meio o meio técnico-científico-informacional é viabilizada por Tefé às cidades que compõem sua hinterlândia no Médio Solimões.

A análise da centralidade periférica de Tefé e da integração relativizada providenciou as bases para se compreender a existência de uma alteração da força e direção dos fluxos desta centralidade, influenciada pelos atalhos modernos da “tele ação” que permitem aos agentes da globalização se adentrar em qualquer mercado consumidor do globo e assim na sua parcela técnica da produção. Validou-se a ideia de um enfraquecimento da centralidade e das funções outrora exercidas por Tefé decorrente do acesso de outras cidades aos serviços e finanças inerentes à globalização. As relações destas cidades puderam se intensificar com a capital Manaus e também com outros centros urbanos distantes. Decorrente à acessibilidade aos serviços de redes de comunicações e transportes exercendo um papel paradoxal, pois também servem como obstáculos por serem funcionalizadas, em grande parte, de técnicas e objetos antigos e lentos promovendo de maneira incompleta os objetivos de relações que deveriam ser rápidas e benéficas aos interesses dos agentes distantes ávidos por expandir seus capitais.

Discutiu-se que a integração territorial relativizada se estabelece pelas dinâmicas econômicas e sociais de uma modernização incompleta e subsidiadas pelos elementos primordiais da globalização representadas pelas finanças e os serviços. Estes agentes analisados pertencem ao meio técnico-científico-informacional porque foram fundados como nós de eixos de produção e circulação de energia, no período dos transportes aéreos e das telecomunicações em tempo real. Configuram-se como agentes de inserção deste subespaço amazônida, via as operacionalidades empreendidas ao meio geográfico e ao capitalismo atual, integrando-o ao processo de globalização.

Pode-se concluir que Tefé, sede de instituições pertinentes aos serviços de telecomunicações e transportes, apesar de ter perdido a força de sua centralidade, amenizando os fluxos que outrora presidia, continua a exercer uma funcionalidade como centro de gestão do território. Isto proporciona àqueles que se dirigem a utilizar seus serviços institucionais e infraestruturas de saúde, educacionais, de transporte aéreo, das instituições financeiras, políticas e vinculadas à sociedade civil um abrigo frente à escassez destes agentes nas cidades na sua região de influência e no interior do estado.

Conclui-se, por conseguinte, que a posição geográfica de Tefé, distante 525 km de Manaus, ou seja, fora da região metropolitana da capital e inserida na periferia macrocéfala manauara, corrobora para seu papel dinamizador por intermédio de suas funcionalidades administrativo-institucionais. Assim como do uso de suas infraestruturas que permitem exercer e presidir a gestão territorial vinculada às atividades inerentes a de um nó de rede no Solimões. Um centro avançado de gestão territorial na borda amazônica.

À luz das perspectivas da ciência geográfica espera-se ter contribuído para o entendimento desta fração territorial que tem Tefé como maior centro urbano, por vezes esquecida e por muitos nem mesmo conhecida. Mas, que efetua um grande papel na gestão do território, na manutenção da soberania na borda amazônica e no reconhecimento de uma identidade cabocla que dentre as várias existentes nas “amazônias” foi construída pelas tradições, costumes e valores herdados do encontro de índios, brancos e negros que povoam o vale do “grande rio das Amazonas” no antigo e imponente rio Solimões.

REFERÊNCIAS

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SILVEIRA, Maria Laura. Um país, uma região: fim de século e modernidades na Argentina. São Paulo: FAPESP/LABOPLAN-USP, 1999.

VERÍSSIMO, Adalberto et al (orgs). Áreas Protegidas na Amazônia brasileira: avanços e desafios. Belém: Imazon; São Paulo: Instituto Socioambiental, 2011.

[1] Doutor em Geografia. Universidade do Estado do Amazonas.

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