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A Experiência de um Projeto Político Pedagógico a Partir do Princípio da Eficiência

RC: 8899
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CONTEÚDO

SILVA, Marcos Aurélio Alves da [1]

SILVA, Marcos Aurélio Alves da. A Experiência de um Projeto Político Pedagógico a Partir do Princípio da Eficiência. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 03. Ano 02, Vol. 01. pp 580-593, Junho de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Este artigo tem por objetivo discorrer, a partir da experiência do “Projeto Vida”, desenvolvido no Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia Sul, Brasília/DF, cujo objetivo e promover e ampliar o conhecimento dos alunos e das alunas, sobre a prática pedagógica coletiva na elaboração de projetos que levam em consideração o princípio da eficiência, estabelecido no Caput do Artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Será, ainda, abordado temas que fizeram parte do cenário histórico da gestão pública brasileira, do conceito de gestão democrática e suas alusões e possibilidades, inclusive, os resultados da gestão democrática existente no CEF/312 e do processo das discussões internas para a obtenção de resultados. A metodologia adotada constituiu de uma pesquisa de campo exploratória e qualitativa com procedimentos bibliográficos acerca do tema proposto. A realização do projeto se justificou, dentre outras razões, pela necessidade de superação da contradição existente entre o discurso e a prática pedagógica no campo da educação/administração. A implementação de uma gestão eficiente é atualmente o maior desafio das escolas públicas em todo o país, inclusive, no CEF/312.

Palavras-chave:  Políticas Públicas, Gestão Pública Educacional, Gestão Participativa, Coletividade, Humanização, Eficiência, Projetos Pedagógicos, Centro de Ensino Fundamental 312, Samambaia Sul.

INTRODUÇÃO

Discorrer sobre a prática pedagógica é uma tarefa que exige participação, percepção e sensibilidade. No âmbito da educação escolar esses três fatores são fundamentais e caminham juntos na perspectiva de construir uma gestão pautada na democracia e na atuação integrada de todos os profissionais. Para tanto, é preciso, diariamente, reconstruir valores individuais e coletivos para que os projetos pedagógicos possam alcançar seus objetivos.

Nessa perspectiva, o objetivo central deste artigo é compartilhar os resultados alcançados com a implementação do “Projeto Vida”, desenvolvido no Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia-Sul[2], Brasília/DF, no segundo semestre de 2016, que teve como foco a promoção e ampliação do conhecimento dos alunos e das alunas na realização de projetos que tinham relação direta ou indireta com os conteúdos ministrados em sala de aula, ou seja: o incentivo à pesquisa, a discussão e ampliação do conhecimento acerca da comunicação, dos meios de comunicação, das tecnologias e das implicações éticas que fundamentam a vida em sociedade.

No caso desse “Projeto Vida”, além de fortalecer valores e atitudes de toda equipe do CEF/312, proporcionou avanços no campo da educação coletiva que requer mais atenção e proporcionalidade devido as diferenças da coletividade. Se, por um lado, com esse projeto foi possível perceber resultados positivos, por outro, fica evidente que a fragmentação de atividades não possibilita a implementação de programas de cunho nacional no âmbito escolar.

Por isso, o trabalho em equipe é fundamental e requer preparo individual e coletivo no sentido de lidar com as diferenças sociais e problemas internos alcançados, principalmente, com o baixo orçamento. Não é diferente no CEF/312. Mesmo com o baixo orçamento, foi possível manter a integralidade e a co-gestão na execução do projeto, alcançando, assim, um planejamento pautado no princípio da eficiência, descrito no Caput do Artigo 37 da Constituição Federal de 1988.

A execução do planejamento desse projeto, além de prezar pela eficiência, teve início levando em consideração o Projeto Político Pedagógico – PPP[3] do CEF/312. Fator que possibilitou toda execução e análise crítica dos participantes ao mesmo tempo que reforçou a dimensão política integrativa. E é sobre essa dimensão integrativa que este artigo se deterá e se desenvolverá.

No campo da Arte-Educação, disciplina integrada ao projeto, detectou-se, também, que com base nesse planejamento prévio, outros princípios descritos na Constituição Federal de 1988 possibilitaram a igualdade de condições quanto ao acesso as discussões para a sua elaboração, a liberdade de aprender, o compartilhar do saber, a possibilidade de pesquisar e de construir um pluralismo de ideias. Portanto, buscou-se encontrar alternativas que fossem capazes de efetivar o projeto sem a elevação de gastos e com poucos materiais instrucionais que já estavam disponíveis no estoque da escola.

Como tema geral para as turmas do primeiro, segundo e terceiro segmento: “o ser humano, as tecnologias e a comunicação”, foi possível desenvolver a comunicação entre as turmas e, no caso das turmas do primeiro segmento, o tema específico foi: “artes visuais e comunicação: do contexto social a experiência visual; da percepção a sensibilização; da conscientização a comunicação da arte”.

Como bem evidencia Heloísa Luck (2005), “o ensino público no Brasil está experimentando transformações profundas”, ou seja, essa transformação só é possível acontecer quando toda equipe, mobilizada por um objetivo comum, consegue colocar em prática projetos – independentemente do orçamento -, mas que com práticas inovadoras e reinvenção de ideias por meio da coletividade, consegue-se a efetivação plena de ações e projetos. É a valorização da coletividade no desenvolvimento de ideias e na produção de educação, com ênfase na consagração dos Direitos Humanos.

Durante todo o processo  de desenvolvimento do “Projeto Vida”, foi possível observar uma gestão com essas características (co-gestão e integralidade) e que acompanhada com uma atenção baseada, por vezes, na relação inquietação/conduta, potencializou a relação entre profissionais e alunos e alunas, fortalecendo, assim, um olhar diferenciado sobre as demandas e, sobretudo, estreitando os vínculos solidários que permitem, efetivamente, a responsabilidade educacional que constitui a base para o desenvolvimento de qualquer projeto.

Assim, para cumprir com o objetivo central deste artigo (pesquisa), será possível refletir sobre a relevância dos princípios elencados no Caput do Artigo 37 da Constituição Federal de 1988 e dos princípios básicos que norteiam a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na consecução de projetos necessários para a plena execução da educação brasileira. E nesse caso, específico, da educação no CEF/312.

CAMINHOS DA GESTÃO EDUCACIONAL: LEMBRANÇAS DA ÉPOCA COLONIAL, DA ERA DE VARGAS E REFLEXÕES ATUAIS

No Brasil, o histórico da gestão não é nada favorável ao processo democrático de aprendizagem. Infelizmente, durante anos, a gestão educacional foi pautada por caminhos dolorosos desde a época colonial. Caminhos que não potencializavam a discussão das ideias no campo pedagógico, mas que detinham a seguinte lógica: corpo pedagógico, orientado por uma única direção; e sociedade, pautada por ideias nada integrativas.

Conforme destaca Leandro Rodrigues (2008), a base na educação colonial estava pautada na “formação integral do homem cristão”. Período que deteve um conjunto de estratégias visando o crescimento dos sujeitos, mas não como seres que também detinham o conhecimento sociocultural, mas como sujeitos que deveriam apenas executar as informações recebidas. E essa lógica compreendia a ministração dos princípios da filosofia e da teologia, começando pela ampliação da catequese e, um pouco mais tarde, com o ensino das primeiras letras para as camadas mais populares, ao contrário da elite que cresceram em ambientes educacionais favoráveis.

A partir desse período colonial, é possível analisar a complexidade histórica da gestão educacional no país que se complexifica, ainda mais, quando se verifica um modelo de formação distante dos debates atuais que existem. A formulação do planejamento e a integração de políticas públicas a época não apresentava o conhecimento de hoje, mas já existiam de forma razoável no sentido de dar ênfase ao trabalho desenvolvido pelos jesuítas.

Partindo dessa trajetória, que no fundo pouco valorizava os sujeitos em suas integralidades, é possível retomar a lógica da importância institucional que deve integrar todo o corpo pedagógico, bem como valorizar o papel que a democracia exerce junto à sociedade. E é nesse sentido que este artigo inicia sua discussão com base no projeto interno previsto no PPP do CEF/312, justamente por ter possibilitado o debate sobre as técnicas de organização institucional que podem ajudar a repensar a relação do desenvolvimento de projetos e as suas relações com os interesses da coletividade.

Para o educador Cipriano Carlos Luckes (2010), o ato de planejar é reforçar a importância institucional que “implica na escolha e, por isso, está assentado numa opção axiológica”, ou seja, mesmo sendo uma atividade de caráter meio, possibilita subsidiar todas as ações: sejam elas, pedagógicas ou administrativas. Ainda, para o educador, o ato de planejar “assenta em opções filosófico-políticas”, que possibilita a reflexão e que pode ocupar um lugar a nível macro como ou a nível micro, como no caso do CEF/312.

Sem essa expressão de valorização do planejamento que possibilita a integração, o “Projeto Vida” do CEF/312, poderia se desencadear em um processo de organização fardado ao fracasso como aconteceu com a administração dos jesuítas no período colonial. Assim, é possível continuar a discussão na perspectiva segundo a qual surgiram inúmeras disputas no decorrer dos anos em torno de discussões sobre o papel do Estado frente as políticas de educação e que a produção do conhecimento não se esgota na produção de ideias, veiculadas pela mídia ou pela própria comunidade local. Justamente porque as proposições podem surgir a partir de uma dimensão material, sobretudo quando levantadas nas práticas institucionais. Essas podem induzir a comportamentos participativos como no caso do “Projeto Vida”, desenvolvido no segundo semestre de 2016.

Saindo da lógica colonial e, entrando na década de 1930, período que Getúlio Vargas estava no poder, o planejamento surgiu como função específica de Estado burocrático. Entretanto, o planejamento ganhou notoriedade e relevância a partir do século XX, depois que o Estado passou a intervir na economia. E é nessa linha de relevância, que será possível analisar o “Projeto Vida”, integrante do PPP do CEF/312, e sua integração com as políticas públicas de hoje e com o contexto histórico do planejamento.

Não se pode ter ações tão distantes do contexto social, como no período colonial e, tão burocráticas, como no período de Vargas, mas que possam garantir por meio de ações, o desenvolvimento necessário para atingir uma consciência coletiva e melhorar os processos internos e ratificar um discurso intervencionalista. E nesse discurso intervencionista, feito pelo corpo diretivo do CEF/312, era evidenciado que não se deve ter e pensar no planejamento como algo finalizado, definitivo, mas acreditar que por meio de diferentes discursos, era possível buscar a estrutura mais adequada para aquela realidade do projeto.

Ainda, comparando o contexto histórico com o campo atual das unidades de educação, o planejamento se destaca no interior das escolas e, no caso do CEF/312, como ferramenta que possibilita a promoção, a integração e a racionalização do campo administrativo de uma escola intervencionista, coordenando todo o conjunto de atividades e articulando-as frente as metas estabelecidas no PPP.

Voltando ao contexto histórico de 1930, outro fator que se destaca é a chegada dos militares ao poder que implicou todo um processo de ressignificação político-econômica que amparava os governos nacionais desenvolvimentistas, que levantaram sua legitima atuação a partir do voto democrático, do grande apoio das camadas populares e do constante crescimento da economia, mas que ainda sim não valorizada de forma concreta a democracia necessária para a efetivação de projetos.

Os militares nesse arcabouço complexo passaram a reorganizar o pacto de forças nacionais populares, levando o Estado a analisar às ingerências de setores organizados, principalmente os de trabalhadores. Tudo isso, possibilitou manter a intervenção do Estado, valendo-se principalmente do planejamento como ferramenta primordial da máquina pública. E não foi diferente nas escolas públicas que se baseavam na burocracia administrativa para atingir os fins desejados e sem a participação da sociedade na escolha desses desejos, cuja execução das atividades era centralizadora e as decisões educacionais seguindo um padrão tecnocrático.

Mesmo nessas linhas de crescimento e contradições – Colonial versos Vargas -, que a função do gestor no âmbito educacional ganha notoriedade e destaque à medida que a sociedade passa a compreender o seu papel de destaque frente as políticas públicas, cobrando cada vez mais pelo princípio da eficiência na implementação de projetos, porém com uma participação mais ativa de pessoas e grupos da sociedade.

No caso do “Projeto Vida”, além de ter possibilitado uma ampla participação do corpo pedagógico no seu desenvolvimento, possibilitou a participação ativa dos alunos e das alunas. Modos de organização institucional que reforçou a ideia de continuidade da integralidade em outros projetos, bem como aliado ao processo de formação dos profissionais da escola. Campos que são fundamentais a fim de garantir o direito constitucional de participação, justamente por viabilizar uma educação digna para a comunidade local.

É por esses fatores que se torna necessário contextualizar e fazer essas comparações que podem levar a humanização das relações estabelecidas nas instituições escolares por meio da educação, ou seja, tornando cada vez mais próxima a relação educacional interna com os aspectos mais relevantes da comunidade local, melhorando os serviços e consequentemente ampliando a produção de projetos. Vale enfatizar que essa humanização não é no sentido de filantropia, mas de ressignificação de valores que podem agregar no próprio processo de construção de ideias.

GESTÃO DO CEF/312

Partindo, agora, pela lógica da prática educacional diária, é possível extrair tanto do período Colonial, quanto do período de Vargas, elementos que hoje fazem parte do processo pedagógico do CEF/312. Primeiro, a lógica de valorização do sujeito, existente no período Colonial, mas compreendo que, hoje, essa valorização parte da real integralidade e respeito as diferenças; e segundo, do planejamento, identificado no período de Vargas, e existente no CEF/312 não de forma engessada, mas como ferramenta que democrática que possibilita atingir objetivos e metas.

Cabe destacar, que durante a realização desta pesquisa, ficou evidente que o CEF/312 oferece atividades e projetos integrativos e que permanecem como objetos de intervenção do saber coletivo. Evidencia-se, ainda, que por essa pesquisa ter sido realizada no segundo semestre de 2016, a partir do “Projeto Vida”, à época, o CEF/312 contava com um corpo pedagógico de noventa e sete profissionais, entre professores e professoras (tanto na ativa quanto readaptados), membros da direção, supervisores pedagógicos, coordenadores, orientadores e assistentes[4].

Quanto ao corpo discente, são oitocentos e oitenta e cinco alunos, nos anos finais do ensino fundamental, sendo: quatrocentos e trinta e quatro no turno matutino (com turmas do 6º e 8ª anos); trinta e dois no ensino especial; quatrocentos e cinquenta e um no turno vespertino (com turmas do 7º e 8º anos); e seiscentos e sessenta e dois no noturno (educação de jovens e adultos – terceiro segmento)[5].

No caso da estrutura física, o CEF/312 possui espaços que possibilitam a implementação de projetos pedagógicos e adequados para atender toda a comunidade escolar sendo: dezessete salas de aulas; duas salas para atender o ensino especial – com materiais adequados; três salas para atividades da escola integral; uma secretaria; uma sala de orientação educacional – para atendimento de alunos e alunas; uma sala de professores, contendo uma copa e dois banheiros; uma sala de direção, contemplando uma antessala para atendimento preliminar de alunos, alunas, pais e responsáveis; uma sala de supervisão pedagógica; uma sala de leitura para os alunos e alunas; uma sala multimídia; uma biblioteca com amplo material pedagógico; uma sala de apoio administrativo; dois banheiros para atendimento dos alunos e das alunas; uma cozinha de escola; espaço destinado ao teatro; duas quadras de esporte.

E nessa conjuntura entre projetos pedagógicos e estrutura física que o princípio da eficiência, descrito no Caput da Constituição Federal de 1988, esteve presente durante a realização do “Projeto Vida” e continua presente institucionalmente, ou seja, eficiência com humanização do atendimento. Atendimento que oferece qualidade e reforça outros princípios articulando com os avanços da tecnologia.

No caso do “Projeto Vida”, essa tecnologia foi favorável no sentido de possibilitar que professores e alunos desenvolvessem suas ideias contando com recursos instrucionais, melhorando o ambiente onde foram realizadas as atividades. Portanto, para a construção de qualquer projeto, o princípio da eficiência deve ser visto como uma dimensão fundamental, não podendo ser esquecido ou apenas lembrando em momentos específicos, mas durante a construção de qualquer ideia, devendo ser aplicado aos demais projetos.

Nas próprias reuniões que antecederam a realização do “Projeto Vida”, que contaram com professores, professoras, alunos e alunas, tomou-se o cuidado de não deixar de lado o princípio da eficiência, o que poderia, dependendo da situação, prevalecer a efetivação de uma burocracia sem se atentar pela integralidade. Mas o corpo diretivo do CEF/312 com foco na necessidade de desenvolver um projeto integrativo, traduziu em ações concretas com os objetivos do PPP, caracterizando uma construção solida na democracia.

Essa gestão democrática do CEF/312, como bem articula Heloísa Luck (2005), é importante ver a gestão como “um processo de mobilização de competência e da energia de pessoas”, ou seja, nessa linha, foi possível entender que a gestão do CEF/312 organiza a estrutura física a partir dos princípios da Administração Pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), além de promover uma participação de todos os atores envolvidos no desenvolvimento organizacional, focando em uma busca contínua pela integralidade. Substituindo o autoritarismo presente à época de Vargas, pelo envolvimento do corpo pedagógico e comunidade local, refletindo, assim, em uma escola integrativa, com qualidade e planejamento contínuo.

A CONCEITUAÇÃO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA E SUA APLICAÇÃO NO CEF/312

Além dos princípios elencados no Caput do Artigo 37 da Constituição Federal, evidentes na gestão do CEF/312, é fundamental apresentar nesta pesquisa o conceito de gestão democrática, como ferramenta necessária para o desenvolvimento de qualquer projeto e que esteve presente durante a elaboração do “Projeto Vida”, na organização institucional e na própria atuação do corpo diretivo. Para Roseli Lopes de Paula (2016), como a “própria palavra se apresenta; a gestão democrática promove a redistribuição de responsabilidades”, ou seja, compreende-se um trabalho realizado a partir do coletivo.

Outro conceito importante, segundo a visão de Sofia Lerche Ieira (2008), e que reforça a construção desse artigo, é que a “gestão é uma forma de gerir uma instituição de maneira que possibilite a participação, transparência e democracia”, base para qualquer modelo de gestão e que representa um patamar importante ao mesmo tempo que um desafio. E não foi diferente no CEF/312. Um desafio constante.

Essa constância no CEF/312, como prática diária, possibilitou a compreensão que deve permear, cada vez mais, na elaboração de projetos futuros. Como foi compartilhada as responsabilidades, deve, necessariamente, reforçar os princípios e formas de concretizar no conjunto das ideias e das relações. Nesse conjunto, o planejamento, os mecanismos de discussão, as formas de implementação de projetos e avaliação de resultados, podem contribuir para a realização de saberes e produção de educação.

É fato que esse processo de produção de educação requer uma gestão democrática, tornando-se na área educacional o motivo mais relevante e, consequentemente, presente nas reflexões diárias, dando ênfase nos princípios estabelecidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Artigo 3º, inciso VIII. Além disso, a próprio PPP é necessário para a estruturação de uma proposta educacional pautada nos processos democráticos.

Ademais, é nesse fator democrático que a ressignificação de ideias deve se fazer presente a fim de: potencializar a troca de saberes, fortalecer o compartilhamento de responsabilidades que é traduzido na mudança cultural de valores individuais e coletivos. É acreditar no diálogo da educação como valor de uso diário e manter o padrão de excelência no atendimento da comunidade.

O PROJETO VIDA

No decorrer dessa pesquisa, foi fundamental tomar como ponto de partida um projeto que possibilitasse o reconhecimento dos princípios da Administração Pública ao mesmo tempo que reforçasse a educação como valor de uso diário e padrão na integração do corpo pedagógico e comunidade. Portanto, o CEF/312 na elaboração do “Projeto Vida”, que teve como objetivo promover a ampliação do conhecimento dos alunos e das alunas, o corpo pedagógico abraçou a iniciativa a partir dos princípios presentes na gestão democrática, que acumula estratégias significativas.

O projeto vida foi desenvolvido no segundo semestre de 2016, com a participação de todas as turmas do noturno, totalizando quinze. Na elaboração, cada turma, foi dividida em grupos, que, por sua vez, ficaram encarregados de rascunhar um projeto base que dialogasse com as disciplinas de arte, de biologia, de educação física, de filosofia, de física, de geografia, de história, de língua estrangeira moderna, de matemática, de português, de química, e de sociologia.

A escolha do tema de cada turma foi feito por sorteio. Cada turma teve que desenvolver um projeto interdisciplinar sobre o tema sorteado e apresentá-lo ao final para todo o corpo pedagógico. Para cada turma, havia um professor ou uma professora (ambos escolhidos pela turma) responsáveis por orientar, auxiliar e monitorar os alunos e as alunas que estivessem encarregados e encarregadas de desenvolvê-lo.

Além desse processo, os projetos apresentados foram avaliados pelos professores e pelas professoras que não estavam envolvidos diretamente na elaboração dos projetos, o que possibilitou garantir transparência e impessoalidade na avaliação final, tendo como critérios: criatividade no desenvolvimento do tema; coerência do tema com a disciplina; apresentação do projeto; organização da equipe no momento da apresentação; e interação professores/alunos e alunas na realização do projeto.

Nesse sentido, destaca-se no “Projeto Vida” a troca de saberes e o constante diálogo entre as equipes. E aqui, vale reforçar, quanto a organização da infraestrutura, que a equipe não esteve presente somente em momentos específicos, mas durante toda a produção, ou seja, produzindo grupalidade, coletividade, e levando em conta os desejos individuais e coletivos.

Destaca-se que o fator economicidade esteve presente durante todas as discussões, inclusive, foi reforçado pela equipe de coordenadores do “Projeto Vida” sobre a importância de elaborar os projetos pautados na sustentabilidade, respeitando o meio ambiente e os espaços internos do CEF/312. Foi explicado para os alunos e para as alunas que a economicidade estaria ligada diretamente nos modos de produzir ideias a partir do concreto, ou seja, levando-se em considerando o baixo orçamento da escola e a relevância de se utilizar materiais que já haviam sobrados de outros projetos.

Esse raciocínio da economicidade foi prontamente respeitado por todo o corpo pedagógico e, como bem discorre Regis Fernandes de Horvath Oliveira (1990), “a economicidade diz respeito a se saber se foi obtida a melhor proposta para a efetuação de despesa pública, isto é, se o caminho perseguido foi o melhor e mais amplo, para chegar-se à despesa e se ela se fez com modicidade, dentro da equação custo-benefício”. Tratou-se, portanto, de garantir melhores resultados focando em um baixo custo e na participação de todos considerando o cenário econômico do CEF/312.

E com isso, o projeto teve a capacidade de transformar ideias em resultados e garantir ao mesmo tempo, que os direitos individuais e coletivos fossem respeitados, construindo, assim, sentidos e desafios de estar diariamente, promovendo e ampliando as diretrizes de educação com economicidade e eficiência no processo de aprendizagem.

Durante a realização do projeto foram utilizados espaços como o pátio da escola, para a exposição dos trabalhos, a fim de que todo o corpo pedagógico fruísse das ideias, além do auditório, para as apresentações orais, tais como seminários, debates, exposições, entre outros. Foram, também, utilizados materiais instrucionais como fitas adesivas, cola, tesoura, papel ofício, cartolina e TNT. Trata-se, então, de valorizar a produção da educação e de um novo formato de intervenção coletiva. É o princípio da eficiência como estratégia para alcançar resultados.

A DISCIPLINA DE ARTE-EDUCAÇÃO NO PROJETO VIDA

Na execução do “Projeto Vida”, a arte ganhou um papel de destaque. Por meio da intervenção do professor de arte-educação[6], responsável pela disciplina, foi possível desenvolver, a partir do tema “artes visuais e comunicação: do contexto social a experiência visual; da percepção a sensibilização; da conscientização a comunicação da arte”, a reprodução de uma cela individual de presídio[7], uma vez que estava em discussão à época, a redução da maioridade penal.

A ideia de reproduzir uma cela contou com a colaboração de todos os alunos e de todas as alunas, que além de terem participado da própria construção do projeto, em sala de aula, se mobilizaram para elaborar e aplicar uma pesquisa de campo que levantasse dados quanto a aceitação ou não aceitação da referida redução da maioridade. A pesquisa foi aplicada para todo o corpo pedagógico do CEF/312 e apresentada para toda a escola.

Durante a realização do projeto, aplicou-se os princípios da Administração Pública e reforçou a relevância de se elaborar um projeto participativo a partir da integralidade de todos e que tivesse como norte o planejamento. Na elaboração do projeto, foram utilizados dados estatísticos extraídos do portal eletrônico do Ministério da Justiça, o qual reforçou as mazelas dos presídios brasileiros.

E durante o desenvolvimento, foi possível perceber que a gestão quando democrática pode garantir melhores resultados e uma melhor aceitação de todos os participantes.  É mais um reforço que no processo de gestão democrática, o planejamento é fundamental para atingir os objetivos e metas, bem como alcançar uma discussão ampla pautada no campo da ética.

Na estética trazida no projeto de arte, possibilitou a reflexão das normas que regulam a vida, das diretrizes que podem levar o ser humano a crescer como sujeito que respeita as normas e repensar sobre as políticas e programas governamentais.

OS DESAFIOS DE UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA DE SUCESSO

Pode parecer um desafio simples: desenvolver um projeto a curto prazo, como o “Projeto Vida”, que foi apresentado no segundo semestre de 2016, porém, requer uma gestão atenta as transformações sociais. A longo prazo, a construção coletiva deve permanecer, sendo necessário reavaliar a cada semestre o currículo pedagógico, bem como as diretrizes e princípios que estão envolvidos. Dar atenção a valores que advém de uma proposta pedagógica democrática.

No caso do CEF/312, essa proposta foi integrativa, além de ter sido pautada na realidade local diária, reforçou que o PPP sofre transformações contínuas, assim como a gestão democrática que vem desde a década de 90 sofrendo transformações significativas.

Portanto, dar continuidade em um projeto que demonstrou resultados positivos, impõe da gestão do CEF/312, um ambiente organizacional desenvolvido a partir da coletividade, respeitando todas as diferenças e, principalmente, as deliberações do Conselho Escolar, órgão que auxilia a direção na tomada de decisões e na gestão dos recursos financeiros.

Vale, também, mapear durante todo o semestre, independente do projeto, ideias que possam ser multiplicadas, internamente, promovendo o intercâmbio de saberes. Toda coletividade, implica justamente o processo de troca, de interferência, de discussões. Uma coletividade que venha promover educação. No caso do “Projeto Vida”, reforçou essas ideias.

CONCLUSÃO

Ter como gancho o “Projeto Vida”, reforçou que é possível implementar os princípios da Administração Pública reforçando valores e ressignificando ideias. Uma proposta simples que formada a partir da coletividade complexa, demonstrou bons resultados com a participação de todos.

Nessa coletividade que busca a eficiência respeitando posições individuais, todos e todas: diretora, vice-diretora, professores, professoras, trabalhadores da educação, alunos e alunas, reforçaram a lógica da democracia. É o olhar de cada um e de cada uma frente a um objetivo maior que é promover educação e preservar a história de vida que é construída no ambiente institucional.

Em um momento, que o CEF/312 assume seu papel de instituição acolhedora em prol de projetos integrativos, educar, requer uma forte atuação como estratégia lógica de seu pleno funcionamento, contribuindo para uma melhor qualificação individual dos participantes e valorizando o campo educacional. Foi o que resultou do “Projeto Vida”.

REFERÊNCIAS

Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia Sul, Brasília, Distrito Federal. Projeto Político Pedagógico do CEF/312. Disponível em: < http://ptdocz.com/doc/430036/ppp–cef-32—sumtec—governo-do-distrito-federal >. Acesso em 02 jan. 2016.

IEIRA, Sofia Lerche. Educação básica: política e gestão da escola. Fortaleza: Liber Livro, 2008.

LUCKESSI, Cipriano Carlos. Planejamento e Avaliação na Escola: articulação e necessária determinação ideológica. Disponível: <  http://www.luckesi.com.br/textos/art_avaliacao/art_avaliacao_entrev_paulo_camargo2005.pdf >. Acesso em: 08/12/2016

LUCK, Heloísa. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2005.

PAULA, Roseli Lopes de. Gestão escolar democrática: desafio para o gestor do século XXI. Revista Eletrônica Latu Sensu-Ano3, Nº 1. Disponível em: < http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Gest%C3%A3o-Escolar-Democr%C3%A1tica-Uma-Meta-Para/333835.html >. Acesso em: 04/10/2016

RODRIGUES, Leandro. História da Administração Educacional no Brasil. Da Colônia à República Velha. Disponível em: < http://www.webartigos.com/articles/11234/1/Historia-da-Administracao-Educacional-no-Brasil-Da-Colonia-a-Republica-Velha/pagina1.html>. Acesso em: 05/10/2016.

OLIVEIRA, Régis Fernandes de HORVATH. Manual de Direito Financeiro. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1990.

2. O CEF/312 está localizado na QS 312, Conjunto 05, Lote 01, Samambaia Sul, CEP 72.308/500. Composição da Equipe Gestora, Pedagógica e Administrativa: Diretora, Professora Maria Elizabete Ferreira, Vice-Diretora, Professora Alexandra Carla R. Silva.

3. O PPP do CEF/312 é um instrumento que proporciona o corpo diretivo traçar estratégias de atuação com o intuito de melhorar o desempenho institucional e, também, dos estudantes.

4. Informações obtidas por meio do PPP do CEF/312 (2016)

5. Dados que constam, também, no PPP do CEF/312 (2016)

6. Marcos Aurélio Alves da Silva, professor temporário de Arte-Educação da Secretaria de Estado de Educação do Governo do Distrito Federal.

7. A cela foi construída na sala de aula pela Turma “E” do Primeiro Segmento, Noturno, onde os alunos e as alunas utilizaram elementos recicláveis, bem como, seguiram, fielmente, as diretrizes da Lei de Execução Penal – LEP, que determina que cada condenado seja submetido a isolamento em cela individual que contenha 6m2 e condições de salubridade.

[1] Possui graduação em Educação Artística pela Universidade de Brasília, trabalha no serviço público federal desde 2000 na implementação e formulação de políticas públicas, inicialmente no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (1999 a 2000); Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde (2000 a 2004); Política Nacional de Humanização da Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde (2004 a 2006); Departamento Nacional de Atenção Básica do Ministério da Saúde (2006 a 2008); Escola Nacional de Administração Pública – ENAP (2008 a 2010) e na Secretaria-Executiva da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (2010 a 2013); e Professor Temporário da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal desde 2014.

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Marcos Aurélio Alves Da Silva

Uma resposta

  1. Excelente artigo. Parabéns professor. Realmente é gratificante saber que tem escolas (ainda) no DF que valorizam o processo pedagógico do aprendizado e, principalmente, o processo democrático das decisões. Infelizmente não é assim na minha escola – a gestão deixa muito a desejar, mas vamos seguindo acreditando em mudanças. Parabéns!

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