OLIVEIRA, Irabel Lago de [1]
OLIVEIRA, Irabel Lago de. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Século XXI: Diversas Formas de Aprender e Ensinar ao Longo da Vida. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 04, Vol. 02, pp. 34-45, Abril de 2018. ISSN:2448-0959
Introdução
Aprendizagem é o meio pelo qual o indivíduo pode desenvolver suas capacidades, habilidades e competências, tornando-a significativa ao se transformar e se modificar.
Ao longo de décadas as formas de aprender têm sido analisadas e discutidas por inúmeros estudiosos. Hoje é possível fragmentar essas técnicas de aprendizagens em duas linhas de estudo: os teóricos comportamentais, conhecidos como behavioristas, e os teóricos cognitivistas, chamados de interacionistas.
Os teóricos comportamentais, como Skinner (1904-1990), acreditam que a aprendizagem é resultante de fatores externos, estímulos ambientais ou reforços, ou seja, quando as observações ao mundo externo causam mudanças no comportamento do indivíduo. Há uma resposta ao estímulo recebido, por isso a teoria é conhecida como estímulo-resposta. Conforme Lakomy (2008, p. 24), para que a aprendizagem aconteça, a teoria comportamental considera os seguintes fatores:
– A capacidade do aluno de elaborar associações condicionadas por meio de estímulos e respostas na aquisição de um novo comportamento;
– A lei do exercício ou da prática, ou seja, a constância dos exercícios e da prática com o objetivo de reforçar a aprendizagem;
– A importância da motivação relacionada com a recompensa positiva (elogio verbal ou escrito pelo professor), que estimula a aprendizagem, ou a punição (advertência verbal ou escrita), que enfraquece o comportamento ou resposta não desejada;
– A relevância de estabelecer similaridade entre os problemas resolvidos, bem como repetição para favorecer o insight e a transferência de aprendizagem.
As teorias cognitivas estão embasadas nos conceitos pesquisados e apresentados pelos estudiosos Jean Piaget (1896-1990) e Lev Vygotsky (1886-1934). Conforme Lakomy (2008), elementos como a maturação biológica, o conhecimento prévio, o desenvolvimento da linguagem, o processo de interação social e a descoberta da afetividade são primordiais para aquisição da aprendizagem. Durante o processo de aprendizagem, opondo-se à teoria behaviorista, os aprendizes são seus próprios agentes, que constroem novos conhecimentos ao interagir com os ambientes externos e internos, usarem suas experiências passadas, buscarem e reorganizarem informações, refletirem e tomarem decisões.
Lakomy (2008) cita quatro fatores na teoria Piagetiana causadores do desenvolvimento cognitivo na criança. Contudo, é importante salientar que, apesar de Jean Piaget ter se preocupado como era originado o conhecimento humano (construtivismo psicogenético), e não educacional, seus trabalhos muito cooperaram e continuam cooperando para a análise e estudo de ideias e estratégias de ensino no espaço escolar:
– O fator biológico, em particular o crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso, ou seja, um indivíduo só pode apreender um determinado conhecimento se estiver intelectualmente maturo e, assim, preparado para recebê-lo;
– Os exercícios e as experiências adquiridas na ação da criança sobre os objetos;
– As interações sociais que ocorrem por meio da linguagem e da educação;
– O fator de equilibração das ações que estimula a criança a encontrar respostas para novos problemas – situação que gera, primeiramente, uma situação de desequilíbrio quando cabe a criança incorporar aquilo que lhe é novo – processo de assimilação -, seguido pela busca de equilíbrio, que é obtido quando a resposta certa é incorporada a sua estrutura interna – processo de acomodação. (LAKOMY, 2008, p. 30).
Para Vygotsky, o contexto social e o desenvolvimento cognitivo humano são inseparáveis no processo de aprender. Assim, sua teoria é conhecida como sociointeracionista. Faz-se necessário observar que Vygoksty enfatiza as contribuições da cultura, da interação social e da linguagem e, por outro lado, Piaget evidencia os processos estruturais e biológicos no desenvolvimento cognitivo humano. Contudo, ambos contribuíram intensamente e suas pesquisas permanecem valiosas nas investigações e questões constantes para a percepção do processo de aquisição do conhecimento.
Sob a influência de Piaget e Vygotsky, vários estudiosos desenvolveram o método de ensino-aprendizagem chamado construtivismo. Sendo o conhecimento algo inacabado, a abordagem construtivista defende que o indivíduo participa da construção do seu conhecimento interagindo com o seu mundo físico e social, um processo constante e diário. A aprendizagem acontece quando o aluno modifica não apenas aquilo que já possuía, mas quando também se apodera do novo, interpretando-o e inserindo-o ao seu mundo. Lakomy (2008, p. 45) afirma que no construtivismo “o indivíduo aprende quando consegue apreender um conteúdo e formular uma representação pessoal de um objeto da realidade”.
A autora cita ainda alguns dos pressupostos da abordagem construtivista, como: aprender não é o resultado do desenvolvimento, mas é o desenvolvimento cognitivo ou aquisição de conhecimento; o desequilíbrio facilita a aprendizagem, assim os “erros” dos alunos precisam ser percebidos como resultado de suas percepções, não devendo ser ignorados; o raciocínio abstrato é a força motora da aprendizagem, ou seja, estamos sempre buscando organizar e generalizar experiências ou conhecimentos por meio de representações simbólicas; e a sala de aula deve ser vista como uma comunidade educativa engajada em atividades de discussão, reflexão e tomada de decisões, pois a comunicação entre os elementos do processo educativo estimula o pensamento. É tendo como base esses pressupostos que uma escola deve construir os seus objetivos para a adoção do construtivismo.
Para Knowels (1980 apud CANÁRIO, 2013, p. 55), “Ensinar, como praticar a medicina, é em sua maior parte, uma questão de cooperar com a natureza das pessoas”. Na pedagogia clássica e tradicionalista, o aprendizado era de total responsabilidade do professor; ele era o detentor do saber e, por isso, o ensino e a aprendizagem eram considerados dependentes um do outro. Segundo Sacristán e Pérez Gomes (2000, p. 87), professor da Universidade de Málaga, na Espanha,
[…] os sistemas escolares que temos hoje são do século XIX, adaptados às exigências de uma sociedade que não tem nenhuma relação com a atual. A aprendizagem exigida hoje é de ordem superior, e a escola que temos é dedicada a transmitir informação e pedir que os alunos acumulem, retenham e reproduzam informação.
Dessa forma, diante da globalização, as exigências do mercado de trabalho e a permanente competitividade criada pelo mundo tecnológico, a formação continuada e o ensinar e aprender tornaram-se elementos primordiais de sobrevivência na sociedade moderna. Além do fato de essa sociedade exigir pessoas com uma formação crítica, autônoma, ativa, reflexiva e com competências desenvolvidas, prontas para serem colocadas em prática. Obviamente, esse novo contexto desencadeou a busca por novas abordagens para ensinar e aprender, tanto para a geração adulta como para aquela que já nasce em uma era completamente tecnológica.
Portanto, diante da necessidade de novas abordagens educacionais no século XXI, urge apreender que o professor não é mais o único detentor do conhecimento, seu papel agora deve ser o de um facilitador e mediador da aprendizagem. Sacristán e Pérez Gomes (2000, p. 62) afirmam ainda que “O mais importante é a pedagogia” e cita como exemplo a necessidade do pesquisador (educador) focar no desenvolvimento de competências. Então, à frente dos imensuráveis desafios da sociedade contemporânea, a abordagem pedagógica escolhida para novas formas de aprendizagem precisa levar o indivíduo até as suas competências de resolver problemas, tomar decisões, ter ideias, pensar, criticar, agir e ter uma mente autônoma diante da complexidade do mundo moderno. Assim, a educação possibilitará ao indivíduo descobrir seu potencial, desenvolver suas habilidades, confirmar e usar suas competências adquiridas na educação extra-escolar e na própria vida, seguindo também para uma condição técnica e profissional mais qualificada.
Pedagogia X Andragogia
De acordo com o conceito da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO (2009), a alfabetização é a habilidade para identificar, entender, interpretar, criar, calcular e se comunicar mediante o uso de materiais escritos vinculados a diferentes contextos. Assim, ser alfabetizado não representa apenas dominar o básico da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Nos tempos atuais, aprendizagem contínua em todas as fases da vida é essencial para enfrentar os desafios do século XXI, da sociedade e do mundo do trabalho. É preciso lembrar sempre que um dos seus maiores desafios é continuar a formação cidadã para um mundo em constante transformação.
A Pedagogia é considerada a arte de ensinar crianças e jovens, seguindo um modelo no qual a proposta educacional é centrada no professor como o único detentor do conhecimento, os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, a aprendizagem é mecânica e baseada em memorizações. Nesse modelo tradicional prevalece uma educação formal e acrítica, na qual o aprendente tem um completo papel de submissão.
O grande educador e filósofo Paulo Freire (1972) acreditava em uma pedagogia libertadora e crítica, dentro da qual defendia uma nova forma de relacionamento entre professores, estudantes e sociedade, pois assim seria possível alcançar uma educação para a decisão e responsabilidade social e política. Para Freire (1972), o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado, escrito e reescrito.
O termo Andragogia, segundo Canário (2013), foi introduzido nas ciências educacionais na década de 1960 por Knowles (1980 apud CANÁRIO, 2013). Desde então as discussões em torno das teorias e ideias sobre a educação de adultos são embasadas nas concepções andragógicas. Segundo Lesne e Minvielle (1990 apud CANÁRIO, 2013), naquela época percebia-se necessário ter o perfil pessoal dos adultos para que, assim, conhecendo suas especificidades, planejasse as ações educativas de forma também específica.
Canário (2013) apresenta uma oposição entre a pedagogia e a andragogia na visão de alguns críticos da educação. Há uma discussão estabelecendo um antagonismo entre a pedagogia e a andragogia, de forma positiva para a andragogia e negativa para a pedagogia. Contudo, o autor cita a visão de Knowels (1980 apud CANÁRIO, 2013), na qual admite que o modelo pedagógico constitui uma parte do modelo andragógico: “[…] o modelo pedagógico é um modelo ideológico que exlclui todas as hipóteses andragógicas, enquanto que o modelo andragógico é um sistema de hipóteses que compreende as hipóteses pedagógicas.” (KNOWLES, 1980 apud CANÁRIO, 2013, p. 67).
De Aquino (2007 apud CARVALHO; CARVALHO, 2010, p. 83), sobre esse antagonismo, afirma que:
A grande discussão hoje existente nos meios universitários e de educação continuada é se a pedagogia é uma forma adequada para o ensino e aprendizagem de adultos ou se a andragogia, uma abordagem que considera a postura crítica e a necessidade da experimentação, seria capaz de trazer resultados melhores para esse grupo particular de aprendizes.
Nosso entendimento é de que existe um contínuo, no qual a pedagogia, também conhecida com aprendizagem direcionada, posiciona-se em uma extremidade, enquanto a andragogia (aprendizagem facilitada) encontra-se em outra. De modo a se ter eficácia e eficiência no processo de aprendizagem, é necessário que professores e organizações educacionais sejam capazes de se mover ao longo desse intervalo e encontrar a combinação correta entre as duas abordagens.
É possível, por meio da Tabela 1, (anexa) analisar os traços específicos das duas abordagens, tanto da Pedagogia como da Andragogia, percebendo que uma pode completar a outra ou ser utilizada, conforme a situação, uma progressão, sem antagonismo.
Tabela 1 – Design: Pedagogy X Andragogy
PEDAGOGY | ANDRAGOGY | |
Climate | Researcher-oriented, formal, competitive | Mutuality, respectful, collaborative, informal |
Planning | By teacher | Mechanism for mutual planning |
Diagnosis of Needs | Biological development, social pressure by teacher | Mutual self-diagnosis |
Formulation of Objectives | Postponed application by teacher | Mutual negotiation |
Design | Logic of the subject matter; content units | Sequenced in terms of readiness; problem units |
Activities | Transmittal techniques | Experiential techniques (inquiry) |
Evaluation | Subject-centered by teacher | Mutual re-diagnosis of needs; mutual measurement of program |
Fonte: Knowles (1984 apud EBERLE; CHILDRESS, 2007).
Heutagogia
A heutagogia parece estar além da pedagogia e da andragogia, talvez um avanço de ambas as formas de aprender diante de um mundo informatizado, oferecendo informações instantâneas e com muito fácil acesso. Essa abordagem propõe uma autoaprendizagem direcionada e flexível, respeitando a forma de aprender do indivíduo. Knowles (1970 apud HASE; KENYON, 2000, p. 8) definiu autoaprendizagem como:
O processo no qual os indivíduos tomam a iniciativa, com ou sem a ajuda de outros, para o diagnóstico de suas necessidades de aprendizagem, formulando metas de aprendizagem, identificando os recursos humanos e materiais para a aprendizagem, a escolha e implementação de estratégias de aprendizagem e avaliação dos resultados de aprendizagem.
Nesse modelo educacional, embasado em muita flexibilidade, o professor fornece recursos, contudo é o aluno que define o que e como a aprendizagem deve ocorrer, além de selecionar aquilo que realmente seja relevante para a sua aprendizagem. Para Hase e Kenyon (2000, p. 57), a heutagogia “aborda questões sobre a adaptação humana à medida que entramos no novo milênio”. Esses autores afirmam ainda que os professores devem centrar-se também na capacidade do aluno em adquirir conhecimentos, e não focar apenas na transmissão de conteúdos disciplinares, ou seja, pensar mais sobre o processo do que sobre o conteúdo, dando oportundiade ao aluno de enxergar seu mundo sob sua ótica, ao invés de destacar apenas o mundo do professor. E permitir que esses indivíduos sejam proativos envolvidos em todo o seu processo de aprendizagem, tornando-se cidadãos plenos.
A abordagem heutagogical surgiu com o uso da internet para a realização de cursos, entretanto suas técnicas podem e devem ser aplicadas em qualquer espaço educacional, já que proprocionam um desenvolvimento da capacidade para a aprendizagem ao longo da vida. A Tabela 2 compara o aprendizado tradicional e heutagogical.
Tabela 2 – Comparison of traditional and heutagogical learning
TRADITIONAL CLASSROOM | HEUTAGOGICAL LEARNING ENVIRONMENT | |
Student Role | Share information | Self-determined learning |
Teacher Role | Present information; Manage classroom | Empowers student learning and provides resources |
Content | Basic literacy with higher-level skills building on lower-level skills | Meaningful, purposeful learning experiences which are relevant to learners’ needs |
Curriculum Characteristics | Breadth Fact retention Fragmented knowledge and disciplinary separation |
Flexible curriculum with double-looped learning opportunities |
Social Characteristics | Independent learning | Independent and collaborative learning |
Role for Technology | Drill and practice Direct instruction |
Facilitates exploration, collaboration, and self-actualization |
Assessment | Fact retention Traditional tests |
Self-diagnosis; knowledge application |
Fonte: Adaptado de Grabe e Grabe (1998 apud EBERLE; CHILDRESS, 2007).
Parece que, de alguma forma, a heutagogy amplia ainda mais a abordagem andragógica, apresentando-se como uma extensão do conceito andragógico, conforme afirma Blaschke (2012). Segundo essa autora, na andragogia, currículo, perguntas, discussões e avaliações são projetados pelo instrutor de acordo com as necessidades dos alunos, e na heutagogy o aluno define o curso de aprendizagem, concepção e desenvolvimento do mapa de aprendizagem, de currículo para avaliação (HASE, 2000). Heutagogy enfatiza o desenvolvimento de recursos, além de competências (andragogia).
A Tabela 3 apresenta uma visão geral de características que ajudam a demonstrar maneiras em que a heutagogy baseia-se e estende-se na andragogia.
Na Tabela 4 é possível analisar os traços específicos e suas diferenças entre cada forma de aprender discutidas anteriormente.
Tabela 4 – Características da Pedagogia x Andragogia x Heutagogia
PEDAGOGIA
(aprendizagem centrada no professor) |
ANDRAGOGIA(aprendizagem centrada no aprendiz) | HEUTAGOGIA(aprendizagem do século XXI) |
Os aprendizes são dependentes. | Os aprendizes são independentes e autodirecionados. | Os aprendizes demandam o autoaprendizado. |
Os aprendizes são estimulados de forma extrínseca (recompensa, competição, etc.). | Os aprendizes são motivados de forma intrínseca (satisfação gerada pelo aprendizado). | Os aprendizes são estimulados individualmente por suas competências. |
A aprendizagem é caracterizada por técnicas de transmissão de conhecimento (aulas, leitura designadas). | A aprendizagem é caracterizada por projetos inquisitivos, experimentação, estudos independentes. | Abordagem ideal para as necessidades de aprendizagem das pessoas que lidam diretamente com as novas tecnologias. |
O ambiente de aprendizagem é formal e caracterizado pela competitividade e por julgamentos de valor. | O ambiente de aprendizagem é mais informal e caracterizado pela equidade, respeito mútuo e cooperação. | O ambiente de aprendizagem está alinhado com a Internet, aplicações multimídias e ambientes virtuais. |
O planejamento e a avaliação são conduzidos pelo professor. | A aprendizagem deve ser baseada em experiências. | O aprendiz tem autonomia sobre o seu aprendizado (autoaprendizado). |
A avaliação é realizada basicamente por meio de métodos externos (notas, testes e provas). | As pessoas estão centradas no desempenho em seus processos de aprendizagem. | As pessoas estão centradas no desempenho em seus processos de aprendizagem. |
Fonte: Adaptado de JARVIS (1985, apud DE AQUINO, 2007, p. 70).
Literacia e as Tecnologias da Comunicação e Informação
Literacia é o desenvolvimento de competências referentes ao domínio de escrita, leitura e cálculo. Segundo Ávila (2005, p. 38), “o conceito foi alargado de modo a assegurar outras competências consideradas fundamentais, ou chave, nas sociedades contemporâneas”. Na sociedade moderna, rotulada como a sociedade da informação e do conhecimento, a ausência dessas competências em um indivíduo o afasta de uma vida social ativa e mais justa. Dessa forma, a falta de desenvolvimento das competências de literacia proporciona imensas desigualdades sociais.
Para Perrenoud (2003, p. 6), “a competência está relacionada com o processo de mobilizar recursos como conhecimentos, capacidade e estratégias em diversos tipos de situações e especialmente em situações problemáticas”. Esse autor lembra ainda que o conhecimento antecede a competência, a competência não se opõe aos saberes, contudo competência não é aquisição de conhecimentos, fato que só ocorre quando há aprendizagem e prática da sua utilização.
É necessário criar condições estimulantes para que as competências sejam desenvolvidas, pois aulas bem planejadas apenas transmitem saberes e bons resultados de exercícios apresentados pelos alunos, e segundo Perrenoud (2003), trabalham somente algumas de suas capacidades. O autor afirma que, “para desenvolver competências é necessário colocar o aluno em situações complexas, um problema a resolver, uma decisão a tomar, um projeto a conceber e desenvolver” (PERRENOUD, 2003, p. 59). Aqueles educadores com uma formação construtivista dos saberes, em sintonia com as novas pedagogias e com as teorias construtivistas, têm uma maior facilidade de cooperarem para o desenvolvimento de competências.
Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem requer meios que facilitem o desenvolvimento sociocognitivo, ratificando assim o valor da diversidade metodológica, pois, conforme sejam as competências a serem desenvolvidas, há maneiras diferenciadas de trabalhá-las, despertando maior interesse e motivação do aluno. Nesse cenário, o conhecimento das tecnologias se apresenta como elemento de destaque.
Kenski (2010), em seu livro Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância, define tecnologia como “um conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade” (KENSKI, 2010, p. 18). E ainda acrescenta que para construir qualquer equipamento – seja uma caneta esferográfica ou um computador –, o homem precisa pesquisar, planejar e criar tecnologias.
Dependendo do contexto, a tecnologia se apresenta de diferentes formas:
– As ferramentas e as máquinas que ajudam a resolver problemas;
– As técnicas, conhecimentos, métodos, matérias, ferramentas e processos usados para resolver problemas ou facilitar a solução desses problemas;
– Um método ou processo de construção e trabalho, como a tecnologia de manufatura, a tecnologia de infraestrutura ou a tecnologia espacial;
– A aplicação de recursos para a resolução de problemas;
– O termo tecnologia também pode ser usado para descrever o nível de conhecimento científico, matemático e técnico de uma determinada cultura;
– Na economia, a tecnologia é o estado atual de nosso conhecimento de como combinar recursos para produzir produtos desejados. (GEBRAN, 2009, p. 10).
São consideradas tecnologias, também conhecidas como Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC): os computadores pessoais, as câmeras de vídeo e foto (analógicas), a câmera digital, os diversos suportes para armazenar dados, como disquete, CD, DVD, HDs, cartões de memória e pen-drives, a telefonia móvel, a TV por assinatura, o correio eletrônico (e-mail), a internet, a captura eletrônica ou digitalização de imagens (scanners), TV e rádio digitais, as tecnologias sem fio (wireless) etc.
Nas últimas décadas do século XX, assistiu-se a um grande movimento de mudanças nas organizações sociais, políticas, econômicas, científicas e culturais. Esse movimento impulsionou e foi impulsionado pelos avanços das pesquisas, das descobertas científicas e do desenvolvimento dos mais sofisticados meios de informação e comunicação, e pelas complexas interrelações do mercado internacional, cada dia mais globalizado. Dessa forma, essas mudanças no mundo contemporâneo proporcionaram novas exigências para o mundo do trabalho, como a necessidade de uso das tecnologias como condição de acesso à informação e ao mercado. Tornamo-nos, assim, uma sociedade em permanente mudança.
Para Castells (2002), a revolução das tecnologias da informação; a crise econômica tanto do capitalismo quanto do estadismo e sua subsequente reestruturação; e o florescimento de movimentos sociais e culturais, como o feminismo, o ambientalismo, a defesa dos direitos humanos e das liberdades sexuais etc., paralelos e ao mesmo tempo independentes, geraram uma nova forma das relações de produção, de poder e de experiências, produzindo uma nova sociedade.
Estamos vivendo nessa nova sociedade que está se organizando e reorganizando de acordo com as características da sociedade em rede da globalização da economia e da virtualidade, as quais produzem novas e mais sofisticadas formas de exclusão. Urge adentrarmos nessa sociedade de forma crítica, na tentativa de compreender seus instrumentos e dinâmicas de mobilização e expansão, apropriando-nos e utilizando seus recursos e meios de interação para a emancipação humana.
É interessante salientar que as atividades realizadas pelo uso da comunicação, mediada pelo computador, oferecem ao estudante uma compreensão rápida e ampla do mundo no qual está inserido, enriquecendo a formação de conhecimento em várias áreas de estudo.
Portanto, inserir o cidadão em sua educação ao longo da vida no âmbito das tecnologias torna-se uma necessidade humana de sobrevivência global no século XXI, como citam Araújo e Freitas (2007, p. 94):
As profundas alterações no mundo do trabalho, advindas dos processos de globalização, vêm redefinindo novas formas de exercício profissional, com o requerimento de um novo perfil de trabalhador, o que implica a assimilação de novos estilos, novas competências e habilidades, para o exercício de funções mais flexíveis […] Nesse processo, cada vez mais os indivíduos necessitam fazer transições entre antigas e novas formas de trabalho, para operar com outros saberes, outras concepções e outros métodos nas suas relações no e com o trabalho.
Dessa maneira, diante de imensas mudanças do mundo moderno, do surgimento de novos polos de trabalho e da invasão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) em nossas vidas, necessita-se também mudar a forma de ensinar e aprender. E, ainda mais, percebe-se que sem o desenvolvimento das competências de literacia, o método de ensino aplicado não agirá sozinho e a aprendizagem por meio das tecnologias fica inviável, fator de inclusão social, pois sendo a literacia um resultado das sociedades desiguais, trata-se de uma profunda análise e discussão sobre maneiras de incluir pessoas excluídas em uma sociedade cada vez mais concorrente e desigual, afinal não apenas a educação escolar é um elemento fundamental para a realização da vocação humana, mas a educação em sentido amplo, em consonância com as demandas da atualidade.
Referências
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SACRISTÀN, J. G.; PÉREZ GOMES, A. I. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
[1] Licenciada em Letras com Inglês pela UNIFACS, especialista em EJA, Educação a Distância, Tecnologias e Educação e Mestre em Educação e Sociedade pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
2 respostas
Muito bom! E como estou fazendo uma disciplina como aluna especial de do mestrado de EJA, cai como uma luva nos estudos e interpretações.
Obrigada!!!!
Muito Obrigada Vilauba! E parabéns pela busca mestrado! Siga firme sempre!!!
Abs
Irabel